<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
quarta-feira, abril 30
 
A propósito do TV Rural e do saudoso Eng. Sousa Veloso

Programação da RTP 1 para Domingo, 4 de Maio de 1983

9.00 TV Rural. “Despeço-me com amizade. Sonoplastia de...”
10.00 Desenhos Animados. Bell & Sebastião, O País dos Rodinhas, Marco e Calimero.
11.00 Eucaristia Dominical. Da Igreja de N. S. de Fátima à Av. de Berna.
12.00 Setenta vezes Sete. 490. Abençoada a altura em que passaram a dar o Verão Azul.
13.00 Jornal da Tarde. Dos estúdios do Monte da Virgem (atenção à piada fácil).
14.00 Sessão da Tarde. Filme: Se a Minha Cama Voasse ou Herbie
17.30 Notícias. Na RTP 2 estava a dar desde as três da tarde o Troféu com o Rui Tovar.
18.00 Top Disco, apresentação de Álvaro Costa. Gravei as primeiras cassetes com o gravador do ZX Spectrum encostado ao altifalante da Salora.
19.00 Galáctica. Starbuck, Apollo e Associados em grandes surfadas pelo espaço.
20.00 Telejornal. Isto é pouco dito, que se diga: a AD foi um péssimo governo.
21.30 Gente Fina é Outra Coisa. No intervalo: Quem quer Jogar no Totobola?
23.00 Domingo Desportivo. O Benfica ganhava e ia sempre em primeiro no futebol, hóquei, basket, andebol e, no geral, em todos os campeonatos que metessem bola.
00.30 Fecho da emissão. Hino nacional, com a praia da Adraga em fundo.

Que saudades.
RB
 
Ainda o Telmo Correia: “não vejo melhor candidato a comissário europeu que Alberto João Jardim. É um político que diz o que pensa e que tem uma experiência acumulada de governação invulgar.” Se o que Telmo Correia diz ao DN é aquilo que pensa, então o caso é muito mais grave. PAS
 
A quem aproveita a não demissão de Portas?

Como num romance policial, devemos perguntar: a quem aproveitou a queda de Portas? Resposta: a Durão Barroso. Portas, não mais o líder forte do partido fraco que fazia sombra ao líder fraco do partido forte. Como um anjo caído, Portas, politicamente capado, passou a habitar o bolso de Durão Barroso. Ora, estava aqui, pela primeira vez desde que se formou, a chave para o sucesso a prazo da coligação que nos governa. Dois dos principais fantasmas haviam sido afastados: não mais uma liderança bicéfala do executivo, não mais a perspectiva letal do PP crescer eleitoralmente a partir do governo. Isto mesmo reconheceu Pacheco Pereira, com alegria e candura, no Flash-Back dedicado ao primeiro aniversário do governo.

Mas isto foi assim até um certo ponto. Que já foi por demais ultrapassado. A inconcebível e continuada escandaleira no processo Moderna está a roer por dentro o bolso de Durão Barroso. É já o próprio governo e a constelação de instituições em que se insere que estão a passar pelas cordas, e não apenas Portas. Se Portas já pediu por várias vezes a demissão e o primeiro-ministro é que não lha deu, como sibilinamente sugeriu Monteiro, não sabemos. O que sabemos é que Telmo Correia, na entrevista que hoje dá ao DN - “ O governo está muito ligado a Portas” - faz o favor de colocar mais cimento armado nos pés de um governo que esbraceja à tona da água. E a época balnear ainda não começou. Que para Durão Portas é cada vez mais dispensável, ajuda a prová-lo Telmo Correia. Que Telmo era totalmente dispensável, já sabíamos. RB

 
Deve evitar-se beijar as imagens:são estas as palavras feuerbachianas do secretário regional dos assuntos sociais dos Açores. Depois de, graças ao PL, ficarmos a saber que o Vitor Gamito é fixado no E. Burke (no fundo nunca gramei o gajo, sempre foi um reaccionário, que só se queria ver livre dos estrangeiros para não ter de ficar em 2º lugar na volta), eis que descobrimos em declarações ao Público um novo e renovado materialismo. Nós já sabíamos que as imagens, enquanto fenómeno autónomo separado da vida social, tenderiam a desaparecer numa sociedade sem classes. Agora, camarada, só falta o próximo passo, ‘Kill your idols’. E estamos no bom caminho... Segundo o Público, haveria um situacionista no poder nos Açores. E tudo graças à pneumonia atípica. PAS
terça-feira, abril 29
 
Quantos livros tens?: eu não sei quem é o Ricardo Araújo Pereira, mas ele, ainda que em gajo, é muito melhor do que a Clara Ferreira Alves. Tem é menos livros em casa. PAS
 
Flexibilidade e Polivalência: A TSF informa que Ex-ministro da informação iraquiano, AKA Comical Ali, pode ir trabalhar para uma TV do Dubai. A televisão anunciou que quer contratar Mohammed Said al-Sahaf para comentador e analista. O Dr. Bagão chamaria a isto flexibilidade, polivalência e mobilidade. PAS
 
Até amanhã, camaradas - Apesar de não ter passado por Bagdade, ando em mudanças e a mobilar a minha casa. Volto para a semana. FN
 
O orgulho de ser pop

Já tínhamos uma poetisa pop, a Adília. Já tínhamos uma escritora pop, a Margarida. Temos agora, já faltava, um blog pop. Este, o nosso. Estamos a ser sovados por superficialidade. Já dizia o Nietzsche sabiamente que não há camada mais profunda do que a superficial (a frase em alemão ainda soa melhor). Não é a nossa vocação preencher o vazio de profundidade que caracteriza o isolamento anómico do indivíduo nas sociedades contemporâneas, de que nos falam Durkheim, o Marco dos saudosos desenhos animados e a Vida de Brian. Às vezes em Abril, nós somos mais Verão Azul. Ou por outra, como dizia um amigo do Nélson Rodrigues a uma senhora que durante um jantar de grã-finos remoía interminavelmente sobre Sartre, o marxismo e méritos conexos: “seja burra, seja burra!”. Sejamos, pois, burros.

E deixo esta pérola dos paralamas, agora que Sol saiu aqui na Padânia:
Ficar só é a própria escravidão
Ver você é ver na escuridão
E quando o Sol sair
Pode te trazer p'ra mim
RB

 
Negar a realidade: O governo habitou-se de tal modo a negar a realidade que até tentou negar que o PR tinha feito um discurso crítico do governo. Não valia a pena. Foram espantosas as palmas do líder Guilherme Silva e os assobios para o lado da Manuela F. Leite e de Durão. Mas, depois lá veio o Lopes dizer que aquilo tinha sido uma cacetada e que era além do mais injusta. Claro que a coisa foi toda devidamente combinada e articulada, reabilitando uma velha táctica dos tempos cavaquistas – uns desvalorizam as críticas, outras dão pancada no mensageiro. Mas o que resulta daqui é a pouca vontade de ouvir o que o PR disse, o que é particularmente preocupante porque ele disse o que os portugueses pensam. O governo ficou obcecado com o défice e esquece o resto da realidade. Claro que a culpa é dos socialistas etc. e tal. PAS
segunda-feira, abril 28
 
A vida para além da políticaAqui no País Relativo, por muito que custe às ortodoxias, não fazemos política de toda a nossa vida (pelo contrário), do mesmo modo que não fazemos toda a política na blogoesfera (pelo contrário). O 25 de Abril celebrá-mo-lo como deve ser feito, descendo a avenida e de forma festiva. E fizê-mo-lo como sempre, sem quaisquer reservas (não consigo perceber as reservas da direita com a democracia e a liberdade, weird?), de cravo, punho erguido e ao som da dupla Vasco/Kylie (convém repôr a verdade, o clash foi mesmo entre o Vasco e os Duran - não, não é esse que interrompeu os desenhos animados em 1975, mas o que canta e amancebou-se com a Jasmine - PM achas que ela vai o Super Elite?). Há política fora da blogoesfera e há vida para além da política na blogoesfera, não é assim? PAS
 
Super Elite:O PM diz que viu imagens minhas na manif e acrescenta que eu numa manif do 25 de Abril é como ele num desfile da Elite Model Look. Não consigo perceber a analogia e mais estranheza me causa dada a forma entremeada como vem o 'model' no desfile em causa. Pois que fique aqui claro que gosto de Manifs, frequento, e sempre que posso desço no 25 de Abril a Avenida (havia era felizmente, parafraseando, menos gente que desse por isso). Mas, verdade seja dita que fiquei com curiosidade sobre isso do Elite Look, PM levas-me lá? achas que me deixam entrar de punho erguido a cantar o povo unido jamais será vencido? é que há coisas das quais não abdico. PAS
domingo, abril 27
 
Robby Baggio:Desde que me lembro de ver futebol que houve muitos jogadores entusiasmantes. Alguns apenas em jogadas fugazes, outros que perduram. Há, em todos os momentos, grandes, extraordinários jogadores. Mas, de todo o tempo que vi futebol há apenas dois jogadores absoluta e genialmente irrepetíveis. O primeiro chama-se Diego Armando Maradona, o ilusionista de Lanús. Sobre ele só se pode dizer que quem viu viu, quem não viu não volta a ver. Um génio absoluto, o melhor de todos, irrepetível, uma criança, todo pureza e alegria. Mas, há um segundo, chama-se Roberto Baggio, e digam o que disserem do seu temperamento, da inconstância, é ele que faz coisas que mais ninguém faz. Vem isto a propósito do Juve-Brescia de hoje, na Sport TV. Nada de especial no jogo, nada especial no jogo de Baggio, mas, cada vez que a bola passa por ele há algo de diferente. Aos trinta e muitos anos é como se de repente, por segundos, o futebol se transformasse numa coisa diferente. Robby pode ser hoje essencialmente uma memória do seu passado, mas vê-lo em campo é ainda a melhor das recordações. Com os génios não importam os golos, a carreira, as vitórias. Pelo contrário, a diferença fazem-na quando, apenas por terem a bola, fazem esquecer tudo o resto que faz parte do futebol. O jogo basta-se naqueles segundos. PAS
sexta-feira, abril 25
 
Sósias de Saddam II: Há um sósia de Saddam a arbitrar o Sporting-Beira Mar. Se houver alguém dos marines atento é bom que façam qualquer coisa rapidamente, caso contrário o Sporting ainda consegue ganhar o jogo. PAS
quinta-feira, abril 24
 
Sósias de Saddam - Afinal o baralho de cartas com as caras dos principais dirigentes do Baas está a produzir efeitos perversos. Ainda hoje os marines prenderam por engano um senhor muito parecido com o Saddam. Se eu fosse Fernando Ruas, o presidente da Associação Nacional de Munícipios, punha-me a pau e deixava-me estar muito caladinho com a história das finanças autárquicas. Não tarda o senhor Primeiro Ministro telefona ao amigo americano a dizer que encontrou o Saddam em território português. FN
 
Suíça em Oeiras - Quem agora passa pela marginal arrisca-se a apanhar um valente susto. Depois do parque dos poetas, da fonte do Carrefour e de outras obras possidónias, a Câmara Municipal de Oeiras, esse exemplo de qualidade urbanística («enchem-se, mas fazem obra», dizem os que lá moram), lembrou-se de pôr um repuxo nas águas límpidas da praia de Paço de Arcos. MVS, quando por lá passou, pensou que se tratava de um furo nos canos de esgoto. Tenho outra leitura da coisa. Ou muito me engano ou aquilo foi o Isaltino que se inspirou no Lago de Geneve quando lá foi abrir a conta para o sobrinho. FN
quarta-feira, abril 23
 
Bloguistas de todo o país: Esta sexta-feira, para comemorar a liberdade, o relativo PAS fará uma sessão de deejaying, no Bar Madres de Goa, na Rua dos Industriais (à Dom Carlos I). Sintam-se convidados.
 
A estratégia do desespero: A dimensão das trapalhadas em que andou envolvido o dr. Portas é tal que os seus colegas de partido, na ausência de outras opções, optaram pela estratégia do desespero. O deputado Telmo Correia vem agora afirmar que as confusões modernaças resultam da voracidade da comunicação social e, não contente com tal justificação, avança para a insinuação. Serão os advogados de arguidos no processo que terão ligações partidárias e, como tal, presume-se, andam ao serviço de outros interesses que não os dos seus clientes. Espantoso e grave o nível a que já chegou a confusão. Melhor fora que se preocupassem com o facto de a resistência do Dr. Portas à evidente necessidade de se demitir estar a ter efeitos desastrosos, não apenas para a credibilidade do Governo, mas, essencialmente do Estado, do Estado democrático. Se a estratégia é mesmo a negação da realidade, mais valia então seguir a sugestão dada no contra-informação e escolher como porta-voz o “comical Ali”. PAS
 
Da Democracia no Iraque - Ao ver as imagens de milhões de xiitas a caminho de Kerbala (onde repousam os netos do Profeta) confesso que, qual Bonga, não consegui evitar uma lágrima ao canto do olho. Vieram-me à memória as imagens da Fonte Luminosa em 1975. Em Kerbala, sente-se a mesma devoção democrática. Os xiitas sabem muito bem o que querem. Não acreditam? Então leiam as palavras sábias deste taxista entrevistado pelo Público: «Queremos um Estado Islâmico.» E avisa: «os americanos, se sairem agora, saem como libertadores, se ficarem tornam-se invasores». No fundo, a ideia é «já fizeram o vosso trabalho, muito obrigado, isto agora é entre nós e os sunitas».
Para quê mais pressões diplomáticas e militares sobre Saddam, para quê intensificar as inspecções, para quê a negociação multilateral? Para os neoconservadores que aconselham Bush, os Zandingas de Washington, a questão nunca foi o arsenal bélico do tirano, mas o «efeito dominó» que, num belo dia, anteciparam numa bola de cristal. Como se vê, o dominó promete. FN
segunda-feira, abril 21
 
E a Blaupunkt?

O arguto comentário do germânico Pedro Machado um destes dias sobre a Grundig deixou-me uma nostalgia. Ele refere, aliás pouco atinadamente, a existência de duas escolas televisivas, a da Grundig e a da Philips. Isso só se era na linha de Cascais porque na de Sintra era outra conversa. E a Blaupunkt? Bom...eu queria aqui relembrar uma marca por vezes esquecida, a da primeira televisão a cores lá de casa. Era uma bela Salora. A Salora era sueca e era boa em tudo. A tecnologia sueca, como Sá Carneiro deu a entender, pede meças a qualquer. Ela era bem constituída, tinha dois bons altifalantes, assim larga, com imensos botões para sintonizar. E depois, como Saab das tv’s que era, suportava tudo e era indestrutível. Quando o Veloso falhou o penalti viu-se para que servia um écran com vidros duplos e três centímetros de espessura. RB
domingo, abril 20
 
Saraivadas - Para acabar em beleza os serviços máximos de páscoa, sigo os conselhos do Mark e leio o arquitecto Saraiva no Expresso. O artigo é ilustrado com três fotos: ao centro a do mítico Otelo Saraiva de Carvalho, à direita a de um ditador que iludiu alguns revolucionários (Fidel) e, sintomaticamente à esquerda, a de outro ditador que iludiu a CIA (ou parte dela): Saddam. Centremo-nos apenas no caso de Saddam para tentarmos perceber mais facilmente a lógica do raciocínio do arquitecto: «A história de Saddam também é conhecida (...) A essa história estão a ser diariamente acrescentados dados novos (...) como os quase mil carros (entre Ferraris, Lamborghinis e Porsches) que o filho tinha na garagem.» Perante isto, «como é possível continuar a dizer que Saddam é um homem de esquerda?», pergunta, e bem, José António Saraiva. «O facto, porém, é que é mesmo um político de esquerda. Porquê? Porque defende o princípio da igualdade». Não perceberam? Eu dou outro exemplo mais simples. O filho do senhor Agnelli tem uns Ferraris na garagem. Logo defende o princípio da igualdade, logo é de esquerda, logo é totalitário. Continuam sem perceber? FN
 
Marcelo esclarece, mas não tranquiliza - Acabo de assistir ao exame do professor Marcelo na TVI e devo dizer que, ao contrário do que nos prometia Gil Teixeira, não fiquei nada reconfortado ou tranquilo. A páginas tantas, o jornalista, daquela forma completamente espontânea, coloca-lhe a questão inevitável: professor, então é verdade que vai ser candidato às presidenciais? Se dúvidas houvesse, ficámos logo a perceber que o MARES e o Gil Teixeira não passavam de um novo facto político inventado pelo professor. O professor precisava de um pretexto para falar das presidenciais, ao contrário de Santana que, na RTP, o que precisa é de um pretexto para não falar das ditas. A resposta do professor tem uma parte boa e uma parte má. A parte boa é que não é candidato e que ficará como comentador das eleições presidenciais, temendo que «outros comentadores já não possam dizer o mesmo» (deve estar a pensar no Sócrates). A parte má é que o candidato do professor «chama-se Aníbal Cavaco Silva». Safa, safa!Portanto, relativos, bloguistas de esquerda, uni-vos! Na dúvida, toca a apoiar Marcelo a presidente, através de gil_teixeira@netcabo.pt. Ao ritmo que a coisa leva, não tarda o professor já tem as assinaturas suficientes. Acreditem que ele é «lélé da cuca» o suficiente para avançar.
Isto é a sério: podem confirmar em www.jornaldigital.com/noticias.php/8/49/0/11652/, que é onde está o magnífico manifesto do MARES. FN
 
Marcelo - Segundo o Independente, Marcelo Rebelo de Sousa já conta com o apoio do extinto PSN para uma eventual candidatura à Presidência da República. Extraordinário, a três anos de distância. Gil Teixeira, o pai da iniciativa, criou na Internet o MARES (Movimento de Apoio a Marcelo Presidente) e já conseguiu recolher 30 mails de apoio à candidatura. Diz mesmo que a recolha de mails tem seguido a um «elevado ritmo». Elevado ritmo? Isto é o que em política se chama uma vaga de fundo. Só comparável aos comments que o nosso MK provoca.

Para Gil Teixeira, o homem que simulava terramotos debaixo de cama da avó e acordava os pais do Eng. Guterres às 5 da manhã, tem «o perfil indicado». Porque Marcelo é uma espécie de «Zé Maria» e um bom «chefe de família» (?). Outra hipótese, caso o professor e o padre Melícias não dêem «a bênção» a esta ideia, será o apoio do extinto PSN ao Dr. Alberto João Jardim, «o Churchill português», de acordo com o mesmo Gil Teixeira. Logo Churchill, o herói da coluna infame. Que dizem desta comparação rapazes?

Mas o Marcelo é que era. Na TVI, «esclarece, conforta e tranquiliza o povo português», diz o nosso Gil Teixeira. Bem, vou mas é ver o professor. Depois disto preciso que ele me esclareça, reconforte e, especialmente, que me tranquilize. FN
sábado, abril 19
 
Caras Lindas II - Esta semana, a Caras vem com uma entrevista de fundo à Caras Lindas propriamente dita - a Cristina, lembram-se? Deitada no sofá, com as suas inconfundíveis sandálias de prata, Cristina fala-nos do seu próximo livro, da sua relação com «o Hélder» e do seu novo projecto televisivo. No fundo, partilha connosco uma visão do mundo muito lá de casa.

O Romance intitula-se "Mãe, Fala-me de Amor" (não sei se vem com o CD do Olavo Bilac). É sobre «uma mãe que aos 40 anos se apaixona da mesma maneira que a sua filha de 17 anos», diz a autora. Pareceu-me que a coisa é vagamente autobiográfica, pois logo a seguir Cristina fala-nos intensamente do seu amor «pelo Hélder» (um médico muito ocupado) e revela que, apesar dos seus 42 anos, os instintos maternais voltaram: «Mais um filho faz sempre sentido quando se vive um grande amor. E hoje há umas fraldas novas muito sofisticadas».

Mas a parte mais interessante da entrevista é aquela em que Cristina disserta sobre o Corpo e a Alma, fazendo muito bem a ponte para o seu próximo programa televisivo (que se chamará, precisamente, Corpo e Alma). Para Cristina, «A alma é a essência do ser humano. Quando a alma não está bem, nem a maquilhagem agarra. Queremos pintar-nos e o baton não fica nos lábios, o pó-de arroz não pega na pele. E não há medicamentos que curem isso».

Só mesmo o programa da Cristina é que pode curar este tipo de problemas que angustiam a mulher moderna. O Corpo e Alma passará na TVSaúde - e será codificado, dada a natureza delicada da coisa. Para o efeito, a Cristina contará com a ajuda de um especialista em saúde mental (já não era sem tempo) e de «um cozinheiro fantástico, o Fabrice, que vai dar umas receitas saudáveis mas saborosas». Apostamos que será o próximo Manuel Luís Goucha. Mas há mais: o programa também falará de outras terapias. «Falaremos de como em momentos menos bons nos pode fazer bem ouvir um CD, ler um livro, passear na praia». Portanto, já sabem: se estiverem sempre bem dispostos, não vale a pena ouvirem música, passearem na praia ou lerem um livro - mesmo que seja um livro da Cristina Caras Lindas.

Cristina, muito obrigado por seres como és.
FN
 
Caras Lindas - A revista Caras não pára de nos surpreender. Na semana passada, deu-nos a conhecer a história proibida de José Castelo Branco - sim, aquele personagem do SIC Hora Extra sobre VIPs, provavelmente o melhor programa de humor desde o Herman Enciclopédia. Aparentemente, há 20 anos o Castelo Branco chamava-se Tatiana Romanov. Tenho pena que a Caras não esteja online, porque a foto dele enquanto Tatiana merecia um link. 20 anos depois, diz que tudo não passou de «uma brincadeira de amigos», o que é provavelmente verdade. «Era a época do Boy George, do Pacha em Madrid, do disco em NY. Era a liberdade do 25 de Abril», diz ele. Como diria o Otelo, não foi para isto que fizemos o 25 de Abril. FN
 
Sábado Aleluia - Felizmente, já falta pouco para acabar esta depressão pascal. Marx morreu, Cristo ressuscitou e eu já não me sinto lá muito bem. Postar nestes dias é como atirar pérolas a porcos. "Comments" nem um. Lisboa está deserta de lisboetas. Só vejo espanhóis por todo o lado, ainda por cima revoltados com o simples facto de os museus estarem fechados. Querem museus? Vão mas é chatear para Bagdade, e deixem-nos gozar a ponte!
O que vai valendo é a nossa TVI. Depois do Natal dos Hospitais, os cristãos tiveram hoje direito à Páscoa dos Hospitais (a sério) com apresentação do inevitável Carlos Ribeiro. Esperemos que sexta feira a TVI não se esqueça de todos os progressistas, laicos e republicanos que se encontram internados nos estabelecimentos do SNS (da maneira que as coisas estão, devem ser cada vez mais). Sim, porque não um 25 de Abril dos Hospitais? Aviso já que, dos pimbas, só se aceita o Toy - aquele deputado municipal da CDU de Setúbal que canta o «Chama o António» e a «Mulher Sensual», autênticos hinos aos valores da camaradagem, da liberdade reprodutiva e da sexualidade emancipatória. FN
sexta-feira, abril 18
 
Sexta Feira Santa - Por decisão multilateral, com a aprovação do Conselho de Segurança do País Relativo, compete-me assegurar o nosso blog neste fim de semana santo. Uns foram fazer surf, outros passeiam-se por Florença, outros ainda estão em família a ver as Sandálias do Pescador e o Quo Vadis.
Falemos então das elites e dos partidos - esse tema que tanto tem animado a blogosfera nos últimos dias. De tudo aquilo que se escreveu, a ideia mais bizarra veio, como não podia deixar de ser, da coluna infame. O Pedro Lomba descobriu um divórcio entre os partidos e as elites, ou seja, uma coisa algo esquizofrénica. Salvo melhor opinião, o que todos os dados indicam é que a haver um divórcio será entre os partidos e os cidadãos - e se os partidos não mudarem, os cidadãos mudam o sistema partidário. A alternativa a isto não é ficar às espera das capacidades autoregeneradoras dos partidos (uma ilusão de Daniel Oliveira), mas a pressão externa por via legislativa.
Porque, como bem diz o Pedro Lomba, «o problema não é só o PCP». É pena é que estrague tudo a seguir com a conversa de que «os partidos não estão interessados em elites». Ou muito me engano ou isto vem daquela teoria reaccionária de Pacheco Pereira et al., do tipo: «já não há elites; Blair e Guterres são de plástico; é só marketing; no tempo do Soares, do Kohl e do Delors é que era bom.» Um discurso com muita aceitação, lançado pelos mesmos que agora elogiam o «estadista» Tony Blair. Ora, a verdade é que, no caso concreto português, com a consolidação da democracia e com as privatizações, as elites de ontem foram circulando para outras bandas, e deram lugar a gente normal escolhida por gente normal que, exercendo cargos políticos, é obviamente parte da elite. Caro PL, não será isto a democracia a funcionar? FN

quarta-feira, abril 16
 
Mea culpa: não sei se é desculpável, mas, nos elogios aos Go-Betweens, esqueci-me que os New Order estão também no activo. Não vêm cá tocar, nem têm disco novo, mas têm, sim, um muitíssimo recomendável DVD. New Order 5 11, Live at Finsbury Park. Agora que já não há Joe Strummer, o concerto do último verão serve para provar, se tal fosse necessário, que ninguém concorre com o Peter Hook na forma de pegar na guitarra (no caso no baixo). E, se nada mais houvesse, quanto é que isso vale para a atitude de uma banda? Quantas bandas conseguiram reinventar-se a si mesmas depois da morte do líder? A resposta é apenas uma. Agora, com a segurança dos anos, até voltaram aos velhos/geniais temas dos Joy Division. Quantas canções foram feitas melhores que o Atmosphere e o Bizarre Love Triangle? As provas estão todas no DVD. PAS
 

Heróis: Apresenta-se como “o mais carismático dos ídolos dos nossos dias. Um poço sem fundo de beleza e virtudes”. Conforme reconhece sem falsas modéstias, é “adorado por toda a humanidade, sem distinção de raça, orientação política, credo, cruz... e é um enorme exemplo para a juventude”. De quem falo? Do Rodre, o mais desconcertante herói da actualidade. Os mais atentos terão conhecimento da sua participação em momentos cruciais da nossa História, como quando esteve no Largo do Carmo no 25 de Abril ou, ao lado de Bill Clinton, nos acordos de paz israelo-palestinianos, em Washington (1993). Prodígio da versatilidade, é campeão de patinagem artística (vencedor do troféu Lalique) e, no cinema, foi cabeça de cartaz em filmes como “Trainspotting” ou o mítico “A Laranja Mecânica”.
Na semana passada, seguiu a dica do Filipe Nunes e rumou a Bagdad à procura de umas bugigangas catitas para o seu luxuoso apartamento. Foi lá que se deixou fotografar pela última vez. Meet Rodre. TT


terça-feira, abril 15
 

“The Most Dangerous President Ever”: É o título da edição de Maio (!) da revista norte-americana American Prospect. Adivinhem quem está na capa? TT


 
Humores Concordo com o Filipe: por estes dias, humor é coisa rara por aqueles lados, mas já os humores têm variado bastante. Escreveu o Pedro Mexia um destes dias na Coluna: "(...) ponto de ordem à mesa: a partir de agora falaremos de esquerda para designar toda a canhota e de esquerdistas para falarmos dos marxistas de vários coturnos; para os Relativos, por isso, propomos a designação... sociais-democratas. Parece-vos bem? PM"

Caros infames:

Depois de dizer que os relativos eram mais burgueses que os cronistas da coluna (afirmação só explicável por flagrante erro de amostra, e/ou de auto-avaliação), e de dizer que pelo menos um de nós podia ser militante das gerações populares, descobri uns dias depois que afinal parece que somos uns perigosos esquerdistas descabelados, por desconfiarmos vagamente das intenções dos Estados Unidos face ao Iraque. Pelo meio, somos ainda acusados (!) de ser sociais-democratas. Ena, isto é que é coerência! Alguém anda um bocado baralhado nesta história.
Quanto ao Iraque, não tenho muito mais a dizer. Já quanto à social-democracia, devo dizer que a designação não me choca nada; só não percebo o tom provocatório. Aliás, o post até é oportuno, porque chama a atenção para um sério problema identitário que a nossa direita tem. Por traumas que deviam ter sido superados há muitos anos (para aí desde o verão quente), os partidos da direita parlamentar continuam no armário. Temos um partido que foi buscar o pior da democracia cristã (a caridade hipócrita para os pobrezinhos e o cheiro bafiento a sacristia, mas só quando convém) e o mais básico dos populismos radicais e que se chama... Centro (!) Democrático e Social. E temos outro partido que é basicamente ultra-liberal em termos económicos e conservador nos costumes, enquanto mantém alegremente a designação de...Partido Social Democrata (!) que, por manifesto erro histórico, adoptou para substituir o velho PPD.
Convenhamos que há aqui alguma coisa que, claramente, não bate certo. Mas, no meio disto tudo, que culpa temos nós? MC
 
Post sério (porque até os infames já perderam o sentido de humor) - A América é poderosa, a Europa é fraca; a América é o sheriff, a Europa é o empregado do saloon; a América é hobbesiana, a Europa é kantiana; a América é de Marte, a Europa é de Vénus. É desta forma profunda que Robert Kagan descreve a actual ordem internacional, em "Power and Weakness", artigo publicado na Public Policy (boas leituras, não é PM?). (Ainda assim, é pena que Bush não siga as recomendações do seu ideólogo para o pós-guerra, traduzidas pelo jornal "Público" no último Sábado). Para Kagan, entre republicanos bushistas e democratas clintonianos, entre social-democratas e conservadores europeus, não há diferenças. Pedro Mexia, por outro lado (sublinhe-se, por outro lado), lamentava, há alguns dias, que, na questão iraquiana, o País Relativo não se tivesse demarcado das posições do blog de esquerda. PM punha mesmo em causa o nosso amor à democracia liberal.
Curiosamente, no último domingo, o mesmo "Público" falava em «divisões» no Partido Democrata americano. Todos os pré-candidatos democratas à Casa Branca revelavam reservas quanto à forma como a administração Bush tinha conduzido o processo. Uns eram « a favor, mas» , outros «contra, mas». O «mas» estava lá sempre. Ed Kilgore, do Democratic Leadership Council, dizia, na mesma notícia que, «se houvesse uma administração democrata teríamos conseguido obter um apoio multilateral à guerra e o país estava mais unido». Isto é claramente outra perspectiva das relações internacionais. Serão os democratas americanos antiliberais? Serão eles de Vénus, ou de outro planeta antiamericano? Penso que, tal como nós, continuam a acreditar que para um Estado de Direito Democrático os fins não justificam os meios.
John Kerry, democrata moderado e veterano do Vietname, numa gaffe pré-campanha, chegou mesmo ao ponto de dizer que «o que precisamos não é só de uma mudança de regime no Iraque, mas também na América». No País relativo, não iríamos tão longe: já ficávamos contentes com uma mudança eleitoral.
PS: Não percebo como é que se fazem os links para as páginas. Daí os bolds.
FN
segunda-feira, abril 14
 
A melhor banda pop do mundo: Para aqueles que nos acusam de estarmos com uma deriva excessivamente política e porque o nosso compromisso é dar mesmo tudo o que os bloguistas merecem (já nos acusaram inclusivé de não priorizarmos o sexo), avisamos, desde já, que a melhor banda pop do mundo (é verdade, no activo) toca no dia 19 de Maio no Paradise Garage. Com mais de vinte anos a editar discos quase sempre com dois LLs no título, os The Go-Betweens editaram este ano um dos seus melhores albúns, recuperando até os dois bons velhos lls dos títulos. Parece fácil ser genuíno, simples, popular e sentimental ao mesmo tempo. Convém para isso ser genial e é isso mesmo que o Mclennan e o Forster são. Há poucos a fazer canções de 3 minutos assim. Para todos aqueles que gostam de "bachelor kisses" e que "used to get our kicks reading surfing magazines". PAS


sábado, abril 12
 
Anarchy, State and Utopia - É o título de um livro de Nozick que os neoconservadores americanos estão a levar demasiado à letra no Iraque. Aquilo já não é o Estado Mínimo, é o Estado Zero. Derrubam o regime ditatorial, desmantelam um aparelho de Estado repressor, e depois gritam ingenuamente: «Ó da guarda, que a gente não tem nada a ver com isto!». Meus amigos, a esta hora polícia já passou para o outro lado da barricada. Estão a ver para que é que serve a ONU?
Os neoconservadores, de hoje, que defenderam, no passado, a «revolução permanente», promovem agora a pilhagem generalizada. Pelas avenidas de Badade e Bassorá, passeiam-se electrodomésticos, camas, sofás, e até cavalos e restos das estátuas do Saddam - óptimos para bater com o chinelo. Por estes dias, o Iraque parece uma imensa Moviflor a céu aberto. Como nos explica Luís Delgado, esse conhecido colectivista, não há motivos de preocupação: é a «redistribuição da riqueza» a funcionar. FN
 
O Estado de Natureza: Em Portugal, que me lembre, a última vez que alguém tinha demonstrado incontida satisfação com populações em pilhagens e com cenários de desordem tinha sido uma coisa inominável chamada F.E.R. (a versão portuguesa duma das 3000 cisões do movimento trotskista internacional) que saudava, em cartazes por toda a Lx, a Albânia insurrecta. Para minha surpresa, hoje, numa atitude indigna, em Portugal há quem se mostre muito contente com o estado em que está o Iraque. Não deixa de ser surpreendente o fascínio da direita com o autêntico pré-leviatã que se vive em Bagdade. Primavera de Praga, 25 de Abril de 74? Tenham juízo e respeitinho pela história e, ainda mais importante, pelas populações que desgraçadamente vivem esta história. Tudo tem limites e a dignidade humana é mesmo o limite que não deve ser ultrapassado. PAS
sexta-feira, abril 11
 
O País Relativo: Este é o blog que oferece tudo aquilo a que o bloguista tem direito: futebol, política, bares, discotecas, Hollywood, surf e culinária. Assumidamente à esquerda do centro, moderno, aberto e sem pudores revisionistas, o País Relativo alimenta-se dos posts de Filipe Nunes FN, Mariana Vieira da Silva MVS, Mark Kirkby MK, Miguel Cabrita MC, Pedro Adão e Silva PAS, Pedro Machado PM, Rui Branco RB, Sílvia Sousa SS e Tiago Tibúrcio TT.
 
Carta Aberta ao Dr. Telmo Correia:
Exmo Senhor Deputado,
Foi com a minha alma em sangue que o ouvi ontem no plenário da A.R. Eu percebo que enfrente particulares dificuldades em consequência de ter um líder que ficou publicamente conhecido como sendo um "desorganizado", mas, as suas declarações de ontem deixam-me simultaneamente enjoado e perplexo. Aliás, julgo que são apenas atribuíveis à “desorganização” que deve, por estas horas, grassar no seu partido. Belos os tempos da manifestação do Largo do Caldas, muito antes do Dr. Nobre Guedes, eleito com assinalável participação para a Concelhia de Lx, vir alertar o país para o possível "golpe palaciano e salazarengo" em curso nesse grande partido popularista. O Prof. Freitas, aliás, já tinha aludido à natureza salazarista da direita portuguesa. Mas isso é problema vosso. O mesmo já não poderá ser dito das suas doutas declarações. Comparar a chegada a Bagdade dos militares norte-americanos ao 25 de Abril de 1974 é, no mínimo, insultuoso e calunioso. Para o que foi a democratização em Portugal, para os militares PORTUGUESES que a fizeram, para os CIDADÃOS de Lisboa e de todo o país que saíram à rua. Contudo, fico pelo menos contente ao saber que, daqui para a frente, poderei contar com a sua participação, sem reservas, nas celebrações do dia 25 de Abril. Claro que fica a pergunta, “onde é que o senhor estava no dia 25 de Abril?” Esperemos que não em actos de “pilhagem”.... PAS

quinta-feira, abril 10
 
Carta Aberta ao Dr. Paulo Portas II
Exmo Senhor Ministro de Estado,
Sinceramente, é também com a alma em sangue e na mais completa solidão que lhe escrevo. De certa maneira, estou solidário consigo. Também eu tenho dificuldades em passar cheques (especialmente com cobertura). Também eu tenho uma mãe que me compra o leite. Multibancos e hipermercados nem vê-los: engolem os cartões, têm gente a mais. Tal como VExa, prefiro o dinheiro vivo, «entregue em mão». Pelo sim pelo não, ainda guardo o dinheiro morto: sim, o velho escudo que o Senhor dantes defendia. O que eu nunca percebi nesta sua história Moderna é como é que uma pessoa assim vai parar ao admirável mundo da gestão de empresas. E, principalmente, não percebia o que é o recomendava para o não menos complexo mundo das sondagens. Com o depoimento do seu amigo JBG, ficámos esclarecidos: «Eu (JBG) não percebia nada de sondagens».
E agora? Demite-se? O Dr. Nobre Guedes diz que «a haver alguma coisa seria um golpe palaciano e salazarengo» - o que, tendo em conta o historial da nossa direita, faz temer o pior. Uma coisa é já certa: como diz o Senhor Primeiro Ministro, «Há sinais claros de que o segundo ano do Governo será mais difícil». FN

 
Saudades de Kissinger - MC não é rapper, mas tem razão. À partida, não se perecebe porque é que o texto do MK provocou ondas de choque e pavor na direita. É evidente que os EUA nunca mexeram uma palha com o simples propósito de libertar alguém. Nem os EUA, nem infelizmente nenhuma potência. Agora, como no passado, limitam-se a seguir o chamado «interesse nacional». Claro que o grande questão para o centro-esquerda na Europa e nos EUA só pode ser: como sair disto? Como consolidar o multilateralismo? O que é estranho (à lógica tradicional da direita), como sublinha MC, é a posição dos neoconservadores. Olham para as relações internacionais como uma luta entre «os bons» e «os maus». Penso que o segredo deste mistério está no passado extremista dos fundadores desta seita. Seguem hoje Bush com o mesmo fanatismo com que seguiam Trotsky e Mao. «Com uma lágrima ao canto do olho». Patético.
FN
 
Taça dos Libertadores da Europa (com a licença da UEFA)

Resultado ao intervalo: MK Lisboa FC, 2 X Statler-upon-Lomba Clube Recreativo, 1. Golos: FN marca para o MK Lisboa, à passagem da meia-hora, isolado na meia esquerda mas infelizmente com a mão; auto-golo do guarda-redes Lomba, bola entra suavemente pela direita baixa (o Lomba é um frangueiro). O Statler-Lomba marcou antes do intervalo por Nuno Mota Pinto, entretanto entrado a substituir um jogador exausto, embora em claro em fora-de-jogo de posição com interferência na jogada, não assinalado pelo árbitro. RB

 
Libertadores III (com a licença da direita): Mark, acho que os agentes da CIA têm razão. Os iraquianos estão mesmo contentes. Eu também ficava. Agora que estou em mudanças dava-me imenso jeito que me deixassem ir a Bagdade pilhar uns frigoríficos nos palácios do Saddam. Viva o Iraque livre! FN


 

Libertadores II (com a licença do Filipe): Ninguém pretende negar o papel decisivo que os Estados Unidos tiveram no fim da II Guerra e na libertação da Europa. Pela minha parte, também faço uma distinção entre os Estados que intervieram no palco de guerra europeu porque não tiveram outra escolha (caso da URSS) e o dos Estados Unidos, que sempre podiam ter ficado – é verdade – pelo Japão (distinção esta que se aplica apenas aos governos, nunca aos soldados e civis vítimas da guerra) Agora o que é absolutamente questionável é que tenha sido o amor à democracia e à liberdade do povo europeu o único – ou o principal – motivo da intervenção americana. E que a guerra tenha sido ganha com o desembarque da Normandia. E que os Aliados tenham ficado de braços cruzados à espera da libertação americana. E que o esforço de guerra tenha sido arcado principalmente pelos Estados Unidos. Como escreve William I Hitchcock na Prospect, “To be sure, the US made an enormous economic contribution to the overall Allied war effort. But Americans did far less actual fighting in Europe than the Russians. America lost 295,000 soldiers in combat (in both major theatres) and suffered very few civilian casualties, while Russia paid the almost unfathomable price of 25m lives. All the other major combatants suffered more overall casualties in the war than the US, from Germany's 7m, to Poland's 6.8m, Yugoslavia's 1.7m, France's 600,000, Britain's 380,000, and half a million each for Austria, Greece, and Italy”.
Isto foi frequentemente omitido por historiadores americanos, que nem sempre resistiram à mitificação do papel desempenhado pelo seu país na II Guerra. E a história está a repetir-se, agora com o Iraque.TT

 
A direita não pára de atacar por todos os lados. Hoje, o Público brinda-nos com o genial belicismo da Drª Bonifácio e a prosa do director, que até utiliza abusivamente o Chico Buarque. Tudo tem limites, meus senhores. E as comparações com a queda do Muro de Berlim e com o 25 de Abril são, no mínimo, chocantes. Haja, se nada mais, pelo menos alguma decência e não comecem a criar factos políticos - não vale a pena e é triste. Claro que a vergonha e o ridículo deviam ser auto-impostos pelos próprios escribas. PAS
 
Libertadores: MK não pára de ser atacado pela direita. A ideia de que foram os Estados Unidos que libertaram a Europa na II Guerra Mundial é um mito. Se não fosse a resistência soviética, os nazis ainda cá estavam. É um facto incómodo para todos, mas é a verdade. FN
quarta-feira, abril 9
 
O Dr. Braga Gonçalves mandou-nos este post, parece-nos que deve ser lido.

Carta aberta ao dr. Paulo Portas

Com serenidade, espírito de sacrifício e a coragem humanamente exigível, tenho aguardado, desde há mais de 4 anos e no mais completo e absoluto silêncio, uma tomada de posição honrosa da tua parte em relação ao chamado 'Caso Moderna' e, dentro deste, aos factos referentes à tua pessoa e à tão propalada 'Amostra'. Em vão.

Dos quase 2 anos que levo sob prisão preventiva, mantive, no último, o que considero um silêncio de Estado dadas as funções por ti exercidas. Fi-lo por amizade e respeito. Em vão.

Não é legítimo alguém exigir a outrem, na minha desgraçada situação, mais sacrifício. Não posso, aliás, a bem da verdade que assumi respeitar perante o Tribunal, ocultar por mais tempo factos pouco conhecidos e por ninguém esclarecidos, nem, tão pouco, assumi-los como de minha responsabilidade. É com a alma em sangue que o faço. Na mais completa solidão.

Calabouços da PJ, 07/04/03"

 
Depois de vários apelos infames, o Miguel Romão disse da sua justiça, e como evidente e naturalmente concordamos, fizemos dela também a nossa justiça, aqui vai:

A história em torno da demissão do ex-ministro Isaltino Morais apresenta também alguns pontos positivos que não têm sido demonstrados. A ver:
1. A justificação dada por ser usada com proveito para o País em geral - por exemplo, não se cumprem critérios de convergência porque o dinheiro não é nosso... apenas emprestamos o nome e o País; assim, também o Governo não aumenta os funcionários ou não investe em infraestruturas ou não planeia a longo prazo, porque o dinheiro está a render na Suíça, o que é fundamental para cumprir os critérios de convergência. E como o dinheiro de facto não é do País, não há problema em tê-lo em bancos suíços.
2. Por outro laso, sabe-se bem que "ter dinheiro em nosso nome" é a afirmação mais fugaz e etérea que se pode produzir - o dinheiro nunca é nosso: é sempre do fisco, para pagar casas e carros, para comprar árbitros, cd's da Romana, é dinheiro da ex-mulher e dos filhos, , menores e maiores, para pagar à GNR, aos fiscais das obras, é dinheiro que não é dinheiro (cartões de crédito, de débito, de pontos, de milhas...), é dinheiro fácil e difícil, mas sempre em movimento...
3. A história do Dr. Isaltino revela também a dose de provincianismo que ainda temos em nós. Já NINGUÉM coloca dinheiro na Suíça!! Isso é só nas novelas brasileiras dos anos 80... E o Dr. Isaltino, que é jurista, deveria saber isto!! O que dá não querer pagar um pouco mais a um bom advogado... Revisão do patrocínio judiciário, precisa-se!
4. Finalmente, uma reflexão necessária e pública em torno da ideia de "nome" e de "propriedade" pode ser iniciada - deve denominar-se o que nunca nos pertence e apenas usamos transitoriamente na existência terrena? A metafísica ajuda sempre, em matéria de contas na Suíça...

 
O mistério da economia

O ministro da economia Carlos Tavares diz hoje no Correio da Manhã que "O Ministério da Economia vai entrar numa segunda fase. Vamos passar a falar para as empresas”. Isto significa que até agora o ministério não tem falado com as empresas. Ora, maior admissão de inanidade não é concebível. De facto, já suspeitávamos que o ministério tem andado a falar sozinho ou para as paredes, o que é preocupante por patológico. Infelizmente, o mais provável é que o ministério seja um mistério. Que dizer de um ministro que durante um ano inteirinho não fez absolutamente nada para além de deixar crescer o desemprego para níveis há muito não vistos? Obviamente, remodele-se.

Pois que fale com as empresas, como discordar disso? O que gostaríamos era ouvir Carlos Tavares anunciar o seu empenho na modernização (que palavrão) da classe empresarial portuguesa em domínios fundamentais. Gostaríamos de ter uma classe empresarial que, finalmente, se emancipasse do condicionamento industrial que a viu nascer e que portanto concebesse a sua iniciativa fora do regaço protector do Estado. Um Estado que, repare-se, tanto gosta de apoucar. Aos empresários portugueses sempre fez confusão o terem de concorrer no mercado, sempre preferiram a mansidão medíocre do oligopólio. Gostaríamos de deixar de ter a classe empresarial menos escolarizada da Europa comunitária, aquela em que a distinção entre a função propriedade e a função gestão é menos nítida. Gostaríamos de ter uma classe empresarial que assumisse de vez uma cultura de risco, que deixasse de parte o esgotado modelo trabalho-intensivo mal pago e sem condições. Sobre isto Carlos Tavares nada disse, nada diz. Pois que o diga agora aos empresários. RB

terça-feira, abril 8
 
Remodelação
Ao 365º dia, Isaltino isaltinou. No noticiário da tarde, Louçã falava já em «decomposição do governo». Calma, camarada, lá chegaremos. Para já são só dois ministros e uns tantos Secretários de Estado que se dão a conhecer na hora da despedida.
O episódio merece outro tipo de reflexões. Já repararam que o Independente só se dá bem quando há governos de direita? Já notaram que Isaltino é mais um ex-autarca que se dá mal quando chega a ministro? Neste caso, o Independente descobriu uma contas na Suíça. Milhares de contos. Isaltino alegou que era tudo do sobrinho emigrado - o taxista mais endinheirado do mundo. Disse ainda que 90 por cento do seu património é anterior aos seus mandatos autárquicos - o que torna tudo ainda mais preocupante, pois antes de ser autarca Isaltino era… magistrado.
«Por razões pessoais», Valente de Oliveira seguiu-lhe os passos. Na substituição destes dois vultos do Portugal democrático, o politólogo Durão Barroso conseguiu rapidamente inaugurar um novo paradigma na ciência política. Já conhecíamos os ministros técnicos e os ministros políticos. Agora ficámos a conhecer duas novas figuras. Um engenheiro do ambiente nas Obras Públicas, que será uma espécie de Vereador do Dr. Santana Lopes no Governo. E um senhor simpático que, aos 60 anos, pode finalmente dar-se ao luxo de servir a pátria. Questionado sobre o que percebe de ambiente, é honesto na resposta: «Não lhe posso responder a essa questão». Nem técnico, nem político. Simplesmente Theias, Amílcar Theias.

FN
 
Quem tramou Pashashi?
Segundo o Público, «O Pentágono tem já preparada uma administração americana para o imediato pós-guerra, liderada por um general na reserva, Jay Garner.» Mais à frente, o mesmo jornal apresenta uma extensa lista de nomes para a futura administração interina do Iraque: Franks, Walters, Moore, Carney, Crocker, etc. Tudo nomes tipicamente iraquianos, como se pode ver. Sobre Pashashi, nem uma palavra. É caso para perguntar: Quem tramou Pashashi? Fontes próximas do gabinete do infame PM garantem-nos que o afastamento de Pashashi resulta de fortes pressões diplomáticas de Lisboa e Roma contra a nomeação do dito. «O nome poderia provocar perplexidade nas, já de si perplexas, opiniões públicas dos países latinos».
FN
 



Hegemonia
Pacheco Pereira e os infames não têm dúvidas: a esquerda domina a opinião em Portugal. Um verdadeiro perigo. Repare-se no que diziam os esquerdistas que hegemonizavam ontem as páginas de opinião do DN. Só para ilustrar o que MK já disse.

«O que deve desesperar mais os pacifistas é que a paz está a chegar a milhões de iraquianos»
Editorial de António Ribeiro Ferreira, o único ex-MES arrependido.

«Os recentes casos de pedofilia resultam todos da destruição da família e da cultura do prazer. E são todos homossexuais»
João César das Neves, membro do sector intelectual do BCP

«Saddam e Hitler»
Título do artigo do Comissário Delgado que, por razões óbvias, não conseguimos ler.

FN
 
Não visamos atingir jornalistas: Os jornalistas que estão no Iraque ficaram agora mais descansados. Depois de onze terem morrido, o Senhor Vincent Brooks, aquele rapaz alto que fala nas conferências de imprensa no Qatar, veio assegurar que as tropas norte-americanas, que se têm especializado em dar densidade conceptual à fabulosa ideia de friendly-fire, não visam atingir jornalistas. Pois as imagens do tanque hoje de manhã a disparar para o Hotel Palestina são sinal disso mesmo. Os erros nas guerras são sempre trágicos. E esta guerra é resultado de uma estratégia política repleta de erros da administração norte-americana. Esperemos que ao menos no mundo do "pós esta guerra" alguém trave os desvarios do Senhor Bush. Caso contrário, da próxima vez temos todos de votar nas eleições americanas. Aliás, a crer na publicidade que está sempre a aparecer nos blogs não será difícil pelo menos arranjar um green card PAS
 
De chorar por menos Bush

Há em Florença uma passagem inferior sob o caminho-de-ferro, ao pé de Le Cure. Le Cure é o sítio do mercado, por isso passa muita gente, atarefada, tentando ignorar as paredes pichadas de vermelho da romã florentina. Nessas paredes salpicadas pelo hip-hop fazem gala os insultos, os pedidos de emprego e de indulgência divina.

Pois nessa passagem está o Salvatore. Um farrapo de homem, de viola na mão a pedir para a próxima dose. O Salvatore é amigo de um amigo, suponho que de outros Carnavais mais afluentes, e por isso de vez em quando aparece em casa dele, nos aniversários e assim. Dia após dia, quando se cruzam na passagem inferior ficam um bocado à conversa, da qual também faz parte algum dinheiro, metido entre um então, como estás? e um adeus, pá, boa sorte.

Há dias atrás, o amigo passava como de costume na passagem. Lá estava o Salvatore, de viola na mão, mudo. Não cantava. Mais exactamente, chorava. O outro chegou-se. O que se passa, o que tens, assim não arranjas nenhum, sabias? Sabia. O que se passava era que o Salvatore tinha acabado de ler, num La Reppublica de chão já com duas semanas, o discurso da guerra do nosso presidente Bush. Chorava de impotência e protesto?

Você pode achar a história piegas, ou que tem significado incerto, ou que é demagógica. Ou então pode ver nela qualquer coisa, e comover-se. Mas o que ninguém pode é negar que, como costuma dizer a Sílvia, o presidente da América é um bocado presidente de nós todos e que por isso todos nós deveríamos poder votar a sua eleição. No taxation without representation. RB
segunda-feira, abril 7
 
First we take Monsanto Ao que leio nos jornais, é a última de Pedro Santana Lopes: guerra total às meninas em Monsanto. Carros de polícia por todo o lado, vigilância permanente, mais um sector de actividade em crise. Mas nós percebemos. Criar vários filhos num bucólico regresso à natureza exige algum recato, pacatez e ambiente familiar. Ora, maus exemplos em pleno backyard, neste caso florestal, é a última coisa que um pai de família deseja.
Os lisboetas esperam agora, emocionados, que o nosso mayor alargue a frente de batalha desta santa guerra-relâmpago a toda a capital. Aplique-se, sem demora, idêntico remédio ao Técnico, ao Intendente, ao Parque Eduardo VII, ao Restelo e por essa cidade fora! É ver como este flagelo moral de décadas se resolve de uma só penada.
Ah!, caro PSL, e não se esqueça também de dar uma espreitadela nos classificados, para montar também uma mega-operação "choque e pavor" às centenas de apartamentos que, na discrição dos perdidos, estão tomados pelo mal. Sempre são mais umas casas para os jovens em Lisboa. No fim de contas, vão ver: isto tudo demora incomparavelmente menos que tomar Bagdad.
A solução, afinal, era tão simples. Mas ninguém se tinha lembrado dela: transformar Lisboa inteira numa giganteca rusga policial. Resulta com toda a certeza. Centenas de polícias, operações-stop em cada esquina, e pronto!, afugenta-se de vez, como quem sacode um tapete, toda a degradação moral que vai por este mundo. Esta será a cidade de que, como PSL prometeu em campanha, os investidores se poderão orgulhar: uns hotéis de charme, um casino e, já que não podemos ter o deslumbrante cenário tropical do Rio, pelo menos aproveitamos a floresta mais à mão para recriar um aparato policial que faz lembrar os perímetros de segurança ao melhor rio style.

MC
sábado, abril 5
 

“Chega de Saudade”: Foi com este tema que João Gilberto fundou a Bossa Nova há quase 45 anos. Foi também ao som desta música que o adolescente Chico Buarque se rendeu imediatamente aos encantos do novo estilo e decidiu o que queria fazer na vida (não garanto que isto seja rigorosamente verdade mas é a versão que a minha memória me sugere - e gosto dela). Por estas razões, e muito especialmente pela segunda, estarei eternamente grato ao João Gilberto. Vem isto a propósito do concerto que ele vai dar no Coliseu de Lisboa "já" no próximo dia 21…de Junho (e, creio, a 19 no Coliseu do Porto). E para avisar que os bilhetes já se encontram à venda há cerca de um mês. Para os fãs da MPB, esta é uma oportunidade imperdível. E a minha sugestão é, num jeito assustadoramente Catariniano (esta tem direitos de autor): JÁ PRÁ BILHETEIRA!!! TT

Ps: li numa qualquer mini-biografia de João Gilberto na Internet que o estilo pausado e intimista característico da sua voz foi desenvolvido na casa-de-banho da sua irmã, numa época em que tentava abandonar o consumo de marijuana. Só para saberem.
 

Nem que fosse por esta razão: No mesmo artigo em que Kristol e um outro conhecido neoconservador, Charles Krauthammer, explicam como Bush vai mudar o curso da história, Thomas Friedman, especialista em política internacional do New York Times, tem estas judiciosas palavras (apesar de considerar a guerra legítima):

“This is a very presumptuous war. You need a great deal of presumption to believe that you can rebuild a country half a world from home. But if such a presumptuous war is to have a chance, it needs international support. That international legitimacy is essential so you will have enough time and space to execute your presumptuous project”.TT

 

Spooky: Não consigo evitar o arrepio que perpassa pela minha espinha sempre que vejo a singeleza (e que alguns confundem com determinação) com que os neoconservadores americanos e os seus acólitos expõem as suas teses sobre o papel messiânico dos EUA na nova ordem mundial. Duas citações de William Kristol - o editor do farol neoconservador “Weekly Standard”, que juntamente com cerca de 25 outros intelectuais neoconservadores forjou a ideia da necessidade do ataque ao Iraque -, retiradas de uma entrevista publicada no Haaretz.

“The neoconservatives succeeded because they touched the bedrock of America. The thing is that America has a profound sense of mission. America has a need to offer something that transcends a life of comfort, that goes beyond material success. Therefore, because of their ideals, the Americans accepted what the neoconservatives proposed. They didn't want to fight a war over interests, but over values. They wanted a war driven by a moral vision. They wanted to hitch their wagon to something bigger than themselves.”

“(…) This war is based on the new American understanding that if the United States does not shape the world in its image, the world will shape the United States in its own image.”

Também sentiram? TT

 
Two down (ou como se perdeu uma boa oportunidade) Duas demissões num só dia. Não é mau. Mas uma é por causa de um escândalo incontornável (enfim, confesso que pensei que isto não existia neste governo) e outra, aparentemente, por motivos de saúde. Por outras palavras, o pm (primeiro ministro) não fez nada para que estas boas notícias acontecessem. E o que podia fazer é o que parece cada vez mais inadiável: uma remodelação das antigas, para dar uma nova energia ao governo mais moribundo de que há memória ao fim de um ano de poder. Será que alguém já percebeu que se se mudasse mais de metade do governo não se perdia nada? Aliás, haveria alguma coisa a perder, exceptuando uma excelente oportunidade?

MC
sexta-feira, abril 4
 
Paulo Portas 2 O post do camarada blogger MK foi premonitório: então não é que hoje ouvi o director de um diário de referência da praça dizer na TSF, com algum júbilo, que o caso Isaltino mostrava que os elevados padrões éticos dos governantes socialistas tinham feito escola? Essa é boa, mas só se for para rir, porque até agora o que o padrão de comportamento nos diz é exactamente o contrário: a transparência que se lixe e vamos mas é ao tribunal (perdão, telejornal) da TVI resolver o assunto. Quando há alguma vergonha na cara, talvez a escola da ética republicana possa fazer o seu caminho, mas infelizmente salta à vista que nem sempre é o caso.

MC
 
Antes não havia Ministério, agora não há Ministro. O Governo do Dr. Durão Barroso parou uma série de áreas de governação. É preciso estar excessivamente atento para dar pela existência de uma política cultural, científica, de educação, de administração interna e claro ambiental e de planeamento. Pois é, há um ano que o país não sabia que tinha um Ministério do Planeamento e há um ano que o país não sabia que tinha um Ministério do Ambiente. É um dado absolutamente trágico. Mas hoje, foi dado um passo em frente, continua a não haver política de ambiente e de planeamento, mas deixou também de haver o Ministro respectivo. Um ministro que deixou de o ser porque se tinha esquecido de declarar que o sobrinho tinha umas contas na Suíça, apesar do titular das mesmas não ser o sobrinho, mas o Dr. Isaltino, himself. Estranho, não é? Só falta mesmo é agora começarem a sublinhar a honradez do personagem. PAS
quinta-feira, abril 3
 
Neoconservadores
Para a esquerda bloquista (ou bloguista), nunca houve dúvidas quanto às motivações desta guerra. «Preciso de ti: para sacar o petróleo do Iraque, para alimentar a indústria do armamento, para beneficiar com a reconstrução». É divertido ver como continuam a analisar tudo à luz da luta de classes e das teorias da dominação económica. Para eles, não há nada pior do que ganhar e querer mais dinheiro. É o maior pecado.
Mas à medida que a guerra avança, para além das motivações económicas, e muito para além da questão do desarmamento, apercebemo-nos de uma agenda ideológica mais ou menos escondida. Através dos jornais, começamos a conhecer as ideias e os rostos dos neoconservadores da Casa Branca. Só os nomes assustam: lembram generais nazis (Rumsfeld), campos de concentração (Wolfowitz), armas químicas (Kagan) e obscenidades (Pashashi).
O objectivo já não são as armas de destruição massiva, mas a democratização do mundo árabe. Será uma espécie de Quarta Vaga, desta vez imposta à bomba.
É verdade que o antiamericanismo não nasceu com Bush. Também Reagan motivou ódios e teve os seus ideólogos fanáticos - como Hayek, que, face aos neoconservadores, tem, ainda assim, a enorme vantagem de ter contribuído para a concepção da bela Salma. Mas com Reagan era diferente. O combate ao «Império do Mal» era útil à esquerda democrática e ao Santo Padre.
Para os neoconservadores da administração Bush, o que interessa agora é dividir a Europa, acabar com a NATO e com tudo o que cheire a multilateralismo. Nisto, estão bem acompanhados por alguns sectores da esquerda, que, seguindo esquemas mentais do passado, olham para a UE como uma nova URSS - o contrapoder do imperialismo americano. Era bom que se acabasse com esta espiral do disparate.
FN

 
E o populismo, compensa? O número de crimes participados em Portugal teve, no ano passado, um dos maiores crescimentos da última década. O que não significa necessariamente que a criminalidade tenha crescido: poderia sempre ter havido um aumento súbito da eficácia da polícia ou, pelo menos, dos seus aparelhos estatísticos, ou ainda uma maior confiança dos cidadãos na capacidade das forças de segurança para resolver este tipo de situações e, logo, uma maior vontade de as denunciar. Como é óbvio, porém, não consta que tenha havido mudanças significativas em nenhum destes domínios.

Imagino que isto seja embaraçoso para um governo de direita, de que ainda por cima fazem parte figuras e forças políticas que, sem hesitar, apostaram sempre na exploração dos pequenos receios das pessoas, do medo e da insegurança, como passaportes fáceis para garantir clientelas políticas que garantissem alguma expressão eleitoral. Mas a memória tem destas coisas: todos nos lembramos de ver, em tribunas várias, os PP's (Partido Popular, Paulo Portas, Pacheco Pereira e respectivos amigos) a bradar de dedo bem em riste, como convém, contra a "perda de autoridade do Estado" (com maiúscula, que para este tipo de circo o Estado interessa-lhes), a "insegurança dos cidadãos", o "crime galopante", o "flagelo dos gangs" e outras caricaturas do género. A que ponto tinham os socialistas deixado chegar o país!

Pois é. E agora, onde estão os campeões da "segurança dos cidadãos" e da "autoridade do Estado"? Será que se tornaram ministros? Ou que passaram de fazedores de opinião da oposição, cáusticos q.b., a discretos intelectuais orgânicos do governo, ainda por cima convenientemente longe dos cargos parlamentares para que foram eleitos, como cabeças de lista? Ou será ainda que afinal, o populismo não resiste nem ao tempo, nem ao poder?

MC
 
Vamos apanhar o pelotão da frente! E por este andar, já não é no espaço de uma geração. A este ritmo, sem grande esforço, mais um ano ou dois e estamos lá. Segundo o Público de hoje, o "desemprego português converge com a zona euro". Afinal, ainda há esperança para este país.

MC
quarta-feira, abril 2
 
um encontro bloguista. Ontem fez-se história bloguista. Depois de trocas de missivas, alguns de nós encontraram-se. O pretexto foi os dez anos das Produções Fictícias e o amigo comum que lá temos. Ficámos a saber que, justiça seja feita, o Pedro Mexia é melhor ao vivo do que no fotografia que postou e o Zé Mário não é um perigoso stalinista, nem tem as barbas do Trotsky. Ficou tudo provado ontem, ao som da Kylie que, para nosso bem, nos une a todos. Olhem, estava tudo óptimo!! PAS
 
A Melhor Banda de Hip-Hop de há 10 anos Em 1989 os De La Soul fizeram o melhor disco de hip-hop de sempre. Depois disso, bem, depois disso fizeram um álbum engraçado, o Buhloone Mindstate e, desde então, provavelmente por culpa minha, não tive mais notícias. Mas, hoje à noite estão no coliseu de lx, bem acompanhados por, entre outros, Sam the Kid. Espera-se que seja uma D.A.I.S.Y night. Em todo o caso, será uma oportunidade a não perder, até pela quase total ausência de concertos de hip-hop entre nós. PAS
terça-feira, abril 1
 
Uma pergunta maniqueísta
A vertigem simplificadora leva a coisas destas e, além do mais, é contagiosa. Se achas que esta guerra não é a solução, logo és contra a democracia (leia-se os EUA) e a favor do ditador Saddam. Sofisticado, ahn? Até o Dr. Durão o afirma. Mas a pergunta vai aparecendo por aí e a resposta está aqui, neste excelente artigo do José Vitor Malheiros. Não vale a pena acrescentar nada. PAS
 
Querida Maria

Lê-se na última Salon
“As a 32-year-old single female I have been told my whole life that I don't need a man. I can be educated (I am), have a career (I am working on it) and own a home (I do). The importance of being independent was drilled into me from an early age and to be fair I embraced it with open arms. I love not having to depend on anyone, knowing that I made my way in the world by myself for myself. Yet all those people who told me that I didn't need to count on a man are now the ones implying that I will be unhappy for the rest of my life if I don't find and keep a man. I have had serious relationships and have been in love. And naturally I have had my heart broken. But I moved on and worked on my other goals -- career, education -- not ignoring my love life but not putting it as a priority.
Now I have friends and family who are encouraging me to "get out and meet people," use an Internet dating service, and just basically start searching desperately for a relationship. I just can not/will not do this. First, there is an issue of pride at stake. How can I be an independent, intelligent woman and start frantically searching for a relationship as some kind of fountain of fulfillment? Second, who says I need a man? I have wonderful friends I love and a nice life. Why do I still feel conflicted about all of this? Why do I still feel conflicted about all of this? Why can't I just let it roll off my back that my achievements seem to be disregarded by some individuals simply because I don't have a man in my life? Why is it that it hurts that people no longer ask whether I am seeing someone (just assuming I am not)? And does it mean I am less of an independent woman because I let these issues bother me?
Conflicted feminist”


Cara feminista em conflito,
Você é uma vítima. Não, a sério. Você informe-se bem sobre possíveis indemnizações. Inicie amanhã mesmo uma class action contra incertos, mas arranje ainda hoje o advogado do Simpson. Vá até ao Supremo, verá que vale a pena. Não perca tempo, contacte o Costa Gravas para o filme. Faça-se embrulhar em papel celofane pelo Christo. Ou então, esbofeteie-se a si mesma para gáudio geral.
A verdade é que ninguém fala sobre isto. O governo não fala sobre isto. O PS não fala sobre isto. O Professor Marcelo, népia. O conduzir com os copos (como o Filipe), o apanhar sol a mais na pinha, o viver em Estarreja, o excesso de Lux – tudo isso são brincadeiras de criança quando comparadas com o efeito ao retardador provocado pela bomba de desfragmentação conhecida como feminismo de pacotilha. Aparentemente, de fabrico familiar caseiro.
Tenho alguma dificuldade em saber por onde lhe pegar. É claro que você precisa de um homem ou mesmo de vários. Mas você precisa mais ainda de outros amigos. Para pais novos, será já, porventura, tarde. O conflito que você sente é o resultado do atrito entre as suas ideias e a realidade. Não tente equilibrar um livro sobre a cabeça porque lhe pegará fogo. Se você não percebe como pode uma mulher ser independente e ao mesmo tempo procurar avidamente um homem, que independência não significa autarcia, nem abstinência, então vá directamente para a casa partida sem ganhar os dois contos. Voçê vive numa Albânia emotiva, dentro de um daqueles abrigos nucleares de jardim. Pois, se calhar a Internet não a melhor maneira de você conhecer homens. Porque não assediá-los no seu local de trabalho? Se bem me lembro da Demi Moore e do Michael Douglas...curioso filme. Voçê está alienada por uma ideologia das emoções fascizante. Seja marxista e emancipe-se. RB


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