<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
sexta-feira, outubro 31
 
Começar pelo fim: O Ivan fez-me reencontrar um texto autobiográfico da Susan Strange - I never meant to be an academic - de que gosto muito e de que havia perdido o rasto. Como ele contou, era para ter saído numa revista que nunca o foi. Reli-o agora e encontrei nele o mesmo conforto para as angústias de um académico céptico, agora em suspensão compensada por um mini part-time. A propósito das coisas profundamente erradas que nos ocorrem na vida, aqui fica o fim do texto, como estímulo para uma leitura por inteiro. "Looking back I am not sorry now, that instead of two years, I have spent nearly forty teaching--and learning--about international relations. Next to having a large family, having students to teach at all levels is a great way to stay mentally alert and alive. I am doubly lucky to have had both--and both have taught me a great deal. In return, I have tried to teach both students and children not to expect justice in life--but to try hard to get it; to work hard--but to question authority, whether political or academic; to distrust ideologies--but to respect the evidence; to avoid following the crowd--but to trust your own judgement and to stand up for your own ideas. The freedom to do so is one of which, in free countries, the universities should be the most jealous guardians. That and not the service of the state is the true justification for their existence." PAS
quinta-feira, outubro 30
 
Ocorreu-me que há qualquer coisa de profundamente errado na minha vida quando peguei no próximo artigo que devo ler para a tese e olhei melhor para o título: «A strong distinction between humans and non-humans is no longer required for research purposes: a debate between Bruno Latour and Steve Fuller» (History of the Human Sciences, vol. 16, nº 2, 2003, pp. 77-99). RB
 
Autonomia e heteronomia O panorama do país é seguramente desolador e deprimente. Mas desolador porquê? Porque parecem ter rachas algumas das traves mestras que sustentam esta sociedade democrática? Porque muitos jornalistas abdicaram do seu papel nobre de intermediação e investigação e assumiram em exclusivo o de correia de transmissão? Porque uma apatia generalizada se instalou na mente - e um torpor na mão - de quem segura o comando da televisão?

Gostava aqui de relembrar um ponto que remete para a teoria moral kantiana e, por isso, respeita à acção moral de cada um de nós na vida de todos os dias. Refiro-me à distinção entre autonomia e heteronomia. A ideia de autonomia é a de que quando o indivíduo age como agente moral (não confundir com «moralista», claro está), o indivíduo atribui-se o seu próprio rumo, dirige-se a si próprio. O indivíduo moral resiste às paixões naturais e ao instinto animal; sobretudo, ele não vai na carneirada. No sentido kantiano de autonomia, o indivíduo resiste às noções dadas por adquiridas, às formas convencionais de entender a realidade, a tomar as coisas pelo seu valor facial. Esta noção tem sido muito importante, nomeadamente, na organização da produção de conhecimento científico nas sociedades ocidentais. Mas não só: ela sugere-nos que um envolvimento crítico com o mundo que nos rodeia implica para o sujeito actos de resistência. Neste momento, em Portugal, parece-me crucial que cada um exercite essa autonomia vital, que cada um não abdique desse espaço de liberdade e que cada um resista ao que tiver de ser resistido. É isso, então: é desolador em Portugal o predomínio da heteronomia sobre a autonomia.
RB
 
Analista e Político: Como analista, Marcelo é mesmo um autêntico astropolitólogo. Qualquer comentário começa, invariavelmente, com o «Como eu aqui previ na semana passada...». «Às vezes encontro as pessoas a dizerem aquilo que eu disse uns meses antes convencidas de que é a primeira vez que está a ser dito. Eu calo-me, como se estivesse a ouvir pela primeira vez», confessou no último DNA. Foi precisamente o que aconteceu a propósito da morte de Barrilaro Ruas. Só meses depois é que a comunicação social divulgou aquilo que Marcelo previra meses antes.
Na TVI, diz Marcelo, «sou o primo afastado que vem tomar café à mesma hora, todos os domingos (...) Como político era diferente». Como político era a ovelha negra da família: «o meu estilo não engrenou». É certo que, com ele, Cristo desceu à terra, mas Guterres «ainda não tinha passado a diabo». De resto, foi sempre um homem de convicções profundas. Questionado sobre a regionalização, diz que «em política mais importante que o conteúdo é o momento.»
Para mim, o seu grande problema enquanto político foi nunca ter revelado as capacidades de previsão que manifestamente tem enquanto analista. «Fui para a liderança do partido por um somatório de circunstâncias, todas elas imprevisíveis», confessa. Marcelo político achava «imprevisível» (sic) que Nogueira (homem do aparelho) ganhasse o congresso a Barroso (sulista, elitista e liberal, q.b.); que Nogueira e Cavaco perdessem as eleições (apesar do que diziam todas as sondagens da época); e que Nogueira se demitisse (embora Cavaco lhe tenha tirado o tapete à frente de toda a gente). FN

quarta-feira, outubro 29
 
Novos Métodos Pedagógicos: Para Marcelo (no último DNA), «Ser professor significa não envelhecer (...). Ser professor é ter de mudar métodos, ter de mudar formas de aproximação dos problemas....» Uma das formas que encontrou para aproximar os alunos dos problemas foi levá-los ao Open do Estoril no âmbito da cadeira de Direito Administrativo. Num tribunal administrativo «tal como no ténis, há dois jogadores de um lado e do outro da rede. E há um árbitro que neste caso é o juiz.» Mas atenção: «Fiz isso, na altura, na Universidade Católica, não na do Estado. Na do Estado seria muito heterodoxo». Marcelo é fértil neste tipo de distinções formais. Em todo o caso, acho vou seguir o conselho do Professor: quando der a cadeira de Sistemas Eleitorais na Universidade do Estado, terei sentido de Estado; mas quando der a mesma cadeira numa privada levo os alunos ao Lux para dançarmos aquela música dos Abba sobre os sistemas maioritários: «The winner takes it all...»

Igualmente inovadora foi a forma que encontrou para dar a cadeira de Ciência Política. Como se tem visto, o Presidente da República tem imensos poderes no sistema político português. Assim sendo, «Era habitual ir a Belém ver como o Presidente funciona...». Para os alunos, deve ter sido estimulante ver «como o presidente funciona»: de manhã, ao pequeno almoço, com o Procurador; ao fim da manhã, na solidão política da casa de banho; à tarde, a cantar «as Janeiras»; à noite, nas recepções ao corpo diplomático. No fundo, o semipresidencialismo em movimento. FN

terça-feira, outubro 28
 
Uma Educação Política: A entrevista ao DNA traz novos pormenores sobre a infância e a juventude de Marcelo. O professor considera-se uma pessoa com "sorte": em casa, "a política era falada ao pequeno-almoço, ao almoço e ao jantar". Em suma, o sonho de qualquer criança. O pai, membro de governos do "Estado Novo", "era de direita direita". Já conhecíamos a direita democrática e a direita autoritária: temos agora o conceito de "direita direita". Já a mãe "era de esquerda, assistente social". Como se sabe, a assistência social é uma profissão vedada a gente de direita.
Por tudo isto, não é de espantar que aos dez anos já tivesse uma secretária e um tesoureiro na Casa de São Roque do Lar da Criança, a primeira instituição que dirigiu. O tesoureiro era o seu grande amigo de infância, Eduardo Barroso. Mais tarde, já nos tempos de liceu e da universidade, António Guterres tornou-se a principal vítima da sua amizade. Ficou célebre aquela história de Marcelo andar a tocar à campainha da casa dos pais de Guterres de madrugada. Marcelo justifica-se: "Às vezes, para o apanhar a horas matutinas - ele era um bocadinho preguiçoso, dormia até tarde - não era fácil". Aparentemente, Marcelo só dorme quatro horas: portanto, para ele, quem esteja a dormir às cinco da manhã só pode ser um preguiçoso. E assim, "a horas matutinas", acabou involuntariamente uma bela amizade. FN

 
Somos todos LGBT: lê-se no acórdão do supremo em resposta a um recurso da defesa de Michael Burridge, condenado por actos homossexuais com adolescentes, que estes têm superior gravidade face aos mesmos actos com adolescentes do sexo oposto por serem: "substancialmente mais traumatizantes, por representarem um uso anormal do sexo, condutas altamente desviantes, contrárias à ordem natural das coisas, comprometendo ou podendo comprometer a formação da personalidade e o equilíbrio mental, intelectual e social futuro da vítima." Leram bem? Uso anormal do sexo, condutas altamente desviantes, contrárias à ordem natural. Num Estado Direito, no século XXI, há um juiz que pensa e escreve estas alarvidades. Eu quero confiar na justiça portuguesa; eu acordo todos os dias a prometer a mim mesmo confiar na justiça portuguesa. Mas há que convir que é difícil. PAS
 
POLÍTICA DO ESPÍRITO
Aos que nascem hoje, e aos que vão ser pais hoje.
Aos que viajam amanhã, e aos que viajarão para a semana.
Uma resposta possível. E se, depois de tudo, a vida nos amargar
poderemos sempre
relê-la e pensar
que tem imensa pinta.


«- Look here, Cranly, he said. You have asked me what I would do and what I would not do. I will tell you what I will do and what I will not do. I will not serve that in which I no longer believe, whether it call itself my home, my fatherland, or my church: and I will try to express myself in some mode of life or art as freely as I can as wholly as I can, using for my defence the only arms I allow myself to use – silcence, exile, and cunning.
[…]
- Yes, my child, Cranly said, still gaily.
- You made me confess the fears that I have. But I will tell you also what I do not fear. I do not fear to be alone or to be spurned for another or to leave whatever I have to leave. And I am not afraid to make a mistake, even a great mistake, a lifelong mistake, and perhaps as eternity too».

James Joyce, A Portrait of the Artist as a Young Man

RB
segunda-feira, outubro 27
 
Um discurso trágico: espanta-me o silêncio dos benfiquistas optimistas. Mas há que dizê-lo. O Dr. Vilarinho não merece ter sido Presidente do Glorioso, do mesmo modo que os diversos presidentes que o antecederam não o mereceram e qualquer um dos três que lhe sucederá ainda menos. Esqueçamos a forma e o tom incerto do seu discurso de Sábado. Notemos no que fica do conteúdo. Num dia de festa, em que voltamos a ter casa, eis o que ocorre a um Presidente, que por sinal até está de saída: agradecer uns quantos favores a uns construtores civis; acariciar um Presidente de Câmara, que até foi Presidente doutro clube, porque facultou nem se percebe bem o quê; insurgir-se contra os presidentes dos rivais que não apareceram e, como se não bastasse, elogiar o mesmo Primeiro-Ministro que, numa atitude trágica, os órgãos sociais, contrariando o velho princípio de autonomia face à política, apoiaram nas últimas eleições. A vaia ao dr. Durão começou a formar-se num momento. O momento em que o inefável Vilarinho o citou. Depois aconteceu o inevitável. E o inevitável é resultado de uma coisa simples: os benfiquistas decentes não querem a politização do futebol, nem a futebolização da política. Mas, acima de tudo, os benfiquistas sabem que Ricardo Reis tinha razão quando escreveu que "em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive". O trágico é que o Benfica é grande demais para o tempo que tem andado a viver em Lilliput. PAS (16.299)
 
Mais um caso de friendly fire, caro Filipe.
RB
domingo, outubro 26
 
Marcelo no DNA: A entrevista concedida a Carlos Vaz Marques traz-nos novas revelações sobre a vida e a obra do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Se compraram o DN de ontem, deitem fora o jornal e guardem o DNA. Se não compraram, não se preocupem: durante toda a próxima semana, publicarei aqui uma espécie de "Critical Reader" sobre o Professor mais famoso de Portugal. Aqui fica uma pequena amostra do que eu li:
«Eu, apesar de tudo, tenho uma vantagem em relação ao Pacheco Pereira: como não ando a navegar na internet toda a noite, isso permite-me ler um bocadinho mais do que quem anda a navegar na internet.» Imbatível. FN

 
Não te salves

Não fiques imóvel
À beira do caminho
Não congeles o júbilo
Não ames com desprendimento
Não te salves nem agora
Nem nunca
Não te salves

Não te enchas de calma
Não reserves do mundo
Apenas um canto tranquilo
Não deixes cair as pálpebras
pesadas como julgamentos
não fiques sem lábios
não adormeças sem sono
não te penses sem sangue
não te julgues sem tempo

Mas se
Ainda assim
Não o puderes evitar
E congelas o júbilo
E amas com desprendimento
E te salvas agora
E te enches de calma
E reservas do mundo
Apenas um canto tranquilo
E deixas cair as pálpebras
Pesadas como julgamentos
E ficas sem lábios
E adormeces sem sono
E te pensas sem sangue
E te julgas sem tempo
E ficas imóvel
À beira do caminho
E te salvas
Então
Não fiques comigo.

Mario Benedetti

PAS
sábado, outubro 25
 
Povo Livre: Gosto do jornalismo politicamente comprometido. Faz falta em Portugal. O Diário de Notícias acaba de dar um importante passo nesse sentido. Segundo o Público de hoje, Fernando Lima, assessor de Cavaco durante anos e «até há três semanas assessor de imprensa do Ministro Martins da Cruz, vai ser director-executivo do Diário de Notícias, substituindo Mário Betencourt Resendes (...) De acordo com a Lusa, Francisco Azevedo e Silva deixará o cargo de subdirector, mantendo-se António Ribeiro Ferreira como director-adjunto», seguramente em representação da democracia cristã. Ribeiro Ferreira será assim uma espécie de Ministro de Estado e da Defesa de Fernando Lima. Faço apenas uma sugestão: para que a clarificação seja total, mudem o nome Diário «de Notícias» para Diário da República ou mesmo para Povo Livre. FN
 
Fragments of a rainy season (revisited): uma sala a 2/3, uma chuva incessante lá fora, um baixo, uma guitarra, um baterista acompanhado de maquinaria e John Cale a mudar de instrumento a cada música. O início começou pelo princípio. Venus in Furs cantado de violino ao ombro, com a mesma quadratura repetida há mais de 30 anos. Depois, a quase totalidade do novo e muito bom HoboSapiens. Pelo meio, a contaminação pelos riffs de guitarra do ex-companheiro Lou Reed e o essencial: o cantar sôfrego e único, sempre à frente e a fugir de qualquer coisa – Paris 1919, Chinese Envoy, Ship of Fools. Apesar da banda - que é nova - por vezes não ter ainda encontrado o equilíbrio certo, a verdade é que tem um som que parece ter reinventado o registo idiossincrático de Cale (apesar do excesso de querer comparar o álbum novo com a perturbação criativa do disco perfeito que é Music for a New Society). Mas, o melhor estava no fim. No encore, mais uma prova de que só há uma música de L. Cohen cantada melhor por outro que não o próprio. Hallellujah por John Cale. Em pé, ao teclado e de frente para o público. A terminar, (I Keep a) Close Watch, uma das melhores canções para o amor amargurado, entre a grandiloquência do original e o despojamento absoluto da versão de “Fragments”. Com mais de sessenta anos, John Cale continua a gritar “life and death are just things we do when we’re bored. Say fear (is a man’s best friend)”. A inquietude contra o aborrecimento. PAS
sexta-feira, outubro 24
 
All farewell's should be sudden: eu sei que devíamos todos ser capazes de viver como nos filmes e de fazer as coisas como elas nunca são feitas na vida. As despedidas deveriam ter sempre as palavras certas e os ténues acenos que, se nada mais, servem para diminuir as distâncias que ficam. Eu, uma vez, vi um blog pelo qual me deixei levar e sinto-me agora abandonado por um conjunto de "canalhas". Abandonado pelo meu blog preferido, que de repente descobri e com o mesmo espanto vejo agora desaparecer, como se a duração fosse uma insignificância. De repente e agora. Velhas manias, que são sempre as grandes coisas. Inteiras. As mesas, mas com as cadeiras às voltas. Mas, entre as despedidas, custa-me ainda mais ter de enfrentar o Moretti, de camisa aos quadrados e de braço em cima da cabeça, a olhar para mim. Sublime. PAS
 
A propósito da noite de hoje, da de ontem e de todas as outras:

Dying on the vine

I’ve been chasing ghosts and I don’t like it
I wish someone would show me where to draw the line
I’d lay down my sword if you would take it
And tell everyone back home I’m doing fine
(…)
Who could sleep thru all that noisy chatter
The troops the celebrations in the sun
The authorities say my papers are all in order
And if I wasn't such a coward I would run

Meet me when all the shooting’s over
Meet me on the other side of town
Yes you can bring all your friends along for protection
It’s always nice to have them hanging around

John Cale

Hoje e amanhã, todos à Aula Magna!

PAS
 
Este Nelson Rodrigues andou a ler o abrupto:
«Ou o artista é comunista, socialista, esquerdista, inocente útil, ou que outro nome tenha, e terá toda a cobertura promocional. Mas se for um solitário, um independente, um original - não terá uma linha em jornal nenhum. Dirão vocês que a inteligência de esquerda não manda nada. De acordo. Não tem poder, mas o exerce. As redações estão infiltradas. E assim as rádios. E assim a televisão.»
(2/7/1969) FN
quinta-feira, outubro 23
 
Crossfire É impressão minha ou Durão Barroso prometeu há uns dias que a há muito (mesmo antes das eleições) anunciada descida do IRS teria lugar, finalmente, em 2006? É certo que seria sempre quatro anos depois do prometido mas, que feliz coincidência!, pelo menos era mesmo a tempo das eleições...seguintes.

É que entretanto Manuela Ferreira Leite, a mesma ministra das finanças que valida sem pestanejar uma descida do irc um pouco mais apressada e em pleno tempo de vacas escanzeladas, desautoriza agora publicamente o primeiro ministro e recusa comprometer-se com qualquer descida do irs para depois da miragem do 2,94. Citada pelo insuspeito dn, a sra. ministra terá dito na assembleia da república "não estar interessada" (sic) em falar do assunto, por "ter dificuldades em avançar com um timing" (sic) e, na verdade, tudo "depender muito do que se vier a passar com os parceiros europeus" (sic). Ao que parece, e retomando um post que recentemente escrevi, só alguns impostos e algumas pessoas é que não são atingidas por estes condicionalismos tão desagradáveis e imponderáveis.

Mas agora o picante é outro: já não bastava a manifesta ausência de um discurso estratégico ou pelo menos coerente acerca destas questões, como de muitas outras, desde o prometido "choque fiscal" (lembram-se?), como agora temos as duas figuras máximas do Governo, uma delas directamente responsável pela política fiscal, a contradizer-se sobre uma questão tão sensível e estruturante. Como se nada fosse, e tudo num espaço de poucos dias.

Era bom que, pelo menos, o dr. Durão Barroso clarificasse qual é, exactamente, o estatuto de mais uma das suas já famosas promessas. Nas quais, pelos vistos, já nem o governo, que supostamente dirige, acredita. MC

 
Foram cardos foram portas

Há pus qu’arde em lume aceso
Sem lho tirar nem por
Tem na boca um cabo preso
Conectado à voz do Senhor

Notícias, é aos pontapés
Os mirones suam do esforço
A justiça é uma grande maré
Que submerge o nosso amado corpo

O share sempre a subir
Para cima de ti
Só p’ra te mentir
Será na TVI
Que um corpo só
Exalta o seu fim

Não foram os cheques nem mec’s
Em que encontraste consolo
Perdeste-te nas deslizantes portas
Entreabertas pelo dolo

O tempo que ainda perdes
A apimentar cherne no forno
Prova-o agora, se puderes
O sabor do teu amável dono

O share sempre a subir
P’ra cima de ti
Só p’ra te mentir
Será na TVI
Que o nosso corpo exangue
Exala o seu fim.

RB
 
As más notícias não esperam pela hora de almoço: soube agora que morreu Elliot Smith. PAS
P.S.
obrigatório ler este requiem por Elliot Smith
quarta-feira, outubro 22
 
Have you ever been cheated?É esta a pergunta que perpassa pelo livro de Greil Marcus, Lipstick Traces - A secret history of the twentieth century (de que julgo existir tradução portuguesa, na Antígona?). Entre as afinidades entre o Dada, o Cabaret Voltaire, a Internacional Situacionista, o jovem Marx, Saint-Just e vários heréticos medievais, que trazem a história da contra cultura até ao século XX, está sempre presente a experiência quase última, e único verdadeiro momento de massas da contra cultura, que foram os Sex Pistols. Tudo compreendido naquela duplicidade que caracterizava tudo o que Johnny Rotten (depois Lydon) cantava e dizia e na raiva irrepetível com que soavam absolutamente banais. Ainda hoje, quando ouço os Sex Pistols nunca sei exactamente quem é que está a enganar quem. Alguém perceberá alguma coisa dos Sex Pistols quando lê a letra do Anarchy in the UK tal como ela é:

Is this the MPLA
or is this the UDA
or is this the IRA
I thought it was the UK
or just another country
another council tenancy


Ninguém, porque as coisas percebem-se apenas e só como elas são de facto:

Is this the em pee el ay
Or is this the yew dee ay
I thought it was the yew kay
Or just
Anotheeer
Countrrry
Another council tenancy!!


Desde então, em tudo que vi e ouvi poucas coisas soaram ao mesmo tempo tão autênticas e tão inautênticas. Another council tenancy? PAS
 
A cadeado Ontem o iscte tinha um estranho ar de agosto tardio. Átrios desertos, luzes apagadas, um cheiro persistente a detergente pelos corredores vazios. Só faltavam mesmo as cadeiras empilhadas dentro das salas e a luz quente do Verão para completar o quadro.

Os estudantes mantiveram todo o dia as portas fechadas a cadeado, impedindo as entradas, como aconteceu aliás em muitas outras universidades. A greve "conseguiu", por isso, uma “estrondosa adesão" de quase 100%, paralisando por completo as aulas e os serviços. Na verdade, é preciso dizer que em muitas faculdades o cadeado funcionou mais como performance (convincente), porque numa nota de civilidade só possível porque os estudantes não estão isolados, houve sempre portas (entre)abertas para manter uma espécie de “serviços mínimos” - mesmo que em versão muito minimalista.

Ainda assim, devo dizer que não simpatizo muito com este tipo de actuação, apesar de concordar genericamente com o protesto que está em causa. Tal como também sou contra greves noutros contextos que impedem, pura e simplesmente, a entrada nas instalações de empresas de quem o quer fazer e contra todas as formas de lock out dos patrões. Até porque ficamos sempre com uma sensação estranha de que, de facto, não se sabe muito bem qual o significado real de tudo isto em termos de adesão das pessoas - sendo seguro que é suficiente para que seja possível manter o bloqueio, o que já diz muito. Questões de método (e de eficácia, concedo) à parte, uma coisa é no entanto certa: um mal-estar crescente e cada vez mais enraízado que tal como a ignorância, e tirando a gestão cortista dos números, não aproveitará a ninguém. MC

 
Benedetti Nos últimos dias, descobri o poeta uruguaio Mario Benedetti. Cedo ou tarde – resmungarão –, foi o momento certo para mim. Comecei a lê-lo na tradução italiana do Francesco, meu amigo e do Pedro, no Domingo cinzento passado. Numa casa que não é a minha, afundado numa poltrona torta que não é minha, só, os poemas de Benedetti começaram a falar-me ao ouvido coisas da minha vida, como se ele a conhecesse por dentro. Quando o poeta esteve exilado da sua ditadura natal, escreveu alguns poemas que porventura seriam bem adequados ao lúgubre Portugal de hoje, desde logo o No te salves. Mas não é isso, ou pelo menos não é isso agora. Agora, nós.

CUORE CORAZZA

Perché ti ho e non ti ho
perché ti penso
perché la notte ha gli occhi aperti
perché la notte passa e dico amore
perché sei venuta a racogliere la tua immagine
e sei migliore di tutte le tue immagini
perché sei bella dal piede all’anima
perché sei buona dall’anima a me
perché ti nascondi dolce nell’orgoglio
piccola e dolce
cuore corazza

perché sei mia
perché non sei mia
perché ti guardo e muoio
e peggio ancora muoio
se non ti guardo amore
se non ti guardo

perché esisti sempre in ogni dove
ma meglio esisti dove t’amo
perché la tua boca è sangue
e hai freddo
devo amarti amore
devo amarti
benché questa ferita dolga perdue
benché ti cherchi e non ti trovi
e benché
la notte passi ed io t’abbia
e non t’abbia.

Mario Benedetti, Noción de Patria

RB
 
Pedagogia da libertação Nas últimas semanas tenho tido pouco tempo para o blogue. Por isso, fui deixando de parte algumas notícias para mais tarde postar. Uma delas dizia-me que o manual do 10º ano de Língua Portuguesa propõe aos alunos que «em diálogo com os colegas da turma, refiram o que já conhecem sobre o Big-Brother». Como se isto não bastasse, os jovens ainda são convidados a «assinalar quem é que, na telenovela Marisol, Rodrigo agride violentamente, deixando-o cego: Rosana, Mário ou Leonardo?». É um facto. Parece que estou a ver a cena. Um jovem, contra a vontade da família, quer continuar os seus estudos. O pai lê na Bola o Luís Filipe Vieira a dizer «Presidente não precisa de ser Doutor». A mãe lê no Correio da Manhã os conteúdos dos manuais escolares. A resposta dos encarregados de educação só pode ser uma: «filho, ouve o Paulinho das Feiras, tens braços e pernas para trabalhar; amanhã vais mas é para a fábrica de pneus. Do Big Brother e da Marisol percebemos nós muito mais que esses doutores». FN
terça-feira, outubro 21
 
vale a pena ler: todos aqueles que não querem ver, leiam este artigo de Clara Ferreira Alves e já agora este post do daniel. PAS
segunda-feira, outubro 20
 
Uma linda frase num horizonte 2,94 Título da entrevista dada ao Público por Manuela Ferreira Leite, ministra das finanças e principal rosto da política "cortista" do governo, diz ao público: "Quando estamos a tratar das empresas, estamos a pensar nas pessoas". Um título bonito, em que os jornalistas se substituem aos marketeiros do psd que, apesar do assinalável sucesso noutras frentes, por esta ministra pouco têm conseguido fazer.

Mesmo assim, esta retórica presta-se uma interpretação perigosa: das empresas "tratamos", muito pragmaticamente, nas pessoas "pensamos", muito platonicamente. Não está mal. Mas deixemos em paz a sra. ministra e o sr. jornalista, que a intenção era seguramente outra.

Lendo esta frase, assim, descuidadamente e fora do seu contexto, dir-se-ia que tínhamos voltado a 1995, quando Guterres anunciou ao país o seu binómio "razão e coração". Claro que, neste caso, seria sempre um "sem razão, com coração", dada a manifesta e assumida estupidez de algumas das medidas mais emblemáticas da política económica e financeira do Governo, e na verdade nem isso, visto dar-se o infeliz facto de sabermos que esta frase não é senão um sopro de boas intenções sem qualquer fundo ou tradução prática. Talvez porque muito pouco parece ter tradução prática para além do horizonte 2,94 - tirando o evidente benefício às empresas.

E, mesmo que fosse razoável dar o benefício da dúvida à sra. ministra, sobraria sempre uma pergunta. A pensar nas pessoas, com certeza; mas, não sendo estas uma entidade abstracta e uniforme, muito menos quando estão em causa opções políticas e distribuição de recursos escassos, exactamente em quais pessoas estará a sra. ministra a pensar? MC
 
Os posts que subscrevo: acima de tudo o do meu amigo RB, que transcreve o Benedetti, na tradução italiana do nosso amigo comum Francesco. Mas, como, para além disso, há a vida lamacenta que nos rodeia, recomendo àqueles que têm os olhares míopes dos espíritos pequenos e que vêem a vida apenas através dos opinadores e do que se diz e escreve, este post, e ainda este, mas acima de tudo este, que resume, de forma ironicamente certeira, o ridículo trágico para que caminha o país. Começa a ser pouco falar de estertor do sistema democrático.
PAS
PS
Como isto pode ser interpretado como algum tipo de favorecimento pessoal, acrescento que não conheço o autor do primeiro post, que é responsável por um blog de que sinceramente gosto -, o segundo é meu amigo e falo com ele bastante e também ao telefone e, ao contrário da mente delirante que comenta aos Domingos nos telejornais da TVI, não usamos termos como borrifar, mas sim vernáculo do mais variado estilo (o que aliás me parece um tema adequado para o meu pipi se pronunciar) e o terceiro dá-se o caso de ser meu primo, ainda que na última semana não nos tenhamos visto ou falado ao telefone.

domingo, outubro 19
 
VICEVERSA

Ho paura di vederti
bisogno di vederti
speranza di vederti
malessere di vederti

ho voglia di trovarti
preoccupazione di trovarti
certezza di trovarti
poveri dubbi di trovarti

ho urgenza d'ascoltarti
allegria d'ascoltarti
fortuna d'ascoltarti
e timore d'ascoltarti

ossia
riassumendo
sono fottuto
e radiante
chissa' piu la prima cosa
che la seconda
e anche
viceversa.

Mario Benedetti, Poemas de Otros

RB

sábado, outubro 18
 
Haja respeito, porra! O Pedro Lomba voltou ao seu melhor. Foi graças a ele que encontrei um artigo fantástico do Baptista Bastos. Nesse artigo, BB dissertava sobre um tema excitante: as eleições presidenciais. Diz BB que «Só há um candidato capaz de reunir a esquerda: Vasco Vieira de Almeida.» Parece que é «uma pessoa culta, lida e informada». Além disso, coisa rara, «teve um comportamento exemplar em governos saídos do 25 de Abril». Eu e 99% dos portugueses estamos cheios de vontade de votar em alguém assim. O único problema que eu vejo é que se nos cruzarmos com ele na rua não o sabemos identificar. FN

 
Ainda a propósito da raiva: O Ivan lembrou a raiva e o Lou Reed do "there is no time". A propósito, ontem, quando assistia ao estertor democrático em curso em Portugal, veio-me à memória o parceiro John Cale, a cantar, com uma raiva incontida, o "do not go gentle into that good night", do Dylan Thomas: rage, rage against the dying of the light.

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.


PAS
sexta-feira, outubro 17
 
O Haiti é aqui: Há três dias que Hugo Marçal está a ser ouvido por um Juiz de Instrução. Há três dias. PAS
 
Uma das letras que faltava ao nosso alfabeto Já por aqui se escreveu sobre os ventos, ciclónicos, de mudança que há uns anos o Independente trouxe aos jornais e, de modo mais genérico, ao espaço mediático português, até então muito fechado num cinzentismo institucional que nunca mais foi o mesmo (ainda que haja espessos sacos de plástico que resistam ainda e sempre ao invasor). Foi um momento de viragem, e essa viragem foi também, se não mesmo sobretudo, estética. A kapa, uma revista lendária, foi talvez o expoente dessa pequena revolução, que ficará para sempre associada à figura do MEC e das equipas de quem se soube rodear. escusado será dizer que a kapa me marcou profundamente, ou não estivesse eu em plena teenage. Mas marcou muito mais gente que não estava e marcou muito mais do que uma época: no estilo, no grafismo, na postura provocatória, no desalinhamento desconcertante, e na qualidade que conseguiu pôr sempre em fasquias altas, número após número. Não sei se as descendências, e influências, por aí espalhadas por vezes em sítios e formatos bem insuspeitos, alguma vez conseguiram superar o trabalho iniciático dos mestres.

Sendo destas dúvidas que se sabe o que fica para a história, é óptimo descobrir que agora a memória (e o culto) está mais acessível, sobretudo para quem não o viveu na altura e não tem lá por casa pelo menos uns exemplares desse monstro: soube por outros blogs, mais informados do que eu, que há por aí um blog que recupera textos do espólio valioso da kapa. só não vem com a qualidade gráfica que era uma parte importante daquele universo. É pena que não se possa (re)ver e (re)tocar. Mas não se pode ter tudo. Agora ler já se pode. MC
 
Apesar do silêncio: Quem esteve preso e é ainda arguido é o Paulo Pedroso, não o Paulo José Fernandes Pedroso, meu amigo e professor de sociologia no ISCTE. Eu percebo que não se perceba esta diferença, mas não a percebendo não se consegue perceber tudo o resto. PAS
quinta-feira, outubro 16
 
Foi estranho. Começou a ser estranho quando não consegui convencer ninguém a ir comigo ver o concerto. Fui eu e dois amigos, e isto depois de várias insistências. Eu estava entusiasmado como poucas vezes. Começam a tocar... Mas, em lugar do esplendor morno do reconhecimento, em vez da certeza serena da familiaridade – em vez disso tudo, começaram as dúvidas. Atacam um super clássico, o shine on you crazy diamond, que eu, a priori, esperaria ter reconhecido ao fim de poucos acordes. Mas não. Um amigo disse logo qual era. E eu encolhi os ombros, desorientado e ligeiramente irritado por não ter sabido logo, como ele. E a coisa repetiu-se: quando iniciavam uma música, soava muito familiar, muito mesmo, mas não sabia de imediato qual era. Enfim, um após outro, vieram os clássicos todos dos quais sabia bem as letras, o have a cigar, o dark side of the moon, o hey you, o time, o money e por aí fora. Ao longo da noite, apercebi-me que esta música é estranhamente masculina – e reparei nisto quando quase todas as raparigas no bar, italianas ou não, começaram a debandar para o ar fresco da rua. Se calhar, só um rapaz pode ter ficado preocupado como o ter tido uma strange fever e as mãos parecerem two baloons quando era puto (como no comfortably numb) e sentir-se clinicamente diferente dos outros meninos que jogam à bola impunemente no meio do pó da rua do subúrbio perigoso ai ai. Eu usava talas nos joelhos, óculos e botas ortopédicas. Andava com uma pala no olho numa semana; na outra, a pala mudava de olho. Mas já não ando. Esta ideia apressou-me a saída e pouco mais fiquei. Também eu ansiava pelo ar fresco da noite. RB
 
Meio a sério, meio a brincar. Um pouco por toda a cidade, sou surpreendido por dezenas de outdoors de Luís Filipe Vieira e por carros de campanha que circulam pelas ruas de Lisboa. Já sabemos que os benfiquistas são seis milhões (a crescer, desde que o João Pinto foi em boa hora ser incansável-desiquilibrador-artista para outro lado). Mas os sócios, parece, são menos. Os que pagam quotas, creio, são ainda menos. E, no fim de contas, os votantes de facto, aqueles que vão lá na hora de pôr o papelinho na urna, serão, com toda a certeza e já com muita boa vontade, menos de 1% (?) da grande família. Sabendo-se que ainda falta a resposta dos adversários do sr.vieira (um conhecido notável do clube e um menos conhecido mas mais notável ainda), os debates, a cobertura noticiosa que se tenderá a intensificar, as promessas, e um infindável etc, pergunto-me que racionalidade haverá nisto tudo e se este estranho circo que mais uma vez vai ser montado em torno das eleições para um clube de futebol (o meu, por sinal) faz algum sentido.

Entretanto, o Benfica conseguiu ontem à noite no seu estádio uma exibição grandiosa, premiada por um excelente resultado de 1-0, arrancado a ferros, perante um adversário de elevado quilate. Mais uma "grande noite europeia" para contar aos netos. Provou-se que Camacho tem nas mãos uma grande equipa, pronta a bater-se de igual para igual com qualquer adversário, o que nos enche a todos de orgulho e confiança. Internamente, o campeonato deixa, assim, de ser uma miragem. Mas, para já, depois deste feito memorável (a eliminação do la louviére) temos de ter ambição máxima: tendo sido repescado para 23º cabeça de série da próxima eliminatória há todas as hipóteses de jogar taco a taco com o novo adversário, desta vez de ainda mais elevado coeficiente de dificuldade. E, quem sabe mesmo passar a 2ª eliminatória (êxtase!). Haverá limites para o sonho? Este ano é que é. MC
 
O cão de pavlov ou a política de algibeira Há uns tempos, escrevi aqui um post acerca do estado de absoluto abandono e desprezo a que está votado o ensino superior público em Portugal, conduzido à penúria galopante que hoje é a triste realidade de muitos dos mais importantes centros de formação qualificada e de excelência que temos. E interrogava-me sobre as razões de tanto e tão generalizado silêncio em torno deste colossal erro estratégico – aliás reiterado no orçamento do próximo ano. Um silêncio ensurdecido e partilhado: dos estudantes, dos reitores, dos sindicatos, dos opinion makers.

Passados poucos meses, o cenário mudou – mas pouco. Os reitores continuam caladinhos. Os sindicatos também, ou quase. Os colunistas da praça, já se sabe, têm mais, muito mais, e muito mais nobres assuntos em que pensar. Só a voz avisada de António Barreto se fez ouvir, no contexto do debate sobre a produtividade e da sua relação com a educação: mais dinheiro para a educação não, porque se é para subsidiar a inércia e a preguiça não vale a pena. Ouçam-no, porque ele sabe do que fala, embora não faça sentido colocar a questão assim. Nos jornais, pessoas como a Maria de Lurdes Rodrigues ou o André Freire têm desmontado ponto por ponto a perigosa retórica que informa esta política "cortista". São textos importantes, pedradas num pântano de mutismo que pouco se altera.

Só os estudantes, de repente, despertaram de um longo torpor, directamente para uma hiperactividade que aparece perante a opinião pública, justa ou injustamente, como sendo puramente reactiva ao aumento das propinas. Não quer isto dizer que não há outras reivindicações. Nem que algumas delas não venham já do passado. E muito menos que, independentemente de concordarmos ou não com aspectos específicos dos cadernos reivindicativos apresentados, não haja toda a legitimidade em suscitar algumas questões e em manifestar posições de forma veemente. Mas que parece pouco, tardio, e demasiado focalizado, parece. Como se costuma dizer, foram-lhes ao bolso e a malta não gostou. Para movimento estudantil, não chega.

Os próximos tempos vão ser, provavelmente, de agitação e de contestação. Depois, era bom que alguém fosse fazer os trabalhos de casa: fazer do movimento estudantil algo de mais atento, interventivo de forma permanente, construtivo perante a opinião pública e com capacidade de se desligar de uma lógica de reacção presa à conbtestação no curto prazo. Para que daqui por uns anos o filme não se repita.

Claro que, para ser justo, este cenário um pouco desolador está muito longe de se cingir ao movimento estudantil. É isso que é preocupante. MC

 
O carácter: A Glória Fácil, pelas teclas de ASL, reproduz um excerto de um livro escrito por esse personagem inenarrável que dá pelo título/nome de Arquitecto Saraiva. O excerto em causa, escrito naquela prosa inconfundível do Arquitecto, é, ainda assim, mais um elemento para ajudar a compreender esse personagem que é Primeiro-Ministro de Portugal: "O objectivo do almoço é combinar uma colaboração regular no Expresso. Explica que não lhe interessa ter uma coluna semanal, que o obrigaria a falar de temas de actualidade política, a que se quer furtar. Combinamos um artigo mensal na Revista. Insiste em discutir o pagamento. Depois de instado por mim, pede 200 contos por artigo". Repare-se, não lhe interessa uma coluna semanal, que o obrigaria a falar de temas de actualidade política, a que se quer furtar e insiste em discutir o pagamento. Insiste. Insiste em ser sempre igual. PAS
quarta-feira, outubro 15
 
«Several Species of Small Furry Animals Gathered Together in a Cage and Grooving with a Pict» é o nome de uma canção dos Pink Floyd que, com sorte, vou ouvir esta noite quando a melhor banda de covers dos Floyd – os Pillpink – tocar no BeBop, em Florença. Há quem goste e há quem não goste (sobretudo há destes, parece-me). Eu gosto, embora não os ouça desde o Final Cut. Os Floyd foram aquela banda que eu punha a tocar no gira-discos no máximo do volume quando voltava a casa da escola e os meus pais ainda não tinham chegado. Baixava as persianas e deitava-me no chão da sala a ouvir. Isto há uns bons quinze anos, num segundo andar esquerdo na Damaia de Baixo. Lembro-me de sentir a alcatifa a fazer cócegas nas narinas. Não era ainda consciência de classe, mas era quase. Os anos passaram e os Floyd foram desaparecendo das minhas preferências. Também a alcatifa, por felicidade, já não faz cócegas a mais ninguém. O facto de não os ouvir há muitos anos não impede, claro, que saiba ainda as letras todas de cor. Mesmo hoje, quando tenho que lavar muita loiça à mão, ponho-me a cantar, nem sei bem porquê, o «The Gunner's Dream» do Final Cut. Vou lá hoje porque sou fiel àquilo em que já não acredito, sobretudo às obsessões que nos fizeram quem somos mas que entretanto emudeceram. RB
terça-feira, outubro 14
 
Não falar 2, desta vez com um ponto de interrogação Para além de subscrever tudo o Pedro escreve no post acima, a questão do falar ou não falar está, mais do que nunca, na ordem do dia. Depois do fim da prisão preventiva do Paulo Pedroso (que, a ser uma vitória de alguém, é somente uma reposição tardia da justiça e dos direitos, liberdades e garantias básicos dos cidadãos deste país), multiplicaram-se, logo no próprio dia e nos que se seguiram, reacções estranhamente preocupadas e nervosas. Com a suposta “politização” do Processo, com a crescente (?) mediatização de um conjunto de aspectos, com a súbita gravidade de certas atitudes ou declarações.

O bizarro é que a politização, a mediatização e o alarmismo parecem só valer para alguns. Deixando já de lado gente ligada às cores políticas governamentais, há, por exemplo, pessoas que desempenham cargos de grande responsabilidade no sistema de justiça em Portugal que, aparentemente, podem dizer tudo o que lhes apetece, quando lhes apetece. Sem que se responsabilizem por isso, e sem que seja visto como normal que sejam por outros, perante a opinião pública, chamados às suas responsabilidades – que fazem parte do exercício de qualquer cargo público. E, no entanto, em momentos demais, foram produzidas nos media afirmações gravosas, irresponsáveis, precipitadas, várias vezes (como se vê depois) pouco fundamentadas. Em alguns casos, foram inclusivamente produzidos comentários substantivos, avulsos, de índole mais do que interpretativa, sobre decisões de instâncias superiores dos tribunais. Mas atenção, muito selectivamente, só sobre algumas delas. Como se isto fosse aceitável no desempenho de certos cargos, e ainda por cima por parte de quem tanto prega a moderação. Ao que parece, isto é perfeitamente normal. E legítimo.

Pelo contrário, cidadãos não envolvidos no processo, naturalmente preocupados com tudo o que se tem passado, e na plena posse dos seus direitos de intervenção cívica, são duramente criticados por manifestarem as suas emoções em momentos em que era impensável não o fazer, e por fazer perguntas e considerações julgadas incómodas. É impressão minha ou o critério de exigência em matéria de contenção e de responsabilização deveria ser exactamente o contrário? MC

 
não falar: Os dias que passaram desde 21 de Maio deste ano foram os piores que vivi. Do mesmo modo que a quarta-feira passada foi o dia mais feliz dos que me lembro. Aliás, na quarta-feira experimentei também que a felicidade, quando é absoluta, acaba por nos deixar desconfortáveis, sem saber para onde nos devemos virar. Fiquei atordoado e não menos atordoado tenho andado quando vejo criticado o facto de, com outros, ter estado feliz naquele dia e de assim continuar. Há quem prefira os políticos frios, distantes e tacticistas. Azar. Muito poucas vezes escrevi aqui no blog sobre este tema e, ao longo destes meses, poucas vezes falei espontaneamente sobre o facto do meu amigo Paulo estar preso (o Paulo José Fernandes Pedroso, que é o meu amigo). Não falar, porque não falar foi a única forma que encontrei de ir vivendo com o que se estava a passar. Não falar, porque não falar foi a melhor forma de não partilhar o que sempre achei que era difícil de partilhar. Não falar porque o que ouço assenta em presunções que achando inteiramente legítimas, pecam por o que, a meu ver, é uma percepção errada do que se tem passado. Mas, também não falar porque falar significava também tocar no indizível que está para além do que se vai sabendo sobre o envolvimento do Paulo nesta história e que me tem retirado todas as certezas que julgava ter sobre o meu país. Em tudo tive sempre a certeza de que há vítimas suficientes no caso Casa Pia para que necessitemos de somar mais, quando fingimos compensar. Entre tudo isto, o meu amigo Paulo tem-se portado com a dignidade inexcedível dos que andam de cabeça erguida. Também por isso, a entrevista que o Paulo dá hoje à Visão (ou, tendo em conta que o entrevistador tem um nome, porque não dizer a entrevista que o Paulo dá ao Paulo Pena) merece ser lida. É que apesar dos silêncios, as considerações subjectivas que fazemos sobre os nossos amigos, sendo nossas, podem ser partilhadas. PAS
segunda-feira, outubro 13
 
Histórias mínimas Um imenso Alentejo austral, em versão fria, ainda mais desolada e vagamente exótica, quase mágica. A mesma ausência de recursos, a mesma ultra-periferia que nos devolve ao centro de uma beleza despojada. As horas passam numa cadência preguiçosa mas implacável, que nos envelhece por dentro, à beira de estradas longas e poeirentas ou na reclusão eremita de pequenos amontoados de casas dispersas pelo semi-deserto. Velhas estações de comboio, há muito desactivadas e desprovidas de vida, são ocupadas pelos mais pobres dos mais pobres, ou simplesmente pelos que não têm mais para onde ir. A imensidão do espaço afunila a mobilidade e fecha o mundo de cada aldeola ao horizonte sempre igual, a perder de vista. O King passa por estes dias um ciclo de cinema argentino contemporâneo que, a julgar para amostra (rezam as críticas que não representativa) é importante não perder. As "histórias mínimas" de quem vive na Patagónia são um excelente começo. E que outras histórias haveria para contar num universo assim? MC
 
A idade não perdoa: Não, não vou voltar à polémica do dente do siso. Até porque, infelizmente, problemas de saúde não me faltam. Há uns meses decidi comprar casa. Tive que realizar uma série de exames médicos (entre os quais o da sida) numa clínica que o Banco me recomendou. Nunca mais me lembrei do assunto. Passadas umas semanas, acordo com a seguinte mensagem no telemóvel: «Sotor, há um problema com o seu exame, ligue para o Banco logo que possa». Acho que nunca me levantei tão depressa. Afinal, «o problema» era que os exames tinham desaparecido. Apesar de eu ser «doutor», os resultados estavam na gaveta «dos não doutores». Não ganhei para o susto.

Há duas semanas, começo a sentir dores de cebeça, dores musculares, febre, tosse seca, e outras coisas socialmente estigmatizantes. Com o avançar da idade deixei de beneficiar das ADSE, dos SAMS e doutras maravilhas do Estado Providência. Para poupar, decidi fazer o meu próprio diagnóstico na internet. Pensei no pior, e pesquisei «sintomas de pneumonia» no google. Ao ler o primeiro site fiquei na dúvida: a sintomatologia tanto podia significar gripe como bronquite ou até pneumonia atípica. Razão têm aqueles que dizem que «há informação a mais nos dias de hoje». Só descansei quando li o boletim da Câmara de Oeiras para a Terceira Idade. FN


domingo, outubro 12
 
O amor em vez da caridade: um poema de que gosto muito e que é useiro ser lido em casamentos, numa tradução horrível, que troca o amor pela caridade (o que sempre achei que queria dizer bastante sobre a Igreja portuguesa), está nos intrusos, pelas teclas de José Tolentino Mendonça, numa tradução que devia ser a oficial. PAS
 
12 de Outubro: Foi há um ano que Bali ficou com o seu trágico "Ground Zero". O Sari Club, a mais concorrida das discotecas de Kuta, foi alvo de um cobarde acto de terrorismo, levado a cabo por uma célula local da Al-Qaeda, onde morreram mais de duzentas pessoas, entre elas um português. Para os balineses, cuja economia depende quase integralmente do turismo, o atentado representou um rombo enorme, diminuindo muito a procura turística. Mas para os balineses, profundamente religiosos e maioritariamente híndus, num país de maioria muçulmana, o atentado significou também uma violentação da sua liberdade religiosa e um desafio à tolerância religiosa. Mas doze meses depois, os balineses foram reconstruindo as suas vidas, voltando à normalidade – ainda que esta esteja marcada pelo buraco enorme que ficou a meio da Legian Street – e revelando um espírito de tolerância religiosa que dá lições. Como me disse um balinês, com a simpatia e a simplicidade que os caracteriza, "os bombistas eram homens maus, mas homens maus há em todas as religiões. Por isso, nós não perseguimos ninguém e não houve problemas com os muçulmanos que vivem em Bali". Uma lição de tolerância vinda de quem sofreu e sofre muito com o terrorismo é também um sinal de clarividência e sabedoria. Entre nós, poucos dias passam sem que tenhamos de gramar com as sofisticações intelectuais do nosso primeiro, sempre disposto aos mais redutores maniqueísmos sempre que fala do Iraque. Esta semana, mais uma vez o ouvimos derramando os mesmos lugares comuns, num simplismo que é insultuoso para todos aqueles que estando sempre do lado da democracia e contra o terrorismo, denunciam o absurdo do caminho para o qual o Presidente Bush tem empurrado o mundo. De cada vez que ouço o dr. Durão, imitando o senhor Bush, a insinuar que aqueles que não estão a favor da intervenção norte-americana no Iraque é porque não condenavam o regime de Saddam e são condescendentes com Bin Laden, lembro-me ainda mais da tolerância dos balineses e logo me lembro que há marcas de juventude que ficam para sempre. Uma vez maniqueísta, maniqueísta para sempre. PAS
sábado, outubro 11
 
It’s laid out in a line
that curves and breaks with time
and underscores the fragile nation
but I guess it’s right
to love the girls who fight
off our manly acts of desperation


Kurt Wagner (Lambchop), The Daily Growl
PAS
 
The David Lodge Situation Regressei agora de passar três dias num colóquio académico. Quarenta e duas comunicações de quinze minutos cada. Cinquenta e cinco participantes, todos eles académicos incluindo, ao que parece e me foi dado a entender, eu. Horas e horas de sessões que as refeições não chegam plenamente a interromper. Sempre juntos e sempre a falar uns com os outros. Sempre, sempre a falar. E em francês, por uma razão qualquer que não me foi possível apurar. Alvorada pelas sete e meia. Ao pequeno-almoço, troco já ideias sobre um tema pertinente. Às nove, já possuo uma «perspectiva» sobre a questão. Fim do dia doze horas disto depois. Cama cedo. Pois bem, de que é que esta gente toda fala durante os intervalos para café, de bolinho de manteiga numa mão e cigarro na outra? Só se fala de David Lodge e de como tudo aquilo é uma «David Lodge situation».
Comentário: «In Morris Zapp’s view, the root of all critical error was a naive confusion of literature with life. Life was transparent, literature opaque. Life was open, literature a closed system. Life was composed of things, literature of words. Life was what it appeared to be about [...] Literature was never about what it appeared to be about.» (David Lodge, Changing Places). RB
sexta-feira, outubro 10
 
O Pipi tinha razão: Estive ontem na festa do Desejo Casar. A performance dos DJs foi boa, o problema esteve mesmo nos bloggers. Estavam mais interessados em trocar ideias do que em concretizar o desejo de casar. Qual fazes-me um blog, qual quê. Como diria o Pipi: quem muito posta, pouco dança.FN
 
Um governo de recordes: No meio da vergonha da "palavra de honra", a que como de costume se seguiram os elogios à dignidade e com a libertação do Paulo, ficaram escondidos os números do desemprego de Setembro. Há agora 440.670 desempregados, o que é um novo recorde desde que este governo tomou posse. São só mais 19.779 desempregados em relação ao mês anterior e mais 105.856 desde que o pior governo de todos está em funções - o que dá qualquer coisa como 208 desempregados por dia. Tudo isto é absolutamente trágico e o silêncio e a inacção do Primeiro-Ministro começam a ser, como lembram bem os intrusos a propósito de outra questão não menos grave, já não um problema intelectual, mas glandular. PAS
quinta-feira, outubro 9
 
Este é o primeiro dia... Depois de uma pré-hibernação prolongada, por causa de uma gripe inoportuna e de uma inundação laboral vivida por pontos dispersos do país profundo (no decurso da qual descobri, com grande espanto e pesar, que na Pedrulha, Arcozelo e arredores de Beja não há maneira de aceder facilmente à net), tenho adiado sistematicamente o regresso às lides. Hoje não posso adiar mais.

Será seguramente do momento, mas começo a ficar um pouco preocupado. Já há uns dias, deu-me para comprar e devorar o último livro do Coetzee (Youth) no mesmo dia em que foi anunciado o nobel. Era escusado. Hoje, e no meio de tantos posts que tenho em atraso, o único que me apetece mesmo escrever é este, e é o mais óbvio de todos: "e vem-me à memória uma frase batida...este é o primeiro dia...". Por enquanto, (ainda) não consigo escrever mais. MC
 
Copy/Paste: Não sabemos se existe o conceito de plágio na blogosfera, mas o post que o Ivan escreveu é o que nós queríamos ter escrito. Ele perdoa-nos certamente que tenhamos substituído o costumeiro link pelo post por inteiro. Não é só porque para nós a amizade nunca se suspende, é também porque acreditamos na defesa do Estado de Direito onde ele não existe e na defesa instransigente do Estado de Direito onde ele existe. PR

Pedroso e o PS fizeram bem
A ida de Paulo Pedroso directamente do EPL para o Parlamento não é, a meu ver, uma fraqueza humana que se deva criticar-lhe ou que se deva sequer desculpar-lhe. Para mim, é chocante que muitas pessoas que deviam ter como preocupação principal o funcionamento do Estado de Direito (afinal, isso é o princípio mais fundamental - ou não?) se entretenham agora com censuras morais a Pedroso, como foi chocante, na altura da sua prisão e dos episódios subsequentes, que se tivessem concentrado nas críticas ao Partido Socialista e não à prisão preventiva que toda a gente - repito, toda a gente - sabia que tinha fundamentos risíveis. (E é ainda mais chocante que se procure justificar o comportamento dos ministros recém-demitidos com fraquezas humanas ao mesmo tempo que se moraliza sobre um homem que esteve 140 dias sob uma prisão injusta).
Mas talvez o essencial não esteja aqui. O dano maior que procuraram causar a Pedroso nem sequer foi terem-no submetido a 140 dias de cativeiro com fundamentos ilegais. O dano maior é a tentativa de diminuição da sua dignidade, da sua capacidade para dar a cara, ser credível e defender aquilo em que acredita - em suma, para andar de cabeça direita, enquanto político e enquanto pessoa. Se Paulo Pedroso sabe que está inocente, a sua luta maior é esta: não apenas garantir que é absolvido, mas não recuar um milímetro, não ceder - não se envergonhar.
Ou seja: voltar a ser exactamente quem era. E ele era um deputado e um político. Acho que foi por isso que ele voltou ao lugar donde saíu em Maio para depor no TIC. Ele quer recuperar-se a si próprio, e a obrigação de cada um de nós como cidadãos (e sobretudo do Estado) é, enquanto não se provar nada do que é alegado contra ele e após a absolvição que ele venha eventualmente a conhecer, contribuir activamente para que ele recupere. A sua eventual morte política num processo em que é arguido mas não condenado seria inaceitável.
Por isso é que me parece que, tendo ou não uma consciência muito clara do que estavam a fazer, os dirigentes do Partido Socialista que o abraçaram ontem fizeram exactamente o que politicamente deviam fazer. (E que, por isso também, era o que eu gostaria de ter feito).

O blogo existo, um blog com pouca notoriedade mas de que eu gosto muito, fez um post certeiro e corajoso sobre o assunto.

Ivan
 
Se eu hoje conseguisse postar era sobre os 25 anos da morte do Jacques Brel que escrevia. Nunca ter visto os Joy Division ao vivo, nunca ter visto o Brel ao vivo e perder agora o que seria, provavelmente, a última oportunidade de ver o João Gilberto ao vivo são coisas com as quais conviverei sempre mal. PAS
quarta-feira, outubro 8
 
Estamos contigo!

O PP diz não à sua inclusão nas listas conjuntas com o PP.
Parece-me bem, há que ser coerente. DF
 
Tardou mas não falhou

Por decisão do Tribunal da Relação de Lisboa,

Paulo Pedroso vai ser libertado hoje!

DF
 
O Exterminador e o Cherne - Uma História de pouco Actos

Quando hoje se confirmou que Schwarzenegger será o novo governador da Califórnia, compreendi finalmente o "I'll be back" proferido há já alguns anos pelo tio Arnold. Lendo o Público não pude deixar de pensar que o mundo está entregue à bicharada e que, depois dos anos "quentes e frios" da administração Reagan, esse grande cowboy saudoso, temos hoje, num dos mais importantes estados norte-americanos, barómetro das presidenciais, um cyborg republicano no poder. E nem vou começar com o Conan... Mas por muito que tudo isto seja irónico, kitsch ou, simplesmente, a pós-modernidade, nada se compara com o nosso Portugal. Afinal, temos um Cherne por comandante, também ele já foi um Comando Revolucionário - ah! velhos tempos dos saneamentos "hasta la vista baby" - que se coliga com a Direita Populista, não demite ministros (eles, simpaticamente saem por vontade própria), propõe senados regionais (acho que tenho para aqui um livrito sobre neo-corporativismo...) e lá vai levando o país, por entre eleições e referendos europeus, que se propõem coincidentes. Vai ser muita Europa ao mesmo tempo... não sei se os portugueses estão preparados...é que nós estamos mais virados para a América. Ponham os olhos no Schwarzie. DF
 
A abertura dos telejornais Foi curioso acompanhar ontem a abertura dos telejornais. Naturalmente, a primeira e única notícia durante longos minutos foi a da demissão do ministro Martins da Cruz. Logo na maneira de dar a notícia se começou a perceber a coisa: «na sequência do que a SIC/TVI noticiaram em primeira-mão, Martins da Cruz...». A abrir, vemos a declaração do ministro, a seguir faz-se o directo com a sede do PS e depois algo de estranho. A estranheza pela forma como a SIC e a TVI reivindicaram ambas a demissão do ministro como obra sua. Pareciam caçadores numa montaria a ministros, ufanos das suas presas. Então a SIC, tinha demitido dois em cinco dias. A RTP, coitada, não conseguiu demitir ninguém. E se o ministro se demite porque foi apontado a dedo pelas televisões, então...está tudo bem? Quer dizer: ponto final e basta? Não me parece. A demissão de ministros não pode ocorrer como uma espécie de sacrifício ritual para apaziguar a ira dos deuses. A demissão repara de imediato uma violação da ética republicana e democrática – e isto é em si mesmo importante e justifica plenamente a demissão. Mas a democracia vive e precisa de algo mais, no local próprio e com as pessoas responsáveis. No parlamento, com o primeiro-ministro e os deputados. Porque tudo isto está mal contado, muitas perguntas precisam ainda de resposta. A primeira poderá ser: e Durão, aos costumes diz nada? É que o governo não responde perante as televisões, nem perante os comentadores em estúdio, mas perante o parlamento. Não se trata aqui obviamente de menosprezar o papel dos media no escrutínio democrático da acção dos órgãos de soberania, magistraturas, presidente, governo e oposições. Trata-se apenas de relembrar quem é eleito por quem e para quê, quem deve explicações em primeiro lugar a quem, e onde tudo isto deve ter lugar por excelência. Em democracia, dar explicações e apurar responsabilidades não são verbos de encher, são a própria democracia. RB
terça-feira, outubro 7
 
Ainda o peso excessivo do CDS/PP: depois das trapalhadas com o sobrinho taxista do dr. Isaltino e com a candidatura a medicina da filha do dr. Martins da Cruz está provado que o CDS/PP tem um peso excessivo neste governo, nomeadamente através da acção do dr. Bagão. A obsessão com o apoio à família começa a fazer escola, pelo menos entre os seus pares. PAS
 
O Rei vai nu: O conflito entre liberais e miguelistas regressou com a intensidade de 1832. De acordo com o Correio da Manhã (CM) de 5 de Outubro (curiosa data), Nuno da Câmara Pereira (NCP) afirmou que D. Duarte de Bragança não é o legítimo herdeiro do trono português. O fadista belenense baseia-se numa lei de 1838 que retirava direitos a D. Miguel e todos os seus descendentes (entre os quais está D. Duarte). Salazar revogou essa lei, mas para NCP «não há lei nenhuma que tenha regenerado os netos do despótico D. Miguel.» NCP é um grande democrata: «O Rei, por não ser eleito, representa e defende intrinsecamente as liberdades individuais».

Se a decisão de Salazar já tivesse sido revogada, D. Duarte - que é um impostor (afinal «não tem licença para pilotar helicópetros») - provavelmente já tinha sido considerado inimputável, dando naturalmente lugar a D. Pedro de Mendoça Folque, por acaso primo do mesmo NCP. No entanto, é de admitir que isto não seja pacífico no interior da família Câmara Pereira: Frei Hermano, Mico (também canta mal, mas anda com a Bárbara Elias) e o próprio Cavalo Russo (chamado Gingão) têm certamente as suas legítimas pretensões. Apesar destas movimentações, segundo a voz autorizada de José Hermano Saraiva, membro da Academia Portuguesa de História e vencedor do Globo de Ouro da SIC, não há razões para D. Duarte ficar preocupado: «D. Miguel foi aclamado rei de Portugal em côrtes e não é por ter sido apeado por uma revolução que os seus descendentes perdem legitimidade», disse ao CM. Aliás, Marcelo Caetano foi aplaudido de pé no estádio de Alvalade, e não é por ter sido apeado que os seus descendentes perderam legitimidade política. Para o conhecido historiador, o problema de Câmara Pereira é que ele não passa de um bastardo: «É filho de uma descendente de uma filha de D. João VI, mas que nunca foi reconhecida. Essa história é um mito que se criou sem pés nem cabeça».

De resto, parece que a Monarquia até está de boa saúde. Diz o CM que «de acordo com D. Duarte de Bragança, mais de 20% dos portugueses preferia ter um rei». Infelizmente, não foi possível confrontar outros centros de sondagens com estes os dados do Instituto D. Duarte de Bragança. Para D. Duarte, a ideia é simples: «dar um Rei à República». Pelo contrário, como diria Lili Caneças, a proposta dos republicanos é oferecer um Presidente da República à Monarquia. Na entrevista ao CM, D. Duarte deu ainda a entender que, se o regime não mudar entretanto, o seu candidato presidencial é o general Ramalho Eanes (com quem privou de perto no mítico Lusitânia Expresso): «Só um chefe de Estado independente da clientela político-partidária poderá ter uma posição de verdadeira equidistância em relação aos interesses em debate.» Estranhamente, antes de nos dar estas fantásticas informações, o CM começa por dizer que «A disputa a propósito dos legítimos herdeiros do trono português lançou a discussão sobre a hipótese de voltarmos a ter um regime monárquico em Portugal.» E eu a pensar que isto era suficiente para encerrar de vez a questão. Enfim. Uma coisa é certa: como eleitor de Gonçalo Ribeiro Teles para a Câmara de Lisboa em 1993 (votei no Arquitecto porque também não acredito em pós-comunistas), penso que tenho o direito de saber a opinião dos amigos do Quinto Império sobre isto tudo. FN

domingo, outubro 5
 
O Nuno, da Janela para o Rio, mandou-nos um email a perguntar «a nossa» opinião quanto à reforma do sistema eleitoral. Isto dos sistemas eleitorais é um bocado como as convocatórias da selecção: cada um faz a sua. Por isso, não me admirava nada que o País Relativo fosse um Blog com vários sistemas. Mas, por mim, recuperava a Proposta de Lei nº 169/VII, debatida pela Assembleia da República em Abril de 1998.

O conteúdo essencial do sistema então proposto era o seguinte:
O apuramento do número de mandatos por partidos sofria pequenas modificações em relação ao sistema vigente: mantinha-se o número de deputados e o apuramento proporcional (pelo método de Hondt) em círculos de base distrital. As alterações consistiam na criação de um círculo nacional de apuramento (de 35 mandatos) e na agregação dos círculos que tivessem menos de 4 mandatos, para reforçar a proporcionalidade.
Como ficou amplamente demonstrado pelas simulações então efectuadas, este sistema praticamente não produzia alterações na distribuição de mandatos por partidos, mantendo portanto o actual equilíbrio entre governabilidade e proporcionalidade.
As novidades eram então a criação de 99 círculos uninominais de candidatura e a introdução do duplo voto. Com um dos votos o eleitor votava nas listas partidárias concorrentes aos círculos distritais e nacional. Com o outro votava num dos candidatos concorrentes ao seu círculo uninominal.
A introdução dos círculos uninominais não introduzia, note-se, qualquer alteração à distribuição proporcional dos mandatos. O candidato que obtivesse mais votos num círculo uninominal era eleito, mas o seu mandato era imputado na quota proporcional que o seu partido tivesse obtido no correspondente círculo distrital. Ou seja, em termos práticos, por cada deputado eleito num círculo uninominal, o partido elege menos um da lista distrital, mantendo-se inalterado o número global de mandatos por partido.
O objectivo da reforma era, portanto, essencialmente a personalização do mandato, que era conseguida na medida em que o eleitor dispunha de um voto a atribuir a candidatos individuais, e cada círculo uninominal ficava com um representante identificado na Assembleia da República.
Infelizmente, a discussão parlamentar acabou por se centrar num ponto completamente lateral, o número de deputados, que, aliás, se situa perfeitamente na média europeia. E, por causa da divergência em torno do número de deputados, foram rejeitados tanto a proposta do Governo PS como o projecto do PSD que (embora em moldes diferentes) introduzia também um sistema de apuramento proporcional combinado com círculos uninominais. VIVA A REPÚBLICA! FN


sábado, outubro 4
 
Virginia Astley: A blogsfera está sempre a relembrar-me paixões esquecidas. Desta feita foi o Aviz com a Virginia Astley. A Virginia Astley desaparecida, de que a última vez que ouvi a voz foi, já lá vai um par de anos, num disco dos Silent Poets; A Virginia Astley escondida em edições japonesas e difíceis de encontrar. Pois o Aviz encontrou-a no Jo-Jo's (um excelente site, aliás) e logo encomendou dois exemplares. Eu também lá fui, hesitei e acabei por não comprar. Há qualquer coisa de muito estranho nesse meu comportamento. O cd mais caro que alguma vez comprei, já lá vai mais de meia dúzia de anos, foi precisamente o Hope in a Darkened Heart – em velhos escudos, uns seis contos – numa edição japonesa, daquelas de lombada imperceptível. Descobri-o numa loja e não controlei a excitação do momento. Mas, agora, que encontro outros álbuns que só tenho em vinil, e a preços decentes, hesito e não fico com eles. Eu sei porque é que foi. Nas lojas eu vejo os cds, pego-lhes, junto-os debaixo da mão e compro-os sem fazer contas e num despesismo que irritará o dr. Constâncio. Mas, mesmo eu, comprador compulsivo de cds, quando os vejo numa pequena quadrícula em fotografia na internet, esmoreço os ânimos e nem a ideia da voz loura da Virginia Astley nas tardes da minha adolescência me faz agir como seria normal em mim. Os cds compram-se nas discotecas e os livros nas livrarias. De vez em quando sou um conservador. PAS
 
Resposta típica de um Benfiquista típico: Não me interesso por futebol. PAS (Sócio nº 16299)
 
Candidatem-me, senão fico agarrado A política de Santana Lopes de oferta de habitação para jovens sócios do Benfica, no âmbito da negociata do estádio e dos terrenos, não ficará sem resposta por parte da câmara de Sintra. Fernando Seara, conhecido afectuosamente como “o careca do Benfica”, deixará a edilidade sintrense a troco de um lugar na lista de Filipe Vieira. A Câmara de Sintra espera assim poder atrair ao concelho grandes quantidades de jovens simpatizantes do clube da águia seduzidos pela ausência de Seara. RB
 
Madaleno faz Filipe Vieira parecer bom Guerra Madaleno tem 15 milhões de contos para investir no Benfica e já tem garantida a contratação de cinco jogadores de nível mundial. Ouvido pelo País Relativo, LFV disse apenas «Obrigado, ò...han...Madaleno». É que, por comparação, a débil credibilidade de Filipe Vieira parece sólida. RB
sexta-feira, outubro 3
 
O silêncio: Será que Portugal tem 1º Ministro? PAS
 
Portugal 1985-1995: Já recomeçou. PAS
quinta-feira, outubro 2
 
Lapsus Blogger: Estou tão obcecado com a blogosfera que no outro dia aproximei-me do balcão de um bar e dei por mim a pedir: "olhe, era um Belford Henriques tónico, com muito gelo e uma rodelinha de limão, se faz favor". FN
 
Comunicado País Relativo: O comissão de controle e quadros do PR, reunida à hora de almoço, decidiu solidarizar-se pessoal e politicamente com o relativo FN, quando este afirma que viu Lukamba Gato no Congresso do PP. Se FN viu Lukamba Gato é porque ele evidentemente esteve lá e se os delegados do PP não o viram o problema é, objectivamente, deles. PR
 
Ainda a doçura: Há anos que não sei nada dessa banda amarga que são os The Fall. Tirando um dueto com os Inspiral Carpets e uma aparição do Mark E. Smith numa fila para entrar na Hacienda no 24 Hour Party People, nada mais. Mas, há três dias os The Fall tocaram em Lisboa, os relatos escasseiam e de certeza que houve bloggers presentes. O Público, em lugar de dizer como é que os The Fall estão e como foi o concerto, opta muito mais por descrever como é que a banda de Mark E. Smith é. Dão-se ‘alvíssaras’ a quem contar mais. PAS
 
Os bárbaros mais doces: Para os que resistem ao cinismo, há um lado entusiasmante em ouver um Ministro da Cultura que canta Bob Marley e que empunha uma guitarra eléctrica. Há nisso uma réstia do passado de quem "organizou um movimento", mas foi quase só isso que restou hoje à noite no Coliseu, quando tocaram os doces bárbaros - que estão mais doces, excessivamente doces. Isso não seria, contudo, um problema. Aliás, com a Maria Bethânia isso nunca foi um problema. Mas, mesmo quando se lembrou a doçura passada, por exemplo a do "Sem Fantasia", houve sempre a sensação de que se estava refém do passado absoluto, no caso com o Chico, e que a voz de Gilberto Gil, que hoje se perde, não servia de resgate. Foi tudo muito certinho, muito agradável, a Maria Bethânia continua a cantar fantasticamente num romantismo lamechas e irresistível - e até há menos coisas para lhe perdoar - mas faltou a perversidade que existia por detrás da doçura e, claro, a vontade do novo que, por exemplo, está nas "Noites do Norte ao Vivo" do cara-metade Caetano. O concerto foi como o seu início: uma citação dos "Mais Doces Bárbaros" que depois nunca chega a ser tocado. Ainda assim, foi o bastante para ter sido muito bom. PAS
quarta-feira, outubro 1
 
A vida sem blogs: todos os dias encontro novas razões para não conceber a vida sem blogs. Os intrusos são a minha razão de hoje e uma razão que vai ficar. Entre o Rufus Wainright, o Benfica e as fantásticas fotos do Nanni Moretti, está também José Tolentino Mendonça, um dos meus poetas portugueses preferidos. Mas, para além do mais, quase todos os posts servem para eu ficar ainda mais com saudades de Itália. Porque é que só hoje descobri este blog? PAS
 
Cigarettes and chocolate milk

These are just a couple of my cravings
Everything it seems I like's a little bit stronger
A little bit thicker, a little bit harmful for me

If I should buy jellybeans
Have to eat them all in just one sitting
Everything it seems I like's a little bit sweeter
A little bit fatter, a little bit harmful for me

And then there's those other things
Which for several reasons we won't mention
Everything about 'em is a little bit stranger, a little bit
harder
A little bit deadly

It isn't very smart
Tends to make one part
So brokenhearted

Sitting here remembering me
Always been a shoe made for the city
Go ahead accuse me of just singing about places
With scrappy boys faces have general run of the town

Playing with prodigal sons
Takes a lot of sentimental valiums
Can't expect the world to be your Raggedy Andy
While running on empty you little old doll with a frown

You got to keep in the game
Retaining mystique while facing forward
I suggest a reading of a Lesson in Tightropes
Or surfing Your High Hopes or adios Kansas

It isn't very smart
Tends to make one part
So brokenhearted

Still there's not a show on my back
Holes or a friendly intervention
I'm just a little bit heiress, a little bit Irish
A little bit Tower of Pisa
Whenever I see ya
So please be kind if I'm a mess

Cigarettes and chocolate milk
Cigarettes and chocolate milk

Rufus Wainwright


PAS
 
Prenda minha Lembrei-me que só pode haver uma explicação para aqueles casais, fiquemo-nos pelos casais, que afirmam orgulhosos que decidiram não gastar muito dinheiro em presentes um com o outro, porque é um disparate, que com esse dinheiro se compram umas belas cortinas, e assim por diante. Só pode ser por falta de dinheiro. Não é que eu não esteja solidário com essa situação, nem que não aprecie umas belas cortinas. Mas é que não há outra hipótese. Se assim for, parece-me mais um exemplo da extrema actualidade do marxismo teórico. A superestrutura, neste caso as noções culturais sobre a oferta de prendas, é sobredeterminada pela infraestrutura, no caso a falta de guito. Aquilo a que Marx chamaria ideologia.
A verdade é que ninguém gosta de oferecer só um cdzito pelos anos do outro de quem se gosta. Ou no Natal um livrito ou certos peluches que fazem de almofada. Soa sempre a postiço e a pouca coisa. É medíocre, sobretudo se embrulhado na conversa de que não gastamos mais em prendas para depois poder comprar os tais cortinados ou aquele aspirador lá para casa. Enfim, é que sempre são coisas que ficam. É o mesmo tipo de alienação que leva a dizer que comprei uma casa em Agualva porque afinal o tempo de ir e vir é o que se gasta no trânsito dentro de Lisboa.
Os casais a que ouvi dizer isto fazem-no sempre com uma pontinha de orgulho sobranceiro de quem atingiu um estádio mais elevado de compreensão. E depois, as mais das vezes, põem um ar funcionário e burocrata. O colocar limites ao que se dá rouba o prazer de dar – e de receber. Nem que um tipo se empenhe até aos cabelos para comprar aquele casaco de cabedal da Max Mara giríssimo que vi hoje à hora de almoço. É que o Natal aproxima-se e pareceu-me um bom momento para lutar contra esta forma particular de falsa consciência. Eu sou pelos presentes bons e caros. RB
 
Violeta: Fugiu hoje de manhã, junto à Alameda das Linhas de Torres (perto do Estádio de Alvalade), uma cadela Serra da Estrela com 4 anos, de pêlo comprido, amarela e de focinho preto. Se por acaso alguém tiver visto a Violeta, pode enviar um mail para o país relativo ou telefonar para o 96-6940658. PR


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