<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
sábado, novembro 29
 
A CULPA É DE UM

Porventura foi uma hecatombe de esperanças
um desabar de algum modo previsto
ah! mas a minha tristeza teve um sentido só

todas as minhas intuições assomaram
para ver-me sofrer
e seguramente viram-no

até aqui tinha feito e refeito
os meus trajectos contigo
até aqui havia apostado
em inventar a verdade
mas encontraste a maneira
uma maneira terna
e ao mesmo tempo implacável
de deixar sem esperança o meu amor

com um simples prognóstico o deportaste
dos subúrbios da tua vida possível
o embrulhaste em nostalgias
o carregaste por um bom bocado
e devagarinho
sem que o ar nocturno o apercebesse
ali mesmo o deixaste
sozinho à sua sorte
que não é, pois, muita

creio que tens razão
a culpa é de um quando não se faz enamorar
e não dos pretextos
nem do tempo

faz muito, muito tempo
que eu não me enfrentava
como ontem à noite ao espelho
e fui implacável como tu
mas não fui terno

agora estou só
francamente


custa sempre um bocadinho
começar a sentir-se um desgraçado

antes de regressar
aos meus lúgubres acampamentos de Inverno

com os olhos bem enxutos
se por acaso

te vejo ao entrar na neblina
e começo a recordar-te

Mario Benedetti

RB
sexta-feira, novembro 28
 
Friendly fire: Clara, se efectivamente desejas casar, afasta-te dessas senhoras enquanto é tempo. FN
 
A esquerda não tem o monopólio do coração:
«Há uma mãe que vem ter comigo preocupada porque a filha tinha uma gravidez de risco. O que é que nós que estamos em cargos públicos havemos de fazer senão ajudar uma mãe preocupada com a filha?»
António Vicente Figueiredo, Director Regional do Ministério da Educação, Público, 27 de Novembro FN


 
Alvalade e eu A última vez que estive no velhinho Estádio de Alvalade, na saudosa superior sul e bem perto da Torcida Verde e da Juve Leo, foi para assistir a um famoso Sporting-Benfica em que o Beto, tentando salvar a carreira ao Jorge Cadete e já em desespero de causa, marcou dois auto-golos de belo efeito que fizeram o resultado final. Foi uma despedida em beleza.

A primeira vez que fui ao Alvalade XXI foi para assistir ao jogo de ontem. O Beto não marcou, mas também não foi preciso. Pela minha parte, e correndo o risco de não ser convidado a voltar lá nos próximos dez anos, considero o novo estádio do sporting oficialmente inaugurado. MC
 
Contra todas as probabilidades, o pintasilguismo está, afinal, bem vivo. Dado como extinto há largos anos (mais ou menos por altura dos últimos vestígios do lince da malcata), ressurge agora pujante e, sempre em cima do acontecimento, já está bem lançado na blogosfera, com dois representantes de peso: o desejo casar e o companheiro secreto.

Os neo-pintasilguistas definem-se, e cito, mais pelo "relativismo antropológico" do que pelo tradicional "autoritarismo moralista" de que foram aqui acusados pelo FN; são "dialogantes na linha guterrista" mas "alinham em muitas questões" com o BE; juntam "algum" (sic) antiamericanismo com "pacifismo" e "tolerância" face às minorias. Por fim, e "sobretudo", são ainda e sempre católicos (progressistas é que não sabem bem) e afirmam-se pela defesa dos direitos das mulheres em questões como a "violência doméstica e a excisão".

O próximo passo desta nova agenda emergente poderá ser a recolha de assinaturas para as próximas presidenciais que, como se sabe, estão à porta. Nas bases, já se fala em nomes de mandatários para a juventude e para a blogosfera. É ler para crer. MC
 
Supa Sister: ontem, num lux cheio, um concerto agradavelmente surpreendente de Ursula Rucker. Sem a sofisticação produzida dos discos e apenas acompanhada por um baterista e um criativo guitarrista, sempre com guitarra acústica cheia de efeitos, e com alguma, pouca, maquinaria, Ursula Rucker trouxe as músicas e as palavras (que são, no caso, não menos importantes) totalmente despidas. Aquilo que nos discos parecia ser a sua principal virtude, o bom gosto nos arranjos, as companhias seleccionadas a dedo, não foi trazido para o concerto. E o surpreendente é que, perdendo por aí, Ursula Rucker ganhou ao revelar canções em esqueleto de uma qualidade que estava escondida. Para além do mais, ficou demonstrada uma amplitude nas vocalizações que, em disco, parecia não existir (houve de tudo, a habitual spoken word, mas, também, momentos mais rappados, mais soul - muito bons - e mais hip-hop), bem como uma simpatia e uma doçura que as palavras duras e cruas das letras não anteviam. Um grande concerto, de alguém que vale por si, autonomamente de quem a revelou (os Jazzanova, os 4Hero, etc.) e que tem, cada vez mais, uma forte identidade criativa. E depois, no meio da agenda política feita música, está uma das maiores canções de 2003: Lonely can be sweet. PAS
quinta-feira, novembro 27
 
See the world through a prism: Hoje à noite no Lux, Ursula Rucker, uma senhora, por vezes excessivamente zangada, responsável por dois dos melhores discos dos últimos tempos. Uma agenda política feita música ou uma música feita agenda política.
"Challenge the lawmakers
Be a risk taker not a move faker
Don't be scared to care
Get involved
Resolve problems not cause them (...)
See the world through a prism
Be unwilling to feel imprisioned (...)
Stop to love
Rise above mediocrity
Question yourself and hypocrisy (...)
Is there any escape from the torrential down pouring of
Neglect
Disrespect
Mass aceptance of conventions
Will I be a living contradicion?
Or will I go forth with my mission?"
PAS
 
Eppure si muove Ainda não migrámos para o weblog, mas pensamos fazê-lo. Não temos fotografias – ainda – mas andamos a pensar nisso. Temos o mesmo template desde o início, e também já pensámos mudá-lo. Também temos desde sempre a mesma cara – mas essa não estamos a pensar mudar. Seremos, é forçoso admiti-lo, ortodoxos, os últimos. Mas até os ortodoxos fogem de Peniche. E foi assim que perdemos a cabeça com as possibilidades mirabolantes das tecnologias mais modernas. Sim, agora podem mandar mails para cada um de nós e, já agora, dar algum descanso à Mariana. Basta clicar aqui ao lado na coluna de nomes relativos. PR
 
Pintasilgo: Disse-me o PAS que andou por aí uma polémica em torno da engenheira Pintasilgo. Espero que o blogue pintasilguista não me leve a mal, mas a verdade é esta: sou um antipintasilguista primário. O meu problema com a engenheira é como a música do Zé Mário Branco: vem de longe, de muito longe, de 1985. Tinha 10 anos, e, como tal, é um problema muito lá de casa. Com o governo do bloco central, houve muita gente da «pequena burguesia técnica e de enquadramento» que se desencantou com a «incoerência» do Dr. Mário Soares (o meu herói) e que se deixou levar pela «criatividade» (coisa sinistra!) da engenheira Pintasilgo.
Entre «essa gente», atenção, há muito boa gente: desde logo, 90 por cento da minha família mais próxima. Nas eleições presidenciais de 1986 apenas duas pessoas da minha família apoiavam Mário Soares: a minha avó paterna e eu. A minha avó, porque «ele tinha sido primeiro-ministro e jamais votaria numa mulher». Eu, porque pertencia a uma turma que era uma aldeia soarista rodeada de casacos e chapéus à Freitas por todo o lado. «És ?do Soares??! Antes a Pintasilgo que ao menos acredita em Deus», diziam os do 1ºB (os colegas e os vizinhos). A Rosa Pomar e o Pedro Estêvão (soarista da 2ª volta) são capazes de se lembrar dessa batalha épica.
Hoje, passados estes anos todos, acho que a melhor definição do pintasilguismo ainda é a de Manuel Villaverde Cabral: «o pintasilguismo a alma cristo-marxista da esquerda mais nostálgica». Aquilo é uma mistura explosiva - literalmente explosiva na América Latina - do pior da direita (o autoritarismo moralista) com o pior da esquerda (a luta de classes). Assim de repente, para se perceber melhor a ameaça que isto ainda hoje representa para a democracia liberal, diria que a figura que melhor personifica o pintasilguismo (ainda melhor do que a que deu o nome à coisa) é a Dra. Catalina Pestana. FN

quarta-feira, novembro 26
 
CRAWL
Às vezes, entranhando-me num espelho, consigo dar nele duas ou três braçadas sucessivas.

ESPELHOS
Um lábio contraindo irrealidade
- é isso o que me traz
o mar, de que os espelhos são reminiscências.


MERGULHO
O céu mal se equilibra, do mar, dele
no corpo os corações sendo embaixadas,
irrompem as falésias e nós, como
se as víssemos
melhor quando sobre elas o mar poisa uma das asas,
entramos por nós dentro até de nós
nem mesmo a mais pequena marca subsistir na água.


Luís Miguel Nava, Rebentação (1984).

RB
 
Católicos Progressistas
Foi preciso Portugal voltar a ter um governo como o que temos agora para que em Portugal voltassem a haver católicos progressistas. Uma medalha de mérito duvidoso para os peitos de Durão, Bagão e Portas. Sejam todos bem vindos à oposição democrática. Aveiro espera-nos. RB
 
Sociologia: O Pedro Lomba colocou há uns dias uma questão muito pertinente: uma pessoa vai para sociologia porque é de esquerda ou é de esquerda porque passou pela sociologia? Não tenho nenhuma meso-teoria sobre o assunto, mas ofereço a minha história de vida à comunidade científica:
Entrei para o curso de Sociologia do ISCTE fez agora dez anos (!). Escolhi sociologia, porque não havia ciência política (que é outro buraco, se calhar ainda maior). O meu pai fez tudo para evitar esta minha escolha: disse que aquilo não era «um curso a sério», ofereceu-me um livro de sociologia e até me arranjou um encontro com um sociólogo. Nada foi suficiente para me demover. Hoje, passados dez anos, dou-lhe toda a razão. Por essa altura, aos 18 anos, já me tinha «desiludido» com o cavaquismo e gostava da «liderança moderada» do PS. Fui uma vez a uma manifestação só para protestar contra o espancamento dos estudantes, porque já então era a favor das propinas. Basicamente, seguia os artigos do Prof. Espada para me posicionar ideologicamente e O Independente para me divertir. Era um liberal democrata sem grandes preocupações sociais: um potencial eleitor dos ?whigs? ou do FDP alemão. Era mesmo assim, ridículo.
Acho difícil uma pessoa de direita optar pelo ISCTE; mas mais difícil ainda é continuar de direita até ao fim do curso. Basta ver que o professor mais à direita que eu tive foi o Paulo Pedroso. Para evitar as cadeiras sociológicas, recorri a tudo: história operária, economia portuguesa (I e II), e introdução ao direito (pena ter ficado pela introdução). Lembro-me de uma cadeira que tinha um nome extraordinário: «Sociologia e Ideologia do Libertarismo».
Até que, em 1996, chegou o grande momento: a cadeira (obrigatória) de sociologia das classes e da estratificação social* (que de «estratificação» tinha muito pouco). Como se não bastasse o convívio com alguns relativos, ainda tive que levar doses cavalares de Marx, Bourdieu, Olin Wright e outros que já não me lembro. Foi a pior nota do curso, mas foi determinante para chegar com outra convicção à esquerda. Eu não levo as classes demasiado a sério, nem desço a avenida por causa delas, mas aquilo é como as bruxas: que as há, há. Acima de tudo, incomoda-me a ideia de que alguém pode cair numa determinada situação não por causa das suas opções ou do seu mérito individual, mas simplesmente por causa da sua origem social. É uma coisa que me chateia. Nem vale a pena citar o Rawls e outros liberais de esquerda mais complicados. Em suma, as minhas convicções políticas, depois de passar pela sociologia das classes, resumem-se a esta bela frase de John F. Kennedy, traduzida pelo DNA de sábado passado: «Todos nós temos talentos diferentes, mas todos nós gostaríamos de ter iguais oportunidades para desenvolver os nossos talentos».

*Os professores tinham uma tipologia das classes sociais muito interessante, e eu cheguei à conclusão que a minha família pertencia à «pequena burguesia técnica e de enquadramento». Informei o meu pai do facto; e ele só me disse: «vê lá se lês menos de dia e se mais bebes uns copos à noite». É o que tenho procurado fazer desde então. FN

terça-feira, novembro 25
 
PS copia Marcelo: Este era um dos títulos do caderno principal do semanário Expresso, uma nova versão do Inimigo Público que sai aos sábados. Tudo porque o Partido Socialista se lembrou de organizar umas tertúlias no Martinho da Arcada. «Tal como os encontros criados por Marcelo Rebelo de Sousa no café Nicola, os socialistas convidarão uma personalidade para uma intervenção política que terá como cenário um café», dizia o Expresso. Aparentemente, antes da liderança de Marcelo Rebelo de Sousa (1996-1999), nunca se tinha visto uma coisa destas: uma personalidade a fazer uma intervenção «tendo como cenário um café». Ainda para mais um Café Nicola (fundado em 1929) ou um Martinho da Arcada (1782). Já sabíamos que Marcelo era o criador dos factos políticos. Qualquer dia o Expresso anuncia que Marcelo é o grande criador do universo. FN
segunda-feira, novembro 24
 
Será que faz sentido haver o Inimigo Público?
Ao contrário de outras mentes mais sãs, insistimos em comprar e, ainda pior, ler o Expresso, quer dizer, ler os títulos do Expresso. E por aí ficamos, pois os títulos são verdadeiramente obstáculos de riso intransponíveis. Ora vejam lá estes exemplos, e apenas do caderno principal:

“Soares edita livro em várias línguas”;
“Sarmento com férias inoportunas”;
“Deus Pinheiro garante que não haverá despedimentos no Estado”;
“Renova choca franceses”;
“Renovação comunista desmobilizada – «cautelosos» deixam de aparecer”;
“Palmadas proibidas em crianças”;
“PSP promete disparar menos”;
“O paradoxo Bosingwa”;
“Católicos pagam dívida do Cristo-Rei”;
“Michael Jackson em maus lençóis”.

PAS/RB
 
Porque me faz falta a blogosfera? O Francisco José Viegas retoma o tema recorrente do metabloguismo, explicando porque faz o Aviz e afastando do conjunto dos motivos qualquer explicação essencialista. Como o próprio afirma, fá-lo no tom que lhe apetece e como lhe apetece e até lhe apetecer. Escreve, por isso, sem agenda, nomeadamente porque não tem responsabilidades políticas.
Aqui no País Relativo, ainda que nada dados ao metabloguismo, é também mais ou menos assim, mas com a diferença de que há, entre nós, quem tenha responsabilidades políticas. Este aspecto tem sido, desde o início, motivo dos maiores equívocos em relação a este blog e se lerem os comentários em que anuncio a criação do meu outro blog terão um exemplo condensado desses mesmos equívocos.
Em primeiro lugar, porque fazendo parte do País Relativo pessoas com responsabilidades políticas no PS, logo se tomou todo o blog como o "blog do PS", nas suas diversas variações. Em segundo, porque houve sempre quem esperasse que por aqui se fosse comentando e marcando a agenda política quotidiana - ex. as propinas, o código laboral, a revisão constitucional. Daí a pergunta frequente: "então, não dizem nada sobre isso?" Em terceiro, porque, já por diversas vezes, coisas aqui escritas, num estilo intransponível para outros meios, foram usadas como posições de dirigentes partidários.
Acontece que as razões porque faço este blog, e julgo falar pelos restantes relativos, não se prendem com uma determinada agenda política, nem com a necessidade de dizer coisas que, por algum motivo, não possa dizer noutros meios, ficando, eventualmente, à espera que sejam daqui repescadas para esses meios. Faço este blog, e provavelmente isto é ainda mais verdade para o outro, porque gosto de ter vida para além da vida que agora me ocupa 90% do tempo profissional (a política), mas, também, porque faz parte da minha agenda pessoal, mas, também, política, escrever sobre um disco de que gosto, um concerto a que fui, um filme a que quero ir ou qualquer outra coisa de que no momento me apeteça falar. Escrevo quande tenho vontade e até tê-la, sem agenda, nem coerência. A maior parte do meu tempo passo-o a escrever sobre política e a fazer oposição - seja lá o que isso quer dizer -, pelo que o País Relativo é, antes de mais, o espaço de tudo o resto que me interessa.
A blogsfera foi uma coisa fantástica que aconteceu e, por isso, espanta-me que neste espaço de liberdade, de incoerências e cuja principal virtude é a total amálgama de temas, de tons, de sujeitos e de registos, haja permanentemente uma tentativa de impor a alguns bloggers uma agenda que não a sua - pessoal, idiossincrática, mas, ainda, assim transmissível. Citando um político já desaparecido: "é uma coisa que me chateia". PAS
 
Como perguntar se têm o livro? Parafraseando mais uma vez o nosso RB, diria que algo está profundamente errado na minha vida quando me vejo obrigado a ir à FNAC comprar um livro intitulado "Como Perguntar?" (não, não é sobre boas maneiras) da autoria de um senhor chamado William "Foddy" (!). FN
 
A mulher de César. Acho vergonhoso que Judite de Sousa, directora da RTP, ainda por cima casada com o presidente da Câmara de Sintra (conhecido como "o careca do Benfica"), ande a fazer publicidade ao crédito à habitação da Caixa para emigrantes. Indirectamente, está a promover a especulação imobiliária e a degradação da paisagem urbana. À mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer. Vejam lá se eu não tenho razão. FN


 
Mais um caso de "friendly fire", meu caro Rui. FN
domingo, novembro 23
 
We are the pigs Os suede vão cessar actividades no final da digressão de promoção da compilação de singles que acabam de lançar. Ou, segundo versões mais piedosas, vão parar durante pelo menos um ano. Por outras palavras, “dar um tempo”. Provavelmente, não lhes fará mesmo nada mal, a julgar pelo últimos álbuns de originais, francamente medianos.

Mas, histeria adolescente e um glamour kitsch muito, muito britpop à parte, o trajecto dos suede nos três primeiros álbuns (até ao excelente coming up, de1996) é interessante porque neles conseguiram conjugar na perfeição as duas versões mais correntes, e antagónicas, da experiência das imensas periferias em que se transformaram as cidades europeias. Na sonoridade, e sobretudo nas letras, lá estão todos os ingredientes do imaginário de horror suburbano feito de violência, droga e marginalidade, com que muitas vezes se fabrica um produto vendável – mas um retrato ainda assim pouco fiel da vida dos muitos milhões de pessoas que habitam estes espaços. E lá está também o outro lado da moeda: a monotonia lúgubre e degradada dos dormitórios, a repetição dos dias sempre iguais, a sensação de não se pertencer a quase nada – a não ser a margens cada vez mais distantes dos centros. O curioso é como estas duas visões raramente se cruzam de forma articulada num mesmo discurso. Quando não só convivem paredes meias como são, na verdade, partes de uma mesma realidade que se cruzam permanentemente. O que os suede conseguem transmitir é esta contiguidade. Como estas experiências dúplices se misturam, de forma incoerente mas inevitável. E surgem numa beleza translúcida, ácida, intrinsecamente tão momentânea quanto repetitiva.

Nos textos de Brett Anderson, é a banalidade que se torna brutal, enquanto o abandono da marginalidade se torna, de súbito, mais suave. As vidas e espaços dos subúrbios ganham nova alma – a única a que podem aspirar –, quando mergulhados e fundidos na vida da cidade a partir da sua própria lógica. Tudo filmado de perto, numa linha indefinida entre um cinismo paternalista e carinhoso, e o desdém de quem labora sobre os escombros da sua experiência. Anderson escreve sobre estes cenários em grandes planos estranhamente púdicos e purificadores, retratando objectos, lugares e pessoas reconduzidos aos seus próprios termos. E, ora penosamente ora de forma enraivecida, re-sacralizados.

Os suede tardios movem-se noutros universos, talvez de forma menos característica, seguramente menos inovadora. Nos álbuns mais recentes, os jogos perversos pela definição da prioridade simbólica na perspectivação da vida urbana e uma aguda consciência de classe muito inglesas estão quase ausentes. Mas, independentemente do que possamos dizer e escrever sobre os capítulos que se seguiram, esses álbuns iniciais ficam, mais ou menos datados, como documentos da experiência de uma certa juventude. Para quem não há nada no horizonte: We will watch them burn. MC

 
Picnic By The Motorway

I'm so sorry to hear about the news,
Don't you worry,
I'll buy us a bottle and we'll drink in the petrol fumes,
I'm so sorry to hear about your world,
Don't you worry,
There's a gap in the fence down by the nature reserve

Hey, such a lovely day
Such fun
Looking at the lovers in a lay-by with my little one

I'm so sorry to hear the news today,
Don't you worry,
There's been a speeding disaster so we'll go to the motorway,
I'm so sorry to hear about the scene,
Don't you worry,
Just put on your trainers and get out of it with me

Hey, such a lovely day
Such fun
Looking at the lorries in the litter with my lovely one

We could go dancing, we could go walking,
we could go shopping, we could keep talking,
we could go drinking, we could sit thinking,
we could go speeding, or we could go dreaming, see?


(do álbum coming up, 1996)

MC

 
Jumble Sale Mums

Oh, jumble sale mums, what are they on?
Kids just sit hanging round the street
And they've got somebody else's clothes on

Jumble sale dads, boil in the bag
Says some things that I can't repeat
And he swears...

Oh, this ain't the highlife
This ain't the highlife
This ain't the highlife
This ain't the highlife...

Oh, jumble sale mums, what are they on?
Kids just sit hanging round the street
And they've got somebody else's clothes on

Jumble sale dads, now she's packed her bags
Says some things that I can't repeat
And he swears...

Oh, this ain't the highlife
This ain't the highlife
This ain't the highlife
This ain't the highlife...

(lado b incluído na compilação Sci-Fi Lullabies, 1997)

MC

 
Tributo a John F. Kennedy
Discurso de Robert F. Kennedy na Convenção Nacional do Partido Democrata, em Atlantic City, New Jersey, no dia 27 de Agosto de 1964:

... No matter what talent an individual possesses, what energy he might have, no matter how much integrity and how much honesty he might have, if he is by himself, and particularly a political figure, he can accomplish very little. But if he is sustained, as President Kennedy was, by the Democratic Party all over the United States, dedicated to the same things that he was attempting to accomplish, he can accomplish a great deal.

... So, when he became President he not only had his own principles and his own ideals but he had the strength of the Democratic Party. As President he wanted to do something for the mentally ill and the mentally retarded; for those who were not covered by Social Security; for those who were not receiving an adequate minimum wage; for those who did not have adequate housing; for our elderly people who had difficulty paying their medical bills; for our fellow citizens who are not white and who had difficulty living in this society. To all this he dedicated himself.

But he realized also that in order for us to make progress here at home, that we had to be strong overseas, that our military strength had to be strong. He said one time, "Only when our arms are sufficient, without doubt, can we be certain, without doubt, that they will never have to be employed." So when we had the crisis with the Soviet Union and the Communist Bloc in October of 1962, the Soviet Union withdrew their missiles and bombers from Cuba.

Even beyond that, his idea really was that this country, that this world, should be a better place when we turned it over to the next generation than when we inherited it from the last generation. That is why--with all of the other efforts that he made--the Test Ban Treaty, which was done with Averell Harriman, was so important to him.

And that's why he made such an effort and was committed to the young people not only of the United States but to the young people of the world. And in all of these efforts you were there all of you.

When there were difficulties, you sustained him. When there were periods of crisis, you stood beside him. When there were periods of happiness, you laughed with him. And when there were periods of sorrow, you comforted him. I realize that as individuals we can't just look back, that we must look forward. When I think of President Kennedy, I think of what Shakespeare said in Romeo and Juliet:
"When he shall die take him and cut him out into stars and he shall make the face of heaven so fine that all the world will be in love with night and pay no worship to the garish sun."

I realize that as individuals, and even more important, as a political party and as a country, we can't just look to the past, we must look to the future. So I join with you in realizing that what started four years ago--what everyone here started four years ago--that is to be sustained; that is to be continued.
... FN
sábado, novembro 22
 
Come Undone
Björk fez ontem anos, mais precisamente 38. Pretexto bom como outro qualquer para aqui deixar a letra da canção dela de que eu mais gosto, embora quase não conheça mais nenhuma outra. A verdade é que gosto muito do óptimo cover feito por Maria João e Mário Laginha, que recomendo. Mas do que eu gosto mesmo é da letra.


Unravel

While you are away
My heart comes undone
Slowly unravels
In a ball of yarn
The devil collects it
With a grin
Our love
In a ball of yarn

He'll never return it

So when you come back
We'll have to make new love

He'll never return it

So when you come back
We'll have to make new love

Björk, Homogenic (1997)
Maria João e Mário Laginha, Undercovers (2002)

RB
sexta-feira, novembro 21
 
O cúmulo da perversão "Desemprego agrava as contas públicas" Algures esta semana, era este, assim, o título de capa do JN. Que o governo já (?) não sabe o que fazer não é novidade. Nem sobre o desemprego, nem sobre as contas públicas, nem provavelmente sobre quase nada. Mas que agora, depois de durante meses infindáveis ter assistido passivamente e em silêncio militante à subida do desemprego, e depois de manifestamente ter falhado todos os objectivos económicos e orçamentais, tente arranjar responsáveis para os seus erros e venha culpabilizar os desempregados pela situação calamitosa das contas públicas, é um bocadinho demais.

Na verdade, é um círculo vicioso bem conhecido: quando o mercado não funciona e não há respostas de política social activas e eficazes para o corrigir, os desequilíbrios acentuam-se. O mercado passa a funcionar ainda menos, prejudicando também as contas públicas. Tornam-se, então, necessárias mais e mais onerosas políticas sociais, mas como o mercado não funciona, o Estado também dificilmente tem receitas e condições para dar resposta ao desemprego em larga escala.

Então, como que por magia de uma retórica oportunista e perversa, embrulha-se esta sucessão de trapalhadas como constituindo uma trágica inevitabilidade para a qual só há uma solução: reduzir as despesas em protecção social, desproteger, cortar em toda a parte, cortar (por exemplo) nos subsídios de desemprego e de doença. Será por acaso que esta notícia surge agora, e que o Governo já anunciou medidas neste sentido?

Será demais lembrar que não são os desempregados que penalizam as contas públicas, mas sim os erros de política económica que penalizam, e muito, quase meio milhão de desempregados? A questão é: o que andaram estes senhores a fazer nos últimos tempos, quando poderiam ter tentado impedir este crescimento brutal das pessoas que ficam sem emprego? MC


 
Afinidades electivas Assim de repente, um abraço, Eduardo. RB
quinta-feira, novembro 20
 
o surf aqui ao lado: para não abusar da paciência dos restantes relativos e evitar o consequente risco de expulsão, resolvi, numa jogada de antecipação, ir apanhar ondas também para outro lado.PAS
 
se eu estivesse em londres: sei onde é que estaria. na rua, em protesto silencioso contra o absoluto incompetente que está a embrulhar o mundo todo no maior dos sarilhos. PAS
 
Broken statues É curioso como o que nos acontece na vida pode sinalizar para os – ou para alguns – amigos a quebra do sonho normativo que em nós sonhavam, nessa medida desorientando-os, enquanto para nós mesmos pode prosaicamente marcar a saída desse mundo e a entrada no mundo do vulgar de Lineu. Sim, os homens deviam nascer com trinta anos feitos. Não, como é óbvio, para que soubessem já tudo. Precisamente o contrário: para poderem ser sábios no lidar com o milagre da multiplicação das dúvidas, que é o que nos acontece entre os vinte e os trinta. E, já agora, fazê-lo com estilo, ironia e uma ou outra citação do Nelson Rodrigues. Eu, aos trinta, perenamente indeciso entre o normativo e o normal, vou passar pela casa partida, mas gostava de poder dispensar os dois contos – de cinismo. Vamos a ver se dá. RB
quarta-feira, novembro 19
 
Se este blog pudesse ter imagens, punha aqui aquele plano da primeira das “Histórias de Nova Iorque” em que o olhar do pintor que ouve obsessivamente o “Whiter shade of pale” e o “Like a rolling stone” se foca compulsivamente na parte imaterial do corpo da lindíssima aprendiz de pintora: o tornozelo. Plano negro excepto um círculo de luz ao centro que deixa ver o tornozelo, adornado por um fio de ouro. O pintor de meia-idade é Nick Nolte num daqueles papéis - um dos melhores da sua carreira - a fazer lembrar Manuel Alegre, ou seja, sem absolutamente nada de roto, o tornozelo é de Rosanne Arquette, o fio de ouro da Begdorf-Goodman (não faço ideia, mas é forçoso que não desmereça o tornozelo) e está tudo dito. RB
 
Assim a música, assim a poesia e os filmes que nos falam ao ouvido da nossa vida «[O livro ideal] É aquele que a gente lê e tem a certeza que foi escrito só para nós e que os outros exemplares dizem coisas diferentes; com o qual temos uma relação pessoal, íntima. São objectos que nos pertencem, de que nos apropriamos intelectualmente, afectivamente e nos revelam a nós mesmos» (António Lobo Antunes, entrevista ao DN de 18-11-2003). RB
 
O Verme
Manuela Moura Guedes anteontem ao DN:
Sobre os telejornais de duas horas: «Na TVI, temos um fluxo de reportagens muito grande»;
Sobre a falta de rigor dos noticiários da TVI: «Para mim sobriedade é não ter bebido uns copos»;
Sobre as sociologia da TVI: «As classes A, B, C. Poucos velhos. Não sei a faixa dos jovens. Temos tanto homens como mulheres»;
Sobre si própria: «A propósito de um cientista que prolongou a longevidade dos vermes, eu disse que gostava de ser verme e o Pedro Pinto, que estava na régie, chamou-me verme».
FN
segunda-feira, novembro 17
 
A linha que nos separa: há quem ache que o mundo se divide entre esquerda e direita, ou entre o branco e o preto. Para mim, o mundo divide-se entre os que gostam do Clint Eastwood e os que não gostam; há mais exemplos, mas agora basta o Clint Eastwood. E basta por que está para chegar o seu novo filme, Mystic River. Os filmes de Clint Eastwood alternam entre o irrelevante e xaroposo (ex. Space Cowboys) e o absolutamente fantástico (ex. Mundo Perfeito). Este é dos que promete: tem fantásticos actores (o Bacon, Bowie do Footloose, o Tim Robbins e o Sean Penn – o melhor da sua geração?) e tem um rio, suspeito que campos abertos e, acima de tudo, pelo que já li, o cinema simples, destilado e apenas com o essencial que, hoje em dia, mais ninguém faz. "Mystic River é uma história sobre a amizade, a família e a inocência perdida demasiadamente cedo". É preciso mais alguma coisa? PAS
 
Friendly fire: meu caro Pedro, as minhas fontes asseguram-me que existe um fascínio entre o género oposto, mais ou menos secreto é verdade, por alguma proeminência do ventre entre os do nosso género. Thereby, don’t worry too much. PAS
domingo, novembro 16
 
Ver cinema com o corpo: Elephant A minha resposta à pergunta “Então, gostaste?” foi: o meu corpo não gostou, mas o filme é intelectualmente soberbo. Essa sensação de ontem foi, claro, reforçada hoje ao ser reconstruída quando comecei a escrever isto. O mérito do filme passa justamente por nos fazer vê-lo antes de tudo com o corpo, a pensar nele com o corpo, e só depois com a cabeça. E vê-lo com o corpo é, num primeiro momento, rejeitá-lo, muito como “Os Mutantes” de Teresa Vilaverde. O corpo reage contra o filme porque é posto de propósito em desconforto: longos planos, lentos e sonolentos, banda sonora minimal, muitas vezes uma simples linha de piano, tons soturnos reflectidos de um céu plúmbeo paradoxalmente em rápido movimento e um deambular constante da câmara perseguindo a pé os miúdos pelos corredores do liceu. O entrelaçar do script com a montagem é engenhoso. O filme reconstitui quase em tempo real a hora e meia que antecede o massacre de Columbine a partir das trajectórias de alguns personagens que se vão cruzando nos corredores. Não existe propriamente uma história a ser contada, a narrativa avança quando as personagens se cruzam e a câmara passa a seguir outra. Às vezes, volta-se atrás ligeiramente no fio cronológico para retomar o percurso da personagem que se cruzou com a personagem que seguíamos até aí. A relativa ausência de diálogo que enche tudo isto força ainda mais o espectador a ver o filme com os sentidos e o estômago.

A ideia de Gus Van Sant é a da continuidade entre a pacata vida do liceu, um dia como todos antes desse, os flirts adolescentes, a anorexia das meninas cool, a cantina, o clube de fotografia, o pai-professor bêbado, os putos “bullys” e os “bullied” – e o massacre. Os dois tempos que procurei criar na frase anterior, no filme, não existem. O massacre é retratado da mesmíssima forma daquilo que o antecede através de longos planos e deambulações pelo liceu. E nada mais perturbante que um massacre feito de calma e violência absolutas. A violência não se faz adivinhar por um crescendo de algo (não há por isso “build-up”, algo que o espectador esperaria, posto saiba já como “acaba” a história), ela também não irrompe com trombetas, ela vem de dentro do que estava antes com serena naturalidade. A continuidade entre o antes e o depois sugere duas ideias e uma pergunta: que o massacre não é essencialmente distinto daquilo que o antecede e que o massacre poderia ter sucedido no início do filme que nada se teria alterado, ou seja, sugere a circularidade do tempo que vem baralhar, claro, a seta da causalidade (a causa antecede o efeito). Mas, se Van Sant está a dizer-nos que a violência é feita da mesma matéria do que estava antes, que não há qualquer ruptura, isso é aceitável?

Do ponto de vista das causas sugeridas para a violência, é claro que o massacre é uma vingança de dois miúdos “bullied” contra os “bullys” e os “jocks” (desportistas), mas este leque vai alargando porque as balas não fazem sociologia e entram em qualquer um. Quando um dos miúdos mata o reitor, símbolo de autoridade, pensamos “Ah, estou a perceber...” mas depois este miúdo é morto pelo outro simplesmente porque sim. Depois, tudo aquilo não surge de “broken homes” e pais problemáticos (aliás, o filho do professor bêbado é avisado do massacre, salva-se e salva outros avisando-os da sua iminência), não porque não nos apercebamos da sua existência, mas porque ela nos é propositadamente dada a ver de forma demasiado remota para ser uma causa eficiente. É óbvio que os rapazes disparam armas automáticas porque a elas tiveram acesso através da net e existe por isso uma crítica política ao fácil acesso às armas (tema central em “Bowling for Columbine” de Michael Moore). Mas fica a sensação de que é isso, que é isso tudo, mas que não é só isso. O que sobra, então, para causa? Sobra a tal continuidade. Fica a pairar a sociedade americana: aquilo que antecede e sucede ao massacre, aquilo que embebe todas as personagens, edifícios e objectos, aquilo em relação ao qual não há exterior no filme. Aquilo que tudo causa, sem de nada ser a causa particular. Em Elephant, a América é a placenta da mais pornográfica violência e o seu único progenitor. RB
quinta-feira, novembro 13
 
Há boas notícias: mas, de vez em quando, há também excelentes notícias, esta é uma.. PAS
 
XX.
todas as cidades estão ancoradas num verso
que alguém deixou aceso na boca de um morto
há pedaços de sol que o deitam à distância
de um coração instável sugando a cada passo
a morte e as suas levíssimas esquinas
constatações ruínas de estar vivo

[...]

Pedro Sena-Lino
Biofagia

RB
 
O meu dízimo por Florença
You know boredom breeds
temptation in its wake

[Richard Buckner, «A Goodbye Rye»]

Vivi intermitentemente os últimos três anos em Florença. Três anos. Um dos melhores décimos que a vida me vai dar – isso é certo e já ninguém mos tira. Mas queria falar da cidade. A cidade foi-se enroscando mansamente em redor do Arno como um grande Garfield a engordar dos turistas e a fazer ironias. Ficou flácida na sua urbanidade; agride mas não mostra as unhas. Tornou-se vampira e nisso não se distingue muito de Albufeira. Sedução a contado. Ambos os lados querem algo de específico um do outro. O americano quer dela sugar a essência do que julga ser a velha Europa e, já saciado, regressar a casa como quem vem de ver a avó do lar. O italiano tem uma boa expressão para essa condição intestinal: está-se gonfio. A cidade, Florença, quer sugar do americano as suas nutritivas divisas, para atamancar para a casa al mare e a temporada na neve. Não falam propriamente um com o outro, apenas mantêm estritas relações comerciais. Florença é, decerto, a cidade de sonho que todos querem visitar, a cidade por onde todos os amigos querem passar. E vir agora para aqui dizer que não é bem assim quando se lá viveu pode soar a pedantismo. Mas também em Braga os sinos soam a toda a hora e vi lá lojas de estalo que nunca vi em Lisboa, só mesmo em Florença. Os sentidos enganam. É claro que é uma cidade linda de morrer, mas isso também pode matar de aborrecimento. Para ser uma cidade contemporânea onde se queira verdadeiramente viver falta-lhe ser possível mandar parar um táxi na rua com um gesto ou um assobio. Florença não é, para mais, uma cidade onde se conceba recomeçar a vida. Para isso seria preciso que fosse real. O Rui Costa chamou à sua biografia «O Meu Dez por Florença». Eu, por Florença, já dei o meu dízimo – e em espécie. RB
quarta-feira, novembro 12
 
Hoje somos todos italianos: As palavras de Massimo D'Alema e também de Francesco Rutelli, no parlamento. "Hoje é o momento de expressar a solidariedade às famílias das vítimas e de nos inclinarmos perante a dor, mas amanhã é o momento de mudar o caminho seguido pelo Ocidente face ao Iraque". PAS
 
Publicidade enganosa: Não encontrei o que queria nos arquivos do Abrupto. Mas se a memória não me atraiçoa, há mais de um mês, a propósito do seu comentário na SIC, o Dr. Pacheco prometeu aos leitores que aquilo seria uma coisa «diferente», dedicada a «temas culturais», por oposição ao estilo do Prof. Marcelo. Dei-me ao trabalho de assistir, penosamente, aos últimos cinco comentários dominicais do eurodeputado do PSD, sempre à espera da tal «diferença», dos tais «temas culturais». Pacheco analisou o congresso do PP, as demissões de Lynce e Martins da Cruz, o conteúdo das escutas aos dirigentes do PS, a «coragem» do Prof. Carrilho e, de novo, a situação interna no PS. De vagamente «cultural» apenas me lembro de uma nota sobre o prémio Nobel da Literatura. Num só programa, Marcelo Rebelo de Sousa fala de mais livros e eventos culturais que Pacheco Pereira num mês inteiro. E, como "analista", tem muito mais graça. Vou seguir o exemplo da esmagadora maioria dos portugueses: ignorar o Dr. Pacheco. Na análise política, como em tudo na vida, o original é sempre melhor do que a cópia. FN
 
Neste como em outros assuntos: o país relativo está absolutamente solidário com a acertada vontade demonstrada pelo João de fundar um movimento político verdadeira e grandiosamente estúpido. Lançamos também aqui um sentido apelo à sugestão de mais ideias para "não pagar". PAS
terça-feira, novembro 11
 
e se de repente um companheiro secreto: a escrita e os temas escondem os mesmos intrusos, as fotografias revelam as mesmas obsessões, o lugar onde se escondem e se revelam é que é agora outro. Voltaram e fui ter com eles, provando que "o que buscamos, alcançaremos sem um gesto. o que dizemos, exprime-se sem uma palavra". PAS
 
Adeus Lenine : Cunhal fez ontem 90 anos. No sábado o jornal Público colocou-o «em alta» na coluna do sobe e desce. Parece que Cunhal deixou cair Lenine. Acho, aliás, que no sábado o Público só devia ter posto comunistas «em alta». Em alta, ao lado de Cunhal, deviam ter aparecido os regimes da China, de Cuba, do Vietname, do Laos e da Coreia do Norte, «que insistem que o seu objectivo é a construção de uma sociedade socialista». FN
 
Estão sempre a ser provocados: Pois é, depois da semana passada o inefável Berlusca ter sido provocado por uns quantos jornalistas, claramente perigosos esquerdistas, com umas perguntas sobre a Tchetchénia e na companhia do seu amigo de fins de semana, Putin, ter dito uns quantos dislates, prontamente desautorizados pelo porta-voz da Comissão (esses eurocratas, sem qualquer legitimidade popular!), a saga do governo italiano teima em continuar. Um conhecido pós-fascista, Ministro se não estou em erro das Comunicações, de seu nome Maurizio Gasparri, transvestindo-se em Ministro da Propaganda sem o pós, decidiu pôr fim às ruas comunistas em Itália (sic). Começou pelos arrabaldes de Milão e renomeou a "Rua Palmiro Togliatti", "Rua 9 de Novembro de 1989, queda do Muro de Berlim". Esqueçamos o facto de Togliatti, juntamente com Gramsci, ser uma das grandes referências do PCI, que por acaso sempre foi o mais crítico dos partidos comunistas europeus face aos regimes de tipo soviéticos; esqueçamos também o facto de Togliatti ser uma das figuras heróicas da luta contra a ditadura fascista (que existiu mesmo) em Itália (na AN do senhor Gasparri não me lembro de ninguém que se possa orgulhar desse facto); esqueçamos o facto de Togliatti fazer parte do património genético do maior partido da oposição italiana, a DS; esqueçamos o facto da Itália ser um país muito dividido por profundas clivagens sociais e políticas (que este governo tem feito o obséquio de aprofundar de forma estéril); esqueçamos o facto da esquerda italiana, que é democrática, ao contrário da maior parte da direita italiana, não ter, naturalmente, nenhum problema em celebrar a queda do muro de Berlim; recordemos apenas que o governo italiano está sempre a ser provocado e por isso tem de seguir à risca o princípio orwelliano de que quem controla o presente, controla o passado e quem controla o passado controla o futuro. Esta esquerda está cheia de provocadores, mas, entretanto, a Itália continua a ser governada por um bando de irresponsáveis, pós-democráticos e que estão a construir um regime político absoluta e tragicamente novo. PAS
segunda-feira, novembro 10
 
O NOJO Catalina Pestana elogiou o rei D. Miguel pela celeridade com que puniu «em dois dias» um seu afilhado acusado de abuso sexual de crianças da Casa Pia, tendo acrescentado que «nem tudo na República é mais célere que na monarquia, e que os reis, mesmo absolutistas, percebiam que nem os seus afilhados e compadres tinham o direito de abusar dos que viviam ao cuidado da realeza, na real Casa Pia» e que ela e Bagão Félix não deixarão o «nevoeiro» impedir a «verdade de emergir». Isto é inaceitável e não pode ser dito impunemente.

Quando aqui chamámos reaccionário e miguelista a Bagão Félix, se calhar muitos leitores viram nisso um exagero sectário. Pois bem, apraz-nos registar que é a própria Catalina Pestana a confirmar uma tão evidente realidade. Já sabíamos, mas agora é oficial: Bagão é o novo D. Miguel - Catalina dixit.

O que Catalina Pestana disse é inaceitável por três razões principais. É inaceitável que tenha sequer comparado, quanto mais desfavoravelmente, o estado de direito democrático, republicano e laico com a monarquia absoluta, sobretudo com o curto e sangrento reinado de D. Miguel. Contra esses exactos absolutismo e miguelismo se fizeram quatro revoluções e uma guerra civil em Portugal. É inaceitável que o faça sugerindo que o ministro Bagão Félix é um D. Miguel justiceiro renascido. Infelizmente, o miguelismo voltou ao governo de Portugal depois das últimas eleições. É que uma das coisas que torna o estado de direito democrático superior em qualquer caso à monarquia absoluta é, por exemplo, a separação entre o poder judicial e o poder executivo. Aliás, a própria ideia de justiça tal como a concebemos desde as revoluções francesa e americana não chega a existir se os dois poderes não forem mutuamente independentes. Percebe-se que Catalina Pestana gostasse que o ministro Bagão pudesse deportar por um capricho da sua vontade os putativos arguidos de pedofilia para a Índia. Temos más notícias para si, cara Catalina: isso é impossível. Para começar, a Índia já não é nossa. Isso teria sido possível antes de 1820 e entre 1828 e 1833, mas já não o é em 2003, como o já não seria depois de 1833, nem depois de 1910, nem depois de 1926, nem obviamente depois de 1974. É inaceitável, por fim, que Catalina tenha dito o que disse em Ílhavo, não por acaso a terra de Paulo Pedroso. Se as duas primeiras razões revelam uma apreciável mas ainda assim hilariante tontice, esta última revela pura e simplesmente mau carácter.

Catalina Pestana meteu-me nojo. Se vivêssemos nos tempos de D. Miguel, Catalina poderia vir a conhecer o triste destino dos miguelistas depois de 24 de Julho de 1833: a forca às mãos dos liberais. Mas, não. Olhe, está com sorte porque em Portugal existe um estado de direito que o não permite. Da forca já se livrou, mas o ridículo, a estupidez e a ignomínia, essas, moem muito. RB
sexta-feira, novembro 7
 
É muito feio: é muito feio quando se está enredado na lama (e.g. o desemprego a 7,4% e mais uma vez promessas não cumpridas para com os pensionistas - os 4+2 que afinal não são o maior aumento de sempre), em vez de se procurar sair da lama, atirá-la para cima dos outros. É muito feio e, além do mais, não é próprio dum cristão. FN
quinta-feira, novembro 6
 
Senado: Recentemente, um dos nossos comentadores convidava-me a falar da ideia de criação de um Senado no sistema político português, proposta no projecto de revisão constitucional do Dr. Lopes. Assim de repente, consigo descortinar duas vantagens no Senado. Em primeiro lugar, convém lembrar que a carreira política, tal como a carreira artística, é uma carreira de alto risco. Um sisa mal paga, um primo afastado na Suíça, uma filha mais atrevida podem deitar tudo a perder. Ora, se os actores já têm a Casa do Artista, porque é que os políticos não podem ter um Senado? Gostaria ainda de antecipar uma segunda vantagem. Toda a gente critica o excesso de legislação em Portugal. Legisla-se muito e mal. Basta ver que a colectânea de legislação que abrange a função pública é conhecida nos meios como «A Gorda». Um dos efeitos positivos do Senado seria, sem dúvida, o bloqueio definitivo do processo legislativo. Nunca mais se aprovaria nenhuma lei. FN


 
Treze e treze Uma e treze da tarde. Três canais de televisão. Três telejornais. Três directos a partir de Riachos, Torres Novas. Depois do pântano, e do monstro, o país está, por minutos, literalmente mergulhado num esgoto e nos seus delicados problemas.

Riachos era até agora uma terra célebre sobretudo por ter um clube, o Riachense, que há uns anos, para a taça, apanhou (salvo erro) 14-1 na Luz contra um Benfica que tinha Bento (natural de Riachos) na baliza. Uma terra assim merecia regressar à ribalta pela porta grande, como aquela que as nossas televisões lhe oferecem.

Nos "directos" com o inevitável presidente da junta e "populares", alguém fala numa "luzinha ao fundo do túnel" na descoberta das causas dos problemas do esgoto de Riachos. Dizem-nos que um robot vai ser infiltrado nas condutas. Ficamos mais descansados. Quanto ao esgoto de Riachos. O problema é outro, também está nos écrãs, e também é um esgoto. MC
 
Damon & friends: Os Blur não tocaram ontem em Lisboa. Houve um concerto fantástico ontem em Lisboa. Dos melhores concertos rock dos últimos anos, contudo não foi um concerto dos Blur. Os Blur deram um grande concerto em 1996 no Coliseu. Um concerto no auge da Brit-Pop, com aquele som limpinho e os lalalas. Mas ontem, já foi outra banda que tocou no Coliseu, provavelmente a única que saiu com vida da hecatombe que se seguiu à excitação do cool-britania. Os Blur sem o Graham (que está numa de Nick Drake, mas o FMS é capaz de dizer tudo sobre a vida dele pós-Blur), mas com o Damon quase sempre de guitarra em punho. Os Blur com um som sujo e que se reinventaram olhando para trás, para o Punk, para o Ska (fabulosos quando soam aos Clash do Sandinista!). Houve de tudo, os hits antigos (um girls and boys com vocoder), as baladas, mas, também, a raiva e a energia que antes não existia e que agora está ali, de forma genuína. Em duas horas de concerto, com Damon Albarn bem disposto (o que não acontece sempre), tocaram inclusive o velhinho Sing, do Leisure, numa versão completamente shoe-gazer, e já para o fim um eléctrico e brutal "we've got a file on you". Como se estivéssemos em 1977, ou agora. Os Blur são, hoje, uma banda a viver um daqueles dilemas insuperáveis, no fio da navalha, entre o passado, quando tinham aquele look de quem acabou de sair de um campus e o futuro que revelaram ontem. Por isso mesmo, excelentes, só pecaram por não terem tocado todas as outras músicas. PAS
quarta-feira, novembro 5
 
Agora já percebo melhor o Bernardino: ainda estou incrédulo com o alerta do Barnabé. Será que o que o público antecipa hoje, como sendo as palavras do doutor Cunhal, é mesmo o que vai sair amanhã no Avante? A ser verdade, afinal o Manoel de Lencastre, o célebre ML que defendeu o Stalinismo este Verão, existe mesmo. Estou particularmente impressionado com a primeira de cinco forças que vai impedir que o imperialismo alcance o seu "supremo objectivo". É nada mais do que um conjunto de países (um eixo do bem!) composto por esses exemplos de pluralismo e de desenvolvimento que são a China, Cuba, Laos, Vietname e Coreia do Norte. Será isto trágico ou cómico? PAS
terça-feira, novembro 4
 
Direita Moderna: Enquanto Telmo Correia elogiava o Orçamento, não consegui deixar de reparar no "back bencher". Casaco de veludo, camisola de gola alta, óculos estilo "retro". Não sei quem é a "Catherine Deneuve do Governo", mas o Yves Saint Laurent do Parlamento é claramente este senhor. FN
 
Importa-se de repetir?
«Este é um orçamento de continuidade e viragem»
Guilherme Silva, Assembleia da República, Debate do Orçamento de Estado
FN
 
O auto-satisfeito: debate sobre o O.E. Não atentemos nem nos erros, nem nas omissões e muito menos na mediocridade em que nos mergulham. Fixemo-nos só no olhar auto-satisfeito com que, em cada momento, o dr. Durão Barroso reage ao que acaba de dizer. Fá-lo sempre, não resiste a responder com um sorriso de satisfação às palavras que acaba de emitir. E por detrás de cada palavra não há uma dúvida, uma hesitação, um distanciamento face a si próprio. Mais grave do que tudo o resto, é que o homem está satisfeito com o que anda a fazer. Haverá destino mais trágico do que o dos auto-satisfeitos? PAS
 
O precipício: Melo D, o antigo vocalista dos Cool Hipnoise, vai lançar um disco a solo. Esqueçamos o facto dos Cool Hipnoise terem perdido muito com a saída de Melo D – que era o contraponto de ingenuidade e de melodia para a sofisticação crescente da banda -, ouçamos, no meio de uma entrevista generosamente ingénua, que anuncia um bom disco, estas palavras: “depois de me ter apaixonado pelo João Gilberto, caí num precipício... Já nos tempos dos Cool Hipnoise, depois de ter um contacto mais íntimo com a música dele, sentia que faltava ali qualquer coisa.” Depois de me ter apaixonado pela música do João Gilberto sinto que falta sempre qualquer coisa em tudo o resto. PAS
 
Todos dentro: O inefável dr. José Maria Martins dá hoje extensa entrevista a esse farol da imprensa portuguesa que é o Correio da Manhã. O título é sugestivo: "ficaria contente se outros fossem dentro". O problema é que há, da parte do dr. Martins, uma falha de interpretação do sentimento popular. Isto ficava bem, não se outros fossem dentro, mas, sim, se todos fossem dentro. Depois do "somos todos responsáveis" da drª. Catalina, seria a única solução que o país poderia suportar. PAS
segunda-feira, novembro 3
 
Povo Livre II: Mesmo nas dimensões mais tristes da vida colectiva é possível encontrar aspectos positivos. A ida de Fernando Lima para o DN até pode ter dois: significar uma viragem à esquerda e o abandono da tabloidização do jornal. Senão vejamos, a crer nos jornais de fim-de-semana, Ribeiro Ferreira vai à vida e com o seu despedimento com justa causa o DN muda de “Voz do Texas” para “Povo Livre”. Se nada mais, significa um passo no sentido da civilidade.PAS
 
Where's Jack? A princípio o som traiu Ben Harper, mas o som trai toda a gente no pavilhão atlântico, mas ao terceiro tema a coisa já estava recomposta. Em todo o caso, tal não fazia muita diferença para os 15 mil adolescentes entre os 20 mil assistentes, sempre de telemóvel na mão, a mensajar durante todo o concerto e a gritar Portugal, Portugal sempre que havia oportunidade. Já se sabe que há uns quantos grupos com uma relação especial com Portugal, os Lamb, dEUS e, claro, Ben Harper. Os portugueses gostam de quem lhes massaje o ego e Ben Harper fá-lo de forma exemplar, e quem sabe genuína. Com o público conquistado e com as meninas a mandarem mensagens no meio das baladas (a quem?), Ben Harper, com um look cada vez mais à Marvin Gaye, aproveitou para dar um excelente concerto. Nada de particularmente criativo ou idiossincrático. Um pouco à imagem de Jamiroquai, Ben Harper soa, a maior parte do tempo, a um pastiche de outras coisas - no caso, umas vezes reggae, outras dub, outras R & B, outras Soul, outras Hendrix, outras, muitas vezes e ainda bem, Marvin Gaye. Será isto um problema? Não. Três horas de concerto, com todos os hits, mostraram que, se nada mais, Ben Harper revigorou estes estilos e leva-os a quem nunca os tinha ouvido. Não é tarefa menor e o cover de Sexual Healing vale quase tudo. Mas, claro, que houve um lado negativo. Jack Johnson, o surfista/cantor e autor de um dos melhores álbuns do ano, anunciado para a primeira parte, não tocou - e no próprio dia o Expresso ainda o anunciava (quem me manda ler o expresso!). Na primeira fila alguém, com razão, empunhava um cartaz onde se lia, "Where's Jack?". E ninguém, nem o próprio amigo Ben Harper, deu resposta. Sinto-me defraudado! PAS
 
Inventem-se novos psiquiatras!

«Ele está num estado de quase vegetal. Não se lembra de nada, está com uma amnésia lacunar.»
Rui Frade, consul do Panamá e ex-médico examinador do Instituto Nacional de Aviação Civil, sobre Carlos Silvino, Correio da Manhã

«Disse-lhe que tinha uma dor no joelho, e ele mandou-me despir toda.»
Antiga paciente do Dr. Rui Frade, TVI

«Ele fazia uma selecção: só atendia menores de 40 anos»
idem

«Alguns dos doentes de Rui Frade terão sido
recomendados pelo consultório do psiquiatra Daniel Sampaio»
SIC-ONLINE

«Daniel Sampaio pronto a atender doentes que tenham
sido induzidos pelo seu consultório a procurar Rui Frade»
idem

«A partir do momento em que tive a confirmação de que o Dr. Rui Frade não possui o título que lhe permite chamar-se psiquiatra é inevitável tenhamos de prescindir dos seus serviços.»
José Maria Martins, advogado de Carlos Silvino, Correio da Manhã

«Psiquiatras estrangeiros contestam portugueses»
Notícia do Expresso

FN




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