<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
sábado, maio 31
 
Comentaristas residentes: eu estava absolutamente convencido que só havia um socialista mais alto do que o MK, o Nuno Cardoso, mas por estes dias conheci o comentarista e leitor atento do PR, “Real”. Isto da blogesfera tem destas coisas, já nos conhecemos antes de nos conhecermos, o que ajuda ao conhecimento real. Ainda que me tenha presenteado insultuosa e indecentemente com um objecto de indecorosas tendências sportinguistas, conhecer o “Real” foi mais um sinal para confirmar aquilo que eu já sabia, mas de que muita gente por preconceito duvida, que há excelentes autarcas por todo o país, com vontade e que olham para o futuro com ideias e discursos arejados. É o género de coisas que só pode deixar os optimistas mais confortados – e os tempos que vivemos andam bem difíceis para os militantes desta causa. Claro que nada disto tem a ver com o facto do “Real” ser do ISCTE e benfiquista convicto.PAS
sexta-feira, maio 30
 
Há uns tempos os americanos deram-me a hipótese de escrever um post a zurzir na sua ilimitada capacidade de mentirem ao mundo. Agora permitem-me a sequela. Desde já um duplo muito obrigado.

Refere hoje o Público Online:

"O secretário-adjunto da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, admitiu, em entrevista à revista americana "Vanity Fair", que as armas de destruição em massa foram apenas um pretexto para atacar o Iraque, para que houvesse acordo"

Esta é uma pérola. Sobretudo porque, como se viu, os EUA conseguiram um histórico acordo, congregando muitos e variados países - a famosa cohalition - de que é exemplo o Reino Unido....Errr.... único exemplo, acrescente-se... a não ser que contemos com as dezenas de países que se colocaram passivamente do lado dos Estados Unidos, com recurso ao famoso "nim", mais por medo de represálias político-económicas do que por persuasão da ameça das armas de destruição massiva

Mas...

"disse mais: a verdadeira razão para um conflito militar foi a necessidade de os EUA retirarem as suas tropas da Arábia Saudita"

Esta é uma jóia! Eis que a história conhece a primeira guerra motivada por razões..... logísticas!

Marroquinos tende cuidado se ouvirdes que os norte-americanos necessitam de abandonar as Lages... DF

 
Há coisas do Demo...

Não é que o Herman foi depor e saiu em liberdade?
Onde já se viu alguém ir depor e, assim, sem mais nem menos, sair em liberdade?...
Está aberto um terrível precedente....

Valha-me Deuz..zzz
DF
 
Razões burocráticas:há coisas que nenhuma pessoa normal deve, em momento algum, suportar. A primeira delas é ser tratada como um perfeito imbecil. O senhor Wolfowitz, capanga do senhor Rumsfeld (essa mente brilhante por detrás do inimputável que governa os EUA – há qualificativos que de vez em quando devem ser usados), admitiu em entrevista à Vanity Fair que as armas químicas foram apenas a “razão burocrática” para a guerra, pois a verdadeira razão era derrubar o regime de Saddam para satisfazer os interesses geo-estratégicos do EUA na região. Muito edificante, por isso, recordar hoje o senhor Powell a falar no Conselho de Segurança sobre os camiões que transportavam armas de um lado para o outro. É tudo nojento. Até porque há poucas coisas mais nojentas do que a desonestidade intelectual dos poderosos. Contra esta não há nunca armas suficientes. PAS
 
Sino censurado por Bush. Ontem disseram-me o seguinte. Que Bush vai a Cracóvia. Em Cracóvia parece que há uma grande catedral. Esta tem um sino, um sino daqueles grandes, com um gongo. Este gongo está habituado a agredir as partes internas do sino, produzindo aquele ruído característico conhecido como badalada, o mesmo que dá ao pão de Mafra o seu apreciado paladar agridoce. A catedral parece que badala vai para quatrocentos e tal anos sem parar. No more, says Bush. Quantos atentados, aviões a despenhar-se, guerras do golfo, baías dos porcos, quantas columbines se poderiam dar em, digamos, sete badaladas. E em doze? Ou fecham o sino, ou não vou. Sino censurado. Parece que ninguém, do Papa ao Boniek, vai receber o senhor em Cracóvia. Também estes polacos são uns comichosos com os sinos. RB

 
Dura Constitutio, sed Constitutio

Quanto aos tais artigos históricos da CRP. Sabe, caríssimo DBH, uma Constituição em Democracia, sei que me entende pois já se afirmou um democrata, vale pela sua legitimação e pela sua vivência não pelas boas intenções de umas almas iluminadas.
Por isso mesmo lembro-lhe que, mesmo o CDS não tendo votado a Constituição (antes que isso lhe sirva de argumento, sabe-se lá...), ela foi democraticamente aprovada. Claro está, podia ter-se desactualizado mas Portugal teve já várias revisões constitucionais. Vamos relembrar: 1982, 1989, 1992 (está bem, esta não conta...) 1997 e 2001. Várias oportunidades para os tais artigos históricos passarem à história. Mas ei-los...a vigorarem e com bastante vigor. Se não gosta deles vá pela via democrática e bata-se pela sua revogação. Qualquer outra atitude parece-me pouco democrata. E eu sei que o DBH é um democrata, apesar da confusão que os artigos históricos lhe parecem fazer... DF


 
No qual Império?

Só hoje me apercebo que um dos meus blogs-de-estimação, o Quinto dos Impérios, cita, glosa e comenta abundantemente um dos meus últimos posts. Pena é comentar inventando, ergo, desvirtuando. Crítica sim meus senhores mas por favor atenham-se ao que disse e não as carapuças que servem...
Assim, Diogo de Belford Henriques começa por dizer que sou amnésico selectivo. Pois sim, meu caro DBH, como dizia o grande homem, a memória é arte de esquecer. Mas triste mesmo e pouco original é responder às críticas presentes com lembranças do passado. Vejamos...
Antes de mais, um grande bem haja pela excelente piada da constipação social... agradou-me muito. Como sabe a Esquerda sofre de uma constipação social crónica e galopante...felizmente a Direita, com o vigor que a caracteriza, é-lhe impermeável...assim sempre teremos assunto...
Fico muitíssimo feliz por saber da notificação do Ministro Portas. Só é pena é ser esse o único ponto em que o futuro me viria a provar errado. Se bem que apenas parcialmente, pois fala-se do Ministro Portas a propósito da sua ida a tribunal e não acerca do seu comportamento muito pouco ético-político. Esse tem caído no esquecimento. Dou-lhe já exemplos, já que gosta do revivalismo, para não perder tempo a procurar. Há alguns anos António Vitorino demitiu-se por muito menos... mas eu compreendo...tantos anos para aqui chegar, o sonho de ser Ministro, o pesadelo de poder ter de voltar ao Independente, é compreensível que Paulo Portas se agarre ao poder.
Quanto à comparação com o Dr. Soares percebo sempre essa tentação de "não fui só eu, ele também mexeu no queijo" mas, sinceramente, diga-me lá o cargo político que ocupa o Dr. João Soares? A mim preocupa-me a responsabilidade política não a moral que há-de ficar à consideração de outros poderes.
Quanto ao RSI...bem quanto ao RSI, Diogo de Belford Henriques nada diz...poderei presumir que também o acha criticável? Não se preocupe, o silêncio nesta matéria grassa...
Mas o melhor, na minha opinião, está na importante e sempre vital lembrança de que são as crianças as maiores vítimas. Meu caro DBH, não poderia, por imperativos morais, estar mais de acordo consigo. Mas se a justiça se faz a pensar nas crianças não se deve fazer à custa da imagem pública dos cidadãos que gozam da presunção de inocência até prova em contrário.
Deixo os artigos históricos da Constituição para outro post... DF
quinta-feira, maio 29
 
A Segurança Social Sou Eu
No aniversário do 28 de Maio, a secretária de estado da segurança social Margarida Aguiar demitiu-se por causa de divergências com o ministro. Bagão revelou depois que por indolência e falta de motivação para levar adiante a reforma da segurança social. O eleitor gostaria de saber que divergências são essas. Se, para Aguiar, Bagão está a cometer erros, o eleitor gostaria de saber quais e porquê. E que “divergências” são essas que só se manifestaram depois da última remodelação? E porque razão neste governo os secretários de estado não vão à bola com os seus ministros?

Bagão acumulará indefinidamente os dois cargos com grande “sacrifício pessoal”, como não se esqueceu de dizer. Ficámos esclarecidos que Bagão deixou de querer partilhar responsabilidades no seu ministério. A política que segue, muito só sua, só ele a pode levar à prática. Está doravante só, reinando absoluto. O Ministro projecta de si mesmo a imagem do homem providencial com uma tarefa redentora a levar a cabo, na qual só ele crê com suficiente fé e a qual só ele sabe como arrostar. Tamanha convicção advém de uma relação estreita com a Verdade e de um sentimento íntimo de Iluminação. Ele será, portanto, o único responsável, o credor de todo o crédito, o autor. Bagão é a segurança social. Eu pensava que o miguelismo político tinha sido derrotado, na prática, em 24 de Julho de 1833. Afinal está de volta, e no governo. Que Deus nos proteja. RB

 
A Damaia, o Benfica e a final de Old Trafford
Duas coisas sobre a Damaia. Encravado na Cova da Moura fica um lar da Santa Casa da Misericórdia, como uma ilha sitiada. Debruçados à janela ou aventurando-se em curtas passeatas ao café da bomba de gasolina, os velhinhos podem ver de tudo, desde a invasão do bairro pela psp de metralhadora em punho, à droga a correr solta, mas também às actividades comunais de construção de arruamentos e saneamento básico. O Bryan Adams quando vinha a Portugal dava sempre um concerto para os amigos no cinema D. Pedro V, do outro lado da Cova, na Damaia de Cima. Quem viu viu, quem não viu, já não vê.

O Benfica. O Benfica, diz e bem o Rui Costa na primeira frase da sua biografia, não é um clube - é uma ideia.

A final. Foi como se esperava, um jogo de Série A jogado em Old Trafford. Concordo contigo, Filipe. Soporífera, jogada por vinte e dois autómatos acorrentados, disse bem o Miguel. Mas só vendo a final e ouvindo os comentários chauvinistas dos italianos para perceber melhor o síndrome. Para eles, a final nunca foi chata, mal jogada, própria para adormecer perus. Não. Para eles, era tudo “tensão agonística”, “partida fantástica”, “passes canónicos”, “números” a dar com um pau e Buffon o melhor do mundo (o Dida só deu a taça ao Milan). O Rui Costa foi claramente o melhor em campo. Sempre que tocava na bola fazia diferença. Pequenas ou grandes fintas, passes a abrir a vertical ou a rasgar o campo de um lado ao outro. O belo lance do golo anulado é todo dele. Em grande forma física, fez aquilo que habitualmente não faz: defender, vir atrás, entrar de carrinho (é certo que quase sempre atrasado, daí algumas faltas). Foi mal e injustamente substituído. RB

 
A sombra Nestes dias ensombrados, cada vez que olhava para as camisolas do "Milan de Rui Costa", como diria qualquer jornalista português que aspire à carteira profissional, vi o sorriso de Berlusconi a pairar sobre as cabeças dos jogadores. Mas que se lixe. Parabéns, Rui. MC
 
Rui Costa: o nobel da poesia no pé direito Não sei se a poesia é concreta ou não (e desde quando é que a melhor poesia é suposto ser, ó Filipe?), mas o facto é que só nas mentes de alguns sportiguistas, entre fanáticos e envergonhados, e mais uns quantos portistas é que o Rui Costa não é um dos melhores nº10 do mundo. Só por confesso ódio de estimação (e não é preciso confessar estas coisas, de tal maneira elas são manifestas) é que se pode falar do Rui Costa como um tipo que manda bolas para a bancada - ou então por não se perceber, ou não gostar, de futebol. São 3 bolas para a bancada... e outras 3 para um avançado isolado a 30 metros, outras 3 para um médio que se desmarca milimetricamente nas costas, outras 3 ainda a variar o jogo no momento certo. Beleza, inteligência, equilíbrio e rasgo, tudo num compasso perfeito, e com a classe estratosférica dos predestinados. Pela primeira vez num clube à sua dimensão depois de ter saído do Benfica, Rui Costa foi ao longo de toda a época decisivo para devolver ao Milan os títulos, e conquistou para si o grande troféu que já faltava à sua carreira. Mas o maestro de Milão não serve, ao que parece, a muitos entendidos do futebol cá do burgo. Só pode ser por estarem penosamente mal habituados. MC
 
Rui Branco Costa - «Rui Costa Campeão Europeu!» É com este grito de guerra que Gabriel Alves termina mais uma memorável jornada de ciência futebolística. Acho vergonhoso que os nossos chefes de Estado e de Governo não tenham estado presentes. Nem sequer o Prof. Marcelo se dignou a aparecer. Só pode ser antibenfiquismo primário.

De resto, a final da liga dos campeões foi previsível. A crónica podia, aliás, ser escrita dias antes. Entre equipas italianas, o jogo acabou em 0-0. Como acontece nos mundiais, nos penalties, o guarda-redes brasileiro teve mais sorte. E o nosso Rui Costa (o meu ódio de estimação) brindou o Old Trafford com poesia, sim, mas nada concreta, meu caro Rui (Branco). Mais um festival de bolas para a bancada. É isto que o impede de ser um Platini, por muito que custe aos meus amigos benfiquistas. O Rivaldo não falhava aquilo. Volta para o SLB, pá, a malta dos outros clubes agradece.

PS: Rui, espero que tenhas fair play. Lembra-te que eu sou aquele gajo que te (vos) pagou uma jantarada por ter dito antes do mundial que o Nuno Gomes ia marcar mais golos do que o Pauleta. São coisas que acontecem. FN
quarta-feira, maio 28
 
Rui Costa: Damaia entra em Old Trafford para ganhar.
Força, força Rui. Não é todos os dias que um meu homónimo conterrâneo da Damaia joga a final da Liga dos Campeões. Que ganhe o Milan, pois claro e apesar do Berlusconi. Para quem gosta de poesia concreta e porque a bola é haiku em movimento: Old Trafford. Red Devils. Benfica. À rasca. Volta. Pá. RB

 
Não se perde a memória Já se sabe que o sporting é um clube de gente de bom gosto, sem paciência para as piroseiras que abundam ali para os lados da Luz. Foi por isso que fiquei um tanto ou quanto surpreendido com a peça de fina literatura que recebi em casa, como brinde de um jornal diário: um intrigante folheto que não resisto a partilhar com os portugueses, e de modo muito especial com os meus amigos fanáticos do sporting.

Depois da (literalmente) vitoriosa despedida do estádio “cenário dos maiores feitos da história do SCP” (foram poucos, mas foram os maiores, é certo), “não se perde a memória e fica a gratidão”, informa-nos gentilmente a sporting sad. Bonito, sim senhor. Vai daí, propõe-nos uns recuerdos imperdíveis. Tão imperdíveis que é difícil escolher.

Comecemos pelos pisa-papéis, esse objecto de grande valor sentimental. Sportinguistas, agora já podem adquirir um “pisa-papéis esfera com relva” pela módica quantia de 19,50€. E que tal um “pisa-papéis com betão e foto”, mais acessível (provavelmente porque não tem a preciosa relva) – apenas 4,95€? Olhem que é mesmo uma pechincha. Depois, temos também um original “porta-fotos cilíndrico com relva”, um magnífico “porta-chaves com relva”, todos muito em conta, e uma maravilhosa “medalha com relva para fio (não incluído)”, ideal para juntar ao cruxifixo da praxe. Há ainda uma “moldura triangular com betão e foto”, como calcularão linda de morrer. Mas o topo de gama é mesmo o “quadro foto estádio com disco de relva” embutido na imagem e emoldurado em madeira. Trata-se de uma “série limitada e numerada”,preciosidade ideal para abrilhantar qualquer sala. Fregueses, é escolher.

Repare-se como o sporting inova - não vende apenas a erva do seu estádio, mas também os bocados de betão - e como a distinção de que os sociólogos tanto gostam (e o meu amigo RB citava num post recente) funciona também aqui, nas pequenas coisas, onde o algodão não engana. É que quem pensa que esta relva é vulgar, como as outras, está muito enganado. Não. Esta relva "foi preparada através de um evoluído processo tecnológico, sendo posteriormente fundida em acrílico, por forma a manter eternamente intactas as suas propriedades e a sua cor original". O "eternamente" é que me cheira a esturro, mas pronto. Isto é mesmo um folheto de antologia, para a eternidade.

Sportinguista: “Aproveite esta oportunidade única de guardar um pouco da grandiosa História do Sporting Clube de Portugal”. Faço minhas, por uma vez, as sábias palavras da sporting sad. Aproveitem mesmo, porque já que a história do sporting de grandiosa tem objectivamente muito pouco, mesmo sendo vendida aos bocadinhos o melhor é correr antes que esgote. MC

 
Mulholland Drive - Um grupo de amigos teve a brilhante ideia de me oferecer pelos anos um DVD (sim, o aparelho propriamente dito). Comprei, por isso, hoje o meu primeiro DVD da Série Y do Público: Mulholand Drive, de David Linch. Depois de muito esforço, lá consegui ver o filme. Ao contrário do velho VHS, o problema do DVD não está nos cabos ou na sintonização, mas sim no complexo comando. Para além de 10 números, o comando tem os seguintes botões: 3D (Massive Attack?), replay, skip, bookmark, angle, subtitle, audio, menu, zoom, repeat. O único que utilizei foi o zoom porque a minha televisão é pequena e a cena entre Betty e Rita merece uma atenção redobrada.

Por outro lado, os DVDs não trazem apenas o que interessa (o filme), mas também uma panóplia de conteúdos que se sobrepõem, como o making of, as entrevistas, o dossier de imprensa, as filmografias (?) e os screensavers (?). Primeiro que se comece a ver o filme é um problema. Daí só estar a postar a estas lindas horas. Já tinha visto o Mulholland Drive no cinema. Gostei, mas na altura não percebi muito bem porquê. Desta vez, voltei a gostar, e continuo sem perceber porquê. No fim do DVD, o David Linch (pobre Isabela Rosselini) deixa-nos generosamente 10 pistas:
"Reparem no início do filme" (golpe baixo: é sempre a fase em que a pessoa se está a sentar)
"Reparem nas sombras da lâmpada" (qual lâmpada? aquela que se fundiu com a saída do cowboy anão?)
"Título do filme do Adam" (não me lembro)
"Um acidente é um acontecimento terrível" (pois...)
"Quem entregou a chave e porquê?" (isso era a função da administradora do condomínio, que mais tarde aparece como mãe do cineasta)
"Reparem no vestido, no cinzeiro e na chávena" (só reparei nos vestidos e pareceram-me genericamente bem)
"O que se sente no Club Silencio?" (não sei, qualquer coisa algures entre o Maxime e a Lontra?)
"Apenas o talento ajudou Camille?" (acho este «Apenas» insultuoso para a bela Laura Elena Harring)
"O que aconteceu ao homem nas traseiras do winkies?" (sei o que me aconteceu a mim: virei a cara para evitar a cena mais gratuita do filme)
"Onde está a tia Ruth?" (deve estar algures no Brasil)

O que me dizem disto? FN
 
La siesta É de saudar a vitalidade da sociedade civil em Portugal. E não, não falo do forum social português. Falo da recém-criada associação para a defesa da sesta, formada por um conjunto de iluminados que pretendem ver reconhecido o direito à sesta em geral e de uma hora pós-almoço para os trabalhadores, no código do trabalho, em particular. Genial. Como é que nunca ninguém se tinha lembrado disto?

Quem me conhece sabe que não esperei por qualquer consagração legislativa de direitos, nem por qualquer associação de defesa desta prática milenar. Reclamo para mim o inalienável direito e prazer de dormir, a qualquer hora do dia, em qualquer local, em quaisquer condições de conforto e de ergonomia, na presença seja de quem for e independentemente da situação de trabalho ou de lazer em que me encontro. Literalmente, I just don´t care.

Mais: aposto nos efeitos positivos de uma boa sesta para a vaca fria da produtividade do país: mais energia, mais disponibilidade para trabalhar, mais boa disposição. E mesmo que assim não seja, ninguém tem o direito de nos tirar o direito a sonhar...a dormir. MC
terça-feira, maio 27
 
Ser alternativo
Há um par de anos, vi um programa de Luísa Castelo Branco no CNL no qual jovens adolescentes discutiam estilos de vida alternativos. Lá estavam, entre outros, o marialva toureiro de camisa às riscas da Lusíada, o vegan macrobiótico do Frutalmeidas, o dark punk bairro-altino de cabelo verde e um beto com ar lavadinho, camisa de marca e cabelo curto. E cada um lá explicava o que fazia, o que comia, que música ouvia, a que oras e com quem se deitava. Era admirável o à vontade com que manipulavam rótulos, como percebiam instintivamente a sociologia da distinção e a facilidade com que se entendiam nos intrincados processos da identidade e da apresentação do eu na vida de todos os dias. Ou seja, todas aquelas chinesices que um jovem aprendiz de sociólogo pena para aprender dos livros. Ao fim de um bocado, percebi que o único realmente alternativo era o rapaz com ar de beto. Assumido conservador e católico, uma flor da catequese sempre de guitarra na mão pronto para cantar hossanas em louvor do seu Senhor. Os outros, o vegan, o punk, eram insuportavelmente maçadores e previsíveis, debitando umas atrás das outras as banalidades do establishment alternativo.

Noutro dia, alguém dizia que a vida contemporânea é caracterizada por uma angústia permanente: algures está a acontecer aquela festa onde estão os belos e inteligentes e eu não fui convidado. E andamos nisto de andar sempre a tentar entrar nessa festa. Afirmar que a procura de um certo estilo de vida se converteu na mercadoria mais desejada é dizer o óbvio. Sucede que isto gera a procura obsessiva e doentia da "autenticidade", por um lado. Por outro, acaba por produzir o mainstream do alternativo que será, dos mainstreams, o mais mortalmente chato e ridículo. Lembrei-me disto a propósito da seguinte frase escrita por George Orwell em 1949, ao preparar a sua derradeira recensão, ao Brideshead Revisited de Evelyn Waugh.
Within the last few decades, in countries like Britain or the United states, the literary intelligentsia has grown large enough to constitute a world in itself. One important result of this is that the opinions which a writer feels frightened of expressing are not those which are disapproved of by society as a whole. To a great extent, what is still loosely thought of as heterodoxy has become orthodoxy. It is nonsense to pretend, for instance, that at this date there is something daring and original in proclaiming yourself an anarchist, an atheist, a pacifist, etc. The daring thing or at any rate the unfashionable thing is to believe in God or to approve of the capitalist system. In 1895, when Oscar Wilde was jailed, it must have needed considerable moral courage to defend homosexuality. Today it would need no courage at all: today the equivalent action would be, perhaps, to defend anti-Semitism. But this example that I have chosen immediately reminds one of something else – namely, that one cannot judge the value of an opinion simply by the amount of courage that is required in holding it. RB
segunda-feira, maio 26
 
Eu e as manas Corr
Eu tenho acompanhado de longe a carreira das manas Sharon, Caroline e Andrea Corr, já que a do seu irmão Jim não me interessa nada. Ainda me lembro de ver a Andrea, na flor vibrátil da sua adolescência, encher de acne algumas cenas do filme The Commitments. Eu a propósito da Andrea vou aqui abrir um parêntesis. Veja-se o site da banda. Aí se informa que Andrea, fortemente escolarizada num convento, é a brainiest. Vícios, só este: Andrea's worst and most noticeable habit is sucking her thumb, a habit she has had since she was young. Em 1998, depois da digressão americana, uma voz amiga suggested that Andrea should get some therapy to try to get her out of the habit. A Andrea é, meus amigos, das manas Corr, a mais desperta para o mundo.

Ora sucede que, ultimamente, a Irlanda tem adquirido importância na minha vida, por razões puramente domésticas. A verdade é que partilho casa com uma prima irlandesa da Catherine Zeta-Jones. Pois, roam-se de inveja. E foi assim inebriado que adquiri um disco dos The Corrs, mais exactamente o MTV Unplugged. Cheguei a casa, meti a coisa no ponto, e nada. Quer dizer, lá estão as canções melódicas de sempre, razoavelmente cantadas, aquele mock trad tipo o bar irlandês do cais do sodré, letras leves e popzinhas e uma muito boa versão, a acabar, do “Everybody hurts”. Mas faltava qualquer coisa que sempre tinha associado à minha relação com as manas Corr. E foi então que percebi. Comprem, comprem mas só o DVD. Porque só no DVD o deleite sensual proporcionado pelo visionamento das manas torna tudo o resto agradabilíssimo e irrelevante. RB

domingo, maio 25
 
Imaginar Portugal

Portugal Futuro

O portugal futuro é um país
onde o puro pássaro é possível
e sobre o leite negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro
Ruy Belo

RB
 
Coisinhas boas que desapareceram
ou identificação de um país antes da invasão das rotundas


A ideia é lançar uma lista concorrente à de Pacheco Pereira. Pareceu-me uma boa razão. Por isso, participem. Vocês lembram-se do livro do Miguel Esteves Cardoso, A Causa das Coisas. Ora bem. E lembram-se que depois das crónicas (as causas) havia uma parte listando objectos (as coisas) que haviam desaparecido ou estavam em vias disso. O desaparecimento silencioso do sabão Gáticão, do restaurador Olex, da pasta medicinal Couto e da farinha Amparo foi por si só a melhor crónica do desvanecimento de um certo Portugal. Pois agora trata-se do mesmo. Venham essas coisas boas, hilariantes ou simplesmente absurdas de quando éramos putos, e que desapareceram.

A monumental Vicky de Almeida. «Ò setora, como é que se diz Sumol em inglês?»
Os sumos Capri-Sone. O Tetra-Pak português em forma de pêra metalizada. O melhor era virar ao contrário e espetar a palhinha por baixo, salvo seja.
As laranjadas Foca. Um monopólio indisputado em toda a costa vicentina e, em geral, na mouraria a sul da Marateca.
O Canal Caveira em si mesmo.
O leite em pó Nido. Isto é sério: alguém me explica por que razão houve um surto de leite em pó em Portugal no início dos anos oitenta?
Os autocarros de dois andares da Carris, verdes e com bancos de madeira empenados.
Os bigodes dos homens e das mulheres portugueses. Extinguiram-se quando Guterres decidiu que queria ser primeiro-ministro e cortou o seu.
O impagável Topo-Gigio e o seu domador, o pianista Rui Guedes.
A Manuela Moura Guedes a cantar melosamente “Foram cardos foram rosas”, à lareira.
Os ténis Sanjo e os Adidas Stan Smith, que nunca tive.
Os fatos de treino O Galo Desportivo, de má memória visual.
A Maria Armanda a cantar “Eu vi um sapo”. Que é feito de ti, Maria Armanda?
Os Tatoos militares no Estádio do Restelo. Entretenimento para toda a família: gnr’s a executarem acrobacias em cima de obsoletas motos BMW, metidos nos seus apertados fatos de gala e a passarem, mas só às vezes, pelo meio de temíveis anéis de fogo.
A polícia tinha Fiat Mirafiori e a malta jogava ao Chucky Egg no ZX Spectrum 48 K.
RB

sábado, maio 24
 
A náusea pela manhã
Já sabemos onde o ex-ministro da informação iraquiano encontrou abrigo: na redacção do Expresso. Refiro-me à notícia do putativo envolvimento de Ferro, já hoje desmentido pelo Procuradoria-Geral. Incrível. Nauseabundo. Concluo que se trata de uma guerra suja. É inacreditável a contra-informação que inunda tudo o que é jornais, rádios e têvês. RB

 
Do Portugal Contemporâneo ao Portugal dos Pequeninos
Podemos partilhar com Oliveira Martins o desprezo pela sociedade demo-liberal e suspirar por soluções providenciais e autoritárias para as lacunas do sistema político. Podemos denunciar com Herculano o excesso de centralização de um Estado que, até 1851, se limitava a cobrar o imposto e a recrutar o mancebo e depois acabar a vida sugerindo irresponsavelmente fantasias pastorais redentoras. Mas estaremos, a meu ver, a cometer erros.
As formas de participação cívica e democrática implantaram-se em Portugal sobre uma teia de relações de patrocinato e caciquismo. Os partidos eram de notáveis, e não de massas. A capacidade do nível local impor condições sobre o central assentava no conhecido esquema de troca assimétrica, no qual ambas as partes retiram benefícios: o notável assegura os votos arregimentados pelo cacique local e move empenhos em Lisboa; o cacique, livra mancebos da tropa, distribui favores e faz passar a estrada aqui e o caminho-de-ferro ali. Por outro lado, explica também Tavares de Almeida, as eleições da monarquia constitucional tiveram o importante efeito de trazer pela primeira vez o povo ao convívio da coisa pública, de oferecer às populações um referente para a acção política que extravasasse o nível paroquial. E há processos que depois de adquiridos não têm regresso. A modernização do Portugal Contemporâneo permitiu, em parte, a emancipação das populações da sua condição de reféns do analfabetismo, da beatice totalitária e obscurantista e do miguelismo político. Mas não esqueçamos que Portugal tinha em 1974 a mesma percentagem de população no sector primário que a Inglaterra em meados do século XIX.
Parece-me bom de ver que as permanências convivem com as rupturas no corpo e no espírito da sociedade portuguesa. E dou dois exemplos da actualidade: o Portugal de aldeia em que todos se conhecem e todos se controlam ou a perversão do poder local democrático por caciques no melhor estilo oitocentista. Parece-me que alguma coisa do que hoje sucede radica neste tipo de relações, que se mantiveram e aprofundaram sob a República, que o Estado Novo mumificou e nutriu por meio século, e sobre as quais o poder democrático de Abril teve, por necessidade, de se apoiar. Por isso, muitos dos desafios que se colocavam para fazer do Portugal de oitocentos um país mais justo e desenvolvido ainda estão connosco: a emancipação de uma relação doentia com a autoridade, a vivência plena da cidadania republicana no que toca a direitos e deveres, o não pactuar com a mediocridade do português de coluna vergada, chapéu na mão a pedir esmola ou subsídio (isto aplica-se aos empresários, desde logo), o perceber que a justiça não se agradece e que, como dizem e bem os Da Weasel, educação é liberdade.RB

sexta-feira, maio 23
 
Reviver o passado em Rimini
A diferença entre Portugal e Itália é que em Portugal um vocalista quarentão de uma banda pop/rock que gosta de cinema e tem uma certa piada, ou vai dar aulas de cinema, como o Rui Reininho, ou vai ser advogado, como o Adolfo Luxúria Canibal. Em Itália, os vocalistas de bandas de pop/rock com piada que gostam de cinema fazem mesmo os filmes que querem fazer. Falo de Franco Battiato, que acabou de estrear Perduto Amor e Renato Ligabue. Este último fez dois filmes, entre os quais o divertido amigos de alex da geração italiana que tem trinta anos, Da Zero a Dieci. Mas não basta ter trinta anos, é preciso gostar de Rimini. Tal como Veneza é a Aveiro de Itália, Rimini é a Albufeira aqui da malta, ao pé da qual Ibiza parece uma coisa de meninos. Bastará informar que Rimini tem a maior concentração de discotecas e bares por metro quadrado em toda a Europa. RB
 
Há um pide em cada português?
A forma como circulam os mais desvairados boatos entre cada prisão a conta-gotas do caso Casa Pia merece uma reflexão. Portugal é um país pequeno, de elites ainda mais pequenas. Que Portugal continua a não passar de um hinterland de Lisboa, argumento plausível uns meros cem anos atrás, não deixará de suscitar aos nossos leitores a norte de Alverca comentários indignados. Quer dizer: toda a gente conhece toda a gente, toda a gente viu alguém a, toda a gente afinal até já tinha ouvido falar no nome de. Fazem-se listas, elaboram-se teorias. As redacções dos jornais usam o daily dish, os contactos aqui e ali, as fontes anónimas, a esposa ressentida e o marido cornudo como fontes de jornalismo de investigação. Que, por essa razão, não existe (como se sabe). Em Portugal, o jornalismo de investigação é feito pelos leitores.

O trabalho da odiosa pide, num país assim, se calhar não tinha uma dificuldade por aí além. Bastava deixar correr o boato e ter um bloco e lápis à mão. O pide não precisava procurar muito. Sentado na taberna, a informação vinha ter com ele. Nem era preciso ser particularmente inteligente, ou sequer letrado. Portugal, a primeira aldeia global. A propósito da Casa Pia, na pastelaria, no autocarro, no escritório, na rádio, o português exercita o desporto nacional favorito: pôr nomes na lista. Quem já viveu numa aldeia ou em Campo de Ourique percebe a força asfixiante e totalitária do boato, do rumor, do diz-que-disse. O português é mais eficiente no trabalho de controlar o parceiro português do que qualquer polícia. Se os polícias portugueses são bons polícias é porque são portugueses e portanto comem do mesmo prato.

Uma das razões tipificadas no código do processo penal para justificar a prisão preventiva é o risco de perturbação da ordem pública. É necessário que terminem as detenções a conta-gotas espaçadas de semanas. Entre uma e a próxima, crescem o rumor, a ansiedade e a paranóia. Ora, ou o Ministério Pública resolve isto ou eu peço a prisão preventiva do mesmo por perturbação grave e continuada da ordem pública. RB

 
Um abraço solidário. Eu não sou amigo pessoal de Paulo Pedroso. Eu não sou militante do Partido Socialista. Eu, como a Sílvia, tenho bons amigos que são bons amigos de Paulo Pedroso. Partilhei com Pedroso uma saborosa moamba e uma noctívaga cena de copos. Tenho um imenso respeito pessoal por Pedroso e uma funda admiração pelo que fez no governo e tem vindo a fazer no partido. É por acreditar na inocência de Paulo Pedroso que não vou agora fazer aqui o inventário das suas qualidades e virtudes. Isso soaria a um deslocado elogio fúnebre.

Ontem à noite, a minha mãe dizia-me uma coisa que suponho muita gente sente, porventura mais do que pensa. A começar por mim. Que, não conhecendo pessoalmente Pedroso e, portanto, não sendo dele amiga, sentia contudo uma solidariedade calorosa, uma profunda convicção na sua inocência e uma espécie de luto por dentro. Tenho, quero e não abdico de ter confiança na capacidade do sistema judicial português revelar toda a verdade sobre este caso sórdido. Associo-me ao desejo da Mariana, do Filipe e da Sílvia: que se faça justiça e que esta seja célere. RB

 
Democracia É o primeiro post que escrevo sobre o assunto e gostava que fosse o último. Mas não sei se será. Não sou imparcial em relação ao Paulo Pedroso, sou amigo incondicional. Não gosto de registos emotivos e populistas. Esse também nunca foi nem será o estilo do Paulo. Acredito, sem reservas, na sua inocência. Quem não é amigo pode ter reservas. Não vos convoco, por isso, para os meus argumentos. Recomendo apenas que analisem, friamente, as bases da acusação e o que sobre isto escreveram quase todos os editorialistas.

A nossa democracia tem sérios problemas de qualidade. O funcionamento do poder judicial merece discussão descomplexada. O sistema partidário pode parece sólido, mas... tudo o que é sólido desfaz-se no ar. A comunicação social livre (a UBL, mas não só) tanto pode aqui abrir caminho ao populismo como à renovação democrática. Quero acreditar que, no fim disto tudo (hoje, amanhã, quando for), a verdade será mais forte do que a mentira. É isto que distingue um Estado de Direito Democrático de uma ditadura. FN
quinta-feira, maio 22
 
Anormalidade Que ninguém se deixe iludir pelos dois posts anteriores. Se há uma réstia de normalidade possível, ela reside numa solidariedade inabalável perante esta situação e na esperança de que toda a verdade seja esclarecida. O mais rápido possível. Tudo o mais é secundário neste momento, e perfeitamente anormal. MC
 
Duas pequenas notas No meio de tudo isto, há um maestro como há poucos que o sr. Vale e Azevedo ofereceu graciosamente aos andrades com o pronto aval de Souness que, ao que se diz, não ganhara qualquer comissão na trasnferência. Ao que se diz também, Vale e Azevedo fê-lo pressionado pelo abatimento de uns trocos numa dívida ao sr. Linhares. Por causa, se bem se lembram, de uns tais Nandinho e Luís Carlos, que ao que parece eram futebolistas profissionais. Alguém sabe onde param estes craques?

E depois temos um tal de Maniche, um dos irmãos Ribeiro. Lembram-se dele? Às tantas, desisti de o defender. No 3º anel, desconfiavam dele irremediavelmente. Era mediano, à imagem da equipa. Descontrolava-se nos momentos cruciais, não tinha cabeça, era irreflectido e indisciplinado. Não era nem extremo, nem avançado, nem médio centro. Não era nada. Coitado, não dava para mais. Talvez no Varzim. Entretanto, teve o azar de ter um empresário non grato na Luz. Pois. Onde estão agora todos esses peritos da bola? MC
 
Sevilha O Porto do sr. Mourinho ganhou, hoje, com inteira justiça – como aliás aconteceu ao longo de quase toda a época. É uma equipa com uma organização táctica eficaz; com uma preparação física a toda a prova; com uma força mental impressionante. Estiveram duas vezes em vantagem, duas vezes a viram anulada. Mas nunca fraquejaram. Pressionam a todo o campo, chegam sempre meio segundo antes do que os adversários esperam à bola. Mourinho pode ser a figura simpática que todos conhecemos, mas a verdade é que a coisa funciona, e funciona quase sempre bem. Os adversários entram em campo receosos, e isso é logo uma vantagem (lembram-se do Glorioso na luz e do sporting em alvalade?). Mesmo que não entrem os primeiros minutos encarregam-se de estabelecer hierarquias, como hoje aconteceu. Quase apetece dizer que contra factos não há argumentos. Suspeito que para os adversários do FCP, onde me incluo, só há uma solução: melhorar, e muito. MC
quarta-feira, maio 21
 
A maior parte das pessoas que fazem o país relativo é amiga pessoal do Paulo Pedroso há vários anos, alguns de nós há muitos, muitos anos. Vários de nós foram seus alunos. Outros tiveram o privilégio de trabalhar com ele em alturas diversas do seu percurso político. Estamos perante um processo monstruoso que o tempo, a verdade e as instituições da democracia se encarregarão de esclarecer. Este processo não terminará com a reposição do bom nome do Paulo Pedroso. Terminará com o cabal esclarecimento de quem são os autores deste absurdo e o que os move. Neste momento, a nossa posição não pode ser outra que não a de total solidariedade para quem se vê, de um momento para o outro, envolvido nesta calúnia.

Foi esta a declaração que Paulo Pedroso proferiu esta manhã:

Há dez dias atrás chegaram-me informações, que considerei credíveis, que contra mim estavam a ser lançadas acusações de envolvimento em crimes de pedofilia.
De imediato reagi a esta calúnia apresentando um requerimento ao senhor Procurador-geral da Republica solicitando informação sobre se existia ou não qualquer acusação a meu respeito de forma a, se existisse, poder de imediato, accionar judicialmente os caluniadores. No mesmo momento manifestei a minha total disponibilidade para, de imediato ser ouvido, colaborando com a Justiça para que a verdade fosse apurada integralmente.
Soube hoje que o Ministério Público solicitou à Assembleia da Republica a autorização para eu ser ouvido como arguido nesse processo e eventual aplicação de prisão preventiva.
Desde já quero afirmar que solicitarei à Assembleia o total levantamento da imunidade parlamentar e se tal não me for concedido solicitarei de imediato a suspensão do meu mandato de Deputado.
Estou a viver momentos terríveis, mas tenho a consciência plena de como estão gastas e desacreditadas as afirmações de inocência.
Mas à minha família, aos meus amigos, aos meus camaradas do partido Socialista tenho o dever de dirigir estas palavras.
Nunca participei em qualquer acto de pedofilia ou em qualquer acto com tal assimilável.
Estou completamente disponível para todos os esclarecimentos sobre toda a minha vida que a justiça pretenda obter.
Mas sinto-me no direito de exigir que seja conhecida toda a verdade.
Não me basta que seja declarado inocente, como serei, porque acredito na justiça do Portugal democrático.
Não desistirei de lutar, seja pelo tempo que for, por todos os meios ao meu alcance, para que sejam identificados, julgados e punidos os responsáveis por esta infame calúnia.
Nada poderá, provavelmente, reparar os danos que alguém me quis infligir. Mas o mínimo a que tenho direito, como qualquer cidadão, é a saber a verdade, toda a verdade.
Não pretendo nem mais nem menos do que qualquer cidadão tem direito: o direito ao seu bom-nome, o direito a proteger a sua família, o direito à verdade.
Já informei o Secretário-geral do meu partido da minha decisão de suspender, a partir deste momento, todos os meus cargos partidários, até ao cabal esclarecimento de toda a verdade.
Acredito que calúnias montadas com esta gravidade não podem ficar impunes.
Cabe agora à justiça do meu país, única protecção que pretendo, apurar a verdade, toda a verdade.

terça-feira, maio 20
 
Não interessa nem ao menino jesus: estreou há uma dúzia de dias um filme que aconselho vivamente os mais incautos a não irem ver. Chama-se “As irmãs de Maria Madalena” e eu, no mais perfeito dos desconhecimentos, fui vê-lo, há uns meses, iludido pelas prémios em Cannes. Como ele anda por aí todo ‘estrelado’, convém que não caiam na esparrela. Não é cinema. As personagens não existem, são um conjunto de ‘tipos’ sem densidade. O género é o manifestozinho, desprovido do mínimo de sofisticação necessário para se tornar aguentável. O tema é fascinante e nada redutor: a Igreja Católica é uma instituição total e perversa. E? O cinema não merece este tratamento. Merece sim, o último Spike Lee, ‘A última hora’. Duro, cru, e uma homenagem a sério a Nova Iorque. E depois tem o ‘sonho’ dos últimos 5 minutos. Com a voz de pai para filho. No limiar do bom gosto e, também por isso, a superar todos os qualificativos. Há, de vez em quando, muito boas razões para estar fechado numa sala durante duas horas. PAS
 
Verdade ou consequência Segundo uma qualquer sondagem feita já em pleno pós-felgueiras, o PS estará à beira da maioria absoluta. Fast thought, logo transformado em título de capa: o PS não terá sido afectado pelo caso Felgueiras. Puro engano. Episódios destes lesam todos, e lesam acima de tudo a imagem, a legitimidade, e com elas a sustentabilidade do próprio sistema democrático e dos seus protagonistas. A verdade é que as contas de reais ganhos e perdas serão partilhadas, no longo prazo, por todos, e nem se fazem agora nem serão facilmente contabilizáveis. É por isso mesmo que é fundamental que, neste como noutros casos, todos saibam tirar as devidas consequências do que vai acontecendo em casa própria. De forma lúcida, higiénica e transparente. Manifestamente, porém, noutros casos não há meio de isso acontecer. MC
 
Magic in there: os Go-Betweens (o melhor grupo pop no activo) deram hoje o melhor concerto dos últimos larguíssimos anos em Lx (ainda me lembro de uns quantos que podem competir: um do L. Cohen, outro do D. Byrne e ainda outro do John Cale). Foram quase duas horas de canções perfeitas, com muito dos dois últimos discos, mas, também, com muitas das outras, e.g. “the house that Jack Kerouac built”, “bye, bye pride” e até, a finalizar o “surfing magazines”, um enumerar das mecas do surf. Quantas músicas há assim e quantos grupos tão simplesmente perfeitos? A verdade é que se olha à volta e os melhores continuam a ser os que ficaram do passado. Não nos livramos dele. Eu tinha 15 anos, ouvia o “Tallulah”, e “não permitia que ninguém dissesse que eram os melhores anos da minha vida”. Deve ser também, essa a razão porque gostei do concerto. PAS
segunda-feira, maio 19
 
Portogal - Até quinta-feira desliguem a televisão e não comprem jornais. Leiam blogs. Segundo o Expresso, a «operação UEFA» da RTP vai começar nas vésperas. Hoje, já deram um directo da chegada do FC do Porto ao aeroporto. No dia do jogo, todos os bons programas do serviço público (Praça da Alegria, Jornal da Tarde, Portugal no Coração) vão ser emitidos a partir de Sevilha. O Expresso, apesar de não ter direito a lugar no avião (o Papa não brinca), apresenta-nos na capa o treinador Mourinho (curioso nome), o líder de uma nova cruzada, «só comparável à que foi ao Norte de África conquistar Ceuta no século XV». E o Público, habitualmente laranja, ameaça sair em tons de azul.

Até simpatizo com o Porto e o Pinto da Costa. Como dizia o Vasco Santana, citado no comment do JL (não confundir com juve leo, que ele é SLB), «só há dois tipos de portugueses: os que são do Benfica e os que são contra». Gosto quando os jogadores do Porto deixam uma coroa de flores no túmulo do Pepe e quando os jogadores do Belenenses entram nas Antas com a bandeira do FCP. Agora, o que não podemos aceitar (a começar pelos verdadeiros adeptos do FCP) é que se confunda o FCP com a selecção nacional. Que se diga que é o «nome de Portugal» que está em jogo. Isso é conversa de jornalistas e políticos que não percebem nada de futebol. Só assim se explica que Filipe Menezes e Marcelo Rebelo de Sousa já estejam a caminho de Sevilha. Quanto ao chefe de Estado, recuso-me a acreditar que vá à final da 2ª Divisão Europeia.

O futebol nada tem a ver com consensos. A lógica do futebol, como a da política, é a lógica do conflito: nós contra eles, em casa ou fora. Em toda a parte, por detrás dos clubes, estão clivagens de classe (Everton/Liverpool), religiosas (Celtic/Glasgow), regionais (Barcelona/Real) e políticas (Lazio/Roma). Ignorar isto, em nome do consenso nacional, é matar a essência do jogo do povo. E é mais um sintoma do nosso atraso democrático e futebolístico. FN
 
A verdadeira história Para que fique claro: o ameno jantar inter-blogs de sábado à noite, sobre o qual correm insistentes rumores, nunca existiu. O que houve foi uma discreta cimeira ao mais alto nível, no recatado primeiro andar de um conhecido restaurante da praça, entre delegações da direcção eleita da União dos Blogs Livres (leia-se, reaccionários) e alguns dos irredutíveis gauleses que tentam, a todo o custo, equilibrar o barco a bombordo.

Tirando um comunicado conjunto que foi, apesar de tudo, um passo importante no desanuviamento da crispada atmosfera da blogosfera portuguesa, não houve fumo branco nos pontos principais da ordem de trabalhos. Nomeadamente, falhou à última hora um acordo, que chegou a estar à vista, sobre os estatutos da Associação Portuguesa de Blogs e Afins (APBA - entretanto, já registada como pessoa colectiva e sócio efectivo da International Blog Association). A culpa foi, como quase sempre, dos infames e dos marretas. Ainda os tentámos levar para o Lux, onde sabíamos que ia estar a musa JAD, mas não surtiu efeito: em vez da pretendida hipnose, parece que destruímos um mito.

Como prova da nossa boa fé, reafirmamos a nossa disponibilidade para prosseguir as negociações, mas não aceitaremos as exigências imperialistas da UBL. Será marcada para os próximos dias uma nova ronda negocial, de modo a dar a devida continuidade a um processo de concertação que, julgamos, será da maior importância para o aprofundamento das blogodinâmicas em Portugal. Esperemos que seja possível um consenso, a bem da nação. Vivam os blogs, viva Portugal. MC
 
Ausências Com algum pesar, verifico que o país relativo não anda a dar a devida atenção a alguns dos cronistas mais influentes da praça. Um caso flagrante é JC Espada, que tem sido indecentemente ignorado nas prosas inúteis que por aqui debitamos. Noutros tempos não seria assim. Começa mesmo a parecer censura. Por exemplo, o artigo desta semana "Escutando os Polacos" mostra um JCE em grande forma - e com grande utilidade, embora penosamente "antes de tempo". À atenção dos meus blogmates. MC
 
Condução moderna Segundo o maior jornal português, Alcino Cruz, "presidente das escolas de condução" (SIC) foi apanhado em plena A6 (Lisboa-Elvas) à módica velocidade de 224 km/h. Nada mau. O problema é que a rapaziada da brigada de trânsito, sempre a querer complicar a vida do próximo, não esteve pelos ajustes e manobra de forma vil para que Alcino fique sem carta por um período entre os dois e os vinte quatro meses. Malandros. O proprietário das escolas de condução Moderna e do maior centro de exames de condução do país (não há aqui qualquer incompatibilidade, aparentemente), não concorda. Claro. Em sua defesa, alega a máxima segurança do seu mercedes 870 gti kompressor turbo e, pasme-se, a sua "discordância com os limites de velocidade estabelecidos legalmente". Aaah... Atente-se na argumentação contagiante: "Se conduzisse na Alemanha não teria sido sujeito à infracção". Indesmentível. E, não concordando com o limite de velocidade que está em vigor, conclui "Esta é a única infracção que cometo ao volante". Xeque-mate.

Umas quantas notas soltas: A Associação Portuguesa de Escolas de Condução não terá nenhum prémio "pedagogia" para atribuir, já, a este senhor? Ele não se demite? Não são as escolas de condução Moderna que têm (ou tinham, pelo menos há uns anos) uns programas de "ensino especial de condução em auto-estrada" - que finalmente se percebe o que são? É impressão minha ou os negócios chamados "moderna" andam a dar algum azar? Ainda bem que não desencantámos por aí nenhum poema chamado "o país moderno". MC
domingo, maio 18
 
Entre a selva e a indigência: O caso da senhora de Felgueiras está a servir para dar visibilidade ao pior do país. A turba selvática e fora da ordem. O chiqueiral da violência arruaceira e difusa. A ausência da GNR, que estranhamente não acompanha uma vigília. Tudo devidamente acompanhado pelos jornalistas que vão “ver o que pensam os portugueses”. Uma amostra de portugueses devidamente seleccionados na rua e que pensam que a drª Fátima é uma grande mulher, que faz obra, etc e tal. O populismo no seu pior, em que um senhor que parece ser presidente da Câmara diz que fica até o povo de Felgueiras querer. O povo de Felgueiras que não é, com certeza, o bando de arruaceiros que andou nas ruas. Aliás, só se conhece uma forma de se saber o que é que o povo de Felgueiras pensa: votando. Mas, a selva é completada com um senhor que parece que é advogado no Brasil e que tem o topete de afirmar que a senhora não está fugida à lei, mas que está “exilada no Brasil”. Como se em democracia fosse possível o exílio. Como se em democracia a turba pudesse impunemente agredir um deputado. É bom que a democracia dê um tratamento exemplar a esta maltosa. PAS
sábado, maio 17
 
Insegurança - Quinta-feira. Madrugada. No centro de Lisboa. Depois de uma perseguição silenciosa, sou finalmente abordado por um jovem encapuçado de seringa em punho: «Não queres apanhar sida, pois não?». «É pá, não me dava muito jeito», pensei eu. «Passa para cá o telemóvel e o dinheiro.» Lá se foi aquele meu velho companheiro de aventuras com toda a lista de contactos, para já não falar da fortuna que transportava na carteira (5 euros).
Há um ano, o antigo porteiro garantira-me: «Sôtor, não fique triste com a derrota do PS. Isto agora com o Portas vai a ladroagem toda para a cadeia». A verdade é que com uma câmara e com um governo PS nunca tinha sido assaltado. E nunca conheci ninguém que tivesse sido. Ainda dizem que com a direita a segurança aumenta... FN
sexta-feira, maio 16
 
Xanax: Entre a malta de direita há quem leia blogues para melhor dormir. Um dos cavaleiros do quinto império admite fazê-lo e recorre a nós para tal. Que não se perca na bruma é o nosso conselho amigo. PAS
 
Esta gente não terá vergonha?: Há uma semana que Isaltino Morais admitiu candidamente que tinha recebido graciosamente um terreno em Cabo Verde como recompensa da sua acção como Presidente da Câmara de Oeiras. Há dez dias que Fátima Felgueiras anda fugida à justiça de um país democrático. Há vários meses que Paulo Portas não explica a trapalhada de cheques e as obras feitas para desenrascar. Estes senhores têm responsabilidades acrescidas por terem tido ou terem responsabilidades políticas. Mas, há uma coisa que não têm certamente: vergonha na cara. Entretanto, a democracia e a classe política, a que com honra pertenço, continuam o seu lento caminho de degradação aos olhos dos telespectadores da televisãoquetemos. Mas, desde que cada um se vá safando, o que é que isso importa? PAS
 
Bestiário de animais mitológicos ou porque só nos saem duques

A propósito do Baralho Político

Luís Delgado faz-me lembrar aquele animal mitológico, o parvus inocuo. Esta besta mitológica segue a composição de uma outra de que nos fala Woody Allen, metade leão, metade leão, só que de um leão diferente. Neste caso, o inócuo Delgado é composto por metade vacuidade, metade troca-tintas, cosidos ao contrário como nas cartas de jogar. A acção contraditória da gravidade não ajuda ao pensamento deste duque das Berlengas do jornalismo nacional.

Não consigo perceber porque Delgado é convidado para comentar coisas na televisão, ou sequer à mesa em casa dele. E ainda por cima com o estatuto de independente. Em relação ao DN, o seu ganha-pão, suponho que tenha contrato firmado, telemóvel pago e seguro de saúde. Ora, eu sou defensor da protecção dos direitos dos trabalhadores. Ao contrário do mesmo Delgado. Suponho que uma das maiores vantagens, a única?, do novo Código Laboral seria poder despedi-lo sem justa causa outra que não a sua incompetência. Mas, quando não está entretido a escrever inanidades diárias, Delgado consegue ser a mais afinada voz do dono. É quando percebemos que Luís Delgado só joga com baralhos marcados. RB

 
A táctica Bagão: Não, não é uma obsessão relativa. O Dr. Bagão é claramente o mais lamentável dos Ministros, prémio que neste governo não é fácil de conquistar. É o ultramontanismo para além do aceitável, condimentado com um discurso cristão, que contradiz a prática, que de “personalismo” não tem rigorosamente nada. Mas, como se tal não bastasse, há a táctica chico-espertista, aprendida por certo nos anos de convívio alegre com dirigentes desportivos de primeiro quilate. A coisa é assim e repete-se. Primeiro anuncia-se umas vaguidades. Umas semanas depois, volta a anunciar-se, já incorporando reacções ao que se apresentou mas que ninguém sabe em que consiste. Passam mais uns meses e a coisa volta. As prestações familiares, que eu me lembre, foram anunciadas com pompa e circunstância pelo menos três vezes. Agora, o filme rasca reinicia-se. Ontem ficámos a saber que promete aumentar a licença parental ... até 2006. Um objectivo importante mas que é envolvido pela costumeira apropriação reaccionária de um desafio progressista: compatibilizar participação elevada das mulheres no mercado de trabalho com subida das taxas de fertilidade. Quantas vezes mais vamos ouvir o dr. Bagão a dizer que vai aumentar a licença de paternidade até que o faça? Quantas vezes mais vamos ter de ouvir o Dr. Bagão a impregnar o discurso das políticas sociais da retórica reaccionária que está para lá de todos os consensos europeus? PAS
 
És meu: "tenho um imaginário selvagem dentro de mim e costumo autocensurar-me inconscientemente, mas gostava de escrever um livro sem censura. Pode sair uma coisa bonita ou escabrosa, por isso tenho estado a evitá-lo". Não me quero armar em Sherlock, mas estas palavras de Rita Ferro ao Independente serão uma dica para descobrir quem está por detrás desse espaço inominável de liberdade que flutua na blogosfera? PAS
quinta-feira, maio 15
 
Nova Democracia - Muito a custo, o Dr. Monteiro lá conseguiu reunir as assinaturas necessárias para constituir o seu partido, de acordo com a benevolência do que ainda está disposto na Lei dos Partidos do tempo de Vasco Gonçalves. Na definição da sua estratégia, optou por se apoiar num estudo de conceituados alunos do Politécnico de Santarém que lhe garantem que a Nova Democracia, para se afirmar, tem que ser moderna e liberal. Ora, o que os estudos de opinião nos indicam é que só há espaço à direita do PP. Entre o PSD e o PP não há nada. Só há mercado para quem quiser defender os descamisados da integração europeia, para quem quiser explorar os efeitos da imigração e da insegurança - temas que não podem deixar a esquerda indiferente. No fundo, para a Nova Democracia ter sucesso, não pode ser "nova" nem "democrática". Isto até os infames já perceberam deixando cada vez menos espaço para PM nas páginas da coluna. FN
 
Boloni - Certamente por pudor, MVS evitou comentar aqui as declarações de Lazlo Boloni à Bola. Boloni elogiou a «organização» do F.C. do Porto e, pior, elogiou o SLB: «O Benfica é o maior clube de Portugal». Sobre quem lhe pagou os ordenados ao longo de dois anos, só ressentimento. Cabe-me pois a mim - belenense que está para o SCP como os CDS que votam útil no PSD para evitar o inimigo vermelho - repor a justiça. A ideia dos 6 milhões de adeptos é falsa e resulta de sondagens modernas que não testam a verdadeira paixão clubistica dos inquiridos. Quem não gosta de futebol, diz que é do Benfica, que é como quem diz que é da selecção nacional. Quando se vê a média de assistências em Alvalade durante os negros anos 80/90, vê-se, isso sim, um país dividido ao meio entre sporting e benfica. Dizer o contrário é como pretender que o Boavista é o quarto grande, quando o que conta são as presenças na 1ª divisão (e aí o Belém arrasa).

O senhor Boloni, antigo funcionário de Ceausescu, está habituado à propaganda. É um ignorante que ganhou um título completamente por acaso (chegou Jardel, Sá Pinto lesionou-se, André Cruz certo dia teve que jogar a líbero, etc.). Este ano, sem Jardel, mostrou o que valia: dispensou Cruz e Babb, fez de Hugo um dos mais utilizados, pôs Quiroga a defesa direito e Prates no banco. Acabou a época em beleza com esta entrevista à Bola. Se eu fosse dirigente do Sporting, este senhor não se sentava no banco nem mais um jogo.
FN
quarta-feira, maio 14
 
Duas coisas sobre a Liga dos Campeões e uma sobre Maldini Quem viu ontem o jogo Inter-Milan percebeu porque Cúper deve abandonar os nerazurri: quem mete Recoba na actual condição em ambas as partidas, para o substituir (demasiado tarde) nas duas, sendo que o seu substituto ontem marcou o golo do empate, não merece ficar. E não merece ficar sobretudo porque a forma como o Inter joga é inadmissível para uma equipa que tem os jogadores que tem. Bem sei que o Vieri não jogou a meia final e que o Moratti conseguiu mandar embora o Ronaldo, o Roberto Carlos e outros coxos do género nos últimos anos.

Que passe o Real Madrid. Para que seja uma final "portuguesa". Porque o Milan joga melhor contra equipas que se balançam muito no ataque e porque, não sendo o Real tão bom a defender como o Inter, permite ao Milan ter uma chance de equilibrar e marcar. Mas, acima de tudo, para evitar o gigantesco bocejo que seria uma final italiana Milan-Juventus. Eu não quero adormecer a ver a final da Liga dos Campeões. Há formas mais agradavéis de ser posto a dormir que pelo catenaccio.

Última coisa. Custa-me admitir, porque gosto muito dele e penso que foi, excepto o Roberto Carlos, o melhor defesa esquerdo do futebol mundial dos últimos bons anos, mas Paolo Maldini está a acabar como jogador de topo. A forma como foi comido no lance do golo do Inter por Martins é esclarecedora. Claro que a bola veio de uma asneira de um outro rapaz já trintão, um tal de Costacurta. RB

 
A farsa da política: Não conheço a Senhora Fátima Felgueiras de lado nenhum, mas o que ela tem feito à credibilidade do sistema político e da classe política é suficiente para ter por ela o maior dos desprezos. Toda a história é inqualificável. A fuga à justiça, tipo western de série B, era mesmo o que faltava. Quanto à história da senhora pouco há a acrescentar. É indigna e, como já foi dito, além do mais abusou da boa fé de todos os que lhe deram em diversas circunstâncias o benefício da dúvida. Mas, o mais grave é que esta historieta reles é mais uma filha da tendência trágica para a carnavalização da política e para um distanciamento lúdico em relação a esta. A malta está nos sofás a divertir-se com a coisa: com as buscas na barra da Tijuca, ou, noutros casos, com o carnaval do dr. Jardim, com os terrenos em cabo verde do dr. Isaltino, com as berrarias do Major Loureiro ou os cheques do dr. Portas. No fim, nem uma réstia de indignação, nem nenhuma vontade particular de levar quando necessário os casos aos tribunais. Aliás, os tribunais não funcionam e a coisa perderia a graça. É isso que é grave. Este caso, e os outros, não focalizam a contestação em nenhum aspecto particular, amplificam apenas um sentimento difuso de deslegitimação da política democrática. E os fenómenos difusos são sempre mais difíceis de enfrentar. Entre a irresponsabilidade dos que não levam a ética republicana a sério e a carnavalização mediática, que fingindo denunciá-la, pelo contrário, excita-se com o fenómeno, o caminho é apenas um: o abismo. PAS
 
A angústia da influência:ontem houve mais um encontro informal da blogoesfera. No lançamento do livro do Nuno Costa Santos estávamos nós, relativos, em peso, fedorentos, o possidónio cachapa, e os 2/3 dos infames de que gostamos . O Joel Neto fez um excelente texto de apresentação e os irmãos Borges mostraram que os senhores Mark Kozelek e Beck Hansen têm de se preocupar – a concorrência é séria. Mas, o que me deixou mesmo preocupado foi o Pedro Mexia, o rapaz está a sofrer a angústia da influência. Deixou de postar, diz que tem de ler um número infindável de blogs por dia para poder escrever. Um perfeito disparate. A exposição excessiva a blogs prejudica-o manifestamente e prejudica-nos a nós que deixamos de o ler. Pedro, pára de ler e toca a escrever. Deixa-te de merdas ou, por este caminho, qualquer dia deixas de publicar livros porque não leste todos os que devias. PAS
 
Neil Armstrong no Algarve fala de turismo espacial com Durão e Cavaco
Durão e Cavaco vão “intervir” no congresso internacional de turismo no Algarve. Eles e Neil Armstrong. Sim, esse. Durão, informa o Público, “aposta fortemente no turismo para o relançamento da economia portuguesa”. Neil vai falar-nos “da sua experiência” e ainda “partilhar experiências”, deixando “algumas ideias” sobre “a viabilidade do turismo espacial”. Cavaco vai “encerrar” a sessão. Disse ainda a mesma fonte.
Eu quero partilhar experiências com o Neil. Assim como assim, isto das teses não anda longe do turismo espacial. Comecei a rir. Não sei se da ideia de Durão, Cavaco e Armstrong a matarem umas cadelinhas com arroz de berbigão no Hotel Eva. Se da absoluta novidade de Durão propor como solução para o “relançamento” da economia o turismo. Se da argúcia empresarial do Neil em favorecer a viabilidade de “lançar” turistas para o espaço sideral. E por que não o relançamento da economia portuguesa para o espaço como solução para a crise? Talvez os desempregados portugueses, cada dia em maior número, possam ser os tais turistas? Ou talvez os funcionários públicos "a mais", em vez de esperar que morram? E Cavaco, esse malandro. De volta ao torrão pátrio, qual Vlad Dracul, dormirá o sono dos sequiosos na retemperante Mariani. E depois ferirá o sangue, e “relançará” também ele a sua candidatura presidencial. RB

terça-feira, maio 13
 
Última Hora - JFK teve um caso com uma estagiária. Está tudo no «última hora» (sic) do correio da manhã online. FN
 
Estão a amplificar a recessão: O presidente da Agência Portuguesa para o Investimento (API) está contra a estratégia seguida pelo governo de privilegiar a redução do défice público, temendo que se agrave ainda mais a recessão económica que vivemos. A isto acrescenta que é urgente não afogar a economia, as empresas, as famílias, e, pelo contrário, dar-lhes motivos para continuarem a consumir, terem empregos e perspectivas de futuro. O dado curioso é que o senhor que preside a esta Agência chama-se Miguel Cadilhe e junta também a sua voz a muitos que há muito que andam a explicar que recessão, mais discurso pessimista e corte no investimento público tem apenas um resultado – uma amplificação da recessão. Com a política da tanga não há meio de sairmos deste ciclo vicioso. PAS
 
Doenças Modernas - Bem sei que este é o pelouro de MK, mas ainda assim atrevo-me a meter a foice em seara alheia. Não há maneira de aparecer o primeiro caso de SRA (vulgo, pneumonia atípica) em Portugal. Afinal o doente internado no hospital de S. João tem apenas uma variante da pneumonia, perfeitamente típica. Mas não devemos ficar tristes: tal facto está, segundo o DN, a beneficiar as nossas exportações. Como diria Durão Barroso, agora já ninguém nos pára. Evocando o 13 de Maio e o Dr. Portas, é possível que seja obra da mão invisível de Nossa Senhora de Fátima. A única doença que nos podia parar seria a fibromalgia atípica (conhecida como doença da fadiga - problema que jamais atingiria os orientais). Contudo, também aqui não há razões para alarmismos. A doença da fadiga afecta essencialmente mulheres balzaquianas, já de si dadas a melancolias e cansaços múltiplos. Os casos diagnosticados comprovam esta teoria. Entre esses casos estão uma dona de casa (a Dra. Uva) e uma deputada da nação (Maria Elisa). As melhoras. FN
 
O estranho caso de Fátima Felgueiras Eu confesso que não gosto da senhora. Se calhar, agora é fácil dizê-lo e incontroverso. Mas acho que ela parecia culpada, quer dizer, que tinha cara de culpada. Claro que isto não quer dizer nada. E é quase tudo o que percebo dos pormenores do caso. Agora, aquilo que sei é que a senhora foi a programas de televisão, a debates, e que parecia convincente. Apesar da cara de culpada, achava que mostrava raça. Por isso, confesso que me surpreendeu a carta que enviou aos meios de comunicação na sequência da fuga. O contrário exacto do que até aí transparecia. Onde antes revelava coragem, estava agora cobardia; onde antes exultava segurança, estava agora a reles fuga; onde antes alardeava força, estava agora uma fraqueza medíocre. Pensei que tamanha convicção na própria inocência tivesse continuidade, se tal fosse necessário, na barra do tribunal. Fátima Felgueiras morreu para a política. Que descanse em paz, o que não suponho seja difícil no Brasil. RB

 
O estranho caso dos eleitores de Felgueiras Que alguns – ao que parece muitos – eleitores de Felgueiras achem que Fátima foi boa presidente, que tirava aos ricos para dar aos pobres e ao clube local, eu até percebo. Já me custa mais a perceber que, por essa razão, digam que voltariam a votar nela, não vendo que os fins, admitindo que justos, não justificam meios ilegais. E mais: como não concluir ter sido a própria Fátima Felgueiras que ajudou a destruir, pelas suas acções, o mesmíssimo poder local que esses eleitores justificadamente tanto prezam? E que não percebam que maior confissão de culpa que fugir desta maneira é inimaginável. RB


 
Bagão 2 Há uns dias, um exultante dr. Durão, discretamente ladeado pelo cândido sorriso do ministro da segurança social, conhecido amigo dos velhinhos e dos pobrezinhos, conseguiu ocupar 15-minutos-15 de directo em todos os telejornais (menos na RTP1, que dava futebol). O pretexto foi o anúncio de um feito histórico: as pensões mínimas atingem este ano os 200 euros. Será que algum jornalista fez as contas ao ritmo de progressão das pensões em anos anteriores (exceptuando o último, está claro) e percebeu que este valor a ser notícia é porque peca por tardio?... Pronto, lá comeram os portugueses com 15 minutos de demagogia e publicidade enganosa... MC
 
Bagão 1 Público de segunda-feira: "Governo quer desagravar crimes contra a Segurança Social. Os limites mínimo e máximo das penas de multa deixam de ser elevados para o dobro sempre que sejam aplicadas a uma pessoa colectiva, sociedade ou outra entidade fiscalmente equiparada".

Deixem ver se percebo. Há uns dias a imprensa anunciava, com grande pompa, que o sistema de informação da segurança social não era fiável. Não se percebeu exactamente qual era a notícia, a não ser que já há um sistema: é que o "sistema" anterior era pura e simplesmente inexistente e as dívidas à segurança social, medidas em percentagem de contribuições, diminuiram, e muito, nos últimos anos de governo socialista. Mas adiante.

Vai daí, para responder a este quadro dramático (um sistema que não é perfeito e o risco de se criar um clima de impunidade que, pensava-se, era preciso combater), o Governo, sempre tão preocupado com as fraudes dos pobres nas prestações sociais e com as baixas por doença dos trabalhadores, decide que os patrões não merecem a desconfiança, o rigor e a mão pesada que, ao que parece, é aplicável a todos...os outros e vai atenuar as sanções para os empresários que pratiquem fraude as contribuições para a segurança social - que garantem as pensões dos trabalhadores e a sustentabilidade do sistema de segurança social. Coisa pouca, portanto.

É uma curiosa opção. Supõe-se que esta é uma medida moralizadora que vai ajudar no combate à fraude. É este o tão apregoado espírito de equilíbrio de que tanto gostamos no dr. Bagão. MC

 
Passatempo CASINO ROYAL Onde deve ser instalado o Casino Santana, a "reforma estrutural" que faltava a Lisboa, cidade fashion e orgulho dos investidores de todo o mundo? Ajudem o mayor a decidir, de uma vez por todas. E lembrem-se que no parque mayer, em monsanto e no cais do sodré já não vale. As hipóteses começam a escassear, vai ser preciso puxar pela imaginação... Respostas para a secção de passatempos do país relativo.

NOTA: nas respostas, é favor ignorar expressões como "ignorância", "superficialidade", "mudança de posição", "truculento", "trauliteiro". Vá lá, vamos manter o nível.
 
Uma partida e dez regressos: o nosso amigo Nuno Costa Santos lança hoje, pelas 18.30 na Livraria Ler Devagar, ao Bairro Alto, o seu primeiro livro, Dez Regressos. O livro é como o Nuno, bem humorado e consciente que as coisas importantes são para serem ditas com leveza e com a simplicidade das palavras exactas. São textos destilados, onde só resta o essencial. Como se isso não bastasse, e apesar dos Red House Painters não virem tocar, há quem toque por eles. Ameaçam não fazer um cover do Katy Song, o que é inexplicável. Mesmo assim, e para além da apresentação do livro do Nuno pelo Joel Neto, dizem-me que vamos poder ouvir o Summer Dress e o Bubble. Tem tudo a ver com o Nuno e com os seus regressos. Essencial. PAS
 
Mães de Bragança - Este fim de semana, graças à RTP e ao Expresso, ficámos a perceber melhor o que está afinal por detrás do sobressalto cívico das mães de Bragança. O que fez com que centenas de devotas mães assinassem um manifesto a favor dos bons costumes? É que naquela cidade, antigamente pacata, há agora 10 (10!) bares de alterne. Um deles chama-se, curiosamente, M-L (não confundir com o antigo partido de JPP), o que levou as mães de Bragança a pensarem, imediatamente, que se tratava de ideias comunistas. Esta suspeita, aliás, acentua-se facilmente pela leitura da entrevista que o Expresso realizou com Zélia, uma das muitas brasileiras que se prostituem em Bragança: «Todo o mundo trabalhando, com salário, é o meu sonho. Pode ser que o Lula consiga». Consciência de classe não lhe falta.

Para além de suspeitas de marxismo-leninismo, fala-se também de bruxaria e droga. Os homens estariam, ao que parece, enfeitiçados pelas brasileiras. «Elas chegam-se, agarram-se a eles, e pronto: eles não são de pau», disse, à RTP, uma mãe de Bragança. Quem levou com o pau foi outra mãe entrevistada pelo Expresso: «por causa das brasileiras, o meu marido chegou a casa, partiu tudo e bateu-me». Contudo, não se pense que as prostitutas brasileiras não têm, também elas, razões de queixa. «Nós não queremos homens casados: divórcio é sempre chato. Só queremos o dinheiro», dizem elas. E o problema é que os bragantinos têm muito amor para oferecer e pouco dinheiro para dar. Além disso, as «legítimas esposas» não respeitam quem trabalha, e vai daí «chamam-nos putas», queixa-se uma cidadã imigrante, indignada com esta discriminação.

Mas como explicar, sociologicamente, o sucesso das brasileiras em Bragança? Uma professora do ISPA, entrevistada pela RTP, diz que o recurso à prostituição «é uma prática pesistente que está correlacionada com múltiplas variáveis, nomeadamente com o quadro social de modernidade avançada em que a sexualidade hoje actua». O proprietário de uma das casas de alterne, citado pelo EXpresso, propõe-nos uma outra leitura: «Os maridos chegam a casa e encontram as mulheres a cheirar a gordura, cheias de problemas e mal dispostas. As brasileiras são limpinhas, cheirosas e meigas». Como sociólogo, inclino-me mais para esta última interpretação. FN
segunda-feira, maio 12
 
Liberdade Felgueirense - Nas ruas de Felgueiras, as manifestações de apoio à Dra. Fátima e aos seus vereadores sucedem-se. Poucos querem eleições, e ninguém quer a mudança eleitoral. Tal como os iraquianos, os cidadãos de felgueiras não querem ser libertados. Um case study a merecer a atenção dos neoconservadores de Washington. FN
 
Bloco Europeu - Quase 20 anos depois da adesão de Portugal à CEE, os bloquistas convertem-se ao europeísmo. Parabéns, rapazes. Estão no bom caminho. Já só falta a NATO e a economia de mercado. Ainda assim, a FEBRE está mais perto. FN
 
O Sermão da Montanha? Diz o Pedro Lomba que o onanismo social campeia em toda a parte. E que vivemos num mundo de artificialismo. E que a televisão é a ponta, ou a extremidade, de algo. Algo que afundou o Titanic da moral vitoriana. Eu não percebo bem de que artificialismos o Pedro não gosta, mas assumo serem aqueles que promovem o onanismo, como os implantes de cabelo e de silicone. O Lomba sofre como um Jacinto, titubeante entre a Cidade artificial e a Serra redentora. Mas diz isto tudo entupido de spleen urbano. Só espero que o teu post não seja, também ele, a pequena ponta do seguinte perigoso fenómeno: uma viragem demasiado à direita em direcção à (ultra) Montanha e o elogio mavioso a delírios pastorais de má memória. RB
 
Gostos: Gosto do DNA. Gosto em especial da secção de livros (onde pontificam os infames Pedro Lomba e Pedro Mexia), da crónica de outro ilustre blogger, o José Mário Silva, e da entrevista - acompanhada, como sempre, por belas fotografias, como já foi referido na Janela Indiscreta. Nem sempre gosto da rubrica "Gosto Não Gosto...", frequentemente um rol de lugares-comuns e repleto dos últimos gostos da moda. Não foi o caso do "Gosto Não Gosto..." deste sábado, da autoria de Nuno Artur Silva. Original, inteligente e Chico Buarque (ok, eu sei que sou obcecado). Gostei muito. TT
 
Um mar de direita?: Não tenho a certeza se o qualificativo é justo para com o Nuno Mota Pinto - também, conhecido por, em tempos gloriosos, ter marcado um golo tipo meias finais da taça dos campeões glorioso/o.m. - mas, a verdade é que a direita continuar a ganhar a guerra dos blogues, na quantidade, na quantidade. Aí está o mar salgado. Pelo menos, e com o nuno isso é uma garantia, ficará à direita do centro e não para lá do razoável como muitos outros. Sejas bem vindo. A discussão segue dentro de momentos. PAS
 
Democracia em Felgueiras - Não é só no Iraque que a democracia teima em não se consolidar. Também em Felgueiras os critérios que a ciência política estabelece não estão cumpridos. Durante uma semana, assisti a inúmeras entrevistas de rua sobre o tema do momento. Segundo os jornalistas, a população local «divide-se». Relativamente à Dra. de Felgueiras, a verdade é que só vi unanimidade: que fez obra, que todos metem a mão, e que fez muito bem em fugir, para a praia, para a Tijuca ou para a Amazónia - que Deus a guarde. A opinião divide-se apenas quanto ao futuro do executivo camarário, entre os (muitos) que acham que não se devem demitir e aqueles (poucos) que acham que sim porque (note-se) querem votar naqueles autarcas outra vez. São os mesmos que acham que o Dr. Portas deve ficar e que ainda não perdoaram a saída do Eng. Guterres. Para muito boa gente, a lógica da coisa é esta. «Se votámos neles, eles que fiquem até ao fim. Durante quatro anos, não queremos cá sarilhos e barulhos». Os cargos políticos são vistos (aliás, muito bem) como um castigo. 25 de Abril sempre, eleições nunca! FN
 
2 Regressos - Não, não se trata ainda de promover o romance do ano, que o nosso amigo NCS lançará esta semana. É apenas para assinalar dois regressos. O meu (à blogosfera, 3 semanas depois) e o do senhor Pachachi (ao Iraque, 33 anos depois). Quanto ao meu regresso, deixo-vos apenas um conselho de amigo: não saiam de casa dos vossos pais; é um erro infantil. Deixem-se estar para aí. Além disso, nisto do blogovício, ao contrário das outras drogas duras, é muito difícil entrar e muito fácil sair. Quanto ao senhor Pachaci, confesso que, quando falei deste aliciante personagem, pensei que se tratava de mais um italo-americano da CIA, primo afastado do senhor Carlucci. Afinal é mesmo iraquiano, em tempos (70s) ministro dos estrangeiros. Aqui fica a correcção. Segundo o Público, ao longo de 33 anos no exílio conseguiu recrutar 300 militantes para a «União dos Iraquianos Democratas Independentes». Se o nome corresponder à substância da coisa, aqui lhe mandamos um solidário abraço. Em breve, estará na Internacional Relativa. No governo do Iraque é que vai ser mais difícil.
FN
domingo, maio 11
 
Fotos da família Barreto: Porque é que para além de termos de gramar com a prosa do dr. António Barreto no Público de Domingo, ainda temos de levar todas as semanas com um fascículo do seu álbum de fotos de família na Pública? O que é que isso nos interessa? PAS
 
Um delírio. Sob tão auspicioso título, um dos melhores cronistas da praça escrevia no DN de sexta-feira que “A guerra ao Iraque foi de uma enorme insensatez. A resistência à guerra no Iraque foi tão insensata como a guerra”. Eu até concordo, mas registo que VPV se esqueceu de acabar o artigo: dizer qual seria, então, a posição mais sensata que, a partir de Portugal, era possível ter nesta história toda do Iraque. E quem a teve, de facto. MC
 
Old adventures. Por falar em aventuras musicais, anuncia-se a quem possa interessar que já circulam por Lisboa os concertos dos Cure que vão, ao que se diz, dar origem a um triplo álbum ao vivo cujo alinhamento será constituído, ao que se diz também, pelos álbuns “pornography” (1981), o absolutamente inigualável “disintegration” (1989) e o mais recente de originais, “bloodflowers” (2000). Como nestas coisas da melhor banda pop mais-ou-menos-no-activo (desculpa lá, mas as verdades têm que ser repostas, ó Pedro) nunca se sabe se o disco oficial chega mesmo a sair, o melhor é não arriscar. Para quem não gosta de piratarias (é o meu caso, é o meu caso!), a solução é mesmo repescar os cds antigos e o mais ou menos clandestino “bloodflowers”. Mas cuidado com as depressões da primavera, ao que parece tão lesivas como a penumonia atípica e mais fáceis de apanhar...pelo menos com estas bandas sonoras.

ps. Já agora, podiam também vir até Portugal para um concerto, em Lisboa e fora dos festivais de Verão. É que depois de um super rock e de dois sudoestes, já lá vão uns aninhos largos desde Alvalade... À atenção da música no coração e da respectiva concorrência... MC
sexta-feira, maio 9
 
“Bowling for Columbine”?: Num gesto algo inesperado, Bush veio defender a continuação da proibição das armas de assalto semi-automáticas, contrariando as pretensões da poderosa National Rifle Association, uma das principais apoiantes ($$$) dos republicanos. A proibição destas armas, muito cotadas entre os criminosos, foi introduzida durante o mandato de Clinton. Analistas políticos dizem que se trata de uma jogada de Bush para conquistar o eleitorado moderado do centro, face às eleições presidenciais que se avizinham. Eu julgo que não. Na minha opinião, esta medida é apenas reveladora do narcisismo do Presidente americano e do excesso de vezes que já viu o “Bowling for Columbine”, em cujo elenco figura, segundo o Cinecartaz do Público, como um dos actores principais. TT

Ps: para quem não saiba, George W. Bush já tem um apreciável currículo como actor, que pode ser consultado aqui
 
Um jornal português: “vestida de branco, como uma princesa, Belinha saiu ontem do hospital rumo a casa. Os pais, felizes, mostraram-lhe o seu remodelado quarto. Só a bala insiste em continuar dentro da cabeça da criança, que sente saudades dos amigos, da escola e da professora” Para quê escrever posts? basta copiar do 24 horas. PAS
 
Concurso de fim-de-semana: Aqui no País Relativo damos alvíssaras a quem der dicas sobre qual foi o ministro que andou com a Sónia Brazão – nós todos (com a natural excepção das todas) estamos invejosos, - a investigação que encomendámos ao Detective Correia diz-nos que só há um ministro solteiro. Quem é que acham que foi o felizardo? Secção de passatempos do P.R.
quinta-feira, maio 8
 
O inimigo italiano: as coisas em Itália estão a aproximar-se assustadoramente dos cenários de há dez anos. A condenação de Previti, advogado e homem muito próximo de Berlusconi, ex-ministro, e agora a reacção intempestiva e desconcertante do clown Silvio parecem estar a detonar algo de imparável. É tudo de tal modo trágico que os jornalistas da televisão pública estão a ser alvo de perseguições por na 2ª feira terem colocado questões ao P.M. a propósito do caso s.m.e.. Olha-se para aquela malta, e entre o selvático Bossi, o senhor Berlusca - esse ser inenarrável, que não se compadece com nenhum das formas de olhar para a política - e o fascista recém convertido, Fini, o melhor é mesmo este último. Trágico, demasiado trágico. No meio de tudo isto, a esquerda lá se vai auto-flagelando, em 143 cisões, 756 tendências e 4563 disparates. A história do costume. Afinal, entregaram o poder, quase de mão beijada, aquela escabrosa direita. PAS
 
Mais notícias do recreio:os meninos continuam a portar-se mal. Já não bastava não brincarem com os outros no recreio, agora, quando chegam às aulas, vai de começar a copiar os t.p.c.. A história parece anedótica, mas a verdade é que o governo apresentou um projecto de lei ao parlamento, sobre o crédito à habitação, que plagia, artigo por artigo, um projecto sobre o mesmo tema, apresentado pelo PS e chumbado em 2002. Isto é muito feio meninos. E não é coisa de gente crescida. PAS
 
Rapazes do Espaço: O outro lado dos Cool Hipnoise viu finalmente a luz. O álbum Sonic Fiction dos três Space Boys já saiu. O disco faz parte, com absoluta fidelidade e competência, do hype dominante que cruza o jazzy/funky/electrónico/afro/orgânico. Em Portugal nunca ninguém o tinha feito tão bem, o que é suficiente para fazer do disco a coisa mais interessante da música portuguesa dos últimos largos anos. Para além do mais, não consigo pensar em 5 discos dentro do género substancialmente melhores. E o género é internacionalmente profícuo. Diz-se aliás que o Gilles Peterson já anda a passar na Radio 1, o cover do Space is the Place do Sun Ra – e o disco tem muito melhor. Vale mesmo a pena. O som entranha-se e agora ficamos à espera pela versão ao vivo, depois da promessa já entusiasmante no meco no ano passado. PAS
 
Portas para que te quero - De uma leitura rápida do que se tem escrito pelos vários blogs do burgo nos últimos dias, há uma coisa que me intriga: porque razão é que o tópico "demissão do ministro Portas" dura, e dura, e dura... É um mistério. O Pedro Lomba, num só dia, escreveu de enfiada uma série de quatro posts dedicados a tão profícuo tema (fora eventuais anteriores não numerados, que não me dei ao trabalho de procurar). Mais um bocado e já rivalizava com a mirabolante Academia de Polícias (que alíás é uma saga indicada para o assunto em questão) e com o anjo selvagem, se não em número de episódios pelo menos no personagem atribuido ao dr. Portas, a julgar pela tocante e angelical inocência que Lomba lhe atribui. Esperemos que o ainda ministro não tenha sido tão inocente a negociar com a Lockheed (ou será que o melhor é esperar que tenha mesmo sido?). Mas adiante. Não sei se o Pedro já percebeu que os seus dois argumentos são muito fracos: os actos a que chama "privados" e "anteriores às funções" não o são na verdade. São públicos, antes de mais, porque são politicamente relevantes - e é de política que se trata, não da distinção jurídica entre actos públicos e privados. É que não estamos a falar de consumo de substâncias, de um escândalo sexual, ou de qualquer outro clássico do moralismo hipócrita sobre os políticos: estamos a falar de fortes suspeitas de fuga ao fisco, de facturas falsas, de comportamentos empresariais duvidosos, de financiamento ilegal de actividades partidárias e de outras "pequenas" coisas do mesmo quilate. Questões privadas?? Não me parece. Quanto ao argumento temporal, é evidente que só seria aceitável se tais actos já fossem do conhecimento público quando o protagonista desta história foi a votos - votos que possivelmente não teria obtido nas condições actuais. Além do mais, são actos bastante recentes. Mais: há indícios fundados de que Portas mentiu aos portugueses e nos depoimentos que fez sobre esta história. Isso foi, e é, no exercício de funções, não restam dúvidas. Por fim, quanto às acusações que o PL faz acerca das nossas pérfidas motivações para invocar questões éticas em torno deste caso, por favor. Desde que o caso Portas surgiu, a direita, infame e não só, ganhou uma inusitada aversão às discussões sobre ética política, como se nunca tivessem acontecido antes. Não se enervem. Mas o facto é que há coisas com as quais não se brinca, e até concordo com o PL sobre a hipocrisia do excesso de exigência face aos políticos, que na verdade não é mais do que uma das faces do estigma que face a eles tem sido construído com sucesso. Só que neste caso, claramente, exagero só o vejo na intransigente defesa do dr. Portas quem anda a brincar com o que não deve não somos nós. MC
 
São e salvo Depois de dificuldades tecnológicas insolúveis, que demorei semanas a perceber e que alguém resolveu em 30 segundos e um ajuste num cabo, estou de volta. Confesso que já estava farto de ser o JPC do país relativo - safa!. Farto e um bocado assustado quando percebi que as hostes estavam a ficar um bocado agressivas em relação a esta ausência prolongada. Depois de várias ameaças telefónicas nada anónimas, a um ritmo crescente, ontem pensei mesmo que ia ser agredido por um colega relativo cujo nome não revelarei (só posso dizer que se encontrava num estado lamentável, mais desfeito que os seus pulmões há largos anos como já é habitual, depois do também habitual jogo de futebol das terças à noite). Mas pronto, o que interessa é que regressei são e salvo. E com fome de bola. Aliás, de blog. MC
quarta-feira, maio 7
 
Abruptamente, eis que surge: JPP, será o Pacheco Pereira?, depois de chamar Lombo ao Lomba, chegou à blogoesfera. “Que a língua não seja muda”. Bem vindo. PAS
 
Mais notícias do recreio: A história continua. O dr. Marcelo anda obcecado com o dr. Santana. A razão parece ser a vontade do dr. Marcelo ser candidato a Presidente. Para tal, convém ir moendo a imagem do companheiro Santana, e é isso que faz, sob qualquer pretexto, mas com inteira justiça, todas as semanas na TVI. Depois, é esperar que o Dr. Cavaco não queira ser candidato, contar que Cristo desça mais uma vez à terra e já está. O candidato presidencial Marcelo. Tudo simples. O dr. Santana é que já não está a gostar da brincadeira, vai daí e diz-nos isto: “o dr. Marcelo que não se arme em campeão da moral que não tem autoridade”. O que é que isto quer dizer? Porque é que não tem autoridade? Temos o direito de saber. A coisa parece prometer. E ainda faltam três anos para as presidenciais! PAS
terça-feira, maio 6
 
No recreio não brincam com os outros meninos: o RB lembrava bem, a propósito da guerra entre o dr. Menezes e, parafraseando as palavras deste, a excelente contabilista Ferreira Leite, que esta rapaziada agora não brinca com os outros no recreio. É tudo entre eles. Hoje, foi o dr. Líbano Monteiro, que no mesmo momento em que tomou posse como presidente do ICEP criticou logo o Ministro que o empossava, pela reestruturação manca – o turismo ficou de fora – do instituto a que preside e que o ministro tutela. É espantoso o grau de desautorização. Há aqui claramente um problema ou do Ministro ou do Presidente do ICEP. Talvez não fosse mau entenderem-se. Até lá, a autoridade do ministro está diminuída. Ainda assim são os ministros que devem mandar, por mais notáveis que sejam os presidentes dos institutos públicos. Ou não é assim? PAS
segunda-feira, maio 5
 
Uma tragédia para a democracia:Vamos lá ver se nos entendemos. Não é preciso conhecer os detalhes do julgamento da Moderna para rapidamente se perceber que aquilo é tudo uma enorme trapalhada. E que o facto de se ter envolvido com aquela gente (pois é, meu caro Pedro, “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”) é pouco abonatório para o dr. Portas. Mas, como se as facturas, os movimentos Dinensino/Amostra não bastassem, só o facto do dr. Portas auferir enquanto director de um centro de sondagens um salário extraordinário para o universo do meio académico português (todos nós sabemos quanto se ganha nas universidades), sendo que não tinha nenhumas competências que o qualificassem especialmente para as funções (nem académicas, nem enquanto sondageiro), a não ser o facto de ser primeiro um importante opinion maker e depois líder de um partido político, são motivo para o tipo ter vergonha na cara – “quando a esmola é grande o pobre desconfia”. O dr. Portas não desconfiou – ou andava a dormir ou assobiou para o lado. Em todo o caso, qualquer das razões inibe-o politicamente. Goste-se ou não. Mas, há um aspecto essencial e que está para além da moderna. Vocês, infames, que tanto gostam do Burke, esquecem que este diferencia os partidos das facções. O dr. Portas é líder de uma facção demagógica e cujo programa eleitoral se baseou sempre na mais rasteira das explorações perversas e populistas de sentimentos da população. Os pensionistas contra os beneficiários do RMG – os tais jovens preguiçosos; a lavoura, os ex-combatentes, a criminalidade etc. e tal. O que é que ganha a democracia com conversa pouco séria desta? A verdade é que, ainda que não houvesse moderna, o tipo está no governo, e esse facto representa, por si só, uma tragédia para a democracia portuguesa. O PP do Paulinho das feiras não é um partido normal. É um partido populista igual a outros que existem aí pela Europa, o condimento moderna só piora o caso. É uma ameaça ao funcionamento da democracia. E isto é mesmo assim. PAS
 
Plastificado ou não?: Eu tinha decidido não ler jornais hoje, ou pelo menos evitar as páginas de desporto. Mas foi mais forte, li o 24 horas. Resultado, fiquei a saber que o sr. Mourinho é conhecido na intimidade como Zé Mário, que beija uma fotografia plastificada dos filhos, assim como um pequeno crucifixo (plastificado?) antes dos jogos. Que leva os jogadores ao cinema e dá pontapés em tudo o que não mexe quando está a perder. No fundo, no fundo, entre tamanha indigência o que ainda assim me dá algum conforto é que seja um ‘mourinho’ a ganhar o campeonato. PAS
 
LA e os duques: Este nosso amigo mandou-nos este post, ajudem-no a ultrapassar o seu dilema
Se há uma coisa a que eu tenho horror, é de ser interpelado na rua. Detesto que gente que eu não conheço de lado nenhum me venha perguntar e pedir coisas. É como se fosse atropelado em pleno passeio. Há homens que atraiem mulheres bonitas, mulheres mais velhas, e outros que são atraentes a gordas. Eu atraio “duques.”
Ainda agora vinha no Príncipe Real quando vejo uma rapariga a vir na minha direcção. Do canto do olho, percebi logo que havia marosca. Desviei-me um pouco mas ela meteu-se à minha frente: “Posso fazer-lhe uma pergunta?” – Indagou. “Já estás” - pensei para mim. “Gosta de prosa e poesia? – perguntou ela.
Se gosto de prosa e poesia? A esta hora?! Ó querido Santo António… o que é que ela tem com isso?
Ainda por cima a miúda era “delfa”! De maneira que a pergunta soava mais ou menos assim: “Gosda de proda e poedia?”…
Eu tenho horror a estas coisas porque não me sei defender. Uma vez passei uma tarde inteira a ouvir dois Mórmons. Na minha família, eu sou o único que não digo adeus ao homem que está à noite na Av. da República, encostado ao sinal. Vou a guiar e dizem-me para apitar – o que me recuso – e acenar com a mão. Eu nego terminantemente, dizendo que não digo adeus a alguém que não me tenham apresentado de antemão. São velhas a perguntar se acredito em Deus, ciganos a perguntar se quero telemóveis (por acaso até queria, dava-me jeito o Motorola que me roubaram há três meses…), é o diabo a sete! Só me saiem duques, chiça!
Mas aquilo que me está a roer, é que resposta dar a uma pergunta destas, a meio da tarde, no meio da rua, feita por um estranho. Sugestões?
L.A.


sábado, maio 3
 
Tentativa de homicídio por meios audio-visuais

Luis Filipe Menezes tentou hoje assassinar, a golpes de imprensa escrita, a ministra das Finanças dra. Manuela Ferreira Leite. Admire-se o upper cut: “A actual Ministra, cuja seriedade pessoal é inquestionável, tem perfil que faria dela uma inamovível Directora Geral”. Contagem de protecção. Solta-se o jab: “Mas o Ministro das Finanças tem que ter um perfil acima de um competente contabilista”. Leite nas cordas, cambaleando, um défice humano. Knock-down. Com Leite no tapete, Menezes relaxa enfim os músculos retesados e olha em volta, gozando antecipadamente o bruá da malta. Baixa depois o olhar e, qual Voeller, manda a cuspidela final: “Tem que ter criatividade, imaginação e horizontes”. KO.

Depois de passar o artigo a dar pancada de criar bicho, Menezes permite-se chamar a atenção de Durão para o facto de desejar o seu, dele Barroso, sucesso: “acho que o seu fracasso seria um desastre para Portugal”. Amigos como dantes? “Mas continuo PPD dos quatro costados”. No PSD, todos se ameaçam e ninguém brinca com os outros meninos no recreio. E isto ao fim de um ano. Um round de ternura. RB

sexta-feira, maio 2
 
Errus de Purtugês: Andam o PL e o Animal escandalizados com os erros de português dos seus alunos. É deveras preocupante. Mas pior ainda é quando o exemplo vem dos professores - o que, evidentemente, mais não é do que o prolongamento do mesmo problema. Recentemente, apanhei com estas pérolas, todas de indivíduos que sei serem assistentes universitários (ok, alguns dão aulas em estabelecimentos que eu não recomendaria ao meu pior inimigo):

“A primeira coisa a fazer quando se tem um cliente é escamotear os factos”. E eu a pensar que, antes de os escamotear, deveria tentar escalpelizar ou esmiuçar os mesmos!

“Relativamente ao tema em questão não existe muita biografia”. Palavra de honra. E foi repetida pelo menos uma meia-dúzia de vezes.

“As estações de TV têm actualmente a fobia dos Reality Shows”. É, e eu tenho a fobia das grandezas.

“Prejorativo”. Desculpável mas, ainda assim...

Talvez se dessem uns livrecos mais interessantes e cativantes para a malta ler na escola isto não estivesse tão mal. Sim, porque nem todos são como o PL, que, aos 13 anos, andava pelas livrarias a tentar sacar livros às velhotas, para depois se deleitar com a melhor “biografia” de filosofia, economia, historiografia, filatelia, etc.

TT

 
“It’s the economy again, stupid”: desenganem-se (mas que delicioso verbo) os que julgam (e desejam) que os Estados Unidos embarcarão noutra aventura militar extra-fronteiras. A contagem decrescente para as eleições presidenciais já começou (são daqui a 18 meses) e agora, finda a guerra, é tempo de Bush aproveitar o balanço e capitalizar o estatuto adquirido de líder em tempo de guerra, como diz “The Economist”. George W. Bush não irá repetir os erros do pai Bush e irá concentrar-se nos assuntos domésticos. São, aliás, vários os estudos que demonstram que a importância que os cidadãos atribuem à política externa é normalmente muito reduzida, apenas relevando em momentos em que essas questões tenham um impacto imediato e significativo nas suas vidas.

A economia será provavelmente o tema mais em foco durante a campanha, nomeadamente o desemprego (só desde o início do 2001, dois milhões de americanos perderam o emprego). Por outra banda, outra das coisas que Bush Jr. terá aprendido com o pai é que deverá garantir e alargar a base de apoio eleitoral à direita mais conservadora, que Bush Sénior afugentou através de um aumento dos impostos. Um dos pontos mais comentados para este efeito é a nomeação de um juiz ultra-conservador para o Supremo Tribunal, mal surja uma vaga (ou seja, quando der o badagaio a algum dos actuais juízes), o que se traduziria provavelmente no regresso da proibição do aborto.

O arranque da pré-campanha começa este fim-de-semana, na Carolina do Sul, com um debate televisivo entre os nove candidatos democratas à nomeação.

São, pois, 17h12 em Lisboa, 12h12 em Nova Iorque, 11h12 algures no Minnesota, 10h12 no Texas e 09h12 na Califórnia

TT



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