segunda-feira, junho 30
Beautiful loosers: O Pedro Mexia e o Pedro Lomba, apesar do reconhecido conservadorismo, não gostarão que se fale da coluna infame. Os seus dois excelentes blogs são absolutamente novos e modernos. Ainda assim, hoje, ao ler o Pedro Lomba sobre os perdedores não pude deixar de me lembrar do que gostava da coluna infame. E não pude deixar de me lembrar do Beckett que está implícito no texto: “Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better”. O esplendor dos perdedores está para além da atitude. É aliás, meu caro Pedro, senão um princípio progressista, pelo menos um princípio da mudança. PAS
Um ministro indisponível: O ministro Pedro Roseta, um personagem aliás muito simpático, anuncia hoje ao Público, que está indisponível para um novo mandato como ministro da cultura. A mim parece-me que ele tem estado manifestamente indisponível durante o actual mandato. PAS
Manigâncias contabilisticas (versão 2003): Este governo insiste em confundir consolidação orçamental com receitas extraordinárias. Depois do perdão fiscal, das portagens da CREL e de outras manigâncias contabilisticas congéneres, está a ser preparada a versão reloaded do filme. Desta feita tudo aponta para que haja uma transferência dos activos do fundo de pensões dos CTT para a já debilitada Caixa Geral de Aposentações. Transferem-se agora os activos e chutam-se as responsabilidades da CGA, sempre crescentes aliás, para um futuro não muito longínquo. Espantoso que alguém ande a afirmar aos sete ventos que a saúde das contas públicas é uma garantia de futuro e faça exactamente o contrário. Diminuindo com estratagemas o défice hoje, com isso lixando o presente e fazendo ainda pior com o futuro. PAS
Ler Barreto, hoje: Há uma semana por ano em que gosto de ler António Barreto, foi hoje. Atente-se no fim da sua crónica: “como habitualmente, interrompo o ‘retrato da semana’ durante o Verão. PAS
De Lisboa a Bragança: os xutos cantavam há já alguns anos que eram 9 horas de distância. Este fim-de-semana, entre trânsito infernal e pobres estradas, quase que confirmei a canção. Portugal é um país ainda demasiado distante. PAS
domingo, junho 29
Miss Theias - Mal tomou posse, viu-se logo que o ministro do ambiente, o senhor Amilcar Theias, era um caso sério. Na altura, os jornalistas perguntaram-lhe o que é que sabia sobre a pasta do ambiente. «Não sei responder a essa pergunta», disse o senhor Theias. Muitos pensaram que com o tempo a coisa ia lá. Passados uns meses, lidos uns relatórios, em vez de seguir a sábia estratégia do ministro da Cultura (esse grande gestor de silêncios), o senhor Theias decide aperecer em tudo o que é sítio. Há então uma jornalista que lhe pergunta uma coisa elementar: «qual é o seu grande objectivo político para este ano?». Resposta de Theias: «Termos um meio ambiente melhor». Sim, claro, isso e a paz no mundo. É preciso que alguém diga a este senhor que ele é ministro do ambiente e não candidato a Miss Portugal. FN
Relativismo, a doença infantil do Socialismo - Caros camaradas relativistas, isto é um blog com paredes de vidro. Aqui vai, por isso, a verdade a que temos direito.
É certo que, por problemas técnicos, o nosso blog passou a chamar-se PAS Relativo. No entanto, não é isso que o vai tornar, de um momento para o outro, num blog unipessoal - ainda por cima quando quem tem assegurado isto é o MC, e não o PAS propriamente dito. Não me parece justo.
Ao longo da semana tivemos aqui cerca de 30 posts. Desses 30 posts, 20 surgiram na segunda-feira. E perguntam-me vocês: "Porquê segunda-feira?" Porque segunda saiu uma notícia no Público sobre nós. Sim, não resistiram à tentação do protagonismo mediático, à vertigem das audiências. No resto da semana, cada um foi à sua vida. Eu pelo menos fui coerente: não só não escrevi na segunda como também não escrevi nos outros dias. E não me obriguem a falar outra vez da história da cigarra e da formiga. Estamos perante um autêntico desvio de extrema-direita. Por muito menos (um mero lanche na Versailles) o PCP expulsou a Dona Zita Seabra. Shame on you! FN
A mistificação resultará sempre? Portugal foi o único país a votar contra a reforma da PAC. E, no entanto, o Governo reclama para Portugal (e para si próprio, portanto) uma grande vitória. Ao que leio no Expresso, Sevinate Pinto terá inclusivamente considerado o resultado fantástico para Portugal. Desulpem lá perguntar, mas então porque é que fizemos a figura do menino birrento que ficou a falar sozinho e votou contra? É impressão minha ou há algo (ou quase tudo) que não bate certo? Isto de transformar derrotas em vitórias (lembram-se do código do trabalho? E da RTP? E do Redimento Mínimo?) resulta uma vez, resulta duas, talvez resulte à terceira, mas às tantas começa a ser uma esperteza saloia tão evidente que se torna um bocado patético.MC
A vaca fria da globalização JAK, o economista-socialista-esquerdista (um triângulo "ista" raro e de ângulos difíceis), no seu estimulante linhas de esquerda: "Ser ou não ser? Eu não sou anti-globalização, sou anti-esta-globalização. . És, portanto, por outra globalização, como socialista que se preze. Basta aliás ler a tão (injustamente) criticada declaração de princípios socialista, onde se defende uma ordem económica internacional regulada e justa, e uma globalização eticamente informada e democraticamente controlada, que estimule o desenvolvimento e combata as assimetrias. Ao que parece, o BE também concorda contigo (connosco), pelo menos desde a recente convenção nacional. Sem grandes alaridos, o Bloco descola (e bem) da retórica anti-globalização-ponto-final (tradicionalmente dominante no seu discurso) e vem, um pouco no contexto do fórum social mundial, falar cada vez mais de outra globalização, menos pela negativa. Evidentemente, o que significa esta "outra globalização" é e será sempre um terreno controverso. Mas ainda assim é um passo importante. MC
sábado, junho 28
Verdade sem coerência Voz metálica de Brian Molko. Tão metálica que pode, com muita facilidade, ser literalmente distorcida: "nothing stays the same ... nothing ever changes". Mesmo sem dormir com fantasmas, seria verdade. MC
Ex-Brigada Ao que parece, a afamada Brigada de Trânsito da GNR está, pelos piores motivos, cada vez mais desfalcada. Talvez se possa passar a chamar "pelotão de trânsito", enquanto não se encontram soluções. Mas, compreendendo as razões de quem se insurge contra esta situação delicada para a própria BT, não é possível pensar que por motivos operacionais abrandasse a pressão para a transparência nesta (como noutras) forças policiais. MC
A ética da memória Por um acaso feliz, no meio de circunstâncias infelizes que não interessam ao caso, vem-me parar às mãos um livro excelente, que tento devorar compulsivamente nas escassíssimas horas que tenho para o fazer. Chama-se The ethics of memory, de Avishai Margalit, e é sobre um tópico que fascina todos os que se interessam vagamente pelo que significa viver em sociedade: como se constroem as memórias, em particular as colectivas e sobre a ética dessa construção. E a sua (crua e cruel, digo eu) amoralidade (diz, e bem, o autor). MC
Honrosa excepção A coerência de um discurso é um dos mais importantes critérios da sua verdade - no caso, da sua verdade interna. Mas já se sabe que no futebol (e se fosse só no futebol...) este critério não é propriamente o mais útil para seguir os acontecimentos: o que é hoje verdade pode ser mentira amanhã. Eis, lá está, uma grande verdade.
Mas ainda assim podiam fazer disto uma máxima só para figurar no emblema da federação, não necessariamente um modo de vida literal. Vem isto, claro, a propósito do meu clube. Foi notícia há dias que Camacho se afirmava acérrimo defensor de que o Benfica deve investir em jovens promessas, com potencial de valorização financeira e desportiva. Depois disso, o benfica contratou Júnior (30 anos), prepara-se para tentar contratar Hierro (um jovem de 35 primaveras) - "assim que Camacho soube da rescisão com o Real Madrid" -, e aproveitou para, dispensado Ednilson, resgatar o Fernando Aguiar (salvo erro, 31 anos). Além do mais, isto trouxe-me à memória episódios recentes que preferia não lembrar: Chano, Dean Saunders, Michael Thomas. Ou os próprios Drulovic e Zahovic. O que se seguirá? Será que o Butragueño ou o Hugo Sanchez ainda estão capazes de jogar? MC
Ponto de interrogação Podem dizer o que quiserem sobre a nossa relativa infoexclusão (mais de uns que de outros) e sobre o facto de o título do blog continuar a ostentar, orgulhosamente, há já vários dias, um imponente ponto de interrrogação no "í" de "país". Será tudo verdade, mas devo dizer que, além de dar um certo charme, o ponto de interrogação até faz jus ao que queremos, com o país relativo e fora dele. Por mim, até podia ficar como está. MC
Carapaus de corrida Cabaret da coxa em reposição, entrevista a António Manuel Ribeiro, o mítico líder dos saudosos UHF (aliás, os UHF por inteiro) - para os mais novos, aqueles do "sou benfica". Confrontado com o facto de já ter participado em campanhas eleitorais da CDU (com quem "trabalhou muito"), do PSD e do PS, e com o selo impiedoso de "vira-casacas" lançado por Rui Unas, AMR defendeu-se: "não, não!", ele "não vê as coisas assim", o que acontece é que, pronto, "faz campanhas". Tudo muito respeitável, note-se. Mas depois conclui com a frase mágica deste país: "o que eu sou é independente". Em cheio. A seguir, o sr. UHF subiu ao palco para cantar uma música que, pareceu-me, não era nem o "cavalos de corrida" nem o "rua do carmo". MC
Olé! Olé! - volume 2 Outra nota digna de registo sobre o caso de Pedrito de Portugal é que o nosso matador (o melhor depois do Acosta) já tem um aliado de peso nesta batalha épica, só comparável a um caso Bosman das touradas: o mayor (é mesmo com y) Pedro Santana Lopes, conhecido aficionado que deixou os seus afazeres na câmara para atravessar o Tejo e ir à Moita. Segundo Varela Matos, advogado do réu citado pela imprensa, PSL terá ido dizer ao juiz, à laia de desculpa, que o toureiro-matador se limitou a "ir ao encontro de um pedido do público". Felizmente, o público não lhe pediu mais nada, dizemos nós. E ainda segundo a fonte citada, PSL terá feito revelações como o facto de ter autorizado, enquanto secretário de estado da cultura, "touradas picadas". Que, segundo o próprio, não se enquadravam nos limites legais então previstos. À saída, PSL fechou com uma estocada magistral, que merece ser discutida: a proposta de transferir para as câmaras o tipo de "sortes" permitido em cada município.
Vamos por partes. Em primeiro lugar, já nem falo da aparente concepção da responsabilidade política de PSL quando assume que terá autorizado, consciente do facto, espectáculos à margem dos regulamentos enquanto titular de um cargo. Mas adiante. Acho muito bem que se discuta tudo e mais alguma coisa e que discutamos se as leis que temos (sobre a tourada e não só) são ou não justas, são ou não adequadas, são ou não, inclusivamente, legais. É com base nesses processos que se faz a mudança (ou não), e a política não vive de outra coisa. Mas, entendamo-nos: as leis enquanto existem são para cumprir, ponto final. Por isso me incomodou mais, durante anos, a "tourada" política de Barrancos - que acabou como acabou, e um dia destes voltarei ao assunto - do que a morte do touro propriamente dita. Ora, neste como em qualquer caso, alguém com responsabilidades públicas defender Pedrito de Portugal dizendo que este infringiu a lei porque "se limitou a ir de encontro a um pedido do público" (frase citada na imprensa) e "devido ao clima que se vivia em Portugal" (a discussão sobre os touros de morte) é um precedente, no mínimo, perigoso. "Limitou-se"? A "ir de encontro a um pedido do público"? "Clima que se vivia em Portugal"? Como? Lembremo-nos que se este tipo de legitimação serve para PP e para este caso, serve para muitos outros. Mais um precedente, no mínimo, perigoso. Além de que este conjunto de argumentos dificilmente servirá de atenuante, mas muito menos quando falamos de um profissional (segundo o próprio), e com elevada visibilidade pública. É espantoso que esta posição de Santana Lopes passe incólume.
Por outro lado, mais uma vez segundo a imprensa, Santana terá defendido a municipalização da definição dos limites das touradas. Ou seja, defendeu na prática, pura e simplesmente, o fim da proibição dos touros de morte em Portugal, e a liberalização (à escala municipal) da definição dos limites impostos aos espectáculos tauromáquicos. É a posição mais radical que, tirando os óbvios interesses dos profissionais e agentes do sector, alguma vez ouvi alguém com responsabilidades defender. Ainda não há reacções, mas espero que venha a haver. MC
Olé! Olé! - volume 1 Há uns tempos, Pedrito de Portugal decidiu matar um touro em plena arena da Moita, levado, segundo se tem dito, pelo calor do "momento" e pela "emoção", numa história complicada que até meteu uma alegada fuga às autoridades depois do acto. Pedrito estava, naturalmente no seu direito (de decidir matar). Mas, naturalmente também, foi-lhe aplicada a contra-ordenação correspondente a tão gritante infracção à lei em vigor.
Pois bem. Decorre agora o julgamento e Pedrito quer escapar, pelo que leio na imprensa, à referida multa. Defende-se dizendo (para além do convincente argumentário do momento e da emoção) que a lei das touradas em Portugal que impede o exercício da sua profissão (segundo o próprio, matador de touros - consultar, sff, a classificação nacional das profissões) colide com a liberdade de circulação de trabalhadores na União Europeia, pelo que a proibição em vigor seria ilegal. Também está no seu direito (tentar convencer o tribunal).
Pedrito, meu caro: ninguém impede a sua emoção e os seus momentos. Todos os temos, e todos os lamentamos - ao que parece, aliás, não é o seu caso. Mas se os "momentos" e as "emoções" esbarram com a lei, essa chatice, é preciso assumir a responsabilidade correspondente aos actos que praticamos e não deve haver volta a dar. No caso do Pedrito, até basta pagar uma multazita de uma centena de milhar de euros, que ainda por cima foi simpaticamente definida pelo valor mínimo - quando não escandalizaria, na minha modesta opinião de leigo, que tivesse sido por valores mais próximos do tecto máximo, já que o profissionalismo e a visibilidade acarretam uma responsabilidade acrescida que não se compadece nem com "repentes" que se podem tornar exemplares, nem com jogos de "bate e foge" no mínimo recambolescos e indignos do estatuto de que o Pedrito de Portugal goza.
Mais: muito menos alguém o proíbe, que se saiba, de "circular livremente" por Portugal. Circule, circule o mais à vontade possível. Só não pode é esfaquear barbaramente, até à morte, touros indefesos para gáudio alarve da malta nas tardes de domingo em que não há bola. Como é óbvio (espera-se!), o exercício de uma profissão proibida por lei não está incluido no conceito de livre circulação de trabalhadores no espaço comunitário. Não sou jurista, mas o argumento da defesa parece-me desprovido de qualquer senso e se por algum motivo este precedente é aberto, devemos temer pelo que isto significa.
Por enquanto, Pedrito, o melhor é mesmo divertir-se e divertir outros perfurando touros sem os matar. Olhe, paciência, eu sei que é difícil conter a "emoção", mas devo dizer que neste caso até já me parece emoção em excesso permitir tal espectáculo. Se mesmo assim não gosta, tem bom remédio: vá para fora lá fora, ou então torne-se, sei lá... cortador de carnes verdes. Ou outro mester que lhe interesse. O iefp e a sua tão útil lista de profissões (um documento que todos os portugueses deviam consultar uma vez na vida) oferece-nos tantas e tão variadas hipóteses de reconversão... MC
Feridas abertas O Nuno Oliveira Garcia e o André Miranda, amigos e companheiros de outras lides e, no primeiro caso "poster" e comentador regular do país relativo (condição que esperamos que se mantenha), acabam de lançar um blog a que chamaram "mexe na ferida". Suponho que estejam preparados para apanhar pancada de todos os lados: isto de assumir o socialismo, e ainda por cima "socialismo liberal", é por estas bandas (e não só) cada vez mais perigoso. A coisa promete. Sejam bem vindos... MC
quinta-feira, junho 26
Errata à errata Há dias em que não se pode sair de casa. Ou melhor, em que se deve sair, para nos auto-impedirmos de escrever posts. No meu caso, já são vários - dias e posts. A errata que escrevi continha uma referência ao blog liberdade de expressão: a parte elogiosa é para manter, como aliás se vê pela lista de links do país relativo (embora assim venha um bocado a despropósito), já a parte crítica merece um pedido de desculpas aos "donos do blogue", e é para ignorar olimpicamente. A boquinha foleira era mesmo para o comprometido espectador. Que já acusou, e com alguma razão (não toda, por causa do título), o toque. Já agora, o blog do espectador também vale bem uma ou mais visitas, mas como sempre sem compromissos excessivos: será bom enquanto durar. Até à próxima errata, então. MC
Logo agora Logo agora que estamos temporariamente desfalcados e sem timoneiro, o blogger decide inovar e impedir-nos de escrever decentemente. Quem nos rouba os acentos, rouba-nos tudo, meus caros, e e por estas e por outras que percebemos que o imperialismo dos anglofonos nao tem limites. Vamos tentar ripostar, mas nao sabemos nem como, nem quando. Sendo certo que estamos perante um caso classico de "problemas alheios a nossa responsabilidade", uma mensagem a todos: os leitores que se aguentem, que e o que nos estamos a tentar fazer. Eu ja abdiquei dos acentos, sugiro que tentem ler tambem sem eles. E um bom treino para o futuro, que essas preciosidades historicas estao em risco de extincao. De qualquer maneira, sao como o famoso apendice das apendicites: nao servem para quase nada a nao ser para dar chatices como esta. MC
Hail to the NME! O meu irmao apareceu-me um destes dias com o ultimo numero do NME Originals, que reune todos os textos alguma vez publicados no New Musical Express sobre os Radiohead. Reportagens de concertos, criticas a albuns e singles, e entrevistas aos Radiohead desde as primeiras apariçoes, quando ainda se chamavam On a Friday. Como curiosidade, uma das criticas de concertos foi feita em Lisboa, a proposito da memoravel triplo concerto no Coliseu. Vale mesmo a pena dar uma vista de olhos por este pequeno repositorio de tesouros para quem anda as voltas com o recente Hail to the Thief. MC
Errata (sem acentos) Como nao temos provedor dos leitores nem outra figura que zele pelo bom nome do blog, resta-me a auto-critica, sem quaisquer complexos: um dos meus posts mais recentes continha incorreccoes factuais e de interpretaçao. Poderia argumentar que serao os custos da instantaneidade e do facto de ja estarmos à espera de tudo quando estao em causa declaraçoes de gente como o sr. George Bush e a sua seita, mas isso nao serve de desculpa para tudo.
Em todo o caso, ha aqui uma coisa que precisa de ser esclarecida. Entre as varias reacçoes ao post que escrevi (e que agradeço), uma merece especial referência. Num dos blogs de direita da concorrência com manifesto interesse, o liberdade de expressao, surgiu um post que titulava, apressado e ufano, “o pais relativo errou”. Meus caros, o erro é vosso. La voltamos às confusoes do costume sobre aquilo que é um blog.
Estamos num espaço em que se escrevem textos devidamente assinados. Logo, se eu assinei o post, o erro é meu, e nenhum dos outros escribas de serviço no pais relativo tem de ser metido ao barulho. Aqui, o conteudo daquilo que cada um escreve é responsabilidade de si proprio, nao vinculando os outros – é também para isso que assinamos com os nossos nomes... Ja agora, desafio a liberdade de expressao destes nossos amigos a dedicar-se mais vezes a exercicios criticos sobre assuntos que valham mesmo a pena, neste e noutros blogs, e nao a apenas apontar o dedo queixinhas ao vizinho do lado sem acrescentar (como acontecia no post em causa) nada de muito positivo à discussao. Quanto ao resto, levem la a bicicleta.
Sobre as questoes de facto, para que fique claro, e como ja respondi num comentario aqui no pais relativo: os motivos que me levaram a escrever o post ficam intactos e avaliaçao que faço do discurso de Bush é rigorosamente igual. So desaparece o lado mais bizarro (bizarro demais até para Bush, ao que parece), mas as declaraçoes continuam a ser lamentaveis. A utilizaçao retorica da fome em Africa em beneficio da industria de biotecnologia alimentar americana e a chantagem sobre a Europa, responsabilizando-a pela calamitosa situaçao africana por barrar as importaçoes de transgénicos (!) – sobre os quais o Pedro Machado ja aqui escreveu e que vou também abordar – sao absolutamente inaceitaveis. MC
UBL - Já repararam que o posting do Blogger mudou o grafismo? A mudança foi para pior e agora os acentos passam a pontos de interrogação, etc. Mas não é por causa disto que interrompo a minha greve bloguista (apesar das audiências ainda não dá para vivermos disto). Interrompo a greve por causa da UBL - União dos Bloggers Livres. Pois fiquem a saber que fui o único relativo a ter a honra de ser convidado a aderir a esse clube. À boa maneira relativa, tenho hesitado muito, mas decidi não aceitar o convite. É que tenho andado a ler o fantástico Bush at War, de Bob Woodward, e, a páginas tantas, apercebi-me que, na terra da liberdade, UBL significa Usama Bin Laden. Mal escolhido, rapazes. FN
Vivam os blogues II: a vis?o dá também hoje as boas vindas à blogosfera, e sem malícia. Entre muitas outras informações relevantes, e fotografadas como nenhum outro artigo sobre o tema, ficamos a saber que JMF lê o meu pipi e que, a propósito, afirma que "apesar de ser preciso ter estômago para o ler, aquela p?gina tem uma arrumaç?o interessante." O que se deve entender por arrumação escapa ao comum dos mortais, pelo menos a este mortal que aqui escreve. Entrentanto, no próximo Domingo, a blogosfera abandonará finalmente o hipermundo e chegará ao país. Já não era sem tempo, o correio da manhã de Domingo tratará de nós todos. Seremos arrumados na página 3? PAS
Vivam os Blogues: Leonote Botelho escreve hoje, no “Publico”, um texto sobre Blogues. A destilar odio e raiva, como é evidente. Just Kiding. E um bonito e generoso texto, daqueles ao género do José Mario Silva. Ora espreitem. TT
quarta-feira, junho 25
Cada vez menos há mais país
Agora que vamos ter cada vez menos Administração Pública é de sonhar com mais país. Assim sendo faço um acto de contrição e confirmo que o Pacote Félix é feliz, que as multinacionais pagam todo o IRC devido e que o IVA não vai a 20%. Perdoem.
Já agora, quanto à Reforma da Administração, confirmo também que é boa e bastante. A LEI trata de tudo e arrastará as mentalidades. Não sei se hei-de sentir-me fascista se comunista. Vou pensar nisso.
Comento apenas dois dos anúncios do Dr. Durão Barroso:
Read my lips! No more lay-off
Gostaria sinceramente de saber como é que ele vai conseguir pôr tanta gente na pré-reforma e nas reformas antecipadas...
Ou será que está a falar de uma diminuição em área...
Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho
Só quem não conheça a Administração Pública é que ignora o seguinte:
1. Já existe, desde há muito, avaliação dos funcionários públicos;
2. Desde há quase tanto tempo que não funciona.
Mas se desta vez funcionar desde já congratulo o Dr. Durão Barroso. DF
As piores cenas de sexo de sempre
Segundo os leitores do Guardian, aqui fica a lista:
1. Matrix Reloaded (2003) - Keanu Reeves and Carrie-Anne Moss
2. Showgirls (1995) - Elizabeth Berkley and Kyle MacLachlan
3. Damaged (1992) - Jeremy Irons and Juliette Binoche
4. The Specialist (1994) - Sylvester Stallone and Sharon Stone
5. Titanic (1997) - Kate Winslet and Leonardo DiCaprio
Honorable mentions to: Eyes Wide Shut, Disclosure, Stud, Risky Business, Color of Night, Carry on England, Swordfish, Top Gun, Good Cop Bad Cop, Nora, Never Say Never Again, Eight Women, Ghost, American Pie, Body of Evidence and Crimes of Passion.
Penso que o primeiro lugar é indiscutível. O resto, venha uma cerveja e uns tremoços. Até pelo seguinte: por infelicidade, o cinema português não é do conhecimento generalizado dos leitores do Guardian, nem dos portugueses. No cinema português não há cenas de sexo, nem boas, nem más. Não há. Pensem lá nisso. Deixemos aquela cena com o João César Monteiro de lado (e ela também). Lembram-se de alguma? Eu lembro-me, aquela do Lugar do Morto entre a Ana Zanatti e o Pedro Oliveira no capot do carro. Mas fora estas duas...?
Quando a captação de som era tão má que o fado do prazer não atingia o espectador escondido no escuro do cinema, julguei que era esse o problema. Ouvia-se mal, mas também o Guterres ainda tinha bigode. Agora que tudo evoluiu e o som continua igualmente mau, acho que o problema é outro. Infelizmente, não sei qual. Temos tão bons actores e actrizes, e nem uma cena de sexo. Ainda que má. Será do Conservatório? RB
terça-feira, junho 24
Todos de prevenção No mesmo discurso, Bush (essa inesgotável fonte de inspiração) já avisou que isto da guerra preventiva, que tão bons resultados deu no Iraque, é uma abordagem geoestratégica que se vai manter. Sabemos, disse (e sabe) ele, que alguns (quiçá muitos) dos nossos inimigos (os dele) querem comprar armas nucleares, de destruição em massa, e afins. E que a melhor maneira de eliminar uma ameaça é agir na origem, impedindo que ela tenha condições para se efectivar. Indiscutíveis, o raciocínio e o elevado potencial desta política - dado o largo universo de inimigos reais ou inventados, o largo universo de armas ameaçadoras, reais ou inventadas, o largo universo de indicadores de intenções malévolas, reais ou inventadas. Enfim, uma política de largo espectro: dá para tudo. E é bem real, como sabemos. Adivinhem o que isto significa. MC
Um continente ameaçado pela fome Pressionado pelos gigantescos interesses da indústria americana de biotecnologia (e pelo seu interesse em colectar fundos para a próxima campanha eleitoral), George Bush apelou, em nome de "um continente ameaçado pela fome", a que os governos desse continente subdesenvolvido acabem com as resistências à importação de alimentos transgénicos. O continente "ameaçado pela fome" é, atenção, a Europa, uma notícia que não pode deixar de nos inquietar a todos - e manifestamente inquieta também Bush, de certeza preocupadíssimo com o futuro do aliado que tanto preza. É um presidente novo, de rosto humano, que se dirige aos europeus e os avisa, como bom amigo. E nós até somos capazes de ter sorte, porque o George admira o estilo de liderança do José e talvez tenhamos direito a um programa de ajuda alimentar no caso de a coisa dar mesmo para o torto. MC
Republicanos não! Democratas nunca!: Ralph Nader, o candidato presidencial dos Verdes às eleições americanas de 2000, é considerado por muitos democratas como o principal responsável pela derrota de Al Gore e pela catastr… (oops! lapsus teclal) vitória de George W. Bush. A aritmética confirma-o. No entanto, Nader e os seus apoiantes argumentavam que consideravam praticamente inexistente a diferença entre democratas e republicanos e que só uma candidatura alternativa de esquerda poderia chamar a atenção para determinados temas. Alguns, porém, contrapunham que o único móbil de Nader era mesmo o seu impulso egocêntrico e a sua insaciável atracção pelo palco mediático. A que propósito vem tudo isto? É que, de acordo com o Political Wire, Nader poderá voltar a candidatar-se à Casa Branca em 2004 – até aqui nada de estranho – mas pelo… Partido Republicano! É evidente que o conhecido advogado e defensor dos direitos do consumidor não mudou de campo político. Apenas parece não aceitar ser posto à margem dos acontecimentos, dado que os Verdes ponderam unir-se aos democratas para derrotar Bush, estratégia a que Nader de opõe. E uma candidatura como independente não atrairia com certeza as atenções de que Nader julga ser merecedor. TT
O Deus relativo dos italianos
Um interessante artigo do La Repubblica de anteontem dava conta do seguinte. A sociedade italiana está a secularizar-se, mas de forma paradoxal. A frequência da missa vem decaindo desde os anos ‘50, tendo passado de 35,7% em 1985 para 29,1% em 2001. Contínuas pesquisas de opinião mostram que os italianos atribuem à religião um espaço crescente na sua vida, na sua definição do mundo. Porém, ao mesmo tempo, ligam-na à obtenção de soluções para os seus problemas concretos, que só a si dizem respeito. Metade dos italianos acredita no inferno, dois terços no paraíso, 42% na infalibilidade do Papa e 31% na ressurreição. Mas também: na astrologia, na comunicação com os mortos e no mau-olhado. A secularização é visível na atribuição ao catolicismo de um “valor de uso”, de uma racionalidade instrumental.
Valem pouco, mas aqui ficam algumas ilustrações bastante impressionistas sobre o tema. Vinha ontem a regressar a pé a casa, atravessando uma praça que por ali há. Vejo vir pela rua, entrando na praça, uma senhora idosa que reconheci como a senhora encurvada que trabalha numa espécie de padaria que fica na porta ao lado do meu prédio. Entra na praça, e benze-se duas vezes de forma não totalmente maquinal. A praça chama-se Girolamo Savonarola e a senhora benzeu-se olhando para a estátua do padre herético nascido em Ferrara e que veio a morrer crucificado e queimado vivo na Piazza della Signoria em Florença.
A presença do Papa e da Igreja Católica nos meios de comunicação social italianos é impressionante, muito em particular nos jornais e na televisão. Toda a actividade papal recebe cobertura extensa, desde as domingueiras aparições em S. Pedro às visitas ao estrangeiro. A maior parte das vezes, falta conteúdo informativo a essas notícias. É pouco mais que o martelar constante de uma presença, cujo sentido se esgota no simples fazer-se presente. Ainda este Sábado, um programa televisivo foi dedicado ao Corpo Santo e à discussão do significado da cruz e da crucificação. Aí, alguém lembrou, e bem, que tanto como olhar para os crucifixos mortos, o cristão deveria sobretudo amar os crucifixos vivos e lembrou os emigrantes africanos que por estes dias chegam a Lampedusa, e que Bossi procura incinerar com o seu discurso pirómano.
A lei do aborto italiana permite o aborto legal até à 12ª. semana, como na maioria dos países europeus excepto a Irlanda e Portugal. Isto na letra da lei. Sucede que os médicos obstetras são formados em universidades nas quais o acesso a essa especialidade é controlado ferreamente pela Opus Dei. Na prática, quem quer abortar legalmente não pode porque esbarra na invocação generalizada da objecção de consciência. Essa situação, prevista no art. 9º da lei, quando invocada por todos os médicos nega na prática a letra e o espírito da lei. E as italianas continuam abortar clandestinamente.
Nápoles é conhecida pela sua extrema religiosidade. Sinal pagão disso mesmo é o florescente mercado de presépios que todos os anos pelo Outono toma de assalto a cidade. Desde há dois anos, passou a estar no presépio, junto aos reis magos, a figura desse outro rei mago, Diego Armando Maradona. Esta inovação reclamada de há muito foi, note-se, autorizada pelo bispo da cidade. RB
São Portas fechadas, segredos por revelar...Eis o título de um post que anda à procura de texto. Façam favor. RB
Primavera dos Povos Em Itália não há aquela coisa de pedir uma água do Luso ou uma água das Pedras. Não se pede água mineral pela marca. Há centenas de marcas e nenhuma predomina. Hoje dei-me conta que, por certo pela acção da mão invisível do mercado, a água que bebo quase sempre se chama Primavera di Popoli. Bem sei que falta um “e” a “di” para ser igual mas, como diz a Margarida, não há coincidências. RB
Segundas ao sol Num fim de tarde de uma segunda feira quase chuvosa, vi finalmente aquele que as críticas (e vários amigos) prometiam ser um dos filmes do ano. E que começa logo a merecer o qualificativo no contraste entre o título solarengo e a amarga digestão do que ele significa nos dias embaciados dos personagens, assustadoramente crus. A não perder. A esconsa sala 4 do quarteto, último recurso para quem ainda quiser aproveitar os últimos dias de exibição, é o cenário perfeito para entrar no espírito das segundas (e terças, e quartas, e os dias que vierem) sempre iguais. Com ou sem sol. A não perder. MC
A tragédia da cultura A nova telenovela que tem por palco a casa da música vem pela enésima vez pôr à vista um conjunto de coisas muito preocupante: o ministério da cultura neste momento não existe (como bem notava EPC no outro dia, não chega um ministro simpático quando se deixa a máquina que se tutela em roda livre); não é conhecida qualquer linha estruturante da política cultural do governo; a cultura voltou, na prática, aos tempos do intolerável estatuto de flor na lapela, politicamente insignificante, bem discreta e sossegadinha lá no seu canto, à imagem da palidez política do ministro. No meio disto tudo, a verdade é que parece que ninguém se entende, como bem se vê pelo incrível circo montado à volta das declarações, inteiramente legítimas, de Pedro Burmester. Os pedidos de demissão eram mesmo a sério? É mesmo verdade que meio mundo e o outro, pr incluído, achou que era absolutamente indispensável emitir opinião sobre o assunto? No meio disto tudo, aceitam-se apostas sobre a tardia reacção de Pedro Roseta, literalmente o último (e o único que verdadeiramente já o devia ter feito) a esboçar uma tomada de posição. Em todo o caso, será um teste importante para quem, quinze meses depois, continua a ser uma ilustre incógnita política. Tão incógnito que ninguém percebeu ainda se, para além da formalidade nominal, é de facto um ministro ou um pré-secretário de estado. Segue dentro de momentos. MC
MAS O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS - Férias recentes no Nordeste brasileiro. Encontro casual com miúdos vendedores de bugigangas numa praia paradisíaca. "Onde fica Portugal?" - o escriba fala de Oceano Atlântico, Descobrimentos, fusos horários, velho continente, muito longe... Um miúdo pergunta: "Quanto tempo é de ônibus?" LFB
AQUI NÃO HÁ GATO - Bom artigo no "Público", sim senhor. Mas levaram aquilo demasiado para a discussão política. Então e o GATO FEDORENTO, talvez o mais visitado dos blogues? LFB
PORTUGUESICES - na "cantina" das Produções Fictícias - como carinhosamente tratamos o restaurante do Hotel Amazónia - um empregado olha para a notícia dos festejos de São João no Porto. Tirada: "Eu cá sempre disse... Para mim, a Norte de Aveiro é tudo África". Abaixo de Sines, a tez clara e a estatura elevada dos indígenas só nos pode levar a uma conclusão: é tudo Escandinávia. LFB
UM NOVO AFORISMO - cafézinho em Belém, com a namorada. Ela sai a rir da casa-de-banho. Pensava eu que se tinha cruzado com o Cláudio Ramos mas não. Explica - na parede do wc encontrou esta inscrição: "Por detrás de um homem de sucesso há sempre uma mulher espantada". LFB
DESPEDIDO PELO "PÚBLICO" - Eu já desconfiava que a coisa não andava bem. A partir de certa altura, bastava-me publicar qualquer coisa insignificante, do género: "Fui ver o Matrix e até gostei", para levar logo de manhãzinha com pelo menos 3 insultos, não muito inspirados mas pelo menos, louve-se, não repetitivos. De gay a sacana, passando por f-d-p, já construi um clube de fãs que muito me honra mas impede-me de revelar, orgulhoso, os meus posts a meus pais. O que não estava à espera era de ser despedido do País Relativo pelo Público de ontem mas, caramba!, antes saber pelo Público que pela Ana + Atrevida. A verdade é que, recolhido nos afazeres do recém-nascido DESEJO CASAR, tenho injustamente desleixado o PR, por isso aqui vão uns posts curtinhos para treinar o novo género literário e matar saudades. LFB
segunda-feira, junho 23
Cada vez mais há menos país
Peço encarecidamente a quem perceba do assunto que inaugure rapidamente a silly season para que a forma se adapte à substância.
Já não suporto a fantochada em torno do Código do Trabalho, como se a decisão do Tribunal Constitucional tivesse sancionado o chorrilho de parvoíces que lá consta e Dr. Bagão Feliz (desculpem a aliteração a la Contra-Informação) nos quer fazer crer.
Já agora e passando para um estilo Paulo Portas conto uma história.
O Sr. Pereira que na Alemanha trabalhava para uma saudável multi-nacional, entrava às 8h e saía às 16h (às vezes mais cedo quando o chefe o mandava para casa). Agora, tomado de saudades e regressado a Portugal, trabalha numa outra multinacional, também alemã, e entra às 8h30 e sai às 19h, com a mesma uma hora para almoço. Quid Juris?
Mas há mais: é impressão minha ou as multinacionais que bem pagariam não pagam IRC? E o IVA? Vai a 20%?
Desculpem mas hoje estou mais de perguntar do que de argumentar, respondendo.
Atirem lá as pedras. DF
O que fazem os Relativos
«É uma história que faz arrepiar os cabelos. Há aqui bacamartes e pistolas, lágrimas e sangue, gemidos e berros, anjos e demónios. É um arsenal, uma sarrabulhada e um dia de juízo. Isto sim que é romance! Não é romance, é um soalheiro, mas trágico, mas horrível; soalheiro em que o sol esconde a cara. Escreve-se esta crónica enquanto as imagens dos algozes e vítimas me cruzam por diante da fantasia. Tenebroso e medonho! É uma dança macabra, um tripudio infernal – coisa só semelhante a uma novela pavorosa, das que aterram um editor. Há aí almas de pedra, corações de zinco, olhos de vidro, peitos de asfalto? Que venham para cá. Aqui há cebola para todos os olhos, broca para todas as almas, cadinhos de fundição metalúrgica para todos os peitos! Não se resiste a isto – há de chorar toda a gente, ou eu vou contar aos peixes, como o padre Vieira, este miserando conto.»
por Camilo Castelo Branco, “Ao Leitor. A todos os que lerem” in O que fazem mulheres. Romance philosophico (Porto, 1858).RB
Spaghetti alla carbonara (para dois)
o pagador de promessas
Dois ovos, 300 gramas de spaghetti nº 9 (grão duro), queijo parmesão, 125 gramas de pancetta affumicata, 1 cebola loura, três dentes de alho, peperoncino q.b.
Põe-se a água ao lume em tacho alto. Entretanto, numa caçarola, junta-se ao azeite virgem o alho picado e a cebola cortada finamente. Vai tudo a alourar até a cebola ceder. Se a água já ferver, temperar de sal e juntar a pasta. Deixar ferver durante doze minutos, mais ou menos. De volta à caçarola, juntar a pancetta affumicata e estrugir, adicionando o peperoncino, dois inteiros ou esmagados conforme a coragem. À parte, bater as duas gemas e uma clara. Temperar os ovos mexidos com sal fino, pimenta preta moída e o parmesão ralado. A pasta deve ficar al dente. Escorrer a pasta e temperar com um fio de azeite virgem. Vazar o estrugido da caçarola para a panela de cozer a pasta, mas já fora do lume. Deitar os spaghetti no sugo, escorrendo lentamente os ovos de forma a estes não cozinharem. Envolver tudo e servir logo. Buon appetito. RB
Burlesco(ni): Ser europeu tem destas coisas, mas a tolerância tem limites. A Itália, o único país pelo qual aceitava trocar Portugal, passa, daqui a uns dias, a presidir ao Conselho da União Europeia. Quer isto dizer que o senhor Berlusconi presidirá aos meus destinos durante seis meses. O senhor Berlusconi está para além dos limites da minha tolerância. O homem, que governa com base numa coligação de strange-bedfellows, que vai desde os políticos demo-cristiani do antigamente, liderados pelo respeitável Casini, ao convertido a estadista, ex-fascista, Fini, passando por esse energúmeno que dá pelo nome de Bossi, que se não existisse ninguém acreditava que fosse materializável, é incompreensível à luz das análises tradicionais dos fenómenos políticos. O epíteto de fascista, tão ao gosto das leituras apressadas e simplistas nestas questões, também aqui de nada serve. O senhor Berlusconi representa algo de novo e algo de tragicamente novo. Se o futuro é assim. Tragam-me um qualquer passado.
Em toda esta história o mais grave não é nem a corrupção (que é obviamente muito grave), que é uma característica quase endémica da estrutura social italiana, nem o facto da AN, os ex-fascistas do MSI, estarem no governo, resta-nos crer nos votos de crença na democracia – pelo menos acreditam na unidade do Estado, ao contrário do selvático e boçal Bossi.
O grave mesmo é a coligação entre o mais desbragado e desenvergonhado dos populismos – nada do que se tenha visto por outras partes do mundo civilizado é comparável, de que é exemplo não despiciendo o tom piadético e grosseiro com que Berlusconi aborda assuntos sérios – como se a política fizesse parte da mesma farsa em que está transformada a televisão e a televisão italiana em particular. O controlo quase absoluto dos meios de comunicação e o uso despudorado que deles é feito, sempre ao serviço do Cavalieri – mas, também, a estranheza de ter um primeiro-ministro que contrata jogadores de futebol durante o defeso, para o clube que preside. A frágil separação de poderes, que levou mais uma machadada na semana passada, com o novo regime de imunidades, que faz pensar se a democracia italiana está institucionalizada. E tantos outros exemplos que remetem para um tema que pouco diz às pessoas, a saúde e o respeito pelo funcionamento das instituições democráticas.
Com Berlusconi está-se, no pior dos sentidos, para além da esquerda e da direita. Quem o defende por achar que está a defender a direita e quem o acusa por pensar que assim potencia a esquerda está completamente errado – é esse, aliás, um dos inúmeros problemas da esquerda italiana, sempre envolvida em guerras fratricidas. O senhor é apenas um populista voraz, com uma sede infindável de protagonismo, que se acha predestinado para todos os poderes e cujo respeito pela democracia liberal é quase inexistente. Este senhor vai presidir aos destinos da União e num período particularmente decisivo. Há coisas que devem ser ditas muito poucas vezes e com redobrados cuidados. Eu não lhe reconheço legitimidade para tal. A legitimidade em democracia não resulta apenas do poder conferido pelo voto, como nos ensinam gerações de liberais. PAS
Por falar em música As más notícias é que acabou e que quem esteve distraído...não estivesse. As boas notícias é que a fnac teve nos últimos dias os cd's e dvd's musicais aos preços que custariam se o iva fosse de 5% (na verdade, o mercado encarregar-se-ia de alargar as margens de lucro, mas essa é outra conversa). Seja como for, é fazer as contas. Para além do efeito imediato nos nossos bolsos, todos os produtos culturais deveriam beneficiar de um iva de 5%. Faz pouco sentido que os conteúdos musicais não estejam incluidos neste regime excepcional e sejam actualmente taxados a 19% (!) de iva. Mais boas notícias: quem quiser assinar uma petição sobre isto, pode fazê-lo em www.fnac.pt. É uma velha luta, mas a história está do nosso lado e unidos venceremos, mesmo que para isso tenhamos de nos aliar, numa táctica temporária, a uma multinacional (das boas, porque é de longe a melhor cadeia do género). Quem tiver as reticências do costume, do estilo "apesar de tudo, há uma diferença entre livros e discos", lembre-se que, mesmo que isso seja verdade (e essa também é outra conversa), o formato "livro" não é garantia de coisa nenhuma e que as nossas Paula Bobone, Cristina Caras Lindas, Vera Roquette, Margarida Rebelo Pinto, entre outros nomes maiores da nossa literatura, também pagam menos iva. Elas nao têm culpa... MC
Banda Sonora Relativa Por estes dias, ouve-se pelo país relativo: Radiohead, "hail to the thief"; um mais agressivo Four Tet em "rounds" (deve ser o resultado da digressão com os radiohead); Kyoto Jazz Massive "spirit of the sun" e Break Reform "fractures"; os portugueses Loopless, excelentes; e continua a ouvir-se o último dos placebo, "sleeping with ghosts", desigual mas interessante, que já vai em três singles em poucas semanas... Será bom sinal? MC
PRD, blogues e blagues O Pedro Rolo Duarte (PRD), não confundir com os renovadores democráticos de péssima memória, assinou no dna deste fim-de-semana um curioso artigo sobre (contra?) os blogues. Se méritos teve nos termos em que o faz, para além de atrair renovada publicidade para a blogosfera, foi o de abrir mais uma frente de discussão sobre este formato que, seja ou não o fenómeno cultural mais interessante dos últimos tempos como defende o Pedro Mexia (no texto já aqui citado no país relativo pelo Pedro Machado), anda claramente a incomodar muita gente e a baralhar as regras de muitos jogos. Nem que seja por isso, já é bom que haja blogs, que se fale deles, que se discutam as vantagens e desvantagens deste meio.
Junto-me por instantes ao meta-blogging para assinalar aquele que me parece ser um equívoco recorrente na discussão, também já recorrente, da comparação entre os media tradicionais e os blogs e, sobretudo, do julgamento de uns à luz dos critérios dos outros. No caso do texto de PRD, o que acontece é claramente o julgamento dos blogs à luz dos formatos jornalísticos tradicionais; dos bloggers à luz da figura convencional do jornalista e do seu enquadramento profissional; e dos posts à luz dos textos jornalísticos.
A questão é que não vale a pena insistir neste tipo de raciocínio, porque os objectivos, os formatos e os meios são inteiramente diferentes. Nos media tradicionais, o espaço é terrivelmente finito, o acesso é estreito, tudo se joga numa lógica de larga escala, os critérios de mercado são omnipresentes e muitas vezes opressores, a escrita é profissionalizada, e as opções de edição estão muito para além da colagem de textos. Tudo isto não acontece nos blogs. O acesso é aberto, a infinitude do espaço terrivelmente viciante, a escala até há pouco clandestina e agora semi-clandestina, os critérios de mercado estão (por enquanto) quase ausentes, a escrita é mais amadora, e (semi-)anonimato e extrema personalização andam de mãos dadas num constante e estranho jogo esquizofrénico em que a palavra é a (quase única) arma à mão de usar.
Tudo isto tem vantagens e desvantagens, de parte a parte. Mas independentemente do balanço que queiramos fazer, não faz sentido continuar a julgar pelos mesmos termos realidades dificilmente comensuráveis. Estamos mesmo em mundos diferentes, ainda que contíguos; e não é, por isso, nada surpreendente que mesmo pessoas que têm acesso muito privilegiado ao espaço dos media tradicionais (e são cada vez mais) procurem, com inteira legitimidade, o melhor dos dois mundos. Agora, quem preferir continuar num registo fechado em que os blogs são lidos à luz estrita dos formatos jornalísticos já estabilizados, claramente não perceberá nada do que se está a passar, acabando inevitavelmente por fazer julgamentos sumários de pessoas e das suas opções de escrita e expressão e por menorizar de forma um pouco precipitada tudo o que é novo, inovador e interessante no quintal mesmo ao lado dos media clássicos. Não sem uma vaga mas desagradável ressonância ao conhecido síndrome NIMB - "not in my backyard!". MC
CIDADE DAS SOMBRAS
Angra do Heroísmo, do Erotismo, do Sismo, do Idealismo.
Uma cidade no coração do mundo - e mais uns quantos clichés
próprios dos apaixonados. Uma crónica de amor.
Escrevo um requiem aos heróis que não regressarão jamais. Não, apenas sonho. Não sou compositor, sou compósito. Tenho as mãos cheias de terra de Angra do Heroísmo e as minhas unhas estão sujas dessa terra e o meu coração sente falta desse adubo, ao escrever, em Lisboa, sobre ela. Recordo-me de ter 15 anos e escrever, orgulhoso, sobre os soldados-políticos liberais e os poetas-guerreiros que impediram os espanhóis de entrar e, quando entraram, os obrigaram a construir uma das maiores muralhas da Europa (o castelo de S. João Baptista) que os protegesse dos Angrenses.
Tomo café numa esplanada em que vejo o mar, e sobre o mar há livros e versos de Emanuel Félix, a imagem de uma mulher triste que mira o relógio à espera do marido emigrado; Olhos Negros em todo o sítio, pedindo no silêncio uma explicação para o amor e para a morte. O céu é daquele tom cinzento impressionista tão nosso, pão nosso, Pai Nosso, e calculo que os Belle&Sebastian que ouço no disc-man encontrariam musas no Monte Brasil e lvo Pogorelich tocaria à esposa falecida, durante dias, no interior de uma igreja com quadros recém-restaurados.
Na rua movem-se as sombras dos amigos que partiram, dos amantes que não chegaram ainda, dos intervalos nas leituras, dos filmes do nosso imaginário, de monumentos que ruíram, das expressões de espanto e medo que caracterizam a fisionomia dos açorianos, habituados a sismos e vulcões, alimentados a vulcões e sismos, autores da vida com consciência do efémero que, talvez por isso, dão valor àquilo que criam e ao que querem.
Vejo-me velho, a recordar as páginas dos livros que não escrevi, nem li. Em Angra do Heroísmo, onde até estas crianças que hoje brincam envelhecerão.
Nas ruínas de um antigo solar, realizo o meu filme: empresto vida às sombras de todos os amigos que tive, de todos os parentes, das pessoas com cujo olhar me cruzei, e peço-lhes que descrevam o destino, peço-lhes que escolham uma canção, um vinho, uma imagem; peço-lhes que desenhem o seu auto-retrato e que me falem sobre Deus. Pergunto-lhes pelos engenheiros, pelos médicos, advogados, polícias e astronautas e futebolistas que sonharam ser .Pergunto-lhes pelos sonhos. Pelas danças que não aprenderam, pelas exposições que não viram, pela arte que não interpretaram, pela que não fizeram, pelos filhos dos filhos dos filhos de.
Gostava de, no final de tudo, saber o que levamos da vida além da sombra.
Hoje, passei a tarde no Arquivo Municipal a requisitar e consultar jornais antigos. Uma agradável sensação de imortalidade intrometeu-se nas minhas veias. Deixei que me iludisse com mais um momento da minha colecção de instantes perfeitos. Aconselho a todos este tipo de álbum. Liberta-nos dos momentos de mesquinhez, de intriga, de infidelidade, em que sentimos que o tempo empregue foi desperdiçado. Preencham o cérebro – o verdadeiro computador pessoal – destes momentos. Ajuda a compreender melhor certos ditados, poemas, declarações antes da morte, segredos, fantasmas, e até mesmo as perversões pessoais dos homens.
Em Angra, o tempo não passa, acontece apenas e não é pouco. Enquanto os dias se sucedem e não somos músicos, seria bom se nos entretivéssemos com o nosso chão feito de lava - é dele a melhor lição sobre a vida, a da importância do segundo que acaba. LFB
domingo, junho 22
Então e eu?! - Já agora, vão ler AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE PEDRO ROLL-ON DUARTE, editado às 8 e meia da manhã de sábado no www.desejocasar.blogspot.com. Ao menos que as minhas insónias sirvam para alguma coisa. LFB
Camacho e o futuro Camacho renovou contrato pelo Benfica por mais um ano. Boas notícias, porque é claramente o melhor treinador que passou pelo glorioso nos últimos anos e aquele que pôs a equipa a jogar um futebol mais eficaz desde os efémeros primeiros tempos de Souness.
Há no entanto várias coisas que me inquietam. Em primeiro lugar, as famosas exigências de Camacho. Dando de barato que houve cedências de parte a parte (pronto, lá lhe fizeram ver que o Rui Costa (!) não era possível... e que o Ronaldinho Gaúcho e o Crespo só em Dezembro), supõe-se que a SAD, ou alguém por ela, vai mais uma vez abrir os cordões à depauperada bolsa, na lógica do "para o ano é que é". Há anos que digo que era preferível que o Benfica e os benfiquistas se convençam que é preferível assumir que durante três ou quatro épocas, ou as que forem precisas, não há títulos para ninguém e que é preciso sanear financeiramente o clube - se é que tal ainda é possível. Mais ano, menos ano a coisa torna-se insustentável.
Irritam-me há vários anos as fábulas do "benfica europeu" de Damásio, do "benfica à benfica" e da "espinha dorsal" de Vale, do "dream team" e do "teamaço" de LFV. Irritam-me porque os resultados a curto prazo são o que são, e é desesperante pensar que a médio e longo prazo ninguém sabe quais serão, nem ninguém parece excessivamente incomodado com isso. Mas quando paramos para pensar um pouco, percebemos que há algo de profundamente errado e irresponsável na constante fuga para a frente. Só espero um dia não perceber da pior maneira que tinha razão.
Depois, o próximo "dream team" começa mal (como se chamará este ano? Goldenteam? Equipa maravilha? Furacão Vermelho? Super Glorioso?). Dispensar jogadores como Ednilson (um dos melhores trincos do futebol português) e Feher (com o Nuno Gomes, o Sokota e o Mantorras nas condições físicas que conhecemos) é uma opção, no mínimo, discutível. Tal como o é comprar um guarda-redes quando o Benfica teve ao longo da última época, claramente, o melhor guarda-redes dos chamados grandes (Boavista incluído). Moreira tem 20 anos, é o único jogador do plantel principal que vem das camadas jovens (que Vale e Azevedo e Souness arruinaram de vez), é um guarda redes de baixo custo salarial, largo futuro e grande potencial, que ao longo do campeonato não teve uma única falha séria e comprometedora. E não me venham falar do livre do Deco nas Antas; talvez o Preud'homme defendesse aquele livre de efeito truculento e mesmo asim tenho dúvidas. Para quê reinventar a roda? Arranjem um lateral e eventualmente um nº 10 que ainda jogue futebol (não é o caso do Zahovic) e a festa, a que for possível, far-se-á.
Quem não tem dinheiro não deve ter vícios. E o Benfica não tem dinheiro, mesmo que às vezes não pareça. Quanto mais depressa nos convencermos disto, melhor.
ps.
Portugal ganhou o torneio de toulon. Parabéns. Sabem quantos jogadores do Benfica estavam na equipa principal? E no banco? Pois. MC
sábado, junho 21
Perdoai-lhe, senhores "Por amor de Deus não esqueçamos o cristianismo, porque foi a contribuição essencial para a identidade europeia". "A" contribuição essencial, repare-se. Esta frase foi proferida no contexto da discussão sobre a futura constituição europeia, em nome de Portugal, por Durão Barroso, primeiro ministro de um país laico e republicano. Não se sabe com que legitimidade, perante a constituição portuguesa.
É muito respeitável que os cristãos (católicos, protestantes, ortodoxos) pratiquem a sua opção religiosa, e que sejam historicamente maioritários no espaço europeu. Mas a liberdade, a tolerância perante a diferença e o respeito pela pluralidade são conquistas das democracias ocidentais que não são compatíveis com a assumpção de privilégios para uma determinada religião, seja ela qual for, numa constituição de um espaço político geograficamente tão diverso como a Europa. Além do mais, as questões da diferença religiosa tenderão a ganhar uma importância cada vez maior, pelo que além de tudo é perigoso e irresponsável inquinar à partida a questão consagrando constitucionalmente o cristianismo como referência religiosa da UE.
Esta frase envergonha-nos a todos. Portugal foi posto, mais uma vez, a fazer de porta-estandarte de um espírito ultrapassado e bafiento de contaminação entre o público e o religioso. Só num país em que o laicismo do estado, marca de modernidade mínima, não está inteiramente consolidado, é que é possível um triste espectáculo como este. MC
sexta-feira, junho 20
Perdoa-me - Fernanda Serrano é capa da Caras desta semana. Está triste, mas com aquele fantástico toque do Brasil. E, corajosamente, conta ao mundo o que lhe vai na alma após a separação: «Prefiro pensar com carinho nos momentos que passei com o Filipe». Fernanda, perdoa-me. Eu esqueço tudo. Até mesmo aquele filme que puseram a correr na net. FN
What’s new?: o dr. Miguel Veiga, a propósito da Cruz Vermelha, diz que o Dr. Portas teve um comportamento desleal. E o que é que isso tem de novo? Julgo que há mesmo um partido recentemente criado por esse motivo. As questões de carácter, como muitas outras essenciais, estão para além da esquerda e da direita. PAS
Pedradas de calor:
Orla Marítima
O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo das avenidas
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quanto tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida
Ruy Belo
PAS
quinta-feira, junho 19
A Cigarra e a Formiga - Durante os Verões da oposição, o Dr. Portas recorreu incessantemente à fábula da cigarra e da formiga. Ainda na oposição, Pacheco Pereira (abrupto.blogspot.com) recupera a ideia e lança um repto aos bloguistas: «Já se notam os efeitos das férias: isto vai dividir-se entre as cigarras e as formiguinhas. E lá vão as formiguinhas ganhar, como ganham sempre, ignoradas, gozadas, sem bronze, sem o sinistro toque dos Algarves, com aquela fome ancestral, de gerações, que as leva a trazer mais uma pedrinha, mais um raminho, a não se dispersarem, a terem disciplina, a pouparem.» Apesar de este ser o dia mais quente de Junho desde há 22 anos (já é a terceira vez este mês que a metereologia nos diz isto), aqui estou, ignorado, pronto a ser gozado, sem bronze e a poupar. Disciplinadamente.
Aparentemente, quem não tem seguido as recomendações de Pacheco Pereira são os desempregados da grande Lisboa: 150 000 segundo os dados do IEFP. As praias ganharam, assim, um novo tipo social: os banhistas desempregados. E ontem, numa praia da linha, lá estavam plantadas a TVI e a RTP, muito provavelmente por causa de uma fuga de informação do nadador salvador, que «nunca tinha visto as praias com tanta gente durante a semana». A RTP bem tentou, mas, ao bom estilo da velha função pública, não conseguiu identificar nenhum desempregado. Acordou um jovem na areia, interrompeu uma senhora que conversava ao telemóvel, entrevistou idosas, crianças e, claro, nada: estavam todos de férias. Mais sorte teve a TVI. Apanhou o jovem Luís Miguel em flagrante. De Ray Ban na cabeça e com um diploma de «gestão de marketing» debaixo do braço, o Luís Miguel já não sabe o que é trabalhar há seis meses. Diz que já foi «ao fundo de desemprego» (uma coisa que não existe há séculos), mas não arranjou nada. «Esta altura do ano não é muito boa». Pois claro que não: o sol, as miúdas, tás a ver? Já Branca Galvão, a formiguinha da história da TVI, sofre de obesidade e, se calhar por isso, não encara a praia como saída profissional. Vai daí, em vez de andar à procura do «fundo de desemprego», foi aos programas de autoemprego do IEFP e abriu uma charcutaria. Também não me parece muito bem. Isto, no fundo, é como apoiar um alcoólico que quer abrir um bar.
Acho que já vai sendo tempo de pensarmos seriamente na hipótese de criar em Portugal um salário mínimo garantido, digno, abaixo do qual ninguém desça, e que dê aos portugueses o direito de passarem os seus dias na praia ou na esplanada. Apesar de lá não haver sol, existe uma coisa semelhante nos países nórdicos. Quem estudou este assunto mais a fundo foi o PAS. Ele a estas horas ainda deve estar nos supertubos, com «o sinistro toque» da Praia Grande. Mas, quando voltar, estou certo que vos poderá explicar melhor a ideia. FN
ESTREIA SÁBADO
Post Date: Qui Jun 19, 06:48:14 PM
As
Produções Fictícias
apresentam
Manobras de Diversão
FECHADO PARA FÉRIAS
Ah, o Verão! O sol, as férias, a praia, as miúdas em biquini, o apartamento em Quarteira, a roulotte junto ao esgoto a céu aberto, o "Ó Bruna Carina não vás para a água!", as bichas para chegar à praia, o jet-ski e o jet-set, o rádio em altos berros, os telemóveis, as escutas, a Moderna e o Portas, a Felgueiras, a PJ e a Felícia… e um espectáculo para descansar de tudo isto.
Fechado Para Férias tem Bandeira Azul.
Com
Bruno Nogueira
Carla Salgueiro
Manuel Marques
Marco Horácio
Sofia Grillo
e Ana Ribeiro
Direcção de actores
Marco Horácio
Com Sónia Aragão
Textos
Luís Filipe Borges
Maria João Cruz
Nuno Artur Silva
Nuno Costa Santos
Nuno Markl
Coordenação de textos
Nuno Costa Santos
Direcção Geral
Nuno Artur Silva
Produção
UAU
Estreia 21 de Junho
Jardim de Inverno do Teatro São Luiz
quintas, sextas e sábado, pelas 23 horas, até dia 26 de Julho
Bilheteira (13h às 19h) – telefone: 21 325 76 50
Blog recomendado por MEC - Estive para pôr a coisa em epígrafe. Ao lado do O'Neill e dos nossos nomes. Não consegui. Por isso, quando isto passar ao histórico, volto a colocar este post para que não se esqueçam. No pastilhas.com, de Miguel Esteves Cardoso, durante alguns dias/horas? (acabámos de ser substituídos pelo Pedro Mexia), o País Relativo foi recomendado por MEC como sendo «absolutamente talentoso». Isto para um blog tem o mesmo valor que a recomendação de Her Majesty the Queen em determinadas marcas de produtos alimentares. FN
O abrupto e o PSD Já se tornou um triste hábito nos comentários aos nossos posts, normalmente anónimos como convém, mas vindo de onde vem não podemos deixar de manifestar surpresa. Não era de esperar que do abrupto, blog alimentado pelo nosso anti-chavista José Pacheco Pereira viesse a mesma conversa. Refere JPP, para além de um excelente artigo do Augusto Santos Silva no Público, posts do país relativo como exemplo de uma suposta ambiguidade (?) da posição do PS face ao Fórum Social. Agradecemos o elogio da elevação a blogo-voz do maior partido da oposição (que sobretudo nos tempos que correm é um estatuto de elevado fervor patriótico), mas vemo-nos obrigados a declinar tal estatuto e a gentileza de JPP.
Há coisas que não fazem sentido. Recorde-se, antes de mais, que Pacheco Pereira, influente intelectual da direita portuguesa e do PPD em particular, foi eleito nas últimas legislativas deputado da AR como cabeça de lista do PSD pelo segundo maior círculo eleitoral do país. E que exerce actualmente o mandato de deputado do parlamento europeu, para o qual foi eleito como cabeça de lista do mesmo partido. Será que, mesmo apesar deste invejável currículo partidário, faria sentido atribuir-lhe o estatuto de indicador de posições ou ambiguidades dos auto-proclamados sociais-democratas? Ou, numa versão mais orgânica, de porta-voz do PSD na blogosfera?
JPP que responda por si. Mas não nos passaria semelhante coisa pela cabeça. Até ao post do abrupto, pelo menos. MC
quarta-feira, junho 18
Pai, porque é que o Real Madrid ganha sempre? - A poucos dias das eleições no Barcelona, os vários candidatos estavam empatados. O senhor Laporta, um yuppie catalão, tirou da cartola um coelho chamado Beckham. Rapidamente subiu nas sondagens, conseguindo ganhar com maioria absoluta, apesar de haver 5 candidatos. A peninsula ibérica só tinha visto um feito semelhante com as maiorias do prof. Cavaco. É caso para dizer que cada país tem o Cavaco ou o Durão que merece. Ninguém me convence que o homem do marketing de Laporta não é o senhor Einhart - o mesmo de Durão, Santana e Ciro Gomes (os brasileiros é que não vão em cantigas). Antes das eleições, também Durão prometia um choque fiscal. A seguir às eleições, aumentou os impostos, porque a «situação do país era complexa». Antes das eleições, Laporta prometeu que Beckham assinaria pelo Barça. Depois das eleições, vem dizer que «a vinda de Beckham seria interessante do ponto de vista desportivo, mas é uma operação complexa». Provavelmente, descobriu que o Barcelona estava «de tanga». Ou muito me engano ou também ali não vai haver «estado de graça». FN
NÃO SE BRINCA COM A COMIDA! NMP acusou-nos de atacar gratuitamente JPP com vários argumentos. Não percamos mais tempo com o Abrupto, vamos antes aos ditos argumentos. Afastemos desde já um que está no caminho. Caro Nuno, dizer que o nosso post é uma manifestação de desconforto com a concorrência é como dizermos que o teu post é uma manifestação de subserviência. Fazê-lo seria mais do que um processo de intenções gratuito, uma flagrante injustiça. Ficámos também a saber que, para ti, a crítica a JPP revela desconforto da nossa parte. Estranha concepção essa, a de concorrência reduzida a uma convivência acrítica na blogosfera, sobretudo em relação às suas sumidades. Mas, caro Nuno, descansa porque JPP, em Bruxelas ou na Marmeleira, sorri (ou mesmo ri) de contentamento enquanto contornamos a sua rotunda virtual. JPP, o empreiteiro-sinaleiro da blogosfera.
Nuno, sejamos objectivos! O artigo de Paulo Querido mais não era que a hagiografia de JPP. Isso já era mau, mas pior ficou quando aquele apodou o restante pessoal de não ultrapassar a fasquia da inutilidade. Era porém lícito esperar de JPP uma de duas coisas. Que viesse explicar que a luz lustral sob a qual Querido o colocara era excessiva e por isso injusta ou, não o fazendo por um escrúpulo de vaidade, que provasse em cada post a justiça da observação “querida”. Pelo seu lado, JPP ficou-se pelo comentário apaziguador e anódino. JPP, o benévolo árbitro de querelas.
A minha agenda, a nossa agenda e a agenda dele. A questão é que a agenda que JPP tenta marcar para todos é a dele, e a forma dos outros participarem é o contributo, mandado para ele, editado por ele e por ele postado a seu bel-prazer. E para cúmulo não esconde os seus fins hegemónicos, convocando outros para contribuir para o seu peditório. Claro que o contributo alheio surge a quem o faz como natural, espontâneo, o resultado de uma boa ideia. Isso é violência doce, como dizia o outro. JPP, o angariador virtual.
Escreve o Nuno: Tem uma pulsão totalitária porque tenta impôr como "...legítima a sua visão das divisões e para apresentar como natural o que resulta da sua construção..." ? Mas isso é o que o Mar Salgado faz, quando aqui se menciona uma notícia ou se expõe um argumento. O que os bloggers do Pais Relativo fazem. O que a Coluna Infame fazia e o que BdE faz. Distingamos duas coisas. Uma coisa é a capacidade de imposição que resulta de JPP dispor de diversos media que usa de forma concertada e convergente, para onde remete e volta a remeter. E com isto pretende hegemonizar por aí. Outra coisa, que vai com a primeira, é a prática enunciativa de enumerar temas de relevo e de reservar outros para depois. Isto significa que Pacheco propõe ao leitor um tema relevante, num post; no post seguinte, dá a definição de “relevância”; a seguir, pede contributos cuja “relevância” ele avaliará; e a acabar, reserva quatro ou cinco temas “relevantes” para mais tarde blogar.
Aqui está, na ânsia de definir a realidade e o seu princípio legítimo de leitura, ao mesmo tempo e em suporte um do outro, a pulsão totalitária de que falámos. O segundo torna a primeira “natural”, experimentada como espontânea, dispensando reflexão crítica. Logo, tanto mais total. E foi este o insight genial que Orwell teve sobre o totalitarismo e a linguagem, esse mesmo Orwell que tanto ornamenta o pensamento de Pacheco Pereira. Face a isto, procurámos apenas Ousar Lutar. PM/RB
A Lei dos Partidos é inconstitucional - no Público de hoje.
Pelo menos é o que entende o Tribunal Constitucional e, aqui entre nós, parece-me que na maior parte dos pontos invocados pelo Presidente da República, uma vez que ainda não conhecemos a decisão do TC, a decisão só pode ser nesse sentido. Mas, a confirmar-se ser apenas pelas razões pelo PR invocadas, a decisão do Tribunal Constitucional vem abrir novo debate sobre as matérias polémicas e muito pouco consensuais desta Lei. O voto secreto, a perda de mandatos e a extinção de partidos. Deixo, sem prejuízo de discussão posterior, uma nota quanto à possibilidade de extinção de partidos que não se apresentem a duas eleições legislativas consecutivas. A ratio legis desta norma consubstancia uma tomada de posição dogmática sobre o que são afinal os partidos. E penso que o faz sem ter em conta a dimensão da discussão que lança. Por um lado esta norma convoca uma certa ideia de que os partidos devem ser associações de busca e alcance do poder cuja missão está inexoravelmente amputada se se demitirem de o fazer, a ponto de agora se querer preceiturar a sua extinção. Contra esta visão dos partidos, é evidente, está uma outra visão, mais clássica, que vê nos partidos associações cuja missão não se esgota na busca do poder mas compreende uma forte componente de participação na vida socio-política do país. Esta visão clássica é hoje um paradoxo: em Portugal os partidos cartelizam-se e por isso afastam-se das populações e dos tempos em que não há eleições sem que no entanto algum partido renuncia a afirmar que é um partido interventivo, com apoio das bases.
A questão é ainda um pouco mais complexa que isso pois a nova Lei não exige que se ganhe, como seria inadmissível, mas que se participe. Pois bem, não se excluindo a visão clássica dos partidos a lei torna a nova visão dos partidos enquanto associações de acesso ao poder como condição necessária da sua existência. Fará mal, ou dito de outra forma, fá-lo-á de forma inconstitucional. Parece-me que não, mas o problema político mantém-se.
Ainda ando a pensar nisso e a minha premissa é a seguinte: se não exigirmos que os partidos participem nas eleições legislativas, com tudo o que isso implica de necessária elaboração de propostas políticas firmes e apresentação de candidatos, o que distinguirá um partido de uma associação política não partidária?
Muito pouco, meu senhor, quase nada... DF
Alguma coisa está fora da ordem: estive fora e voltei, com assinaláveis ganhos para mim. No que interessa para a blogosfera, fica aqui a menção à participação em 4 animados encontros do “passa-me a grappa, estúpido!”, realizados um pouco por toda a Toscana, com bloggers distribuídos um pouco por toda a Europa. Para além de outras actividades completamente inúteis, de que destacaria essa personal favourite do FN, “esplanar” sem tempo, nem objectivo, foi aos Uffizi. Não valem a pena grandes considerações: quem viu, viu, quem não viu deve ir ver. Passemos à frente. Triste, triste foi ver as salas que estavam fechadas por falta de pessoal. Eu a pensar que era só o nosso extraordinário governo que tinha conseguido esse objectivo espantoso de ter o Museu de Arte Antiga de portas fechadas. Mas, afinal, não é assim. Esse formidável e inclassificável ser que se chama Berlusconi, que teve como responsável pela política cultural um personagem trágico, de seu nome Sgarbi, conhecido por apresentar televendas em canais regionais, parece também aqui alcançar o impossível. Ainda assim, há uma diferença entre salas fechadas e museus fechados. É a diferença entre Itália e Portugal. Mas, a verdade é que alguma coisa vai muito mal nas democracias europeias quando os seus museus não estão abertos. Cá e lá, alguma coisa anda a correr mal com as políticas públicas de cultura. E isso faz toda a diferença. Entre a esquerda e a direita. E atenção que não são abstracções teóricas, são salas de museus que devendo estar abertas, estão fechadas. PAS
Morreu Gregory Peck: Andei exilado por uns dias e o recato e a fuga aos jornais que lhe é indissociável dá nestas coisas. O Gregory Peck morre e eu não dou por nada. Mas, nem de propósito, terá sido premunitório, há poucas semanas vi o Big Country do William Wyler, por sugestão do meu amigo RB, a que por mais esta razão ficarei eternamente grato. Está neste filme superior, tudo o que fez de Peck superior. A vontade de olhar para longe, a tranquilidade face aos grandes e perenes dilemas e as palavras, sempre usadas na medida justa. Com G. Peck parte também, um pouco do cinema que está para além do tempo. Os grandes filmes, trágicos, românticos, que têm vindo a desaparecer, substituídos muitas das vezes pela abundância do cinema de virtuosismos e/ou patetices. O cinema é simples, mas há uma tendência para o complicar.
É esta a última imagem que guardo de Peck: um homem encostado a uma cerca, a fitar um “horizonte longínquo”. O cinema precisa de mais alguma coisa para ser perfeito? PAS
terça-feira, junho 17
Enough is Enough - Era este o slogan de Tony Blair em 1997. 18 anos de governos conservadores era muito tempo. Depois de cortar o bigode, reduzir o poder dos sindicatos e abandonar o colectivismo, acabou por ganhar. Os seus governos foram sempre reduzidos a «uma esquerda que governa à direita». A verdade é que em muitas políticas de Blair estava claramente a marca da esquerda: na devolução de poderes à Escócia e ao País de Gales, nas reformas políticas, na introdução do salário mínimo, na educação, na tentativa de salvar o NHS, nas políticas de solidariedade, etc. Mesmo no plano internacional, é inegável que os primeiros anos foram marcados por um discurso ético (Robin Cook) e por uma aposta na cooperação (Clare Short).
A propósito da guerra no Iraque, a viragem presidencialista de Blair torna-se mais nítida, e não é por acaso que Cook e Short se demitem. Houve então três posições: a daqueles que são sempre contra qualquer espécie de intervenção militar, a daqueles que estão sempre de acordo com os EUA e a daqueles que apostavam no multilateralismo (na ONU, mas também na Nato) e nas inspecções (por princípio e por recearem os efeitos perversos na ordem internacional e no próprio Iraque). Blair aqui não seguiu a terceira via, e acabou a reboque de Bush. Garantiu-nos que existiam armas de destruição maciça (interpretando absuvamente os relatórios dos serviços secretos), e as armas não aparecem. Garantiu-nos que a ONU teria um papel importante no pós-guerra, e é o que se está a ver. Como dizia o New Statesman, isto é «ultrajante e insultuoso». Porque se a questão era a mudança de regime, então que o dissesse desde o início: teria ainda menos apoio, não tinha qualquer fundamento legal, mas saía de outra maneira na História (a sua obsessão).
Nem com o euro parece querer acertar. Se perder o referendo, perdeu; se ganhar, ganhou. Agora adiar o problema, reduzindo-o a uma questão técnica é, outra vez, insultuoso. Seria, aliás, a primeira vez que se faria um referendo sobre uma questão técnica. E quem vota? São os burocratas do Bank of England? Para disfarçar, decide acabar (e bem) com o Lord Chancellor, um cargo quase tão antigo como a monarquia. É pouco, face ao que se esperava deste segundo mandato. Tornou-se um «estadista» para a direita que o achava de «plástico» e um embaraço para a esquerda democrática. Sinto-me face à revolução blairista como
o «nosso Saramago» face à revolução cubana: a partir de agora cada um segue o seu caminho. Venha o Gordon Brown. FN
Je vous salue, Monica Belluci. O actor e realizador Mel Gibson prepara um filme sobre Jesus Cristo. O filme, titulado “A Paixão”, repare-se, é dirigido pelo próprio. A fita pretende retratar a vida de Cristo durante as suas últimas doze horas. James Caviezel fará de Cristo. Monica Belluci fará de Maria Madalena. As personagens falarão em latim e aramaico, sem legendas em inglês. A Conferência Episcopal americana já cilindrou preventivamente o filme. Fazem mal. É que eu tenho acompanhado a carreira recente de Monica Belluci, de Malèna a Matrix Reloaded, passando por Irrévérsible. É que com esta senhora a única coisa irreversível no espectador é a vontade de pecar. Aliás, o Mel explica bem isso na sua resposta aos bispos lúbricos: “The Passion is a movie meant to inspire not offend. My intention in bringing it to the screen is to create a lasting work of art and engender serious thought among audiences of diverse faith backgrounds”. Pois eu, senhores bispos, confesso-me inspirado pela Belluci e que ela desperta em mim o mais sério dos desejos finais: casar. Obrigado, Mel. Mas há um mas. A notícia termina com um amargo de boca: o filme ainda não encontrou distribuidor. Aqui deixo um lancinante apelo: Paulo Branco, chegue-se à frente que é serviço público! RB
Vamos a contas? A receita fiscal em derrapagem acentuada, seja por via da actividade das empresas (IRC), seja por via do consumo (imposto automóvel). A despesa acima do previsto. Uma política económica sem ideias, sem estratégia visível, e reduzida à mais pura navegação à vista. Uma política orçamental negativa e míope, baseada em cortes sucessivos e indiscriminados. Índices de confiança a níveis inimagináveis. Nenhuma ideia forte para o futuro. Nenhuma medida minimamente sólida de estímulo à retoma. Incapacidade total para passar uma mensagem positiva para os agentes económicos – seja do lado das empresas, seja do lado do consumo. E no meio disto tudo, nem rasto dos responsáveis políticos por estas áreas, sendo que num dos casos falamos de uma ministra de estado que tem tido, sempre que isso foi conveniente, um imenso protagonismo. Onde está agora?
Mas podemos ficar descansados. A crise vai passar; todas passam. O que se pode é acelerar ou atrasar a recuperação e criar (ou não) condições para que esta seja mais sustentada. Tirando o marketing político, e mesmo esse com cada vez maiores dificuldades de colar uma imagem de rigor à política económica e de finanças do Governo, o balanço destes 15 meses não pode ser mais desastroso. Quase 15 meses depois, é claro que as opções fiscais, económicas e orçamentais do Governo só pioram as coisas. Será que inada tem consequências, nem responsáveis, neste Governo? MC
EXPLICAÇÕES DE PORTUGUÊS - Ontem, o meu post LUÍS BORGES SUPERSTAR foi comentado por Miguel Esteves Cardoso. Ocorrem-me 3 coisas para dizer: Hurra!, Yuppie!, Yes!
- ok... agora que terminei de pular e abraçar toda a gente que estava num raio de 1,5 kms em meu redor, posso dizer mais tranquilamente que:
Aha!, Eureka!, Fooosga-se!
Para que compreendam a minha despudorada alegria explico-vos o seguinte: ser comentado pelo MEC é, para mim, apenas comparável à visita que recebi de Michel Preud'Homme, quando resolveu retirar-se do Benfica. Chegou lá a casa e disse: "Meu rapáche, echtou cansade! Vou parra casa cuidar dos filhes e da femme. Toma lá les luves e vai para a Luz. La balize est tua." - visita que, na verdade (juro pela alma da minha avó), nunca aconteceu.
Em relação a isto, ainda pensei que fosse uma brincadeira de um amigo cruel mas a arroba salvadora iluminou-me: lá estava o endereço electrónico do único autor português - além de Cesário Verde - cuja obra completa está armazenada nuns quantos felizes neurónios de minha satisfeita carola. Nem de propósito sucede que tinha terminado de ler, no dia anterior, o único livro que me faltava de MEC, EXPLICAÇÕES DE PORTUGUÊS.
Devo dizer que o comment é elogioso mas mesmo que MEC me tivesse mandado - seguramente com classe - contar o número de paus com que se fez a nau de Bartolomeu Dias ou me instruísse no sentido de conhecer ao pormenor a quinta pata de um cavalo lusitano, mesmo assim estaria feliz. Foi praticamente com este senhor que aprendi a escrever.
Agora, para que os meus sonhos de adolescente se realizem em toda a plenitude, falta-me apenas estar frente a frente com uma Alexandra Lencastre nua, ofegante - mirando-me de alto a baixo longa e languidamente para enfim exclamar, com o que lhe resta de folêgo e um fio de baba no lábio inferior, "Ui, Luís! Que grande...". LFB
DESEJO CASAR - A minha relação com a internet sempre foi semelhante à do José Cid com a música: ouvia falar dela, tentava utilizá-la, mas nunca fui feliz. Foi por isso que só com a ajuda imprescindível de MVS é que consegui criar o www.desejocasar.blogspot.com - um blog com 12 membros que podem visitar a partir de agora: somos guionistas, jornalistas, juristas... o que me lembra, aliás, uma música de Cid: "ele era um poeta, um cantor, um pianista / o seu nome não vem na lista!". O nosso vem. Vão vê-lo, se faz favor.
PS: Mariana, please, please, please, please, põe um link p'rá gente, vai? - LFB
segunda-feira, junho 16
Estudos sobre Pacheco Pereira
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Irrompeu no céu da blogosfera irradiando cortesia, como um Sol. O afã obsessivo com que registou toda e qualquer saudação da praxe deu a entender mais do que uma etiqueta imaculada. Para nós, leitores humildes do seu verbo, a hierofania foi uma revelação. Percebemos que para ter um link no Abrupto basta afagar o umbigo do seu ubíquo autor. Assim que chegou, ele fez a diferença. O Paulo Querido é que sabe! Dos seus posts se diz já que farão escola, a escola jornalística de José Pacheco Pereira.
Pacheco Pereira, o teórico revolucionário, é sem dúvida leitor atento de Gramsci. Na rádio e na têvê, nos jornais e na blogosfera, quem o não vê? Pacheco a hegemonizar por aí – menos na CEE. Ele é um verdadeiro Deng Xiao-Ping: uma hegemonização, dois sistemas. E qual o negócio? O retalho das suas opiniões e ideias. É por isso que remete freneticamente do Abrupto para o Flash-Back, deste para o Público, e de volta para o Abrupto. Mais uma volta, mais uma viagem. A malta lê e comenta. É a globalização!
O melhor dos leitores de Bourdieu, Pacheco Pereira marca a agenda do que há e não há para discutir, (só) propõe temas de relevo e reserva para si certos tópicos apetecíveis. Esta tentativa para impor como legítima uma certa (a sua) visão das divisões e para apresentar como natural aquilo que resulta de uma (a sua) construção revela uma pulsão totalitária iniludível. O Abrupto quer transformar-se na rotunda dos Produtos Estrela da blogosfera e Pacheco no seu polícia sinaleiro. É demasiado mau que queira ser também o seu Renato Romariz.
José, o intelectual orgânico da blogosfera, escreveu que os blogs vão servir para escrever a história. Pior do que aquele que se leva demasiado a sério, só mesmo aquele que escreve para a história. É preocupante, mas percebe-se que a História seja barro de molde apetecível para um distinto estudante de um outro José, o Estaline. Camões viu bem isto, ao escrever premonitoriamente sobre Pacheco Pereira:
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
(não continua)
PM/RB
sábado, junho 14
Pelos caminhos de Portugal - Nestes dias feriados bloga-se menos e viaja-se mais. A margem sul é sempre uma boa alternativa para poucos dias de férias. Já conhecia o eixo Coina-Arrentela-Paio Pires. Desta feita, para chegar a Sesimbra, via ponte Vasco da Gama, passei primeiro por Fernão Ferro, de seguida por Sampaio e, finalmente, por Santana. Não sei se estava escrito nas estrelas, mas as localidades vêm todas no mapa das estradas. A sério: há outras testemunhas relativas. Só espero que esta sucessão não signifique nada. FN
sexta-feira, junho 13
GRÁTIS!!! Depois do sucesso dos dois últimos sábados, este sábado é a última oportunidade de ver o espectáculo de humor das MANOBRAS DE DIVERSÃO (grupo das Produções Fictícias), encomendado pela Feira do Livro, às 22h no Auditório da mesma - entrada livre. Com Marco Horácio, Bruno Nogueira e Manuel Marques, e textos de Luís Filipe Borges, Nuno Artur Silva e Nuno Costa Santos. Da pedofilia ao "És Meu", de Rita Ferro, apresentado por Santana Lopes, passando pela participação especial do Ministro Iraquiano da Informação, cabe tudo!
quinta-feira, junho 12
TLIX.blogspot.com - De Xabregas não veio nenhuma marcha, mas um novo blog. Não me perguntem a razão do nome. Perguntem a eles. Eles - são o nosso antigo comentador JL e outros democratas. Boa sorte, rapazes! FN
Rock in Rio - Boa noite Felgueiras, boa noite Portugal! Foi mesmo assim que a Dra. Fátima começou a sua conferência de imprensa. Ao melhor estilo "Rock in Rio". Graças à correspondente Marcela Metralha (familiar dos famosos irmãos Metralha) e a Judite de Sousa (que teve que interromper a sua lua de mel brasileira), Fátima Felgueiras disse de sua justiça. Por vezes, não se percebeu se a Dra. de Felgueiras falava sobre si própria ou sobre a sua terra - o que é compreensível tendo em conta o apelido. «Dizem que há certas coisas nas câmaras de Norte a Sul do País». A ex-autarca reconhece que sim, «mas em Felgueiras não». Aquilo é um oasis, como o Portugal cavaquista, período que deixou as suas marcas na cabeça da própria Fátima: «errar é humano, mas eu nunca errei». Felgueiras apenas «tinha um projecto de desenvolvimento para Felgueiras». Confesso que não tenho acompanhado a evolução de Felgueiras-cidade, mas Felgueiras-mulher está de facto com um corte de cabelo mais moderno.
«Acusam-me ainda de ter ligações perigosas ao nosso Futebol Clube Felgueiras», diz Fátima, indignada. Um evidente disparate. Não se pode ter «ligações perigosas» com uma coisa que é «nossa». E agora, Fátima? Agora, «sou a primeira exilada política do pós-25 de Abril». Esqueceu-se que o Prof. Marcello Caetano passou os seus últimos dias na mesma cidade que a acolheu, mas pronto, percebemos a ideia. «Sou, enfim, uma mulher por minha conta e risco». Ai, ai, a vida desta Senhora dava uma música da Ágata.
Por fim, voltou a dizer que «não foge a nenhum combate». Julgo que aqui o destinatário já não era Felgueiras ou o Tribunal, mas sim o eleitorado da Barra da Tijuca. Acreditem que ela é pessoa para ganhar aquilo com maioria absoluta. FN
Boaventura Social Club: Aqui no País Relativo aprecíamos muito o estilo do Prof. Boaventura, estão lá todos os tiques autocráticos da academia, combinados com um estilo de padre místico, entrecortado com o Coronel Kurtz, vindo das trevas da democracia. Quando tudo isto se combina com a excitação festiva do clube social, que alimenta o seu culto de personalidade, e com os jornalistas extasiados com tanta normatividade (auto-)poética vinda das profundezas da Passargada, saiem os disparates costumeiros (serão consuetodinários, senhor Professor?). “Se o voto mudasse alguma coisa já tinha sido proibido” (Sic), palavras proféticas do Senhor Professor. Claro que para o senhor Professor o que conta é a participação, o consenso, tudo coisas muito democráticas, principalmente quando promovidas por essas entidades mitificadas que são em Portugal os movimentos sociais. Nós andamos pela rua e chocamos logo com um ou dois em cada esquina. São as mílicias de Francelos, os selvagens de Felgueiras, os voyeurs do DIAP. O mais grave é que, ao contrário do que o senhor Professor pretende fazer crer, do seu discurso não resulta nada de novo. É apenas a tradicional diatribe igualitária à la PREC, em que o conta é lixar os poderosos (esses filhos da puta!), dinamizar as comunidades contra as imposições autoritárias dessa instituição total e fascizante que é o Estado moderno e claro, encontrar um agente vanguardista, sempre renovado: primeiro o proletariado, depois os estudantes universitários e agora os movimentos sociais. Tudo isto revestido por essa palavra de costas largas: cidadania. O problema é que há coisas com que não se brinca e a democracia representativa é uma delas. Mas, o que é que isso lhe importa? Afinal as sociedades em que vivemos são “socialmente fascistas”. Mas não se preocupem, ele está lá para ver e controlar. PAS/PM/RB (exilados)
A Coluna está morta. Viva a Coluna!
Perdoem o lugar comum mas só ele sintetiza o meu sentimento para com a Coluna Infame. Escrevo sobre o tema com alguma dificuldade. Não tenho apenas, ao escrever sobre os Infames, um laço de partilha de interesses políticos, ainda que em sentidos divergentes. Tenho também pelo Pedro Lomba grande amizade, dos tempos de Faculdade, que me garante uma perda para além da política, uma perda de comunicação com um amigo. Hoje sabia do Pedro, também pelo que o Pedro aí escrevia, e era mesmo esse o tema recorrente quando nos encontrávamos fora da blogosfera. Penso que o será ainda durante algum tempo.
A Coluna Infame pode desaparecer mas as convicções e a vontade dos seus artesãos não desaparece. Resta-me pois instar o Pedro Lomba e o Pedro Mexia a recuperarem para a Blogosfera os seus pensamentos noutra coluna, noutro espaço, por outra forma. Mas de espírito intacto.
Um abraço.DF
quarta-feira, junho 11
LUÍS BORGES SUPERSTAR
Um texto sobre mim. E o meu futuro. O meu ego. Os meus caprichos. O outro Borges. A vida faustosa que me espera. Ascensão e queda. Como me tornei famoso. E como a escrita telegráfica, à la MEC, me trouxe a fortuna e a glória. Presunção. Água-benta. Stop.
NOTA: dedicado à admirável auto-estima dos mini-mecs que partilham alegremente uma característica comum (o que os une?): a mediocridade.
No início de tudo, era o Verbo. Depois, a Verbo. Publiquei por essa editora um romance intitulado "Eu". Rapidamente começou a bajulação. Deixei de ter de sorrir para os profs na faculdade e para as meninas das fotocópias. Deixei de ter de agradar – trabalho para os meus colegas de quem não me esqueço: sim, ainda hoje vou ao McDonald’s (todos os que não são brasileiros andaram em Direito).
No livro, escrevia assim. Curto. Pequenino. A minha mãe sempre me disse. Que. Quem muito fala. Pouco acerta.
Fiquei famoso. Dei uma entrevista ao Carlos Pinto Coelho em que falei de uma África que não conheço; a Ana Sousa Dias chamou-me "fenómeno geracional"; o José Eduardo Moniz convidou-me para apresentar "Cultura em Movimento"; o Júlio Isidro quis-me para o prefácio das "Aventuras do Tio Julião"; a Anabela Mota Ribeiro piscou-me os olhos, o Abrunhosa pediu-me uma letra, a Mafalda Veiga uma música, o Nobel parabenizou-me, a minha mãe passou a achar-me bonito.
O mundo tinha outra cor. Comecei a faltar às aulas devido às entrevistas para dar. Falou-se muito no Borges, o outro, argentino. E em como até mesmo os maus poetas conseguem, por vezes, versos geniais.
Eu disse que: eu acho. Eu sei. Eu soube. Eu contei. Eu fiz. Eu fui. Eu ando. Eu sou.
Mas ainda era muito puto. Apenas um livro. Um título. Nenhum prémio. Ainda. Daí que comecei a ir às festas do social. Onde estava o mundo. Beijei imensas faces uma só vez, fui a imensas fêstas de amigos que não conhecia, osculei velhas de 70 kgs + 10 kgs de jóias, fui a lançamentos de livros, a festas de caridade, ao baptizado do 11º filho de D.Duarte, e até fui DJ na Kapital na festa de anos de Catarina Furtado.
Engraxei escritores, ministros, directores de institutos, editores, apresentadores de televisão, comentadores, analistas, produtores, e até um técnico de arrumação de automóveis que confundi com Jorge Palma.
Disse que era pela paz, que Diogo Infante era o melhor actor português, entrei numa telenovela interpretando um estudante de Direito que escreve um livro e fica rico, falei das minhas namoradas, dos carros que queria ter, mostrei o interior da minha casa, com a mesa da sala cheia de Novas Gentes e deixei-me, inclusivamente, fotografar com o bebé da minha empregada ao colo.
Disse ainda, naturalmente, que lia Pedro Paixão, que Miguel Esteves Cardoso é o maior, que Miguel Sousa Tavares é "um tipo com piada", que o fado faz parte de nós, e que o Ministro da Cultura não presta mas Manoel de Oliveira é genial.
No entretanto, escrevi o meu 2º romance: "Tu!" – com prefácio de Miguel Ângelo. Lancei-o na Mãe D´Água, e atirei alguns exemplares para o Largo do Rato, tentando fazer uma piada política. Carlos Castro riu imenso. Lembro-me que estava himalaias de bem vestido nesse dia: tinha imitado uma fotografia antiga de José Luís Judas na baía de Cascais – ninguém me podia deter. Nessa noite, falei no Jornal da Noite e disse, humildemente, que não me considerava superior a Jorge Luís Borges.
Convidei para a festa todos os meus amigos de longa data, e discursei sobre a importância que tiveram no meu percurso, ah!, e convidei também a rapariga que conhecera na noite anterior, na Kapital. Apaixonara-me imediatamente: aquelas argolas nas orelhas por onde tigres passariam, aquela t-shirt a dizer KooKai e um traseiro que não fazia jus à t-shirt, a maneira lânguida como segurava o copo de Pisang Ambon e me dizia: "Não sabia que se cantava nos Lusíadas"!
Casei. E gostei tanto de casar que casei mais 5 vezes.
Ganhei um prémio atribuído pela Federação Nacional dos Estudantes de Direito para melhor romance de um ex-aluno. E disse que, às vezes, sentia o génio dentro de mim.
Hoje, fumo cachimbo. E escrevo. Ainda. Tenho um programa no Canal Vivir que vai para o ar antes dos filmes pornográficos e que se chama: "Ínclita Geração" -–a Rita Ferro é a minha partenaire e os convidados são pessoas de outras eras: João Pinto, Luís de Matos, Alexandra Lencastre, João Baião, Margarida Rebelo Pinto. Falamos do passado e dos projectos para o futuro. No fim, cantamos velhas canções dos Silence 4.
Jogo bridge. Golf. Tomo café na Mexicana. Tenho uma coluna na Caras. E um Ferrari com 20 anos. Já não me dói o nariz da plástica recém feita. Não escrevi mais nenhum livro. Sou feliz. LFB
Notas breves sobre tempestades (em copos de água, blogs e afins) 1. Não tenho o menor desejo de alimentar polémicas estéreis e sem o menor interesse - nem para quem nelas toma parte e ainda menos para os leitores dos blogs. A controvérsia é certamente bem vinda à blogosfera (aliás, a segunda não faz sentido sem a primeira), mas que seja em torno de ideias, de filmes, de livros, de tudo o que nos motiva para escrever um blog. Tudo o resto não faz sentido. Um post que aqui escrevi há dias sobre o "é a cultura, estúpido" tinha um único objectivo: mostrar não apenas discordância face ao que foi dito gratuitamente sobre pessoas que participaram no debate e que conheço (algumas bem, outras nem por isso) mas, acima de tudo, profundo desagrado pelo tom desagradável que foi utilizado para as qualificar. Acabei por responder na mesma moeda, dirão. Talvez. Para que fique, em definitivo, claro: desejo ao maradona, que não conheço, à papoila, que também não conheço, e a (vários) outros que pronunciaram entretanto sobre o assunto em questão, continuação de bom blogging. E, de preferência para os leitores, rapidamente e em força sobre outros assuntos e noutro registo. Pela minha parte, não voltarei a falar disto.
2. A coluna infame acabou mesmo. Depois da dissidência, a suspensão, agora o fim. Ao que parece, em definitivo. É pena. Não tenho jeito nenhum para elogios fúnebres do género “a blogosfera fica mais pobre”. Muito menos para vagas de fundo em prol de um eventual regresso, e nem isso (a vaga de fundo) faria sentido. Mas não foi por acaso que PM, PL e JPC fizeram da coluna um dos blogs de referência – e referência mais do que incontornável à direita. Boas ideias (mesmo para quem não concorda com a maior parte), textos com humor e qualidade no que se escreve. Convenhamos que são ingredientes quase sempre infalíveis, dentro ou fora deste formato em que nos movimentamos. Vejo várias desvantagens neste eclipse súbito, entre as quais a mudança nos hábitos de leitura de muito boa gente. Para o trio infame, duas vantagens, apesar das circunstâncias em que se dá este desenlace: saem enquanto estão a ganhar e de certeza que vão rapidamente tirar da manga novos projectos. Ficamos à espera de notícias. MC
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