<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
segunda-feira, março 31
 
Tardio, mas em todo o caso cá vai. Fui um dos 400 leitores do Duplo Império do infame PM, e 400 livros vendidos, que eu saiba de um primeiro livro, de poesia, e ainda por cima de uma edição de autor, devem ter feito deste livro um bestseller da poesia contemporânea portuguesa. Pela minha parte, e esta só percebe quem tiver lido o livro ou quem tiver a sorte de o encontrar por aí nas livrarias, sou fã das nuvens, do céu e dos olhos que desenham as figuras que fazem as Três Teorias. Que aliás escolhi para epígrafe da única tese que tive de escrever até hoje (muito antes dos blogs serem sequer um projecto e de confirmar que o PM era um perigoso direitista). Se o sucessor, Eliot e Outras Observações , que hoje foi lançado na fnac, for tão bom como o anterior, estamos conversados.

MC
 
GIRLS ON BLOG

Desta Lisboa à beira mar plantada, solidarizo-me com o blogger florentino RB. A televisão italiana é mesmo do piorio, pelo menos a julgar pelas amostras recolhidas in loco e pelo que a tvcabo nos vai impingindo. A RAI é, todos os dias, pior que uma TVI de baixo orçamento num dia particularmente mau. E lembram-se daquele canal italiano de música que durante escassos meses ocupava o último dos canais do cabo? O dia em que acabaram com essa inolvidável pérola, cujo nome infelizmente não recordo de momento, foi muito mais triste que o fim da xfm. A única coisa boa em Itália é mesmo o fabuloso calciostream: futebol nonstop, 24 horas por dia de segunda a domingo, campeonatos de todo o mundo. Sei o risco que estou a correr e o dano que posso estar a causar à produtividade do país, mas espero que já não falte muito para nos juntarmos ao pelotão da frente nesta matéria tão importante: para quando um canal destes em Portugal?
Mas serve este prelúdio para dar conta de um fenómeno estranho q.b.: nas várias reacções da concorrência ao país relativo, mais do que uma tem por inflamado mote o pequeno contingente de bloggers no feminino por estes lados. Há sempre a hipótese de tudo se resumir a uma questão de pura inveja, claro. Mas não acredito que infames e marretas só nos últimos tempos tenham descoberto as vantagens de haver dois sexos...
Não deixa, por isso, de ser espantoso que, aparentemente, ninguém se tivesse lembrado disto – até agora – e que a tímida blogofeminização do país relativo mereça tanto falatório. É como se, como tantas vezes acontece, o facto (a quota masculina de quase 100%) se tivesse transformado em regra não escrita.
Mais espantoso ainda é que, como sempre, lá veio a conversa estafada das quotas para as mulheres, convenientemente acompanhada de um sorriso malandro de orelha a orelha. É uma espécie de equação viciada à partida. Será que é assim tão difícil perceber que pode mesmo haver mulheres a participar nas coisas sem que isso tenha sido imposto por decreto?
É por este tipo de lógica, e porque no fundo as microsaias da TV italiana estão longe de ser o elo mais fraco, que há quem as defenda (às quotas). É que às vezes mais vale uma má solução do que um problema ainda pior.

MC

 
Lilli Gruber

A cobertura da guerra infame na televisão italiana não destoa do panorama deprimente da restante tv transalpina. Como se sabe, Berlusconi controla seis canais e meio dos sete disponíveis. Mas não era sobre isso que queria falar. A verdade é que dos jornalistas enviados especiais ao “teatro de operações”, apenas uma, a bela Lilli Gruber da RAI 1, é mulher. Ora, sete canais, pelo menos cinco cidades (NY, Koweit City, Doha, Bagdad e Basorá), dá 35 jornalistas. Apenas uma é mulher. Mas mesmo a Lilli, óptima jornalista (apresenta de costume o telejornal na Uno), não se safa de ser italiana. Ainda ontem, por exemplo, ofereceu à nação de Vieri o scoop de entrevistar, com o chauvinismo típico aqui do burgo, o núncio apostólico em Bagdad. Enquanto o fazia, a guerra acontecia lá fora. Porque era italiano, e falava italiano e porque a Igreja Católica desfruta em Itália de uma preponderância absolutamente inaceitável no espaço informativo. Por algum motivo, Massimo D’Alemma se sentou na primeira fila da canonização de Monsenhor Escrivá de Balaguer. Só falta mesmo os jornais trazerem aquelas pequenas notas informativas, como em Portugal antes de 1910, do tipo: Sua Senhoria o Papa passa sem mais novidade na Sua Importante saúde.

Voltando à vaca fria. As mulheres em Itália não temem tanto o cancro da mama como o efeito da passagem do tempo sobre os seus rostos, seios e glúteos. Em especial, as que dependem da boa forma e estado de conservação das referidas partes para se manterem à tona no encapelado mar televisivo. Poder-se-á talvez observar que as restantes senhoras italianas estão ocupadas a tiranizar os seus filhos varões ou, as mais bem nutridas, a insinuar pernas em programas desportivos dominicais. A verdade é que o meio televisivo italiano é absolutamente sexista e talibânico. A mulher não fala, basta-lhe estar presente, desde que sempre bonita e de mini-saia, e, lá está, cruzando e descruzando as pernas. Poucas conduzem programas, menos ainda os realizam, quase nenhuma os dirige. No jornalismo e programação televisivos italianos, a presença de mulheres em funções que requerem uma competência diferente da habilidade para a maquilhagem ou simples literacia e numeracia, como a de repórter de guerra, é quase inexistente. A importante excepção a esta continuada catástrofe foi a recente nomeação de Lucia Annunziata para directora da RAI. Pode ser que alguma coisa mude, mas duvido. RB
opaisrelativo@hotmail.com
domingo, março 30
 

E por falar em Prospect: Tenhamos ou não ilusões (nós não temos) de que uma das razões da intervenção anglo-americana no Iraque terá sido a de democratizar o Médio Oriente, a discussão sobre a viabilidade da democracia naquela região é incontornável, face a uma mais que provável – e desejável – derrota do regime ditatorial de Saddam. A edição de Abril da revista inglesa publica quatro interessantes ensaios sobre o tema, dividindo-se as opiniões relativamente à possibilidade de sucesso do modelo democrático na região. Do lado dos cépticos, refere-se a inexistência nas sociedades árabes de uma cultura política que, no curto espaço de tempo de uma ou duas gerações, permita o surgimento da democracia. No campo dos optimistas invoca-se, entre outros argumentos, o precedente do Japão e da “reabilitação” (1945-52) que se seguiu à II Guerra, que muitos consideravam impossível. Aqui.TT.
 
Em nosso nome não. Mas certamente no deles: Nas últimas semanas, têm vindo a lume os nomes das empresas a quem foram, ou a quem muito provavelmente virão a ser, entregues os lucrativos negócios da reconstrução do Iraque pós-Saddam. Como era previsível, as empresas dos EUA são, até agora, as únicas beneficiadas. Também não se estranhou que a maioria das felizes contempladas tivessem estreitas ligações à Administração Bush (o caso mais flagrante é a adjudicação à Kellogg Brown & Root, uma subsidiária da Halliburton, a sociedade anteriormente liderada pelo actual vice-presidente, Dick Cheney, de um contrato milionário para o apagamento dos poços de petróleo em chamas no Iraque e reparação das infra-estruturas petrolíferas do país). A mais recente e muito comentada novidade nesta matéria é a possibilidade da Administração republicana optar por construir no Iraque um sistema de rede de telemóvel CDMA. Ao que tudo indica, o lógico seria utilizar um sistema GSM, actualmente usado em todos os países do Médio Oriente. No entanto, conforme alertou, com visível preocupação, um importante congressista republicano citado pela Salon.com, a escolha do GSM iria beneficiar as empresas “francesas e europeias”, que têm o mesmo sistema. Pelo que o ideal, explicou o congressista, seria implementar o sistema CDMA, desenvolvido pela empresa norte-americana Qualcomm, por sinal uma importante financiadora do congressista californiano.
É, de facto, enternecedor ver o afã com que os americanos se empenham na libertação do povo iraquiano. TT

sábado, março 29
 
remediar os estragos
Ao senhor Rumsfeld deu agora para falar da Convenção de Genebra, esquecendo-se claro que desde o Afeganistão os EUA já violaram 15 artigos da mesma. E não venham com a conversa maníqueista da ditadura vs democracia. É que é mesmo com as democracias que devemos ser mais exigentes. E o problema é que a democracia americana está entregue a uma maltosa do piorio - que além do mais tem uma lógica obsessiva que lhes tolda a razão, se nada mais! E no meio de tudo isto, lá continuam a 80 kms de Bagdad. Estranho, mas pensava que o comissário Delgado tinha previsto para a última quarta-feira uma entrada apoteótica na cidade. Não há emenda e nós pouco poderemos fazer para além de remediar os estragos. É que vai ser disso que se vai, brevemente, começar a tratar. Depois da destruição massiva! PAS
sexta-feira, março 28
 
O Mundo ficou perigoso
Já não há volta a dar, o mundo ficou perigoso e está para durar e, no entretanto, Portugal está sempre mais estranho. O muito belicista Público, para compensar concerteza os serenos editorais, oferece hoje um cd com os "sons de paz". Não dá para acreditar! Em que é que ficamos? Eu, por exemplo, quando ouço a Isabel Silvestre no cdzinho penso logo em guerra. Mas a verdade é que tanto pluralismo editorial começa a ser suspeito. Convém aliás não esquecer que a hegemonia se esconde sempre por detrás de um q.b. de pluralismo. PAS

 
Quarto com vista sobre Florença

Agora que o Pedro Lomba revelou a minha costeleta florentina, pareceu-me por bem fazer uma pausa na guerra infame. Trata-se de dizer mal de Florença. Passo a explicar porquê.

Imaginemos que chegam de avião, seguramente um daqueles pequenos, a hélice semi-a-jacto. O aeroporto é de curta pista, agachada por trás de uma praça de táxis. Não se manda parar um táxi na rua. Não, tem que se telefonar. Ainda bem que o aeroporto tem uma praça cheia deles. A estação da Rodoviária de Grândola era escandalosamente maior. Do hotel para o centro, per favore.

A verdade é que o centro da cidade cheira mal. A cidade fica numa cova, ainda rodeada de pântanos estava o D’Anunzio em Fiume. O rio, de um castanho esverdeado de natureza morta, é habitat de uma mutação genética perturbante, entre rato e castor. A ponte Vecchio, vista de perto, está velha a cair. Os turistas atafulham-se no centro, destruindo com o simples andar a cidade que os rodeia. Eles mandam tudo o que é afresco para o restauro, ao que parece pelo simples facto de respirarem. Mas o que é o centro? O centro é a região delimitada precisamente por um anel de Internet Cafés e lavandarias para americanos (de duvidosa utilidade, portanto). Para lá do centro ficam os famosos viales, a única segunda circular da cidade.

Arte rima com Florença, não é? Florença é um museu imenso. Sim, a cidade está cheia de Davides, mas nenhum deles o original. O original está a ser restaurado as we speak. Florença tem piazzas como a região oeste tem rotundas. A cidade vive em estado de sítio de palácios, miradouros e igrejas. Uma orgia de interesting sites. Atravesse o rio, para o outro lado, Oltrarno. Aí existe, espetado no coração da mais bela zona de Florença, um imenso latifúndio de jardins, chamado Jardins Boboli, onde se podem apreciar, entre outras guloseimas para espíritos contemplativos, grutas artificiais.

E depois, a quem é que interessa tanto a arte do Renascimento? Se quiser ver uma escultura mais nova que o Papa terá de se dirigir ao centro de arte contemporânea mais próximo, na suburbana Prato, essa Brandoa-upon-Coventry. Ora, Florença é ao pé de Prato e isto é um defeito. Ou seja: a arte contemporânea em Florença está longe do centro como os hipermercados em Lisboa estão longe da Baixa. E na verdade, em Prato, ao pé do centro de arte, está o único hipermercado dos arredores. Florença é o infeliz paraíso do comércio tradicional. E arquitectura moderna? Vá a Marco de Canavezes ver. Até porque os arquitectos italianos só não constroem em Itália.

Depois das onze da noite, digamos, não se vê vivalma per strada. Andar de pescoço no ar todo o dia cansa. Todo o dia o turista faz tudo sempre igual, acorda às seis horas da manhã e sorri um sorriso pontual. Todo o dia ele só pensa em poder parar; ao meio-dia, já só pensa em dizer não. Até porque amanhã há mais, muitos mais. À noite, pode sempre ir a um dos bares irlandeses cheios de americanos it’s like, you know. E concertos, aparte os de música clássica? Vá a Roma ou Milão. Cinema, só dobrado.

Como se isto tudo não bastasse, a Fiorentina conseguiu, depois de grosso escândalo, descer, se não me engano, para a série C1, os regionais. No próximo domingo, poderá, caro turista encalhado, assistir ao Fiorentina x Borgo San Lorenzo. Como dizia o Ruben A., Florença ao Domingo é como Gondomar com estátuas.

RB
quinta-feira, março 27
 
Se há coisa que não admito é que se diga mal dos B'52's. Tudo tem limites, é uma questão de princípios. Houve até um tempo em que a Kim Basinger cantava com eles. Era também o tempo da Kim Basinger, o que já não é hoje o caso - infelizmente para nós!!!. O "my own private idaho" era, é absolutamente genial. A mim não me apanham, também por isso, em anti-americanismos. Mas esta guerra, safa, safa, é completamente infame! PAS


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