<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
terça-feira, novembro 30
 
o surrealismo é aqui


estava todo feliz da vida porque telefonei para a Radar e ganhei um convite duplo para a ante-estreia, hoje à noite, do documentário sobre Mário Cesariny. Afinal fico em casa, a ver televisão. - PAS
 
Três vezes ALELUIA!
- RB
 
ALELUIA!
- RB
 
ALELUIA!
- RB

 
Cavaco e «os políticos»
1. No âmbito da pré-campanha para as eleições presidenciais, Cavaco Silva usou as páginas do Expresso para lançar um desesperado apelo a si próprio: que «as elites profissionais acordem e saiam da posição, aparentemente cómoda, de críticos da mediocridade dos políticos e das suas decisões e aceitem contribuir para a regeneração da actividade política». Na necessidade, absolutamente humana, de se colocar acima de Santana, Cavaco erra na receita. O problema do país não está na existência de profissionais da política, mas sim na quantidade de amadores da política, como se viu agora com a saída de Henrique Chaves. Tirando talvez o caso da administração norte-americana, na maioria das democracias consolidadas a política é uma carreira e não consta que isso seja um entrave ao desenvolvimento económico. O regresso das elites «profissionais e culturais» à política, desejado por Cavaco, é uma quase impossibilidade - que, aliás, a concretizar-se, seria má para aquilo que o Professor diz querer defender: «a qualidade da democracia». Se excluirmos os advogados, para a generalidade dos «profissionais» - por exemplo, empresários, cientistas, etc. -, a opção pela política significaria o fim da sua anterior carreira profissional. Ao contrário do que se diz e do que Cavaco escreve, o ponto não está na «remuneração dos agentes políticos». Em toda a parte se ganha menos no sector público do que no privado. A questão é que há áreas profissionais em que, após uns anos de paragem, não há regresso possível. Independentemente disso, é bom para a democracia que haja uma relativa autonomia entre os diferentes segmentos das elites. A política portuguesa tem estado dominada por figuras que acumulam estatutos contraditórios. É normal que assim seja numa fase de transição. Mas numa democracia consolidada a figura do empresário de manhã, político à tarde e «analista» à noite tem os dias contados. Só assim se garante um mínimo de pluralismo.
2. Todo o artigo de Cavaco é atravessado pela tese da superioridade intelectual dos «profissionais da sociedade civil». Infelizmente, o problema da falta de «qualidade» das elites portuguesas é geral: sejam elas políticas, administrativas, «profissionais» ou empresariais (não consta que o sector empresarial português seja especialmente dinâmico). No dia em que tivermos uma economia pujante, uma sociedade desenvolvida e qualquer coisa parecida com Oxford, Cambridge, a ENA ou a Ivy League, talvez venhamos a ter as «elites de qualidade» que Cavaco diz que encontrou. Agora, como o Professor bem sabe, trata-se de substituir gente manifestamente impreparada para governar uma junta de freguesia por políticos um bocado mais sérios e profissionais. Se é para este desígnio patriótico que Cavaco quer contribuir, então é bem vindo.- FN
segunda-feira, novembro 29
 
48 horas!

estará de novo aberto o período de consultas? - PAS
 
Para acabar, de vez, com o «santanismo»
Durante os primeiros dez anos da democracia, as leis de Duverger confirmaram-se: o sistema proporcional gerava multipartidarismo, instabilidade e ingovernabilidade (especialmente à esquerda). Mas as regras existem para serem subvertidas. Especialmente em Portugal. E entre 1987 e 1999 tivemos maiorias estáveis de um só partido no parlamento. Em 2002, com a coligação PSD/CDS e a evolução ideológica do Bloco, parecia que estávamos a entrar numa nova fase, na qual direita e esquerda radicais passariam a ter uma palavra a dizer no governo. O problema, como sugeria José Manuel Fernandes no editorial de quinta feira, é que o CDS e o BE nunca cresceram o suficiente para sustentar essa nova fase. De forma repartida, PS e PSD concentram 80 por cento dos votos (um sistema considera-se bipartidário com pouco mais). Esse desequilíbrio estrutural entre «grandes» e «pequenos» torna insustentável a existência de coligações pré ou pós-eleitorais. Neste momento, o governo dos doutores Lopes e Portas está em decomposição. Há dois PSDs. O CDS ameaça morrer do «sucesso» de 2002, como bem observou Mexia (o Pedro, no DN da última terça). O BE continua ambíguo em relação à Europa e ambiciona mais do que três por cento. O melhor seria que os portugueses subvertessem de novo a lógica do sistema eleitoral, dando desta vez uma maioria absoluta ao PS - mesmo achando que ele não merece. - FN
domingo, novembro 28
 
That's how good a government it is


Este é um governo do qual Henriques Chaves se demitem.
- RB
 
Os Henriques Chaves abandonam o navio

Depois ter assumido o cargo há quatro dias, Henrique Chaves, ministro do Desporto e da Juventude, demitiu-se alegando falta de solidariedade, estabilidade e coordenação por parte de, quem havia de ser, Santa Lopes.
- RB
sexta-feira, novembro 26
 


quinta-feira, novembro 25
 
O PS está in
O Pula Pulga é um dos meus blogues favoritos. Tem aquilo a que autores como Antonio Gramsci ou José Bourbon Ribeiro chamam de «fidelidade orgânica» - ou, se preferirem, a «linha justa». Foi, por isso, com perplexidade que vi o Pulga escrever isto: «O PS está out? Quem leia os fazedores de opinião, ou esteja atento ao que se diz pelas ruas, ou acompanhe a balbúrdia no seio do PPD-PSD e na coligação, fica com uma ideia do país que não bate certo com a abulia do PS (...)»
Esta conversa sobre a «abulia» do PS - que se ouvia muito durante a liderança de Ferro Rodrigues e agora (menos) com Sócrates - é uma daquelas conversas que não levam a lado nenhum. Já toda a gente sabe que ser líder da oposição em Portugal não é tarefa fácil. O Estado é fortemente centralizado e os ciclos autárquicos têm coincidido com os parlamentares. Ou seja, quando se perde as legislativas, perde-se tudo. Recentemente, numa entrevista com Maria João Avillez, Nuno Morais Sarmento tocou neste ponto, falando da «necessidade de repensar o estatuto da oposição». É uma questão que o PSD não deixará de colocar «oportunamente» (ou seja, quando voltar à oposição).
A isto acresce o problema da relação com a comunicação social. Com ou sem centrais da comunicação, as iniciativas do governo dominam a agenda e as respostas dos partidos dos extremos são a única linguagem que entra na cabeça dos jornalistas (não é por acaso que o debate político blogosférico se faz, em grande medida, entre os principais animadores do barnabé e do acidental). No entanto, esta radicalização do discurso, sendo obviamente má para a sanidade do sistema político, está longe de ser eleitoralmente dramática para o PS. Pelo menos nos próximos tempos. Por uma razão muito simples: porque ninguém se interessa pelo que «os políticos» têm para dizer. A percentagem de portugueses que consome jornais, blogues e sic notícias, isto é, que se interessa por política, é infelizmente mínima - e mesmo entre esses estão pessoas exigentes que não alinham necessariamente com radicalismos mediáticos. Na hora de votar, no essencial, o que conta é a performance económica, a gestão política do governo e a imagem dos dois líderes em competição. Nesse momento, os sound-bytes do Dr. Louçã já estarão num lamentável esquecimento. Sócrates para já, tal como Ferro durante dois anos, pode dizer o que quiser que ninguém o ouve. Resta-lhe ocupar o Largo do Rato e preparar um programa de governo que traga o tal «módico de normalidade e decência» de que fala Vasco Pulido Valente - o que, no actual contexto, já não é pouco. No fundo, seguir um caminho que estava a dar bons resultados eleitorais, por muito que isso custe à inteligência fulgurante do Dr. Prado Coelho. - FN
quarta-feira, novembro 24
 
A escolha de Jerónimo
A "inclinação consensualizada" do comité central para escolher Jerónimo de Sousa como secretário-geral do PCP foi recebida com um rol de críticas. No essencial foi dito que esta opção acentuaria o declínio eleitoral; a nova liderança representava uma vitória da linha "cunhalista" e do sector ortodoxo (epíteto que, curiosamente, o candidato refutou); e que o PCP seria cada vez menos um Partido de poder. Contudo, estas afirmações podem pecar por precipitadas.
continue a ler aqui. - PAS
 
Uma reserva moral
Vale a pena ler para se perceber que não é de agora a tendência irreprimível do já afamado ministro dos assuntos parlamentares Rui Gomes da Silva para protagonizar histórias lamentáveis. Ao que parece, o tribunal de Cascais tentou, durante três anos (!), notificar o então deputado e membro do Conselho Superior do Ministério Público para pagar uma dívida a um banco. Entre 1996 e 1999, foi impossível ao tribunal encontrá-lo, apesar das sucessivas tentativas - que incluiram cartas registadas, cópias da notificação remetidas para o domicílio de Gomes da Silva, afixação de notas à porta de sua casa, etc. Apesar de todo este infrutífero aparato, só quando a polícia foi metida ao barulho é que, finalmente, o dr. Gomes da Silva pôde ser notificado.
Toda a história é, em si, assustadora, e passa de assustadora para inaceitável tratando-se de alguém que era na altura deputado e membro de um órgão importante no quadro institucional da justiça - e que é hoje ministro. É, aqui, irrelevante o motivo da notificação ou as patéticas justificações telegraficamente dadas ao Público por escrito, em que o visado se escuda atrás de um processo de divórcio (?!) - que, aliás, no máximo lhe deve ter dado vários bons pretextos para ir a tribunal. Mas, no fundo não deixa de ser verdade que há aqui um claro divórcio. Pelo menos, entre o ministro Gomes da Silva e o mais elementar respeito pela justiça e uma conduta cívica minimamente digna. - MC

 
Da firmeza das convicções.
quer ser Presidente da República?
Apesar de todo o respeito que tenho pelas instituições, toda a vida fui monárquico. Mas em teoria, mais uma vez, não posso dizer que não.
da entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado.
- FN
 
O chibo
Durão Barroso chegou a ser sua fonte, nomeadanente no caso da manta?
os senhores revelam as suas fontes?
Mas o senhor já não é jornalista.
Então esperem pelas minhas memórias.
da entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado.
- FN
 
Não dá para ser Juiz, mas dá para ser Ministro.
a escolha da magistratura implica a certeza de que as pessoas são capazes de decidir sobre a vida dos outros. Eu seria incapaz de ser magistrado ou juiz.
da entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado.
- FN
 
Palavras do líder de um partido com especial vocação autárquica
em geral, acho que o PSD e o CDS devem coligar-se, por exemplo nas eleições autárquicas, essencialmente onde podem ganhar.
da entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado.
- FN
 
Com amigos destes III
o que lhe pareceram as declarações de Cavaco Silva dizendo: "temos que rezar para que o Governo não volte ao caminho do despesismo e do descalabro nas finanças públicas"
tenho memória suficiente do peso da despesa no produto ao longo das últimas décadas em Portugal para atribuir a essa reflexão o carácter de uma reflexão de quem também se está a lembrar do que aconteceu durante o seu consulado.
da entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado.
- FN
 
Com amigos destes II
ninguém pode dizer que não conhecia o que se passava dentro da comissão de inquérito [ao acidente na refinaria de Leça].
o ministro Álvaro Barreto disse que não sabia.
eu, quando tenho um director-geral que me representa numa comissão de inquérito, sei o que é que ele lá faz e sei o que se passa lá, porque é meu dever informar-me.
da entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado
- FN
 
Com amigos destes
Visitou o José Braga Gonçalves na cadeia?
Não.
Sendo amigo dele, seria de esperar que o visitasse.
Não. O José Braga está a passar um momento difícil e eu respeito quem está a passar momentos difíceis.
entrevista de Paulo Portas à Revista Sábado
- FN
terça-feira, novembro 23
 
Wandering star
Please could you stay awhile to share my grief
For its such a lovely day
To have to always feel this way
And the time that I will suffer less
Is when I never have to wake

Wandering stars, for whom it is reserved
The blackness of darkness forever

Those who have seen the needles eye now tread
Like a husk from which all that was now has fled
And the masks that the monsters wear
To feed upon their prey

Wandering stars, for whom it is reserved
The blackness of darkness forever

Always doubled up inside
Take awhile to share my grief
Always doubled up inside
Taunted, cruel...

Wandering stars, for whom it is reserved
The blackness of darkness forever

Portishead, Dummy (1994)- MC

 
Há dez anos




Banda sonora improvisada de uma destas noites. Um dos melhores álbuns dos anos 90, ou um inverno que durou uma década inteira. - MC

segunda-feira, novembro 22
 
Vale a pena conhecê-lo


Quinta-feira comprei pela primeira vez a revista Sábado. A capa prometia: uma grande fotografia do senhor ministro de Estado e da Defesa Nacional com o coelhinho da playboy por baixo: «Portas sem tabus». Portas posou para a Sábado. Numa longa entrevista «de vida», falou da infância, da família, da política e dos escapes: cinema e noites de dança (diz que é melhor dançarino que o futuro secretário-geral do PCP; a Cinha e a Teggy são testemunhas).
Paulo Portas é bisneto de Sacadura Cabral, mas nunca lhe passou pela cabeça ser aviador. Nem mesmo em criança. A mãe, Helena Sacadura Cabral, é que tem brevê. No entanto, à cautela, Portas nunca andou de avião com a mãe a pilotar. (De facto, antes ser pilotado pelos malucos das gloriosas máquinas voadoras.) A figura da mãe está, aliás, presente ao longo de quase toda a entrevista. Ultimamente, as más línguas dizem que foi Helena Sacadura quem lhe decorou o Forte de São Julião da Barra (residência oficial do ministro da Defesa). Portas desmente: «Se a minha mãe tivesse ajudado, isto tinha muito melhor aspecto». Onde a mãe parece ter ajudado foi nas dietas: «Helena Sacadura divulga dietas que fez para o ministro Paulo Portas» (título da Caras, 20 de Novembro).
A seguir ao 25 de Abril, com o clima político a aquecer, o jovem Paulo rumou a Paris. No momento em que Soares e Cunhal regressavam, Paulo «dava de frosques» (expressão utilizada pelo próprio a propósito da demissão de Guterres). «A minha mãe não achava que fosse uma educação certa para uma pessoa estar a assistir a uma revolução em directo.» Partidos, eleições, trabalhadores a defenderem direitos. Um horror. Apesar desta história e dos professores jesuítas, Paulo Portas considera-se «um bocadinho fruto da educação dr. Spock» (fui ao google ver se era mesmo o personagem do Star Treck, mas afinal trata-se de um pedagogo progressista). A filosofia do Dr. Spock resume-se nesta frase de Portas: «administrar a liberdade com a autoridade dos pais». Só assim se explica que o irmão Miguel seja tão diferente. Segundo o próprio Paulo, os irmãos começaram a divergir «desde que se conheceram», provavelmente ainda na fase inicial de Vasco Granja: ao contrário de Miguel, Paulo não seria certamente adepto da escola checa da animação.
Ao longo da entrevista Paulo Portas fala da coligação (grandes frases que vou pôr aqui nos próximos dias) e recorda com saudade os tempos do Independente. Nisto, o entrevistador lança uma pergunta desconcertante: «Há o boato de que se consumia droga e álcool na redacção. É verdade?» Portas, como é óbvio, não confirma. Mas a avaliar pela qualidade do velho Independente, acho que era de fazer o mesmo em todas as redacções. No entanto, como diria o Dr. Sampaio, há vida para além do jornalismo e da política. «As pessoas que se dedicam a 100% a uma só coisa ou a um só objectivo acabam mal», reconhece Paulo Portas. Portas é como aquele personagem do gato fedorento: «uma pessoa que também tem os seus hobbies». Não só discotecas e cinema, mas também música e religião. Um vez contaram-me que o único CD que Portas tinha em casa era um da Celine Dion. Mais uma mentira. Os entrevistadores garantem que «Paulo Portas gosta de música: recebeu a Sábado ao som de jazz». E realmente nas fotografias que ilustram a entrevista vê-se não só o livro «Rumsfeld Way» como também uma pilha de CDs (infelizmente, Seal é um dos poucos artistas identificáveis). Outra garantia da Sábado: «Portas é mesmo religioso: no domingo interrompeu a entrevista às sete da tarde em ponto para ir à missa». Na senda do bloqueio ao barco do aborto e da homengem a Maggiolo, o ministro da Defesa Nacional e do Alto Mar até prepara mais uma «cerimónia particular» que não deixará de pacificar, particularmente, a sociedade portuguesa: «O marquês de Pombal mandou prender 122 jesuítas nas masmorras do forte [de São Julião da Barra]. Gostava de fazer uma cerimónia particular para pôr isto mais em paz.» Paulo Portas é assim. «O caso mais espantoso que conheço de dissonância entre percepção e personalidade própria», segundo Miguel Esteves Cardoso. Portas reconhece-se neste retrato: «É por isso que criei uma frase publicitária para mim mesmo a dizer "Vale a pena conhecer-me"». E vale mesmo. - FN
domingo, novembro 21
 
País Relativo, phd
No país com maior índice de doutorandos do mundo, foi feito jus ao nome e o primeiro a deixar tão incompleta condição foi o nosso físico residente, que está obviamente de parabéns. Agora já podemos usar este título, ou pelo menos PR 1/10phd, enquanto outros décimos não se seguem. - PR
quinta-feira, novembro 18
 
Deixem-nos fumar!
Seguindo o exemplo da Irlanda, Noruega, Nova Iorque e Escócia, em Portugal vai passar a ser proibido fumar em locais públicos. As consequências desta medida, já experimentadas noutros países, não são nada recomendáveis. Como se pode ler no último número da revista Economist (p. 43), a proibição tem afectado não só a indústria tabaqueira mas também o sector da restauração. A venda de bebidas alcoólicas baixa (cigarro pede cerveja, cerveja pede cigarro); o desemprego aumenta. A proibição não só ataca direitos individuais como ameaça boicotar a tão falada retoma do Dr. Santana. - FN
quarta-feira, novembro 17
 
O drama do PSD
Em Barcelos, ao longo de três dias foi sempre assim. Em todas as intervenções esteve sempre presente o queixume, a lamúria. O Dr. Santana por três vezes falou para confessar que se sente incompreendido, maltratado pela imprensa. Os seus ministros naturalmente acompanharam-no nas queixas - uns de forma mais convicta, outros menos. Nunca visto. Este comportamento revela a fragilidade em que vive a coligação. Contudo, esconde aspectos estruturais, mais determinantes do estado em que se encontra o PSD e o Governo.
Antes de mais, aquilo que tem sido muitas das vezes sublinhado e que atingiu a sua plenitude com o «caso Marcelo»: a preocupação excessiva do Governo com o que dele se diz. Preocupação que é filha do facto de Santana Lopes ser produto da imagem, da qual vive e depende. Para o primeiro-ministro, a imagem é o principal capital político, mas, também, o elemento compensador do que não tem - capacidade de definir um rumo político e estabilização desse mesmo rumo. Ainda que, por paradoxal que possa parecer, essa obsessão não venha sendo traduzida numa boa imagem pública deste Governo. Têm razão os dirigentes do PSD/PPD quando se queixam de que são maltratados pela imprensa, mas importa perceber as razões por que tal acontece.
continue a ler aqui.
- PAS
 
Confiança
Em Santana. No Governo. Na coligação. Nos ministros. Nos números do orçamento. No estafado discurso da retoma. na responsabilidade desta gente em final de mandato e a querer ganhar as eleições a todo o custo. Não, decididamente não. Impossível. - MC
 
Verdade
Esta ascensão de Santana tem pelo menos uma virtude. É que a sua insistência obsessiva no PPD PPD PPD PPD repõe a verdade das coisas, pelo menos em parte. É que o PSD é há muitos anos, de facto, e cada vez mais, um partido popular: claramente de direita, liberal em questões económicas, conservador nos costumes e nas questões sociais, reservado face à Europa - com o "patriota" Santana, indecorosamente pouco reservado, aliás. Assim sendo, a verdade está mais próxima. Agora só falta a última metade: erradicar do discurso e do nome esse equívoco histórico que é a designação "social-democrata". Alvíssaras a quem resgatar, vivos, os sociais-democratas dignos desse nome ainda activos no PPD. - MC
 
Palavrinhas misteriosas
No cenário (bem infeliz, por sinal) utilizado em Barcelos destacavam-se em letras mais do que garrafais umas palavrinhas misteriosas: "verdade" num dia e "confiança" noutro, se bem me lembro. Engraçado. Ninguém conseguiu identificar sombra de nenhuma delas por ali. - MC
 
À deriva
Em Barcelos, Santana ia ser aclamado como líder e ganhar balanço para o resto da legislatura. Em vez disso, passou o tempo a tentar apagar fogos num estilo pouco menos que pirómano. Fez uns discursos longuíssimos, sem uma ideia que se visse (nada de novo, portanto), entre os bocejos da plateia e a impaciência do país. Estranhamente, optou por uma postura de justificação do dificilmente justificável e gastou o seu tempo, e o dos seus correlegionários, obcecado com ataques de inimigos quase sempre imaginários - bodes expiatórios que, com tanta atenção, só promoveu ao estrelato e ajudou a credibilizar. Percebeu-se, também, que esta brincadeira da coligação é mais impopular do que o próprio Santana pensava. Seja como for, já se sabia que os portugueses desconfiavam profundamente da ideia, e dos seus resultados; agora ficámos a saber que nem os incentivos mais ou menos velados ao silêncio sobre o assunto conseguiram calar, no palco ou fora dele, os críticos. O improvável Marques Mendes leu bem a situação e é, desconfio, o verdadeiro vencedor deste congresso, protagonizando a azia das irrequietas "bases" do partido. Tão grande que nem foi lida a gentil cartinha que o dr. Paulo Portas, que à cautela preferiu não aparecer, enviou ao "conclave" laranja. De caminho, o CDS ficou irritado com tudo isto e os níveis de ansiedade e nervosismo ali pelo Caldas devem estar a níveis proibitivos. Até pode ser que venha a haver coligação, mas uma coisa é certa: adivinham-se tempos sombrios, e pelo menos a pré-campanha (que vai começar já) vai ser feita em separado. Cada um a remar para seu lado, e a todo o gás. Isto vai balançar, sim, mas não para o lado que Santana previa. - MC
 
Obrigado, Rui
Não percebo porque é que os tipos da Lega Nord se querem afastar da Mezzogiorno. Buttiglione e Tremaglia enganaram-se. A Itália é que deve estar dominada por "culattoni". - FN
terça-feira, novembro 16
 
Restar-lhe-á tempo para mais alguma coisa?


No Sábado, em pleno congresso do PPD/PSD/PPD/PSL, Santana disse que estava tudo bem, que já tinha falado com Paulo Portas. Já no Domingo, instado a comentar a ausência do Ministro do Mar no encerramento do conclave, disse que, ainda naquele dia, se ia encontrar com o Dr. Portas. Ficámos, hoje, a saber que ontem almoçaram juntos e que hoje fizeram-se ao mar acompanhados um pelo outro. A pergunta que fica é mesmo se resta ao Dr. Santana tempo para fazer mais alguma coisa que não confortar o Dr. Portas. Para governar, por exemplo. - PAS

 
É a vida!
Nicolau Santos, a propósito da "verdade" do orçamento, lembra aqui uma série de coisas que convém atentar. Entre elas sublinha isto: "a verdade toda é que a despesa baixa, mas à custa da insuficiência de dotações para certas áreas (a educação e a saúde são os casos mais flagrantes) e da desorçamentação escandalosa na saúde (600 milhões de euros) e do Instituto de Estradas de Portugal (400 milhões de euros). O mais certo é que haverá um orçamento rectificativo na segunda metade de 2005."
Repare-se bem: orçamento rectificativo na segunda metade de 2005. Na segunda metade de 2005, que é precisamente quando o Presidente já não pode dissolver o Parlamento. Ora o Presidente, depois de não ter convocado eleições quando devia, dificilmente terá outro pretexto igualmente bom para o fazer. Aliás, só lhe restam dois pretextos - manifestos desentendimentos entre a coligação ou um descalabro orçamental. O primeiro dos pretextos só uma propensão para o abismo o concretizaria(convém ainda assim não menosprezar o dr. Santana). Já o segundo, é uma inevitabilidade. Contudo, o descalabro orçamental será convenientemente "chutado" para o segundo semestre de 2005 e o Presidente, então, já nada poderá fazer. É a vida!
- PAS
segunda-feira, novembro 15
 
A síntese possível



O congresso, os discursos de Santana, o que o primeiro-ministro disse e anunciou com interesse real para o país fora das centrais de comunicação. Tanta coisa, e no fim, feitas as contas, uma mão cheia de nada.- MC

domingo, novembro 14
 
"Are you talkin' to me?"
"trabalhar para uma plataforma eleitoral que alargue a outras forças políticas e a movimentos de cidadãos". "Não são os Estados Gerais, os Estados Gerais têm barbas, é uma plataforma política e eleitoral para ganharmos as eleições decisivas de 2006".
Pedro Santana Lopes, Congresso do PSD/PPD/PPD/PPD



"there is no one else around"
- PAS
 
O cavalo de Santana
- O Pedro Pinto é vice-presidente do PSD. Não achas que aquilo bateu no fundo?
- Não. Desde que o imperador Calígula tentou nomear o seu cavalo para um alto cargo público, tudo é possível. - FN
quarta-feira, novembro 10
 
Gelatina política
Há uns anos, a expressão foi utilizada para descrever o então líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, e poucos, à distância, duvidarão da pertinência de tal qualificativo.
Hoje, o conceito está de novo pronto a usar. Mas, mais grave, o destinatário já não é líder da oposição; é o primeiro-ministro indigitado pelo presidente Sampaio. Aliás, em rigor, é todo o Governo que está transformado numa massa gelatinosa informe e errática a quem resta como rumo e desígnio supremo a sôfrega procura do dia seguinte.
A dependência de sucessivos simulacros comunciacionais, a propensão populista a pulsar a cada esquina, a total descoordenação entre membros do governo vários e a pura incapacidade para manter como verdadeiro o que é dito no dia anterior são nada menos do que assustadores. Quase todos os dias conhecemos mais exemplos.
Agora é a história do orçamento para 2005 e da descida do IRS, e os protagonistas são, apenas, o próprio primeiro ministro e o seu tão credível e sério ministro das finanças. Primeiro Santana desautorizou Bagão, que por sua vez vem desmentir Santana. Ninguém se entende e, acima de tudo, já ninguém entende. Ou melhor, entendemos todos muito bem. - MC
 
Mais um episódio


Fallujah, mais uma batalha. Mais vitórias, mais derrotas, mais baixas. Nada se resolverá. E dentro de alguns meses tudo estará outra vez na mesma, se não pior. - MC
 
Apoiará Cavaco o PSD?
As eleições presidenciais estarão omnipresentes durante o Congresso do PSD do próximo fim-de-semana. Não importa que, contrariando os timings definidos quando era candidato a candidato, Santana Lopes tenha remetido na sua moção o tema para o final do primeiro semestre de 2005.
Pode a direcção do PSD tentar assobiar para o lado e procurar fazer do congresso um momento de catarse colectiva, de união em torno do líder para dar um novo fôlego ao governo. Pode tentar tudo isso, mas, por mais que o faça, as presidenciais e o Dr. Cavaco vão estar sempre à espreita. É que se a prioridade do PSD é ganhar as próximas legislativas, neste percurso, as eleições mais relevantes, por serem as mais complicadas, são precisamente as presidenciais.
continue a ler aqui. - PAS
terça-feira, novembro 9
 
Os vendedores de ilusões
No outro dia tropecei na fantástica notícia de que o ministro da saúde anunciara um orçamento para 2005 em que o Serviço Nacional de Saúde dava lucro. Lucro! O défice que ano após ano se vai agravando não diminui, o que seria bom, nem desaparece ? o que já pertence ao campo do inimaginável. Não, as perspectivas de curto prazo são tão boas que passa a haver um superávite financeiro. Um prodígio digno de um Harry Potter da política, cuja explicação, a não ser que se trate mesmo de um fenómeno paranormal, não anda longe. Deve ser mais uma história como a das listas de espera: desaparece uma porque se criou outra. Isto e muita imgainação contabilística, se não for coisa pior. É que saúde pública com lucro, já se sabe, das duas uma: ou má saúde ou más contas. Ou, provavelmente, casos muito graves das duas ao mesmo tempo. - MC
sexta-feira, novembro 5
 
Mais quatro anos



E esta pode bem ser a senhora que segue. - MC
 
O Kerry que nos resta



Para o resto do mundo, é sempre um apetecível destino turístico. Para os americanos que queiram agora fugir enquanto é tempo, o extremo sudoeste da Irlanda pode ser o destino de emigração ideal. - MC

quinta-feira, novembro 4
 
o lugar onde


"não achas que a esplanada é uma pequena pátria a que somos fiéis? Sentamo-nos aqui como quem nasce"
Ruy Belo, Ácidos e Óxidos
- PAS
quarta-feira, novembro 3
 
Sinto-me enganado



"Alguma vez tiveram a sensação de terem sido enganados?", perguntava Johnny Rotten no final de um concerto dos Sex Pistols, num misto de raiva e ironia, como que para desmascarar a "grande fraude" que era a atitude da sua banda. Hoje, quando escrevo, numa altura em que se desconhecem os resultados das eleições presidenciais norte-americanas e independentemente destes, é também assim que me sinto: enganado, defraudado.
continue a ler aqui
- PAS
terça-feira, novembro 2
 
Kerry
À direita envergonhada já só lhe resta um argumento: a política externa de Kerry nao será diferente da de Bush. Em entrevista ao El Pais (18 out., nº 10.000, nao está online), Thimothy Garton Ash desmonta esta ideia: "Robert Kagan diz que os americanos sao de Marte e os europeus de Vénus. Na realidade, os republicanos sao de Marte e os democratas sao de Vénus. Há dados que indicam que os eleitores democratas estao mais próximos dos europeus do que dos republicanos. (...) Pensar que Kerry representaria uma mudança de estilo mas nao de substância é um enorme equívoco. O estilo é a substância. Para aí metade dos problemas com a administraçao Bush nao se referem tanto ao que ela fez mas à forma como o fez. O unilateralismo nao é tanto o que se faz mas como se faz. Kerry insiste sempre na necessidade de aliados e amigos para enfrentar os problemas. É um multilateralista. A mudança de Bush para Kerry pode ser muito maior do que parece."- FN

 
my own private ticket


- PAS
 
O eterno mito do eterno luso-qualquer-coisa: o caso americano
O Público fez ontem uma extensa elencagem dos luso-americanos na política americana: no congresso e no senado, os que saem, os que se mantêm, os que se candidatam pela primeira vez. São muitos, o que à primeira vista surpreende, mas depois percebemos: o conceito estende-se, sem aparentes problemas, até à terceira, quarta geração. Um avô(ó), ou bisavô(ó) português e já está: luso-americano, luso-descendente, luso-qualquer-coisa - e normalmente, pouco luso, na prática.
É certo que nos Estados Unidos a naturalização das pertenças em "comunidades" fortemente sedimentadas do ponto de vista simbólico no imaginário da sociedade americana tem um grande peso identitário, sendo a sua reprodução geracional um dos efeitos mais nítidos de tal enraízamento. Por isso, nesse contexto específico, pode fazer sentido este tipo de conceito muito alargado. Para o bem e para o mal, um neto de portugueses é sempre, nos Estados Unidos, um neto de portugueses, e esta ascendência conta. Mesmo que não fale a língua nem tenha qualquer ligação a Portugal ou, até, a outros luso-descendentes.
Mas não é menos verdade que em Portugal a tentação de alargar o luso-qualquer-coisa para domínios onde o sentido de o fazer será necessariamente ténue, é um tique comum - e, por vezes, terrivelmente oportunista. Tal como provavelmente sucede noutros países de dimensão reduzida, onde se vê no tamanho, e no sucesso, da diáspora uma espécie de redenção para uma inescapável pequenez; ou, hipótese pior, uma reminiscência vincada de uma grandeza colonial perdida. (Não é novo: basta que um Sam Mendes tenha vagamente um bisavô português ou que Patrick Vieira mencione um avô cabo-verdiano para que, mesmo que não haja nenhuma identificação com o rótulo, nem com a língua, nem com o país, nem com nada, a coisa passe. Com uma ressonância patrioteira e saudosista que em muitos casos é francamente embaraçosa.) É urgente, como acto de higiene identitária, que sejamos capazes de nos desfazer desta mania, um pouco complexada, de mitificar a luso-pertença, levando-a além limites do aceitável - e do suportável.
A este respeito, e já que estamos numa de escavar a história muito para lá do que ela tem de relevante para o presente, quase até aos domínios do bizarro, podem descansar as consciências mais patriotas. Segundo reputados especialistas consultados pelo Público, 26 dos 43 presidentes americanos são descendentes de...D.Afonso Henriques (!). Pelas minhas contas, 60,5% dos presidentes do país mais poderoso do mundo. Notável, notável. Não há dúvida (já não havia!) de que há oito séculos tivemos homem.
Mais: indepentemente do resultado da corrida presidencial e da contabilidade dos luso-americanos eleitos para o congresso e senado, ficámos também a saber que estas eleições são favas contadas. Sim, desenganem-se os que pensavam que só em caso de vitória de Kerry haveria uma portuguesa na Casa Branca (aliás, uma primeira dama que parece razoavelmente envergonhada de o ser). É que se recuarmos vinte-e-nove gerações (coisa pouca), há quem tenha descoberto que Bush e Kerry, também eles, são os dois descendentes...de D. Afonso Henriques, mais uma vez(!). O score de Afonso Henriques subirá, portanto, para 27 em 44 presidentes, 61,4% - seguramente bem mais do que o vencedor (qualquer que venha a ser) obterá hoje. Por isso, no fundo, está já encontrado o grande vencedor das eleições. O mínimo que se podia exigir seria que o vencedor (Kerry ou Bush) agradecesse no discurso da vitória, reconhecido, ao avô Afonso. Porque não há coincidências e dê por onde der o ego da nação já ganhou, uma vez mais engrandecido. Portugal pode dormir descansado. Aliás, dormirá certamente. - MC
 
E Day



Post 2 em 1: wishful thinking + declaração de voto (tão desnecessária,por óbvia, quanto infelizmente inútil). - MC
 
D Day



Hoje vai ser um dia longo nos Estados Unidos, ao qual provavelmente se seguirá uma longa noite de contagem de votos. O mundo estará de olhos postos na América. Estaremos todos de olhos postos na América, esse outro planeta do lado de lá de um oceano que poucas vezes terá parecido tão largo. - MC
segunda-feira, novembro 1
 
Uma história simples
(com dedicatória para o Olegário, para outros perigosos suspeitos de benfiquismo, e também para o Real)
O Silves-União de Santiago (de Santiago do Cacém), da Série F da III Divisão estava inicialmente previsto para domingo (ontem), mas acabou por ser antecipado para sábado. O árbitro designado, de nome Marco Trombinhas, não compareceu - supõe-se que por não ter sido informado pela federação da alteração de datas.
Como mandam os regulamentos, quando isto sucede alguém é escolhido entre os presentes para o substituir, e as duas equipas acordaram que o árbitro improvisado fosse alguém com conhecimentos de arbitragem: Francisco Vicente, dirigente da equipa da casa. Repare-se: não simpatizante, não sócio, mas dirigente do Silves. Escolhidos para fiscais-de-linha, perdão, árbitros assistentes, foram dois adeptos do Silves que se encontravam no estádio para assistir ao desafio.
O jogo terminou com a vitória tangencial do Silves por 2-1, e o árbitro recebeu no final os parabéns dos intervenientes de ambos os lados. Sem casos, sem problemas, sem necessidade de lesar nenhuma das equipas. Nem para beneficiar os "seus" nem, mecanismo espantoso, para os prejudicar no sentido de demonstrar a sua imparcialidade (?). Como as coisas aparentemente mais complicadas podem ser tão simples... Mas só quando podem, de facto. - MC
 
Enquanto os cães passam
e a caravana ladra
passeamos num subúrbio
sabendo que ninguém nos sorrirá
no admirável mundo novo

Tiago Gomes, Viola-me eléctrica, Fenda, 1998- MC


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