quinta-feira, julho 31
Ainda a Luz e o Progresso: "there is a crack in everything, that's how the light gets in" L.Cohen. PAS
Deve existir um Rendimento Mínimo Garantido? O tema do RMG, que JPP trouxe à blogosfera, é merecedor de uns quantos posts, apesar de poder dar direito a um blog inteiro. O RMG é um excelente observatório de muitas outras coisas e trata-se de uma daquelas medidas que significa muito, não apenas por aquilo que efectivamente faz, mas, essencialmente, pelo seu papel detonador de uma nova cultura de implementação de políticas públicas. Claro que todos os argumentos doravante apresentados caem por terra se, como bem assinalou o Ivan, alguém encontrar um caso que seja em que um não beneficiário seja comparativamente prejudicado numa dimensão tão relevante da vida humana como parece insinuar JPP.
Deixando para outra oportunidade a discussão dos casos concretos, a confusão habitual entre o Manuel Germano e o género humano, em que o debate em torno do RMG é propício – os terrenos movediços da inveja e dos pobres contra pobres – e as diferenças de contextos sociais – o norte e o sul, a pobreza urbana e a rural – aqui vão algumas razões porque deve existir o RMG. Até porque muita da discussão técnica e concreta da medida já aqui foi feita, e bem, pela Pandora.
Em primeiro lugar, porque a ausência de recursos materiais é, nas sociedades democráticas ocidentais, a forma mais brutal de privação da liberdade e, consequentemente, um problema público e político e não apenas da esfera privada.
Em segundo lugar, porque a garantia de um mínimo social de cidadania, que se corporiza no RMG, é um mecanismo, ainda que imperfeito, de partilha do nível civilizacional que as nossas sociedades já alcançaram e, ao mesmo tempo, uma forma colectiva de solidariedade.
Em terceiro lugar, porque ter um mínimo de recursos, com estabilidade e previsibilidade, que, ainda que não libertando da pobreza, atenuam a sua severidade, é um factor decisivo para a diminuição das desigualdades, e também, por si só, um poderoso instrumento e factor de inserção social.
Em quarto lugar, e aqui reside a grande inovação da medida, porque o facto de se fazer depender a atribuição da prestação pecuniária da disponibilidade por parte do beneficiário para aceitar um acordo de inserção, que pode assumir diversas formas e que não se limita à inserção no mercado de trabalho, é um meio particularmente eficaz de luta contra a exclusão social.
Em quinto lugar, porque a responsabilidade que o Estado assume no sentido de encontrar respostas e oportunidades de inserção para os excluídos implica, inevitavelmente, uma activação dos serviços públicos.
As outras dimensões da discussão, designadamente os pontos críticos da medida, seguem dentro de momentos. PAS
Luís Filipe Menezes: Cenas dos Próximos Capítulos
Menezes corresponde àquele tipo de pessoas que quando não tem problemas, inventa-os, e quando já os tem, agrava-os até limites insuportáveis: «Quando não tenho riscos, invento situações em que eles acabam por aparecer», reconhece. Chamou «frouxo» a Durão e agora diz que é o melhor do governo; chamou «vaidoso» a Martins da Cruz e, se calhar por isso, convidou-o para apadrinhar o fogo de artifício em Gaia, no último São João. Nos últimos tempos esta sua patologia tem-se agravado. Já pensou em ser ministro da Administração Interna, mas «chegou à conclusão que os ministros ganham pouco.» Nada que se compare, pelos vistos, com o ordenado de presidente da Câmara. «Pagaria para não ser ministro», diz hoje, como se a legião de inimigos não se juntasse logo para o ajudar nesta despesa. Também já quis dirigir a NTV ou até alistar-se numa ONG, como os médicos sem fronteiras. Agora, em entrevista ao Expresso, Menezes confessa que só pensa em «percorrer a floresta da Birmânia e fazer raides no deserto». Ou seja, no espaço de meses, já lhe passou pela cabeça seguir percursos tão diferentes como os de Carlos Magno, Bernard Kouchner, Lawrence da Arábia ou Figueiredo Lopes. O próprio presidente da concelhia do PSD/Porto, que o conhece bem, não põe de parte que Menezes «amanhã queira ser Alcaide de Vigo ou aviador». Aguardemos pelos próximos capítulos. FN
Luís Filipe Menezes: Ascensão e Queda
De então para cá, Menezes foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e líder do PSD/Porto. É actualmente presidente da Câmara de Gaia. Na distrital nortenha ganhou 11 câmaras municipais. A maneira como tentou convencer o prof. Cavaco da bondade da candidatura do Major Valentim Loureiro é bem reveladora de uma nova forma de fazer política: «O senhor não imagina o que é Gondomar! É a Costa Rica, com esgotos a correr a céu aberto, a meia dúzia de quilómetros do centro do Porto!» De facto, quem melhor do que o Major Valentim para um cenário destes? Com frigoríficos, televisões e máquinas de lavar, tudo graciosamente distribuído na campanha eleitoral, a população de Gondomar atingia finalmente a civilização. Mas é, essencialmente, como animador de congressos partidários que os portugueses o reconhecem e admiram. Hoje ninguém esquece as palavras premonitórias do congresso do Coliseu de 1995, provavelmente o melhor “show” televisivo de que há memória (para quando uma edição em DVD?): «Um governo de Durão Barroso será elitista, sulista e liberal». Foi assobiado. Saiu em lágrimas. A cena repetiu-se nos congressos seguintes. Não é injusto dizer que o congresso que lhe correu melhor foi aquele em que não apareceu. FN
Luís Filipe Menezes: O Nascimento de um Político
Sulista, elitista e liberal, q.b.: será o primeiro livro de Luís Filipe Menezes, e contará com um prefácio de Pedro Abrunhosa, o famoso cantor de intervenção que combateu o cavaquismo (e, portanto, o próprio autor do livro que prefacia). Descobri esta notícia num Expresso, que se encaminhava, como é habitual, para o caixote do lixo. A notícia traz à luz do dia um conjunto de elementos importantes para quando se fizer a biografia política de Menezes.
Luís Filipe Menezes nasceu em Ovar, há 49 anos. Ao contrário da maioria dos rapazes da sua geração, não cresceu a ler A Bola. Luís Filipe era uma criança muito especial, e preferiu passar os melhores anos da sua vida «a ler autores como Malraux, Hemingway e Graham Green». Certamente inspirado por estas leituras, aderiu à JSD em 1975. E, como qualquer jovem intelectual que se preze, esteve sempre do lado errado da História: nas Opções Inadiáveis contra Sá Carneiro; no «balsemismo» (SIC) quando Balsemão abandonou a liderança; no apoio a Mota Amaral quando Mota Pinto ganhou. Era de mais para alguém com tantas qualidades. «Apostou tudo na carreira médica», mas, curiosamente, foi a carreira médica que o trouxe de volta à política. Em 1987, o presidente do PSD/Porto da altura, não sabendo como pagar ao doutor Menezes o que ele havia feito por um familiar seu, desafia-o a candidatar-se à AR nas listas do Porto. Os seus conhecimentos médicos recomendavam-no para a política. Menezes aceita o desafio. Recomeçava então a saga de uma das mais fascinantes figuras da democracia portuguesa. FN
quarta-feira, julho 30
A retórica da reacção em Pacheco Pereira
Albert Hirschman identifica no seu The Rhetoric of Reaction (A lógica do pensamento conservador, Difel, 1997) três teses ou argumentos principais que, no último par de séculos, o pensamento de reacção, ou conservador, opôs às sucessivas vagas de acção e pensamento políticos progressistas. O autor analisa a valsa do par acção-reacção em três momentos capitais. A primeira reacção ganhou corpo no movimento de ideias que se opôs à reivindicação de igualdade perante a lei, e aos direitos cívicos de forma geral. Burke e De Maistre são alguns dos seus expoentes; a Revolução Francesa foi o seu palco histórico por excelência. A segunda vaga contrapôs-se ao sufrágio universal e, genericamente, aos regimes demo-liberais oitocentistas. A partir do último terço do século XIX, e até à I Guerra Mundial, uma literatura vasta acumulou um acervo de todo e qualquer argumento susceptível de ridicularizar as “massas”, a regra parlamentar da maioria e o governo democrático representativo. Entre os seus felinos cultores contam-se Le Bon, Vico, Pareto e Nietzsche. A terceira vaga de reacção reagiu contra os avanços do Estado-Providência, desde meados do século XIX (Leis dos Pobres), mas sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, nutrindo-se dos escritos de Malthus e Tocqueville, de Hayek e Friedman, e de Nathan Glazer e Charles Murray.
É a partir desta topologia do ideário conservador que Hirschman identifica os três argumentos-tipo de que o lado reaccionário se socorreu em cada uma das “ondas” progressistas assinaladas. São estas as teses da perversidade, futilidade e risco.
A tese do risco sustenta que a mudança proposta, posto que desejável, envolve sempre custos ou consequências inaceitáveis, nomeadamente por colocar em risco aquisições anteriores, estatutos ou direitos.
A tese da futilidade argumenta que as tentativas de mudança estão condenadas ao fracasso; que, de uma maneira ou de outra, qualquer mudança é, foi ou será na essência superficial, de fachada, cosmética – logo ilusória por não tocar as estruturas “profundas” da sociedade.
A tese da perversidade postula que a acção ou reforma proposta produzirá um resultado exactamente contrário ao objectivo enunciado ou pretendido.
Ora, o post que José Pacheco Pereira escreveu ontem sobre o Rendimento Mínimo Garantido constitui, deste ponto de vista, uma pérola da retórica reaccionária; em particular, oferece um dos exemplares mais bem acabados da tese da perversidade. É, pois, com o desvelo do zoólogo que encontra uma espécie perfeita que o reproduzo em parte para a efemeridade:
O Rendimento Mínimo Garantido (RMG) foi (é, mesmo revisto) uma das maiores pragas sociais que o governo PS deixou e que o governo PSD-PP não alterou como devia e não pôde alterar como queria, dado o modo como funcionam os mecanismos dos “direito adquiridos” para manter o stato quo. O RMG tinha este efeito de não retorno, de deixar um rastro de efeitos que muito dificilmente podiam ser corrigidos pela natureza de facto consumado que estas leis têm.
O RMG é um mecanismo que agrava as desigualdades sociais, favorece a exclusão, consolidando-a, e gera um clima de conflitualidade social, ou seja, tudo ao contrário do que as boas intenções retóricas dos seus autores. Visto “por baixo” , numa pequena aldeia deprimida, sem actividade económica, o RMG traçou um risco de separação entre os pobres, separando os mais “espertos” e que não trabalham e vivem do subsídio, dos que, tão ou mais pobres, procuram ter um emprego e se vêm com muito mais dificuldades e com uma vida mais pesada, por terem optado pela via de não viverem do RMG.
RB
São só mais Nove Semanas e Meia: Agora já não é só em Florença. As noites de Lisboa estão quentes. Ficar em casa é insuportável. Sílvia (SS), estamos à espera de mais um post erótico como este que nos deixaste no dia 1 de Julho:
«Ontem à noite. Durou mais de duas horas. O lençol de cima era uma bola amachucada a um canto. As rugas do lençol de baixo denunciavam a falta de repouso. Perdi a conta ao número de posições. Sentia o corpo peganhento. Fios de suor corriam-me pelas costas até serem absorvidos pelo tecido. Passava os dedos por onde havia sido mordida. Evitava usar as unhas. Procurava na superfície da parede um resíduo de frescura. Em vão. Finalmente adormeci sabendo que hoje haveria de acordar exausta. Está um calor insuportável em Florença. As melgas não me dão tréguas. É impossível dormir nesta terra. Dizem que a temperatura vai subir. Antecipo o regresso a Lisboa!» SS
FN
segunda-feira, julho 28
Afinal... Andamos sempre com esta coisa de que no Sporting é diferente, não há défice, são boas pessoas, têm crédito na banca e os impostos em dia. No Benfica que não, que não, que não. Acabei agora de saber que o Sporting se propõe oferecer os lugares atrás dos placares electrónicos a uma associação de cegos para que os seus associados possam assistir às partidas no Alvalade XXI. E mais. Que os referidos lugares não resultaram de qualquer defeito do projecto ou falha na construção – não! – foram sim construídos de forma totalmente propositada para ficarem atrás dos placares e poderem agora sustentar este rasgo de filantropia leonina. Pois. É como aqueles lugares na Nova Catedral, que até vieram numa fotografia provocatória no último Independente. Eu sempre disse que aqueles lugares, por sinal melhor situados que os do Sporting, não resultavam de qualquer erro de cálculo do abatimento do não sei quê, mas sim que tinham sido feitos de propósito para aquela imensa maioria de sócios do Glorioso na imensa minoria de anões. O Benfica pensa nas minorias, assim como o Sporting. Só que a uns gozam e a outros incensam.RB
Surfing away: espraiar é sempre a melhor das possibilidades, neste caso era mesmo a única. Uma semana de insinuações torpes, de ataques caluniosos, vindos daqueles que fazem, hoje como fizeram no passado, da cobardia a única arma. O nojo. Esqueço que tudo isto existe. Estou a maior parte do tempo na praia, com o conforto de pisar um chão pouco firme. Quatro remadas fortes, drop, primeira secção, cut-back, mais velocidade e um floater. Aquele segundos indiscritíveis, tudo limpo, o som da água e da velocidade. Um som pelo qual nunca se dá. São segundos, mas, ficam. Sempre que é preciso, volta-se lá. À memória do equilíbrio ténue. O surf como metáfora, mas, também, em absoluto, a projecção da vida como ela deve ser. Naqueles momentos sou sempre muito feliz. Venho para cima, no carro, a ouvir o cd do Roddy Frame a solo e, nem de propósito, ele canta, "if life was like the songs, I'd surf across the curved horizon and forget and be gone". A cantiga como metáfora. PAS
domingo, julho 27
A esquerda liberal e a esquerda indy - Há quase 20 anos, um grupo de intelectuais vindos do maoísmo (entre os quais JPP) decidiu fundar o Clube da Esquerda Liberal. Com a passagem dos anos, uns foram para a direita, outros viraram de novo à esquerda. Poucos ficaram no mesmo sítio. Contudo, as ideias do CEL fizeram o seu caminho, a crítica "comunitária" ao liberalismo também teve o seu impacto, e a esquerda democrática portuguesa, modernizando o discurso, voltou a ganhar.
Há 15 anos surgiu O Independente: um jornal assumidamente conservador, monárquico e nacionalista. Coisa rara numa imprensa que se caracteriza pela "neutralidade". Lá escreviam Vasco Pulido Valente (que já devia constar dos programas de Literatura Portuguesa), MEC e outros não tão bons, mas que, na altura, pareciam geniais. Ir sexta feira ao quiosque era como a missa de domingo para uma senhora devota. Aquilo foi, para muitos, uma escola bem melhor que as jotas. Basicamente, a coisa morre quando Cavaco sai de cena e Portas (para além de outros) vai definitivamente para a política partidária. (Basta ver que, no lugar de VPV, está agora o nosso ex-inimigo Pereira Coutinho.) Politicamente, hoje sabemos que andámos anos a alimentar um monstro. Mas, para além do "Monstro", ficou "A Bela" da história: o fim da hegemonia da cultura francesa; uma certa forma de escrever, de olhar para nós e para vida. Mas talvez só mesmo Pacheco Pereira tenha a distância suficiente para analisar isto.
Goste-se ou não, pelo Clube da Esquerda Liberal e pelo Independente, passaram uma série de ideias e pessoas que andamos a comentar há anos. Vem esta conversa toda a propósito de dois blogs que, já há uns tempos, andava para referir aqui. Um, é o do Nuno Oliveira Garcia e do André Miranda: "o blog do socialismo liberal". Com a esquerda na oposição em muitos países europeus, tornou-se moda dizer que a culpa do naufrágio é da chamada "terceira via" ou das políticas "neoliberais" dos socialistas. Não posso, por isso, deixar de saudar a existência de um blog na esquerda do centro. É que estou entre aqueles que não acham que o problema dos governos de Jospin ou de Guterres tenha estado nas políticas da "terceira via" ou na falta delas. O balanço é positivo em muitas áreas e as diferenças em relação às políticas de direita estão hoje bem à vista. O problema esteve essencialmente na política. Cometeram-se demasiados erros de gestão política, que levaram a derrotas eminentemente políticas. Para voltarmos a ganhar, não temos que "virar à esquerda" ou "à direita", mas sim encontrar outra forma de fazer política e acompanharmos a mudança. Como dizia o grande Bernstein: "o movimento é tudo".
O outro blog é o do Ivan Nunes. Andámos na mesma escola primária, no mesmo liceu (sim, votei na lista I) e na mesma universidade. Descobri agora que arrancámos o siso no mesmo dia (os antibióticos são "teguíveis"...). Mas não se assustem: as coincidências ficam por aqui. Apesar do apelido, não somos da mesma família (mesmo no sentido político) e não frequentamos a mesma praia. Ainda assim, confirmo que gostei do artigo que escreveu sobre o indy ("O Independente já ganhou as eleições"), feito num dia pouco inspirado de silly season, como o próprio agora revelou. (Também me lembro de ter gostado do outro sobre a IURD.) O Ivan é capaz de ter andado "à procura de um novo pensamento de esquerda" (PL), mas tem, no entanto, uma grande vantagem em relação aos outros esquerdistas que conhecemos: chegou à esquerda por via do velho Indy. Ele um dia teoriza melhor isto. Entretanto, vai aplicando a receita. FN
Porque hoje é domingo...
«O meu Porsche é a minha amante.»
João Manuel Pinto
«Nunca acreditei que pudesse vir a ser rico e famoso.»
Rui Costa
«Não sou um bom exemplo.»
Helena Laureano
«Eu e o Paulo [Portas] saímos muitas vezes juntos para dançar, que é uma coisa que ambos gostamos de fazer. E naquela noite a gente bem queria parar, mas sempre que íamos para a varanda começava a tocar música do nosso tempo, de que a gente gosta, e lá íamos outra vez.»
Cinha Jardim
«É verdade que o ministro saíu com Cinha Jardim. Faz-lhe muito bem sair e até devia sair à noite mais vezes!»
Confirmação do Gabinete do Ministro de Estado e da Defesa
«Digam bem do livro antes de o lerem e não façam aquele número: não li e não gostei.»
Paula Bobone no lançamento do seu último livro
«Não estou nada feliz com o meu marido. Estamos a precisar imenso de ir os dois sozinhos para qualquer lado.»
Alexandra Lencastre
«É normal que o meu marido não me acompanhe. Eu faço o mesmo em relação a ele: umas vezes porque estou cansada, outras porque não tenho paciência. Também tenho que dar folgas à minha empregada, que é amorosa.»
idem
«São uns selvagens. Só não lhes posso bater, mas vontade não me faltava.»
Manuela Moura Guedes sobre os jornalistas (fumadores) da TVI
Selecções FN (Fontes: Caras e 24horas)
sábado, julho 26
Resign Hard II Fontes bem colocadas informaram-nos que o Dr. Paulo Portas, Ministro de Estado e da Defesa, se prepara para anunciar na conferência de imprensa desta tarde que não se demite. A situação inédita nos anais, criada por um chefe de Estado-Maior do Exército que se demite por falta de confiança no ministro, e não o contrário como de costume, conhece assim um desfecho inesperado. RB
Os novos caminhos do marketing livreiro Aqueles que fazem do Jumbo das Amoreiras a mercearia dos dias ricos saberão do que falo. Ia entrando descansadamente, folheando as revistas à esquerda, cheirando os géis de banho à direita, antecipando o momento em que chegaria ao salmão fumado escoçês, lá ao fundo. De repente, topei com o Miguel Sousa Tavares a olhar para mim por trás de uma montanha de Kellog’s Special K. Não era ele, claro, era aquele placard de cartão tamanho real, ao lado de um escaparate baixinho com o seu romance. Achei a fotografia misteriosamente vívida, mas continuei a andar, ainda matutando no sinistro realismo da coisa. Mais dois passos e assustei-me. O olhar de Miguel perseguia-me. Três passos, estava já junto do frigorífico dos queijos típicos e das farinheiras, e ele ainda olhava para mim. Voltei para trás, espantado. Andei para trás e para a frente no corredor e o olhar dele seguia-me para trás e para a frente. Derrotado pelo sentido do rídiculo, continuei. Lembrei-me depois que tinha visto a mesma coisa numas lojas de pechisbeque em Nápoles: uns retábulos de Cristo em que o sguardo de Nosso Senhor segue o transeunte, ou então abre e fecha um olho de cada vez. Aqueles Cristos que alternadamente piscavam o olho a quem passava deixavam uma mistura de riso e arrepio similar. Só que, em Nápoles, levei o truque à conta do artista. RB
Exmo. Senhor Dr. Ministro Morais Sarmento,
Venho por este meio solicitar a Vossa Excelência a volta ao mundo com tudo pago a que tenho direito em virtude da minha defunta condição de telespectador do programa Acontece.
Subscrevo-me atentamente, uma Sua vítima
RB
sexta-feira, julho 25
Que fazer? Depois de se tirar um siso, não apetece fazer nada. Muito menos postar. Os danos colaterais dos antibióticos e anti-inflamatórios são piores que os provcados pelo Império americano. Por isso, há uns dias ameacei só voltar em Setembro. Mas que fazer quando um amigo nosso, inocente, está preso preventivamente há dois meses sem ver garantido o direito constitucional de recorrer? Que fazer quando, finalmente, todos nos apercebemos que, em Portugal, o direito ao bom nome é uma coisa vaga que segue dentro de momentos? Que fazer quando gente séria, como Ferro e, agora, Vieira da Silva, são alvos de calúnias sistemáticas? Que fazer quando, tão facilmente, se lança a suspeita sobre pessoas que apenas cometeram o crime de acreditar que é possível renovar a democracia e melhorar o país? Que fazer? A pergunta é revolucionária. A resposta nem tanto: talvez postar. FN
PS: Perante isto, acho que hoje até o O'Neill diria: «Não, não é para mim este país».
Coisas que fascinam: Hoje sinto o mesmo asco que sinto há um par de meses. Um asco que tem sido acompanhado por um desabar de coisas que eu tinha para mim como sólidas - a justiça dos homens. De repente, tudo desmoronou. Lembro-me dos Talking Heads a cantarem o Nothing But Flowers, cito de cor, 'while things fell apart nobody paid much attention'. O tempo em que descobri os Talking Heads foi também o tempo em que descobri os Mler Ife Dada. Hoje de manhã vim no carro a ouvir os Mler ife. Fazem parte do tempo em que na música portuguesa faziam-se coisas incrivelmente criativas. Foi o melhor dos tempos. Julgo que ouvi os Mler Ife, a primeira vez, no 'Divergências', para além do mais, tenho um daqueles orgulhos infantis por ter o maxi do 'Zimpó', ainda com o Pedro D'Orey a vocalista. Foi bom ouvir os Mler Ife hoje de manhã. Está tudo a desmoronar e o absurdo está à volta do sítio onde estou sentado, ainda assim há coisas que continuam a fascinar. Os Mler ife e as coisas simples, como a verdade. A verdade contra os que vivem da infâmia, da calúnia e que destas se alimentam.PAS
Fui vê-la hoje de manhã, e já ia tarde de vários dias. O sentir-me em falta empastelava-me as pernas ao subir as escadas. Estava a minha avó sentada no sofá do costume, costas quase de corcunda viradas para a parede de uma chaminé afónica. Do outro lado da sala soalheira, a televisão pontificava em altos berros, embrutecendo os sentidos. Por detrás da vidraças, e a toda a volta, a Cova da Moura ameaçadora. Os velhinhos sentados lado a lado em fundas poltronas de suor, em cujos braços já dormiam. A velhice é também um torpor televisivo, de pés fios e chinelos. Muitos esperam da morte um doce alívio, outros vão ter com ela com a sensação de que já vão tarde. A Dona Milú saltou do primeiro andar a semana passada, embrulhada nos lençóis brancos da roupa de cama. O monograma da Santa Casa sobressaiu sobre o encarnado. Um lar é um infantário de velhinhos. A radical ausência de dinheiro e sexo cria um mundo que se hierarquiza estranhamente. O número de visitas recebidas, a profissão do genro ou a escolarização do neto fazem a diferença. Por pequena que seja, uma pequena diferença faz toda a diferença. Lá, cem escudos são muito dinheiro e um ano muitas vidas. A minha avó foi os irmãos que nunca tive. Cresci com ela no mesmo quarto, e é tudo. Enquanto crescia e ela envelhecia o subúrbio fortificou-se num pesadelo de marquises. Por fim, chegou a hora do almoço e desci as escadas – do avesso, como quase sempre. Tinha, disse, qualquer coisa para fazer. Tinha que ir sentir-me culpado para outro lado. E fui. RB
quinta-feira, julho 24
Na estrada como na vida: "somos um povo com uma forte tendência para a adopção de mecanismos de desculpabilização, encontrando no exterior de nós próprios (nos 'outros', no Estado ou na Providência) as razões dos nossos infortúnios". No Público de hoje.
Eu acrescentaria (nos outros, no Estado-Providência ou na Providência).
Quem estiver sem pecado que lance a primeira pedra. DF
País Basco Relativo 2 ou A ETA só serve para atrapalhar
Começo por esclarecer as mentes mais complexas que a questão basca existia já antes da ETA e dessa questão irei falar. A ETA nasceu para lutar por uma causa já existente, causa essa à qual associou meios que lhe retiraram a razão. Hoje isso é uma evidência. No entanto, a questão basca continua a existir. Tomemos a posição que tomemos. Entendê-la como resolvida é querer branquear algo e ter pouca honestidade intelectual, salvo o devido respeito. Discordemos uns dos outros, pois bem, mas aceitemos que a questão existe.
Quanto a esta questão os maiores equívocos são possíveis, como sempre que há emoção à mistura, mesmo que inconsciente e sempre que as posições são de tal modo confrontacionais que nasce a tentação do entricheiramento, por tudo isto, começarei por expor a minha posição tão claramente quanto possível.
A questão basca levanta dois importantes vectores de análise. A questão basca actual ou o que fazer? O passado da questão basca ou quem e como responsabilizar?
Normalmente respondem-me à primeira questão que, concordo, é a mais importante, sobretudo para os progressitas que querem mais do que discutir o passado, encontrar soluções para o futuro. Aí me incluo.
A minha premissa é conhecida: a questão basca existe. Existe um diferendo, antes de mais, interno, sobre o destino soberano do País Basco. Esta questão vive enrodilhada noutra, a saber, o País Basco ter a sua soberania dependente de um outro país. Quanto a esta questão e analisando-o isolada os dados são quanto a mim inconclusivos. Tendo de tomar posição quanto aos dados existentes, sou pela independência do País Basco, sendo dada oportunidade real aos bascos de sobre tal questão se pronunciarem. Daí a necessidade que referi de estudos urgentes, imparciais e de fundo. E refiro-me agora apenas à análise da primeira questão que coloquei pois tudo muda de figura se incluirmos na equação os efeitos devastadoras tanto das bombas da ETA como das políticas madrilenas sobre o País Basco. Voltando a esse assunto reconheço que o argumento eleitoral parece forte. Mas não é. Em primeiro lugar é evidente a relação entre os resultados eleitorais e a actuação da ETA mas há que saber lê-los. Ao contrário do que muitos dirão, primeiro os partidos autonómicos e independentistas ganharam força, depois nada foi conseguido por resistência de Madrid, depois a ETA endureceu as sua acções, depois os resultados eleitorais vieram por aí abaixo, em conformidade.... mas a questão basca mantém-se. Não foi por isso que desapareceu. Aliás, se usarmos o argumento das eleições, repito, o País Basco já poderia ser independente, agora não o seria mas quem nos garante que amanhã não o volta a desejar. Apenas uma actuação no sentido de coartar a autonomia basca o pode provocar. Ou a erosão dessa vontade. Eis a questão. Questão essa que quero discutir e que aqui deixo para discussão. Não estou aqui para discutir o efeito da ETA sobre a população do País Basco pois a isso sempre se poderá argumentar com o efeito do Governo da Madrid sobre o País Basco. Além de que...não é porque a ETA existe que deixam de existir as razões para o País Basco ser livre (ou mais livre...).
E as razões existem. E qualquer interessado em política, filosofia ou sociologia....interessado em geral, aliás, conseguirá concluir que as razões para uma comunidade ser independente vão muito mais além da mera vontade maioritária. Como aliás o Kosovo, a Tchétchenia, já para não falar da Irlanda do Norte, demonstram.
As razões para uma dada comunidade ser independente devem antes de mais começar pela vontade popular mas, para além da questão complexa de saber como se afere quem o pode determinar, devem prosseguir para outras razões de ordens importantes que não devem ser minoradas ou escamoteadas. E essas razões são culturais, religiosos, linguísticas. Querer fazê-las passar por nada é não aprender com a História da Europa, desde os tempos mais remotos aos mais recentes. Aliás os grandes conflitos da Europa podem ser quase todos explicados por integrações mal feitas e que explodiram anos, décadas volvidas. Gosto a propósito deste pensamento de pensar em Kaliningrado e Konisberg...(uma e a mesma cidade). Não estou aqui a fazer apelo as teses civilizacionais de Huntington mas simplesmente a alertar para o facto de nada de simples haver na questão basca, ao contrário do que muitos querem fazer, resolvendo tudo com o terror da ETA...que só serve para atrapalhar... muitas vezes os mesmos que reconhecem complexidade e não têm posição sobre o Kosovo, o Sahara Ocidental ou os Tigres do Ceilão, só para percorrer alguns continentes.
Num post seguinte falarei do passado do País Basco (refiro-me ao passado já em democracia), de quem e como deve ser responsabilizado e que implicações tem esta subquestão na questão basca. DF
Objectos Nestes últimos dias, vivi na convicção de que tinha perdido um objecto, uma espécie de mini-contentor portátil do qual a maior parte de nós, por razões puramente instrumentais, se separa poucas vezes. Nada de mais: o seu desaparecimento implicava apenas a perda do bi, da carta de condução, do cartão de contribuinte, do multibanco e algum dinheiro, dos cartões das agremiações a que me orgulho de pertencer, entre outras coisas pessoais e umas quantas miudezas. Já tinha perdido as últimas esperanças de reaver tal objecto, e tinha em conformidade iniciado a penosa gincana burocrática que sabia ter pela frente, quando se deu o feliz reencontro que primeiro tentara promover activamente e pelo qual ainda esperara, já conformado, nos dias seguintes. Por estranho que pareça, fiquei um pouco irritado no momento em que encontrei a carteira em casa e ainda não consegui convencer-me inteiramente de que tudo o que treinei de forma árdua para aceitar sem me irritar afinal é mentira: tenho os documentos todos, não perdi nada e aquela carteira é mesmo a minha, a mesma de há anos. As relações que mantemos com os objectos que nos cercam são mais complicadas do que parecem. MC
Para além do tempo É pura ironia que o mítico concerto dos Cure que reuniu no mesmo alinhamento os álbuns pornography (1982), disintegration (1989) e bloodflowers (2000), e que agora foi editado em dvd como "trilogy", tenha tido lugar no famoso tempodrom de Berlim. Se o tempo é sempre a prova dos nove na música pop com alguma pretensão a escapar à mediocridade, é-o ainda mais numa indústria que se auto-alimenta, cada vez mais, de formatos meticulosamente produzidos para serem efémeros - e substituíveis por novos.
Curioso é que esta manifesta reconstrução e mistificação do passado que nos é vendida acabe por funcionar na perfeição. Parece mesmo que estamos perante uma trilogia pensada originalmente para o ser - o que só pode ser um elogio à coerência de um percurso, ou pelo menos à capacidade para o rentabilizar. Sendo que tal não deixa de ser estranho, numa carreira marcada, ao longo de quase 15 álbuns de originais, por uma constante e persistente esquizofrenia.
Em retrospectiva, estes serão três dos registos-chave do lado mais cinzento, carregado de negro, dos cure – uma face que, mesmo na fase de maior sucesso comercial, coexistiu sempre numa vizinhança difícil com o ecletismo, a alegria (irónica?) e a histeria descontrolada de álbuns mais multifacetados como "kiss me kiss me kiss me" (1987), ou "wild mood swings" (1996). Assim, este "trilogy" pode bem funcionar como um "best of" de álbuns...de metade de uma carreira, ainda que com manifesta injustiça para o obscuro "faith" (1981), que faria no entanto com que a fasquia subisse perigosamente para as quatro horas de concerto. Em todo o caso, fica o aviso: tirando o aracnofóbico "lullaby" e o delicodoce "lovesong" (ambos singles retirados de “disintegration”), não há nestas longas horas de música claustrofóbica e desolada mais nenhum êxito de jukebox pronto a servir. Quem esteve no sudoeste de 2002, já em estágio para estes concertos gravados no final do ano passado, sabe bem do que estou a falar.
Em suma, é difícil listar os aspectos interessantes deste "trilogy". Mais de três horas de boa música – uma dimensão quase monumental que é também o maior risco deste triplo dvd; a oportunidade de ver ao vivo, na íntegra, álbuns excelentes e muito equilibrados e numerosas faixas que raramente foram tocadas em concerto antes; uma revisitação em que vem ao de cima a maturidade que é o lado positivo dos vinte e cinco anos de carreira de Robert Smith. Ainda por cima, com uma vitalidade rara nos últimos tempos - marcados sobretudo por muitos quilos e maquilhagem a mais, e provas sucessivas de esgotamento criativo. Que são, aliás, o lado mais lunar (e também mais visível) de um percurso de tão longa duração, só em parte interrompido último pelo álbum de originais, aqui incluido.
Acima de tudo, fica a demonstração de que (com excepção para o mais recente "bloodflowers", que terá muito a provar) há mesmo músicas e ambientes que sobrevivem ao tempo e que ganham (mais?) sentido para além do contexto em que foram produzidos, mantendo um estatuto de alternativa respirável face a boa parte das sonoridades do presente. MC
quarta-feira, julho 23
Volto já: Acabei de vir de uma operação ao dente do Siso. Foi finalmente extraído. É ainda sob o efeito da anestesia que vos escrevo. Se tudo correr bem, isto é, como da última vez, lá para Setembro já estarei melhor. Até lá! FN
País Basco Relativo
Haverá ainda algo a escrever sobre a ETA ou podemos, serenamente, catalogá-la de organização terrorista e tratá-la em conformidade? Os últimos atentados da organização basca voltaram a fazer-me reflectir sobre dois pontos absolutamente contraditórios que mas nem por isso devem impedir-nos de reflectir. Por um lado, o estado da ETA, por outro, o estado da questão basca. É evidente que a ETA actual não tem qualquer semelhança com a ETA de há vinte ou trinta anos. Os tempos não são os mesmos, o que é uma evidência. Mas os tempos não são os mesmos porque a questão basca tem sido tratada de uma forma absolutamente diferente sem que a ETA tenha sabido reagir as políticas de Madrid, endurecendo pelo contrário, a sua luta.
A ETA hoje nada mais é que um grupo de jovens rebeldes à mistura com alguns fanáticos da velha guarda. Não deve é confundir-se isto com o fim da questão basca. Eis o que deseja Madrid, eis o que provoca a ETA com as suas acções. Separemos as águas e não deixemos os nossos raciocínios ficarem alterados pela emoção. Sejamos rápidos a condenar a ETA mas não façamos passos ilógicos a coberto da exaltação emocional. Sim, a ETA, hoje, tem de ser condenada mas isso nada nos diz sobre a questão basca. Os argumentos de que a luta da ETA é tanto mais anacrónica quanto os bascos não desejam hoje a autonomia são argumentos que estão eivados de intenção e não de meditação. Se condenamos a ETA pelas suas acções monstruosas e mediáticas não sejamos ingénuos e estúpidos ao ponto de pensar que o Estado Espanhol é um Senhor benevolente e magnânimo. O Estado Espanhol aprendeu, simplesmente, com as lições do franquismo. A repressão ostensiva e televisionável não compram apoios populares e de elites. Tal como as bombas o não fazem. Mas se estudarmos a fundo a influência do Estado central espanhol sobre as opções autonómicas bascas percebemos que algo está mal no reino das Astúrias. É comum ouvir-se dizer que a questão basca é, ao invés, um mito. Os bascos na sua maioria não querem ser independentes. Sem sequer ir aqui analisar esta afirmação (que repudio), o que me perturba é perceber desde logo que os mesmos que assim afirmam não têm qualquer base para o fazer além de um superficial informação mediátia, controlada, claro está, por Madrid (um bom exemplo sendo o jornalista Nuno Ribeiro do Público que parece, a propósito de cada notícia sobre a ETA, reproduzir comunicados oficiais do Governo Espanhol).
A questão autonómica basca, tenha-se a posição que se tenha, existe. Existe há várias décadas, mesmo séculos e com seriedade deve ser tratada. E, o facto de em anos recentes ter sido branqueada de modo a parecer uma questão menor não nos deve descansar mas antes instar a tentar perceber o que está realmente em causa. Mesmo com bombas a explodir. Como dizem os meus amigos sociólogos: é preciso que se façam estudos, é preciso confiar nos estudos. E não no que a imprensa de Madrid produz e o resto do mundo reproduz. DF
terça-feira, julho 22
A golpada:tenho-me abstido de aqui comentar a prisão absurda do meu amigo Paulo Pedroso, apesar de esta questão ocupar o meu espírito a maior parte do tempo. O Augusto Santos Silva escreveu, no último Sábado, um excelente artigo que subscrevo por inteiro e que corporiza tudo, e absolutamente tudo, o que penso sobre o tema. Hoje, Vital Moreira, no Público, escreve outro artigo que mostra o absurdo da situação e designadamente o facto de a Paulo Pedroso ter sido negado, com uma artimanha do juiz de instrução, o direito que qualquer cidadão tem ao recurso para um tribunal de segunda instância. Nunca é demais repetir que a defesa de Paulo Pedroso interpôs um recurso cuja avaliação pura e simplesmente não foi feita. Independentemente das considerações que possamos fazer sobre a inocência de Paulo Pedroso, e, repito, faço minhas todas as palavras do Augusto Santos Silva, o que está aqui em causa é mesmo o funcionamento do Estado de Direito. É bom que todos nos preocupemos. Caso contrário, “o burundi é aqui”. PAS
segunda-feira, julho 21
E nós estamos aqui para ajudar: O dr. Nogueira de Brito, novel Presidente da Cruz Vermelha portuguesa, declarou ao JN que “as políticas públicas na área social estão esgotadas e no limite da capacidade” e que, como tal, é preciso “o recurso à sociedade civil para fazer face à crise instalada”. É duplamente espantoso.
Primeiro, o discurso sobre a crise das políticas públicas na área social, exactamente um dos domínios onde Portugal mais progrediu nos últimos anos, aproximando-se do padrão europeu. É uma evidência, que o mínimo de rigor político e também científico pode confirmar. Nos últimos anos foram desenvolvidas novas políticas nas diversas áreas da intervenção social – no apoio à infância e à terceira idade, nas prestações familiares, nas pensões, nas políticas de luta contra a pobreza em que houve uma autêntica ruptura paradigmática, nas políticas activas de emprego – e foram afectados mais recursos financeiros – atente-se nessa medida sintética, ainda que não suficiente, que é o peso da despesa social em % do PIB, que cresceu e ao mesmo tempo que a despesa pública em total do PIB baixava, no que é uma positiva idiossincracia nacional. Goste-se ou não, e compreendo que quem tutela a área não aprecie, mas as políticas sociais em Portugal têm sido desenvolvidas, contrariando o discurso do seu esgotamento que aliás é recorrente e já vem de trás.
Segundo, o recurso à sociedade civil, combinado com a deslegitimação do Estado. Sempre a mesma trampa, do Professor Boaventura ao dr. Nogueira de Brito, lá vem a conversa da sociedade civil, essa instância de democracia, com conhecida autonomia financeira, completamente independente dos apoios estatais e que é sempre a solução mirífica para todos os males do país. Por exemplo, sabemos hoje que séculos de intervenção subsidiária na luta contra a pobreza tiveram, entre outros, um efeito trágico na sociedade portuguesa: um nível extraordinário de reprodução geracional da pobreza.
Haverá alguma coisa melhor para quem quer ajudar a dar cabo das políticas sociais públicas, do que o discurso catastrofista, e sem aderência à realidade, sobre a sua crise, quando combinado com a retórica mitificadora de uma sociedade civil que, devendo ser desenvolvida, pura e simplesmente não existe?
Se há área onde está longe de estar esgotado o papel das políticas públicas é exactamente o domínio social. Acontece que anda aí um rolo compressor, disfarçado com ar beato de catolicismo social – que só pode envergonhar este – a dizer e a fazer exactamente o contrário. É mesmo preciso ter forças para o contrariar. PAS
domingo, julho 20
«Manuel Vilarinho gosta tanto de Filipe Vieira como eu gosto de Saddam.»
Vitor Santos, “Bibi”
«Não me sinto a última Coca-Cola do deserto.»
Evaristo, empresário algarvio
«A Chantelle já tinha seis meses, e quando eu agarrei nela começou logo a lamber-me, mesmo a pedir que eu a levasse.»
João Rolo sobre a sua cadela “bulldog” francês
«Afinal não estamos assim tão afastados dos macacos.»
João Baião
«Ibiza é óptimo porque não conheço ninguém, não tenho a preocupação de me arranjar e a minha mulher não tem de se maquilhar todos os dias.»
António Augustus
«Gosto de comprar frutas e legumes.»
David Beckham
«Não fui a primeira nem a última mulher a separar-me. Encontrei pegadas de ténis no muro da minha casa. Já chega!»
Sofia Alves indignada com os paparazzi
«Custa-me estar sozinha!»
Isabel Figueira
«Não tenho falado com o meu marido. O que, aliás, é óptimo do ponto de vista da minha sanidade mental.»
Liza Albarran
«Eu saí de gatas.»
Cinha Jardim depois de ter estado a dançar com Portas na Kapital
«Tinham-me dito que o espectáculo era bom, mas superou as minhas expectativas.»
Cavaco Silva sobre o último musical de La Féria
Selecções do FN (Fontes: Caras e 24horas)
Jovens, Socialistas e Católicos - Em vários jornais, no rodapé da RTP, a mesma notícia: «Jovens Socialistas Católicos criticam iniciativas no sentido da despenalização do aborto.» Alguns amigos meus surpreendem-se com o impacto que o líder desta «tendência», Cláudio Anaia, consegue ter na comunicação social. Meus caros, não sobrevalorizem o pobre do Anaia. Estou certo que se alguma luminária fundasse um movimento marxista no interior do CDS também teria igual tratamento por parte da imprensa. FN
Mudança Que melhor tópico para traçar a fronteira (política, ética e metafísica) entre um conservador e um não conservador do que a mudança? O Pedro Lomba escreve um post sobre isto, um post oportuno e reconfortante porque descubro, sem grande surpresa, que linha após linha não me identifico com o que lá é dito sobre o assunto (e mal não vem ao mundo por causa disso).
Podemos sempre mudar o que quisermos, quando quisermos? Evidentemente, não é verdade. Não queremos mudar nada? Evidentemente, não é verdade também. Quando nos perguntam dizemos que não queremos mudar nada? No máximo, talvez tenhamos alguma dificuldade em listar prioridades. Somos contrários a todas as mudanças? A todas, não, discutamos uma por uma. A verdade não está nas mudanças? Talvez não, mas também não está na permanência; estará em algum sítio?
Suponho que tudo depende sempre da primeira pessoa do plural em que nos incluimos ou não e do colectivo, não identificado, que é tomado como sujeito destas proposições. Mas, independentemente disso, o profundo, intrínseco e convicto conservadorismo que transparece neste post ajuda-nos a ler melhor o que o Pedro escreve, e bem, na primeira pessoa do singular. MC
O JARDIM
Adolfo Luxúria Canibal
Há tanto tempo que não me ocupo do jardim
A última vez estava frondoso
A buganvília a tingir-se de vermelho
Trepando O perfume inebriante
E as festas ao cair da tarde
Parece que foram há séculos
Noutra encarnação
Os meus amigos traziam as bebidas
E a jovialidade
O jardim enchia-se de gente
De beijos
Pelos cantos Sôfregos de desejo
Inventavamos planos de rebelião
Sonhos de transmutação
Passavamos horas a inventar
Entre duas carícias
Surgiam ideias puras e inocentes
Como a nossa vontade de tudo abarcar
Era um frenesim constante
Faz-me pena agora
Olhar para ele
Para as suas sebes abandonadas
De ramos retorcidos
Jaz tombada a grande epícea
E uma enorme cratera
Substitui os belos canteiros de outrora
Há tanto tempo que não me ocupo do jardim
A última vez estava frondoso
A buganvília a tingir-se de vermelho
Trepando O perfume inebriante
E as festas ao cair da tarde
Parece que foram há séculos
Noutra encarnação
(do álbum "primavera de destroços")
MC
sábado, julho 19
Different ways Há diferentes maneiras de retratar gerações, ambientes, locais, contextos. Umas mais felizes que outras. No grupo das menos felizes está o recente “rules of attraction” – que, pelo menos no que diz respeito à atracção que sentimos ou não face a um filme e à forma como nos mostram uma realidade ficcionada (e já não é pouco), nunca chegam a funcionar. Imagine-se um kids, ou um trainspotting, e tudo o que têm de excessivo no retrato de culturas elas próprias marcadas pelo excesso. Agora aplique-se a mesma terapia de choque ao meio universitário americano, mas em sofrível, quase sempre sem descolar de um voo demasiado rasteiro. Quase sem se dar por isso, o exercício transforma-se numa terapia de choque e pavor, tornados literais. Personagens caricaturais, diálogos sempre à superfície, cenas verdadeiramente dispensáveis e uma realização a roçar o telefilme. Um exemplo só, a utilização abusiva da filmagem em reverse, que chega a ser patética como efeito: é mesmo necessário um grande plano do relógio da torre com os ponteiros a rodar ao contrário, alguém a andar na neve e a apagar as suas próprias pegadas e gente a falar no estranho dialecto do inglês invertido para fazer os (ignaros?) espectadores perceber que a acção está a “andar para trás”?
Breve anotação: adjectivos como “sofrível” e “desnecessário” substituem outro possível, que bem podia ser “medíocre”. E essa substituição fica a dever-se à banda sonora, que sempre vai distraindo, apesar das perigosas semelhanças, pelo seu enquadramento no filme, com uma sucessão de telediscos da mtv (tipo últimas séries das “marés vivas”, mas num registo mais alternativo). As hostilidades abrem com um inesperado “six different ways” dos Cure, e vão prosseguindo com outras escolhas quase sempre felizes, que incluem por exemplo os saudosos Love & Rockets, de Daniel Ash. Alguma coisa tinha de se salvar, mas manifestamente não chega. Uma boa segunda (ou terceira) escolha para uma ida ao blockbuster em noite de insónia. MC
sexta-feira, julho 18
Agora, passo tudo pela refinadora: Algo de estranho se anda a passar com a parte liberal das nossas democracias liberais. Em Portugal, regras elementares do funcionamento do estado de direito que são postas de lado com manigâncias de agentes do sistema judicial. Escutas telefónicas reproduzidas em jornais supostamente de referência, em clara violação de direitos individuais, como seja o direito ao bom nome. Em Espanha, deputados eleitos nas listas do PSOE em Madrid que, sem justificação perceptível, faltam à tomada de posse, criando um incidente de proporções políticas nacionais. No mundo, uma guerra feita contra todas as legitimidades e assente num conjunto de aldrabices que saltam aos olhos de quem tenha vontade de ver, de que o mais recente episódio é a assunção por parte de um agente da CIA de que teria sido ele a dar falsas informações sobre os arsenais iraquianos. E hoje a estranha morte, em Inglaterra, de um especialista em armas de destruição maciça. Recupero o O'Neill a quem roubámos o título deste blog: não há ingenuidades, 'agora, passo tudo pela refinadora?'. PAS
Mais um escândalo Lembro-me muitas vezes de, já lá vão vários anos, ter tido uma discussão acalorada com um professor que disse numa aula, com o que então me pareceu um ousado desplante, que o independente era um jornal sensacionalista e de baixa qualidade. À distância, talvez a troca de argumentos que se seguiu tenha sido demasiado acalorada tendo em conta o que estava em causa, mas a idade explica algumas coisas. Ouvir aquilo assim, brutalmente, foi à época demais. Com o passar dos anos, a ofensa pareceu-me menos grave e hoje em dia semelhante afirmação já não me parece sequer ofensiva, mas continuo a achar que havia então uma preocupação de inovação e de qualidade que foi, entre numerosas manobras mais duvidosas, uma pedrada importante no charco mediático da altura. E continuo a achar que o Indy foi um bom jornal de política. Provavelmente, o único que esteve na última década, apesar de tudo, perto de ser digno desse qualificativo em Portugal. Razão suficiente para fazer dele um património incontornável não apenas da imprensa portuguesa, mas igualmente de uma geração que despertou para a política (também) naquelas páginas.
Hoje em dia, como se sabe, o Independente, e depois um longo percurso de acidentes (mais do que acidentes de percurso), está reduzido à penosa caricatura do original que, semana após semana, é posta à venda nas bancas. Mas, se ainda havia algo para perceber sobre o que se passa por aquelas bandas, a dra. Inês Serra Lopes veio confirmar os nossos piores receios acerca dos "pensamentos profundos" que estão na origem da actual orientação editorial. Afirmou ISL publicamente, ao que se lê nas páginas do público, e entre outras pérolas, que as "pessoas de bem" (sic) não devem filiar-se em partidos. Percebe-se que ter ao lado o dr. Manuel Monteiro a falar da participação política dos jovens é uma circunstância extrema que pode funcionar como um convite a produzir afirmações vagamente despropositadas, mas há limites.
Tinha de haver uma explicação para um conjunto de aspectos, digamos, menos felizes da linha editorial do independente nestes últimos anos. Seria de mau gosto (é sempre) falar em "cadáver adiado", uma expressão que no entanto se aplicaria, na perfeição, ao jornal corajosamente dirigido por ISL. Só que há uma coisa que é indesmentível, e os factos estão aí para o demonstrar: não é possível fazer um jornal político minimamente credível ou com um mínimo de seriedade e qualidade, quando se é intrínseca e visceralmente contra a política, contra as políticas, contra os políticos, contra o(s) podere(s), quaisquer poderes outros que não o nosso. O resultado desse desfile de ódios, que por vezes parece transparecer nas linhas do indy, cruzado com uma maneira muito própria de entender o jornalismo, é inevitável e tem um nome: jornal de escândalos.
O problema, para o independente, é que, nesse segmento, temos um mercado bem recheado de publicações de elevado interesse (como o 24 horas e afins), que são incomparavelmente melhores nessa função. MC
The aftertaste of anger O filme é está gasto, mas parece que ainda não esgotado, pelo menos do ponto de vista dos produtores. Depois de exibições em vários pontos da Grande Lisboa (Amadora, com a Cova da Moura em grande destaque, margem sul, Casal Ventoso, e um pouco por toda a periferia urbana), esta semana fomos de novo presenteados com uma versão reloaded da balada de Hill Street cruzada com a cidade de deus, tudo em versão portuguesa reality show. As “forças policiais” montaram uma “mega-rusga” a um “bairro de barracas” em São João da Talha, “cercaram o bairro” com um aparato para-militar (200 agentes, um sem número de viaturas, cães treinados) e, claro, levaram os jornalistas atrás. Resultado da rusga: apreensão de uma quantidade pouco significativa de haxixe e de algumas armas, uma prisão por "posse de haxixe" e umas poucas “barracas ilegais” demolidas (quererá isto dizer que há barracas legais?). Depois, e no que realmente interessava, lá tiveram o merecido prémio: um curto número televisivo em pelo menos um dos telejornais, que retratou abundantemente esta “mega-operação” num “bairro maioritariamente habitado por pessoas de etnia cigana”.
Não se percebe muito bem o que se ganha com tudo isto, de cada vez que a bem conhecida telenovela conhece novos episódios. O objectivo, já se sabe, é mostrar trabalho. Mostrar, em particular, como podemos dormir todos descansados porque a polícia trabalha, em força e bem, sobre essa imensa “malandragem”, que habita não exactamente o nosso backyard mas um sucedâneo geográfico (os perigosos subúrbios) e que em regra, azar dos azares, “padece” ainda por cima de uma “etnia” qualquer. Felizmente, esse mundo desconhecido que nos espreita a cada esquina é posto na ordem, no seu lugar (bem longe) e está sob rigoroso controle.
Mas para além do circo mediático, at the end of the day os despojos do dia resumem-se a uma operação, indecorosamente encenada para ser representada em frente a câmaras de ocasião, um número que apesar dos meios desproporcionados postos em prática deu em quase nada. Segurança? Não, devia era haver vergonha de promover e alimentar desta maneira a psicose da insegurança, do medo, da xenofobia. MC
quinta-feira, julho 17
E cantam: O meu amigo Ivan lembra o João Gilberto para as férias. O João Gilberto absoluta e genialmente simples do início. Daquele início irrepetível, do ‘Esse teu olhar’, que ouvido uma primeira vez não mais volta a ser ouvido como pela primeira vez. O João Gilberto de que mais gosto é, ainda assim, o do ‘Amoroso’ – na edição que tenho junta-se-lhe também o ‘Brasil’ – e o do ‘João’. Quando faço as listas dos dez discos da vida, naquele jeito de ‘High Fidelity’ que têm os rapazes, hesito sempre em qual dos dois levaria. Nunca sei bem porque razão, mas inclino-me quase sempre para o ‘Amoroso’. Gosto da versão do Wave e isso, para além de tudo o resto, bastará. Mas o João Gilberto no verão lembra também a tristeza que há no verão e na antecipação dos últimos dias de praia. Eu nas férias vou sempre para a mesma praia, há muitos anos, e estar naquela praia é para mim o melhor das ‘grandes férias’. Gosto da repetição, de saber que tem tudo a tranquilidade de ser igual aos outros dias e aos outros anos. O João Gilberto é também assim, como as férias em que se pensa, desde logo, nos dias em que a praia começa a acabar. É, também, por isso que eu gosto da praia e procuro-a todo o ano.
P.S.
Este post era para ter sido sobre duas mulheres espantosamente bonitas e que cantam. O João Gilberto lembrou-me do cd da Cibelle, uma lindíssima modelo brasileira que cantava no ‘São Paulo Confessions’ do Suba e que agora fez a solo um muito bom disco para as férias de verão e o João Gilberto lembrou-me ainda esse fenómeno espantoso, que no fim do mês, com um atraso inexplicável, vai finalmente chegar a Portugal: chama-se Carla Bruni e o disco tranquiliza-nos. Será difícil, nos próximos tempos, apesar da Lori Carson, haver dois cds tão bonitos por mulheres tão espantosamente bonitas.PAS
Silêncios pouco inocentes Antes de 1995, a educação e em especial o ensino superior eram o que eram: um mundo sem rei nem roque, e acima de tudo sem rumo, total ausência de políticas consequentes, uma postura de desvalorização e de desinteresse, e um vendaval de ministros de ocasião, verdadeiros capatazes políticos sem outros critérios de escolha que não fosse o da insignificância (lembram-se do Diamantino Durão?) ou o espírito de sacrifício político por lealdade ao prof. Cavaco (com a dra. Ferreira Leite como exemplo máximo).
Os que fizeram nessa altura, como eu, o seu percurso pelo secundário ou pelo superior, lembram-se bem: da instabilidade, das regras que mudavam todos os meses, dos ziguezagues, das greves constantes, do verdadeiro caos que estava instalado. No meio de tudo isto, a gritaria era a regra: o futuro da educação decidia-se nas ruas e os agentes educativos (estudantes, sindicatos, reitores) faziam-se ouvir. E com razão.
Hoje em dia, assistimos cada vez mais a um preocupante remake de todo esse pesadelo, talvez até com contornos mais graves. O desinvestimento significa cortes reais. Cortes nos dinheiros, cortes nas vagas, cortes nos professores, cortes no investimento, cortes em todo o lado mas acima de tudo uma hipoteca do futuro, da qualidade, do rejuvenescimento das universidades e de toda a educação de nível superior em Portugal.
Há, no entanto, algo que mudou: um silêncio ensurdecedor em torno do que de muito grave se está a passar no ensino superior. Onde estão os reitores? Onde páram os sindicatos? O que é feito das estruturas associativas dos estudantes? Ninguém tem nada a dizer sobre o imenso descalabro que se abate hoje sobre as universidades públicas em Portugal? É demasiado estranho que assim seja. E é por isso com perplexidade que se regista a intolerável passividade e permissividade de quem assiste, como se numa qualquer bancada estivesse, à verdadeira tragédia que vai avançando todos os dias. Como justificar estes silêncios? Alvíssaras a quem souber responder. MC
quarta-feira, julho 16
Do Diabo: No espaço de uma semana, o Pedro Mexia conseguiu arranjar tempo para atacar duas pessoas que, por razões e em graus diferentes, conheço, admiro e estimo. Primeiro, atacou Alberto Martins. Aparentemente, porque este deputado considerou a sua ida à final de Sevilha «trabalho parlamentar». Isto pode parecer estranho aos hooligans da blogosfera, mas eu conheço bem o Dr. Alberto Martins e posso assegurar-vos que ele detesta futebol. Se fosse a Académica de Coimbra, ainda acredito que retirasse dali algum prazer nostálgico. Agora, para ele, ver o Futebol Clube do Porto é mesmo «trabalho». «Trabalho» no pior sentido do termo: «trabalho forçado ou público, pena infamante que foi substituída pela prisão maior celular seguida de degredo» (Dicionário Lello).
Não contente com isto, um dia depois, o Pedro Mexia escreve o seguinte: «quando detesto mesmo uma pessoa, faço este exercício comparativo: será que não o/a prefiro a Simone de Oliveira? E ficamos logo reconciliados.» Isto, então, é um insulto completamente gratuito. O Dr. Alberto Martins é homem e ainda está em boa idade de se defender. Em breve, aliás, todos os deputados terão direito a Blog. Já Simone de Oliveira não tem como se defender. É uma senhora que ignora a blogosfera. Positivamente.
Sou simplesmente vizinho de Simone. Mas independentemente dos laços de vizinhança, há todo um património cultural que um conservador como Mexia devia respeitar. Provavelmente, ainda não lhe perdoou “A Desfolhada”, essa defesa dos direitos das mulheres que, em plena ditadura, dizia: «quem faz um filho fá-lo por gosto». Pela Europa, com “Silhuetas ao Luar” ou com o “Sol de Inverno”, Simone cantou Maria Manuela de Moura Sá Teles Santos e Jerónimo Bragança. Goste-se ou não do género, faz parte do imaginário colectivo dos portugueses. Como Amália e Eusébio. Ainda recentemente teve participações bem divertidas num programa do nosso amigo NCS e numa faixa dos Cool Hipnoise. Talvez um dia destes Simone pudesse até cantar um bom autor como Mexia. Infelizmente, ele estragou tudo. FN
O Príncipe das Entranhas
Já há tempo que queria falar sobre o disco «Master and everyone» de Bonnie ‘Prince’ Billy, mas não sabia bem como fazê-lo. Actualidade estrita, faltará ao comentário a um disco saído há já uns bons meses. Deixemos de lado a genealogia erudita de Will Oldham e dos Palace Brothers. Ponhamos entre parêntesis a produção de Mark Nevers dos Lambchop. São meras pistas do corpo de delito. Cinjo-me ao essencial. São trinta e quatro minutos de música em ponta-e-mola de veludo. Voz e viola, ou baixo. Rasga as entranhas – é o termo – a forma como melodias maviosas, pastorais mesmo, convivem em união de facto com letras que, não obstante sussurradas, gritam ao ouvido. Oldham é senhor de uma voz arrastada que sussurra ao ouvido o inominável. Nomeemos, pois, o inominável. Amor, ou Deus para os mais contemplativos. E começa logo aqui o jogo. Essa voz que fala de amor e ódio, de Deus portanto, é acompanhada por uma voz feminina indistinta, no mais puro estilo country kitsh. É como se Deus fosse um cantautore secundado por uma corista de Nashville. A irrisão instala-se. O tom de antigo testamento burlesco é pontualmente reforçado por Nevers, que adiciona sabiamente ruídos e efeitos que rangem, que permanentemente ameaçam, que tolhem. E as letras propõem uma palavra irónica e soturna. Ocorreu-me que a poesia de Luís Miguel Nava ganhou, aqui, som e um ventríloquo improvável. E porque quero dar um exemplo, aqui fica a letra da última faixa «Hard Life».
And it's a hard life
For a man with no wife
Babe, it's a hard life
God makes you live
But without it
Don't doubt it
You don't even have
Your tears to give
I wake up and I'm fine
With my dreamings still on my mind
But it don't take long, you see
For the demons to come and visit me
And I've got my problems
Sometimes love don't solve them
And I end each day
In a song
And it's a hard life
For a man with no wife
Lord, it's a hard life
God makes you live
But without it
Baby, don't doubt it
You don't even have
Your tears to give
I know I'm a hard man
To live with sometimes
Maybe it ain't in me
To make you a happy wife of mine
Maybe you'll kill me
Honey I don't blame you
If I was in your place
Maybe that's what I would do
But I ain't breathing, let me breathe
Let me go, let me leave
I don't know, but I might lose
I might bum, might blow a fuse
So let me go
Lay it down
On my own
Let me drown
Let me go
Go where you don't know
RB
terça-feira, julho 15
Voltas O pouco católico Frank Black diz que não põe de lado um regresso dos pixies. Não sei qual é a ideia de Frank Black: se uns concertos, se um disco novo, se foi só um soundbyte de ocasião numa entrevista. Mas nada disso interessa. O que é curioso é que, quando falamos dos pixies, eu também nunca pus o regresso de lado. Volta não volta, lá mergulho de novo nas preciosidades deliciosamente ruidosas que ali estão, ao alcance de uma mão. MC
O aparelho que faz «bip», Ferro e a memória da democracia Ao ler o artigo do Público sobre o PS e a liderança de Ferro Rodrigues houve um aspecto que, à medida que o ia lendo, ganhou relevo e me surpreendeu.
Vários dirigentes partidários sublinharam que o governo Guterres foi verdadeiramente a “primeira vez a sério” que o partido esteve no poder. É de sublinhar o terem colocado a questão do ponto de vista da alternância natural, espontânea em democracia – logo sem dramatismos excessivos – entre períodos no poder e períodos na oposição. O estar agora na oposição é também a «primeira passagem à oposição» depois da tal primeira vez no governo. Requer, por isso, uma reaprendizagem do fazer política, só que num contexto que as óbvias dificuldades recentes tornam mais difícil. No momento em que, de dentro e de fora, se discutia a liderança, surpreendeu-me que o juízo dessa questão fosse feito pelos entrevistados a partir de um horizonte temporal mais largo. A experiência da democracia portuguesa, por jovem que seja, permite aos actores mobilizar temporalidades diferentes e fazê-las convergir na interpretação da “actualidade”. Revela alguma maturidade que, nesta fase, estes dirigentes do Partido Socialista olhem para a liderança de Ferro não a partir do tempo nervoso da política dos últimos e próximos tempos, mas sobretudo à luz da memória e da experiência do tempo da democracia. É algo de positivo em si mesmo que a atitude do aparelho seja: «quando estiveram lá eles, foi assim; depois, estivemos nós, e foi assado; agora, estamos nós na oposição e eles lá, e é cozido». Isso confere lucidez e tranquilidade, e distância.
Ao ler o artigo, eu, que não sou militante do PS, fiquei com a estranha sensação de os dirigentes do aparelho mostrarem mais sensatez que os analistas políticos encartados. E que a tal diferença entre a opinião pública e a opinião publicada poderia advir, justamente, disto. Ferro está sem dúvida ligado ao aparelho. Pelos vistos o aparelho não se limita a fazer «bip», o aparelho está ligado à memória do tempo democrático de Abril – e isso é bom. RB
segunda-feira, julho 14
Marcelo tinha razão: Há coisa de uns meses, o Professor Marcelo anunciou na TVI a morte de Henrique Barrilaro Ruas. Na altura, todos se riram de Marcelo. As notícias acerca da morte de Barrilaro Ruas pareciam precipitadas. Confirmou-se hoje que, mais uma vez, Marcelo teve razão antes do tempo. No próximo domingo, já sabemos como é que o professor vai começar a lição: «Tal como eu aqui anunciara, há meses, Barrilaro Ruas deixou-nos esta semana.» FN
O Pensamento Político de Manuel Monteiro
Manuel Monteiro está de volta. O exílio na Sorbonne deu-lhe uma outra «espessura» política. É precisamente isso que verificamos ao ler a entrevista que concedeu à Visão desta semana. Monteiro disserta, com autoridade, sobre o sistema político, a Nova Democracia, a Europa e, claro, os seus «conhecidos» ódios de estimação. Sobre as presidenciais, apenas revela que «o seu candidato é Balsemão». Curiosamente, também é o meu favorito para representar o espaço do centro-direita.
O Sistema Político. «Não entendo a política como um território para distribuir pelos amigos. (...) Isso dificilmente aconteceria comigo.» Claro. No máximo dos máximos, nomearia o Dr. Jorge Ferreira para seu adjunto e o «grupo do Altis» para a direcção-geral de hotelaria e restauração. Depois da eleições de 1995, constatou, com surpresa, que havia pessoas no seu partido que «negociavam alegremente com o PS a aprovação de orçamentos de Estado por troca com negócios.» Uma pouca vergonha. Ele, pelo contrário, esteve em quartos de hotéis a negociar orçamentos «em nome de ideias». Toma lá democracia-cristã, dá cá socialismo. Outra coisa que tem que mudar no sistema político é a disciplina imposta aos grupos parlamentares. Na Nova Democracia, «os futuros deputados (...) são livres». O PND conta já com duzentos fundadores. Aguarda-se, a todo o momento, a adesão do Eng. Daniel Campelo.
A Nova Democracia, se fosse um blogue, ficava ali “para além da esquerda e da direita”. É bem vindo quem vier por bem. Quem queira aderir apenas «tem de ser democrata e acreditar nos princípios do liberalismo político, que é mais importante para nós que o liberalismo económico, porque não pode haver liberdade económica sem liberdade política.» Isto é a completa inversão das teorias da consolidação da democracia, mas como princípio de esquerda liberal parece-me bem. «Depois, em termos de classes sociais, espero que a Nova Democracia aponte as baterias para a classe média e média baixa.» Que se acautelem, pois, os membros destas classes. O mestre Monteiro já não quer nada com as classes altas. «Não me dei bem com os conhecidos. E tenho que assumir isso.» Só lhe fica bem.
Os Conhecidos. A história política de Monteiro é a história da luta de classes. Em 1995, estava acompanhado por figuras mediáticas... «A Manuela Moura Guedes [risos]. É verdade.» Foram cravos, foram rosas... Paulo Portas também o abandonou, mas não será propriamente uma obsessão. «Atacá-lo-ei, politicamente, como a qualquer outro, mas não sou obcecado por ninguém em Portugal, e, se o fosse, não seria seguramente por esse [grande gargalhada]». Esta é óptima. Reparem bem: não está obcecado por ninguém «em Portugal». Só por pessoas que vivem no estrangeiro: uma Monica Belucci, uma Penélope Cruz. Mas se estivesse obcecado por alguém em Portugal nunca seria «por esse» (leia-se Portas): talvez uma Fernanda Serrano ou uma Isabel Figueira. Acho que só se pode concordar com isto. Por outro lado, as capacidades intelectuais do nosso primeiro ministro também não saem lá muito reforçadas desta entrevista: «Há uma aliança tácita entre Pedro Santana Lopes e Paulo Portas que, a seu tempo, se perceberá... Durão Barroso, um dia, também perceberá isso. É o elemento útil, enquanto for.» Ou seja: para Monteiro, Durão Barroso não passa de um idiota útil. É aquele tipo de pessoa com quem se deve negociar um carro velho, uma casa com infiltrações ou uma coligação de governo. Percebe-se agora porque é que Monteiro tanto insistia em aliar-se a Durão.
A Europa «tem liberalismo e socialismo de mãos dadas». (É por isso que Pedro Mexia é um eurocéptico: não acredita no socialismo liberal.) «Quer melhor exemplo da vingança soviética que um senhor em Bruxelas a dizer quantos litros de leite a vaquinha dos Açores tem de produzir?» De facto, Estaline já não se ria tanto desde a queda do muro de Berlim. Quanto ao referendo sobre a Europa, Monteiro só participa se «as questões estiverem claras». Portanto, uma das questões a colocar aos portugueses seria: «Concorda que um senhor em Bruxelas diga quantos litros de leite a vaquinha dos Açores tem de produzir?». Caso contrário, Monteiro apela a abstenção. O último partido que apelou à abstenção foi o MES e acabou tudo numa animada jantarada. Mais uma vez, sou forçado a concordar com Manuel Monteiro: «a Nova Democracia veio animar isto, e ainda bem.» FN
Peito em chamas Hoje, 18h, todos à fnac do colombo, para um novo prazer culto: apresentação do livro de Possidónio Cachapa, "segura-te no meu peito em chamas".
Fast learners (ou uma tipologia da governação à durão) Este governo começou por ser, desde o seu início, tristemente marcado por um binómio curioso: "entradas de leão - saídas de cordeiro". Normalmente, com asneiras, trapalhadas e muito folclore pelo meio. São tantos os casos que acabamos por lhes perder a conta: o RMG, a RTP, o código do trabalho, entre muitos outros. Depois, e como não havia meio de aprenderem a gerir dossiers dentro de parâmetros mínimos de responsabilidade e conseqüência, lá arranjaram duas tácticas quase infalíveis para se safarem dos constantes passos em falso. É o que lhes tem valido.
1. Uma destas tácticas é a deflação de expectativas: é tudo tão mau, tão miserável, tão difícil, que tudo o que fizermos, mesmo que se resuma a quase nada, é o melhor possível. E é pelo menos melhor, fazem-nos crer, do que a galinha da vizinha (ou, no caso, do que o inquilino anterior). Dizem-nos. Em muitas alturas, esta foi a única bóia de salvação do governo para justificar opções que ia tomando.
2. O outro estratagema de chico-esperto também é óptimo. É, aliás, tão simples que quase não se dá por ele, como sempre sucede com os melhores truques dos batoteiros. É a chamada "inversão dos resultados" ou, em bom português, "virar o bico ao prego". Este truque consiste em anunciar, de forma apressada e rigorosamente independente dos factos, feitos grandiosos, vitórias estrondosas ou, pelo menos, posições de coerência inatacável. O que se passou com o pagamento especial por conta nestes últimos dias é um bom exemplo da última categoria. Já no campeonato das "vitórias estrondosas", tivemos recentemente o último debate do estado da nação, ou a reforma da PAC em Bruxelas (que mereceu voto contra de Portugal mas ainda assim foi excelente, pelo menos segundo o governo). Quanto aos "feitos grandiosos"... bem, é pensar nas dezenas de "reformas estruturais" que o governo anuncia todos os meses.
Note-se ainda que esta estratégia de declaração de vitória em qualquer circunstância se subdivide em duas grandes variantes: a "classificação a priori" e a "reversão posterior". Na primeira, anuncia-se um veredicto antes dos factos consumados, antecipando e condicionando a sua classificação por terceiros. Mais uma vez, o debate do estado da nação é um excelente exemplo: ainda o debate não ia a meio (!), já se clamava uma vitória que, como se viu, nunca chegou a existir. O segundo caso é uma solução de recurso: consumada uma situação difícil, escolhe-se um ângulo retorcido, uma frase que se repete contra tudo, contra todos, e contra os factos, de modo a que ela se torne num suposto baluarte de “verdade”. Depois, é aguentar estoicamente até que a tempestade passe. A espantosa declaração de Bagão Félix segundo a qual “em Portugal não há verdadeira pobreza”, ou a “grande vitória” do governo no tribunal constitucional acerca do código do trabalho, são bons exemplos recentes.
É um exercício interessante ver em quantos episódios, sucessivos, se pode identificar na governação que temos este tipo de procedimentos. Porque é assim que o governo continua a encenar, com cada vez maiores dificuldades, vitórias políticas. Para o país, isto é pouco menos que trágico; para a direita, do mal, o menos. Já que manifestam visíveis e persistentes dificuldades em aprender a governar o país com o mínimo de visão estratégica, pelo menos há dois campos em demonstram que aprenderam depressa e bem: o marketing e a retórica. MC
Cool as: os meus amigos começaram a casar-se, depois o Tony Wilson escreveu um livro que deu um filme, o 24 Hour Party People, e, de repente, parecia que alguma coisa começava a ficar para trás e uma outra diferente ia-se aproximando. De um momento para o outro, sem que nos chegássemos a aperceber, os Stone Roses e os Happy Mondays já eram a vida antes do “desejo de casar”. ‘Tínhamos quinze anos e não permitíamos que ninguém dissesse que eram os melhores anos das nossas vidas’. Vem isto a propósito do ‘terceiro’ grupo da segunda fase mancuniana: os Inspiral Carpets. Primeiro foram as t-shirts do ‘cool as fuck’ e da vaca com óculos escuros, depois o ‘This is how it feels’, para tudo mais tarde acabar no ‘Saturn 5’, com aquele riff inigualável de farfisa a abrir. Uma década depois o ‘cool as milk’ está de volta, numa excelente edição – em que a capa é um merecido pastiche do Warhol – com uma compilação dos singles (e os Inspiral são uma das últimas bandas de singles), um cd de raridades, e um DVD cheio de videos e um concerto de 1990. Depois de dez anos em que não os ouvi, é bom ouvi-los hoje e, ao ouvi-los, sabermos que no essencial nada mudou. ‘Os nossos ídolos ainda são os mesmos’. PAS
domingo, julho 13
Selecções do Reader’s Digest
«Quando um toureiro está vestido e perante o animal, cria-se uma adrenalina contagiante.»
Pedrito de Portugal
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«É verdade. Os animais podem falar por eles. Nós falamos por nós.»
Nuno da Câmara Pereira sobre os direitos dos animais
Comentários: Este qualquer dia também escreve um livro. Vai intitular-se “Animal como eu”.
«Pertenço a uma família com 800 anos de pertença a uma classe dominante e há coisas que vêm do berço. Algumas pessoas aprendem na escola aquilo que eu aprendi nascendo.»
Nuno da Câmara Pereira sobre regras de boa educação
Comentários: Isto é o que Marx chamava de “consciência de classe”. Nuno tem não só classe “em si”, mas também “para si”.
«Não percebo nada de cantadas. Só me apercebo que levei uma cantada dois ou três dias depois!.»
Adriana Calcanhoto
Comentários: Só agora percebo porque é que o nosso amigo Zé Luís não teve sorte nenhuma.
«Quero muito ter filhos. Talvez depois de abrandar o ritmo.»
Marta Atalaya
Comentários: Olhe que não, olhe que não.
«As pessoas querem é ver se vai haver sexo ou não. Quem não tem sexo aguenta-se mais tempo na Casa.»
Sérgio, ex-concorrente, sobre o Big Brother
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«A sociedade está muito amoralizada. Para mim o problema não é a imoralidade. Ser imoral é errar mas ter a noção de que se prevaricou. (...) Estamos a viver um momento em que as pessoas confundem os dois bolsos»
Nuno da Câmara Pereira
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«Devíamos voltar aos Dez Mandamentos. Se as pessoas não roubassem, não cobiçassem o cônjuge alheio... Acho que já era um bom princípio.»
Lili Caneças
Comentários: Isto não vos lembra o “back to basics” do senhor John Major?
«Uma das maiores penas que tenho é que tanta gente desconheça a palavra obrigado.»
Serenela Andrade
Comentário: Serenela, não me custa nada dizer reconhecer: “obrigado por seres como és”.
FN (fontes: Caras e 24horas)
Zé Lello & Irmão Há quem diga que o que importa é o comprimento. Há quem diga que é a largura. Afinal, esclarece Prado Coelho, o que importa é a espessura. RB
Eu bem me parecia Filomena Pinto da Costa confirma ao Expresso que Reinaldo Teles não é amigo de ninguém. RB
É hoje o grande dia da Volta à França. Se puder, não perca. É a etapa rainha, com chegada a Alpe d’Huez, em descendo antes do Col du Telegraphe e do Col du Galibier. Prevêem-se cerca de 800 mil pessoas ao longo dos 20 quilómetros da ascensão do Alpe d’Huez, até cerca de 1.900 metros de altitude. Armstrong parece forte como sempre, mas este ano Ullrich promete: tem nova equipa, e aparentemente fez dieta porque está magro. O italiano Simoni afinal era só garganta e ontem ficou pelo caminho na primeira abordagem da montanha. O mesmo para Botero, que teve ontem o mau dia do costume. E Azevedo? Manolo Sainz diz que se Beloki falhar – hoje, sobretudo – avança José Azevedo. RB
A invasão dos homónimos Brian Weiss é o grande guru dos livros sobre regressão e vidas passadas. O senhor Weiss tem uma influência estranha na minha vida. Começa por seu meu homónimo. Depois, escreve imensos livros que ocupam imenso espaço na mesa-de-cabeceira do meu quarto que não é minha. RB
Determinação e coerência 2º caderno do Expresso, grande título com frase autoritária de Manuela Ferreira Leite, acerca do pagamento especial por conta: "Não recuo". Em fundo, grande plano de fotografia da proclamada dama de aço do governo. A pose é impecável. A declaração é de grande alcance. A determinação é a toda a prova.
Mas depois lembramo-nos. Então o acordo com os taxistas foi exactamente o quê? Ficamos todos à espera que o gabinete da sra. ministra divulgue, em breve, uma nota a definir o que entende por "recuo" e por "excepção", para que a opinião pública e eventuais interessados possam, doravante, saber com o que contar. MC
Uma dúvida Princípio de madrugada num animado Madres de Goa, tomado de assalto por uma festa de verão em sábado chuvoso e despedidas de solteira (o casamento está na moda, ao que parece), sem relação aparente entre si. Discute-se, às tantas, uma questão de elevado interesse colectivo, que não estou autorizado a revelar, e JAK, uma das revelações recentes da blogosfera e titularíssimo às terças à noite nas míticas jogatanas do ringue António Livramento, confidencia com apropriada solenidade: "raramente nos enganamos". E o facto é que ninguém desmentiu. Já se sabia quem era o fundador e incansável organizador do futebol semi-profissionalizado que hoje em dia se joga ali para os lados da junta de Benfica uma vez por semana, mas desconheciamos esta faceta de líder em potência. Terá esta declaração histórica marcado a arrancada, não se sabe para onde, de um novo grande timoneiro? MC
sábado, julho 12
Porque hoje é sábado
O Dia da Criação
Macho e fêmea os criou.
Genesis, 1:27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de
sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinicius de Moraes
RB
sexta-feira, julho 11
Para mais tarde recordar No editorial do Público de hoje, José Manuel Fernandes, desfaz uma vez mais o cadáver do mito da objectividade. Reitera, assim, posições anteriores com as quais estou absolutamente de acordo. Pena é que o tenha feito sobretudo a propósito da guerra do Iraque, quando há muito que a objectividade da informação mediática (como aliás noutros campos da reflexividade) há muito não passa de um mito para os observadores não comprometidos com o mundo dos media. Aliás, os últimos anos da política nacional mostraram-no bem, em diversas ocasiões, tão bem ou provavelmente melhor que a Guerra do Iraque. Mas, adiante. É de saudar que JMF assuma estas posições, com uma lucidez rara no campo jornalístico.
Avança depois para outros enunciados, e é aqui que as coisas se complicam um pouco. Afirma JMF, ainda acerca da Guerra do Iraque: "O problema não é esse (...) a BBC deixou transparecer por demasiadas vezes que tinha uma posição: era contra. Mas não assumia (...)". Faz então sentido supor que JMF entende que os órgãos de comunicação social devem assumir, e explicitar, as suas posições perante as grandes questões da agenda política e social. No caso presente, é sabido que o Público se pronunciou sobre uma questão, a Guerra do Iraque, para dizer que não havia uma posição do jornal. Sendo um passo importante, esta não é, porém, a situação mais difícil de gerir. O Público, deveria, na verdade, fazê-lo mais vezes, explicitando quem dentro do jornal é contra ou a favor do quê; e, se for caso disso, qual a posição institucional do jornal.
É tão só isto que se espera de um jornal de referência (e o Público é-o), liderando também neste campo e tendo a coragem de abandonar de vez a máscara da objectividade e da equidistância, que em Portugal ainda reina e que reformula o mito da objectividade sem o resolver. Porque não rompe, de facto, com ele. O jornalismo precisa de uma relação descomplexada com a informação, com os "factos" e com a sua construção, em particular no que toca à política. Porque é neste imperativo de transparência que os leitores podem, de facto, saber com o que contam quando lêem as manchetes, os títulos, os textos, os destaques e as sombras num jornal - que correspondem sempre a opções editoriais, entre várias possíveis. E sabem com o que contam porque lhes é dada a grelha de leitura que dá sentido à própria leitura que podem fazer. O exemplo anglo-saxónico é, a este respeito, lapidar.
Prossegue ainda JMF: "Um jornalista sabe ver quando uma informação, mesmo "objectiva", é parcial. Ou, para ser claro, sublinha uns aspectos e minimiza outros". Antes de mais, esta passagem mostra o referido abandono da objectividade por uma categoria de imparcialidade que na prática reproduz alguns dos defeitos da primeira. Mas, para além desta questão, será que um jornalista sabe mesmo distinguir? Ou, sabendo-o, estará sempre em condições de contrariar eventuais e inevitáveis "bias" - do próprio e das fontes?
Como director de um jornal de referência, com responsabilidades na linha editorial daquele que é, sem sombra de dúvidas, o diário português com mais qualidade ao longo da última década, JMF saberá do que fala. Mas coloca a fasquia muito, muito alto - porque joga na imparcialidade quando esta, temo bem, não é mais que um renovado mito da informação mediática. Mas, por isso mesmo, cá estaremos. Para mais tarde recordar. MC
Os fora da lei Os salários dos cargos públicos voltam à ribalta. Para súbito escândalo de alguns, o presidente da república ganha menos, nalguns casos várias vezes menos, que certos gestores públicos. Noutros casos, ganha o mesmo, mas regalias diversas oferecidas aos gestores por baixo da mesa reproduzem o quadro anterior.
Tirando uma eventual não concordância destas situações com a lei, facto que justificará a atenção mediática dedicada a este assunto nos últimos dias, o verdadeiro problema é, porém, outro. É, aliás, o inverso. O problema é que o presidente da república, o primeiro-ministro, os ministros, e por aí abaixo ganham escandalosamente pouco tendo em conta a elevada responsabilidade dos cargos que ocupam.
Certamente, os salários correspondentes a estes cargos são altos, em valores absolutos, e estão mesmo muito acima da média nacional. Mas não é admissível que os salários que o país proporciona aos cargos de mais elevada responsabilidade nacional estejam incomparavelmente abaixo de qualquer administrador íntermédio de uma empresa de média dimensão. A questão, note-se, não reside em qualquer (in)justiça relativa, lógica que não tem aqui cabimento; reside nas consequências que advêm da hipocrisia reinante e do silêncio envergonhado em torno desta questão.
Os baixos salários são, na administração pública e na política como nas empresas, uma estratégia de incentivo à mediocridade e à falta de transparência (como estratagema para fugir à primeira ou como sua consequência pura e simples ). Com baixos salários, não se recrutam os melhores; recrutam-se, somente, aqueles para quem tal situação é ainda assim vantajosa; ou os que estão disponíveis para abdicar de regalias que possuem nas suas vidas privadas em favor da pressão tantas vezes cruel da exposição pública e de níveis elevados de responsabilidade, a troco de recompensas, na melhor das hipóteses, pouco generosas. Depois, evidentemente, aparecem os esquemas menos claros para contornar os limites da lei. Depois, evidentemente, aparecem os gestores de empresas e institutos públicos com regalias sem qualquer controle; ou os deputados que ganham à "comissão" e em ajudas de deslocações, em vez de um salário por inteiro, com absoluta transparência, como deveria ser. Depois, passamos a vida a espantarmo-nos colectivamente com o facto de não aparecerem suficientes pessoas qualificadas disponíveis para a "res publica" e para as suas exigências não devidamente retribuídas. E tantos outros exemplos bem conhecidos.
O politicamente correcto impõe um silêncio envergonhado sobre estas questões. Deve ser por isso que o politicamente correcto, ou populismo discreto, é a prazo, cada vez mais, a morte da política. MC
Do Paraíso para o Eden Segundo o 24Horas de hoje, Piet-Hein está a separar-se de Alexandra Lencastre e foi viver para o hotel Éden, pagando uma diária de 26 contos. É o que se chama andar do Paraíso para o Eden ou de cavalo para burro, e ainda por cima a pagar. RB
Teoria de Lamarck confirmada A teoria lamarckiana segundo a qual os órgãos do corpo humano que não são utilizados acabam por definhar recebeu a mais recente confirmação experimental do cérebro de Umberto Bossi. RB
As Praias de Portugal Na minha opinião, Ramalho Ortigão ganhou direito a um lugar ao sol na praia dos escritores oitocentistas por duas características cruciais. Ortigão foi aquilo que hoje em dia chamaríamos um “grande repórter”. Todavia, o elemento que fez dele porventura o melhor jornalista da sua geração foi a posse daquilo que hoje designaríamos por penetrante “olhar sociológico”. Esta última característica, que de costume nos faz baixar a cabeça e esperar o pior, ou pelo menos um bocejo, é exactamente o que faz cintilar os textos de Ramalho. Estas qualidades são por demais evidentes em As Farpas. Aqui, no primeiro volume, ensaiou um deambular pelas praias de Portugal. Ampliou depois estas notas e fê-las sair em volume, como As Praias de Portugal. Guia do banhista e do viajante (em 1876, reedição Frenesi, 2001). Ortigão usa aqui o seu estilo incisivo e curto para misturar em doses sábias a crónica de costumes, a galeria de personagens, a topografia do relevo e da sociedade, as produções agrícolas e as pescas, o tempo, as cores e os cheiros dos lugares estivais. Fica aqui um naco, para abrir o apetite.
Póvoa de Varzim [a propósito do grande número de refractários ao recenseamento militar na Póvoa, vila piscatória por excelência, relata um inquérito do beleguim acompanhado do escrivão no bairro dos pescadores]
- Onde mora aqui João das Pragas, filho de José, o Russo?
O primeiro dos pescadores a quem se dirige esta pergunta retira o seu cachimbo de gesso do canto da boca e diz:
- O João?
- Sim, senhor.
- O João das Pragas?
- Sim, senhor.
- O filho do Russo?
- Sim, senhor.
- Conheci muito bem. Esse rapaz morreu.
- Morreu? Mas do livro dos óbitos da freguesia não consta que ele tenha falecido.
- Pois pode mandar plantar no livro que ele morreu. A gente não estamos lá no livro, porque a gente quando morremos não morremos cá na freguesia. A gente morremos no mar.
Pedrouços.
É a mansão oficial da vilegiatura burocrática de Lisboa.
Chefes de secretaria, oficiais, amanuenses, tabeliães, guarda-livros, caixeiros de escritório, escrivães, retemperam anualmente em Pedrouços a sua pálida e sedentária fibra plumitiva.
Por isso, Pedrouços, a uma légua de Lisboa, tem um pouco o aspecto de uma secretaria de Estado – ao ar livre.
RB
quinta-feira, julho 10
Sobre a liberdade de JPP: a discussão a propósito de Berlusconi é mesmo uma discussão para levar a sério, nela está em jogo a liberdade e a censura e está essencialmente em jogo saber os que estão do lado de cá da democracia liberal e os que estão do lado de lá. Sou dos que acham que, a este propósito, a dicotomia esquerda/direita não é produtiva para separar as águas – há muitíssima direita e muitíssima esquerda para lá do muro. Dito isto, o senhor Berlusconi está claramente para lá do muro e está para além da esquerda e da direita. O seu desprezo pelos mecanismos mais essenciais da democracia liberal é chocante. O homem despreza o parlamento, a imprensa livre, a separação de poderes, o debate livre, a crítica e tudo o que não seja bajulação pessoal. O culto auto-promovido da sua personalidade roça frequentemente o indecoroso. O que caracteriza Berlusconi é exactamente não ser do sistema e ser contra o sistema. Foi assim desde o início e será assim até ao seu fim político – que aliás se espera rápido e higiénico. Por isso, meu caro JPP (perdoe-me a intimidade!), subscrevo inteiramente as palavras do Ivan, inclusivé quanto à “relação ambivalente”. Pode estar descansado quando for para defender a sua liberdade, apesar de naturalmente tal não ser necessário, e falo por todos os relativos, cá estaremos na linha da frente. Nas questões essenciais não temos dúvidas de que lado estamos. Já do senhor Berlusconi, estou certo, pela experiência pessoal de aturá-lo em todo o lado e a todas as horas durante uns anos, não espere grande coisa. PAS
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