<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
segunda-feira, maio 31
 
O gesto mais elementar
Quando a mais elementar justiça, feita de seriedade, lealdade e verdade, se cruza com as nossas mais elementares conviccções pessoais, temos boas razões para estar profundamente felizes. Hoje é um dia que marcará, como outro há pouco mais de um ano, as memórias e as vidas de muitos dos que escrevem no país relativo. Dos factos, das suas histórias e das suas consequências, muito se dirá. O que aqui, e agora, faz sentido fazer é tão só o mais importante: dar ao Paulo o abraço dos que acreditaram sempre, todos os dias, que os castelos de cartas viciadas, mesmo os mais complexos, acabam sempre por desabar. Hoje não é o fim de um sinistro processo judicial, é o momento mágico do recomeço. - PR
 
A minha primeira vez com a Bjork
E foi a primeira de muitas, por caminhos quase sempre tortuosos.

Play Dead

darling stop confusing me
with your wishful thinking
hopeful embraces
don't you understand?
i have to go through this
i belong to here where
no-one cares and no-one loves
no light, no air to live in
a place called hate
the city of fear

i play dead
it stops the hurting
i play dead
and the hurting stops

it's sometimes just like sleeping
curling up inside my private tortures
i nestle into pain
hug suffering
caress every ache

i play dead
it stops the hurting

Bjork, debut (1993) - MC
sábado, maio 29
 
Tenham cuidadinho, tenham muito cuidadinho
Phil Collins vai tocar no Alvalade XXI a 3 de Julho. Como se isso não bastasse, Patrick Bateman estará presente e não irá perder pitada. O melómano Bateman nunca esteve no nosso país e terá, assim, uma boa oportunidade para comer umas portuguesas.


«[...] Invisible Touch (Atlantic; 1986) é a incontestada obra-prima da banda. É uma meditação épica sobre a intangibilidade, ao mesmo tempo que aprofunda e enriquece o significado dos três álbuns anteriores. Tem um som que fica a ecoar no ouvido e a música é tão bela que é quase impossível tirá-la da cabeça porque cada canção estabelece uma ponte com o desconhecido ou ligando os espaços entre as pessoas ("Invisible Touch"), interpelando o controlo autoritário por parte de amantes dominadores ou do governo ("Land of Confusion") ou através da infinita repetição sem sentido ("Tonight Tonight Tonight"). No apanhado geral, está ao nível dos melhores feitos do rock'n'roll da década, tanto que o mastermind por detrás do álbum, Hugh Padgham, em parceria com o brilhante som de Banks, Collins e Rutherford, ainda não havia encontrado um som assim tão límpido, vibrante e moderno. Quase que se conseguem ouvir as nuances todas de todos os instrumentos.
Este álbum atinge novos picos de profissionalismo no que respeita a destreza lírica e a puros dotes de escrita de canções. Veja-se a letra de "Land of Confusion", na qual o cantor trata o problema do uso abusivo da autoridade política. Isto é conseguido com um groove mais funk e mais preto do que qualquer coisa que Prince ou Michael Jackson - ou qualquer outro artista preto nos últimos anos - tenham feito. O facto de ser um álbum eminentemente dançável não tolhe uma urgência desnudada, que nem mesmo o sobreavaliado Bruce Springsteen consegue igualar. Enquanto observador dos fiascos do amor, Collins bate o Boss repetidamente e aos pontos, alcandorando-se a novos píncaros de honestidade emocional em "In Too Deep"; todavia, aí mostra igualmente a sua faceta brincalhona, marota e imprevisível. É a mais comovente canção pop sobre monogamia e compromisso dos anos 1980. "Anything She Does" (que faz lembrar "Centerfold" da J. Geil Band, embora mais bem-disposta e enérgica) abre o lado dois, e logo depois o álbum atinge o seu clímax com "Domino", uma canção em duas partes. A primeira, "In the Heat of the Night", está repleta de evocações de desespero, cortantes e bem recortadas, e é aparelhada com "The Last Domino", que se lhe opõe armada de um cintilar de esperança. Esta canção dispõe extremamente bem. As letras são a coisinha mais positiva e afirmativa que tenho ouvido na música rock.
Os esforços a solo de Phil Collins tendem a ser mais comerciais, logo mais satisfatórios num sentido estrito, especialmente No Jacket Required e temas como "In the Air Tonight" e "Against all Odds" (pena esta canção ter sido obscurecida pelo luminoso filme de onde veio) e "Take me Home" e "Sussudio" (uma canção óptima, óptima; uma das minhas favoritas) e a versão de "You Can't Hurry Love", o qual não serei o único a julgar superior ao original das Supremes. Mas eu também penso que Phil Collins resulta melhor em grupo do que como artista a solo - e sublinho a palavra artista. Ela aplica-se, com efeito, a todos os três rapazes, pois os Genesis continuam a ser a melhor e mais excitante banda provinda de Inglaterra nos anos 1980.»
[trad. com obrigado de Bret Easton Ellis, American Psycho, Nova Iorque, Vintage Books, 1991, pp. 135-136]. - RB
sexta-feira, maio 28
 
É uma pena os filmes dela serem tão maus


Incluindo este agora do Altman e tirando a trilogia decrescente Scream do epistemólogo Wes Craven. Na verdade, gostava bastante da série «Party of Five», por razões hoje menos óbvias do que na altura supunha. - RB
 
A directa emanação do autor ou a elaborada construção do intimismo pela escrita
«Era assim: não me buscava no texto; quando muito, em certos momentos, desgostava-me por provisoriamente discrepante de um ideal estético já aceite. Sou claro? Quem se olha em espelho busca verificar, acertar, trabalhar um modelo subjectivo, preexistente: enfim, ampliar o ilusório, mediante sucessivas novas capas de ilusão.»
«Directa emanação do autor» é o título de um sonho que Abel Barros Baptista garante aos leitores que teve. Que os sonhos tenham títulos - como os jornais, por exemplo - é já de si uma ideia divertida. É sobre este sonho que escreveu, na sua coluna «A Ordem dos Críticos», uma crónica em tom confessional, íntimo mesmo. Lê-se como um post, garanto-vos.
[in Abel Barros Baptista, «Emanação do autor, directa e definitiva», Ler, 62, Primavera 2004, p. 32]. - RB
quinta-feira, maio 27
 
«4x4x2» - uma visão ridícula da Europa





- JHJ
 
X-Bill (actualizado)
Num texto atrapalhado, o Bloco de Esquerda anuncia uma iniciativa louvável:
[...] Muitos são aqueles que, devido a uma deficiência visual, não têm oportunidade de ter real acesso a informação e à propaganda política. Atentos a estas situações, e porque achamos que o acesso à informação por todas/os é um imperativo democrático, inauguramos aqui uma nova prática do site - a de disponibilizar em suporte áudio documentos políticos fundamentais do Bloco de Esquerda, que estarão assim acessíveis a cegos e amblíopes. Ouça o Manifesto Eleitoral do Bloco nas Eleições Europeias.
Há dois formatos disponíveis para se poder ouvir o texto lido por Miguel Portas: «MP3» e «Windows Media Player». Mais abaixo, um grito rebelde e info-instruído: «O site do Bloco de Esquerda foi desenvolvido em ambiente de OpenSource, livre de Bill Gates». Estes tipos, se não existissem, tinham que ser inventados. - JHJ

Actualização: Deixou de ser possível ouvir o manifesto em formato «Windows Media Player». Agora, só em «MP3». O Bloco de Esquerda libertou-se finalmente de Bill Gates.
Reafirmo que a iniciativa é louvável, e retiro o «politicamente incorrecto» que adjectivava o texto transcrito.
segunda-feira, maio 24
 
O abraço de urso
Uma nota para o abraço que Durão correu, por entre a multidão dispersa por um sôfrego Arnaut, a dar a Portas quando este falava em directo para as televisões.
Rebobinando o filme do congresso, lembre-se que na véspera vários congressistas pouco anónimos tinham defendido a possibilidade de o PSD ir sozinho às legislativas - quando estamos a menos de um mês de eleições em que os partidos da coligação vão juntos a votos. O CDS, pelo contrário, optou por levar meio partido ao congresso do parceiro de coligação. Três ministros, o presidente do partido, o líder da distrital de Aveiro, se não me esqueço de ninguém.
Em pleno fim de festa, Durão corre ostensivamente a abraçar Portas, para "demonstrar a saúde da coligação". Um gesto fraternal, estranho e forçado, demasiado forçado. Forçado para parecer demasiado amistoso. Forçado para ser à frente das câmaras, durante os directos. Forçado para parecer forçado, para se perceber que era uma encenação, para implicar ruído, gente a abrir caminho. Portas recebeu o abraço constrangido, ao contrário do habitual. Sem à vontade, desapareceu discretamente para fora dos planos das câmaras de televisão. Foi andando. Suponho que ele percebeu a verdadeira dimensão do abraço. - MC
 
Fim-de-semana com o morto
Não sei porquê, fica no ar a sensação de que o congresso laranja vai desaparecer rapidamente da memória. É natural. Não se passou nada, mas rigorosamente nada de relevante para quem lá não esteve, tirando uns números de circo francamente mal conseguidos.
Os suspeitos foram os do costume e o filme terrivelmente mau - um bocado ao estilo do canal de cinema da tv cabo anunciado por aquele maestro que tinha um programa com a Bárbara Guimarães, mas sem ponta de acção. O dr. Jardim bramiu umas imbecilidades. O dr. Santana acobardou-se na hora h e, agora, depois do ko que cavaco lhe infligiu, continuará a jogar consigo próprio uns jogos florais sobre as presidenciais. Durão Barroso, o único para quem o congresso era verdadeiramente importante, falhou por completo o que tinha (?) para fazer e dizer ao país. Relançamento? Mobilização para as europeias? Demonstração de confiança? Alguma surpresa? Alguma medida nova? Um zero.
Com o devido respeito (que o referente da comparação me merece, evidentemente), isto já começa a parecer, e de forma bizarra, porque só passaram dois anos!, aquele longo segundo semestre de 2001: a fase em que se pode anunciar o que quer que seja, esbracejar para todos os lados, fazer mil números mediáticos, que já nada pode inverter um suave rumo descendente que durante meses se foi adensando. E que, mais para o fim, será impossível reverter. Veremos as cenas dos próximos capítulos.
Para já, o congresso foi como a terra. Tal como Oliveira de Azeméis está condenada a ficar na história como uma terra sem grande história, só com um nome vagamente pitoresco, este congresso disso guardará o nome, mas pouco mais. Se era para isto, mais valia terem ido para a praia da Rocha ou, numa versão Ordem dos Médicos, para um destino exótico qualquer. Já que ninguém foi fazer a rodagem do carro, e já que não havia nada para dizer, sempre tinham dado um salto à praia. - MC
sexta-feira, maio 21
 
Para ...
... uma mini-remodelação, um mini-post. - JHJ
quarta-feira, maio 19
 
13 de Maio é quando o homem quer - hoje, por exemplo.



[Kazimir Malevitch, Female Worker, óleo sobre tela, 1933]


- RB
 
Deslize
Na semana passada, a cidade de Braga foi invadida por sociólogos. Lá estavam o Statler, o Segismundo e muitos outros. O congresso de sociologia foi, sem dúvida, um bom teste ao sistema de segurança do Euro2004. Contagiados pelo evento, mesmo os que não trabalham neste ramo do conhecimento acabavam por fazer, à sua maneira, análises sociológicas. À noite, à porta dum hotel, o RB tentou perceber onde ficava um bar, o Insólito. «Esse fechou, agora é a Passerelle. Não sei se os senhores estão a ver o que aquilo é...», interrogou-se o empregado do dito hotel. (Não, meu amigo, lá em Lisboa não há disso, pensei eu.) «Em termos de bares, a coisinha melhor que temos aqui é o Populi, ali perto das arcadas», disse ele. Já perto das arcadas, perguntámos a um jovem de jipe onde ficava exactamente o bar. Observou-nos, traçou o perfil sociodemográfico e concluiu: «Vocês não querem ir lá, pois não? Aquilo é muito rural. Vão antes ao Deslize.» Com urbanidade, seguimos o conselho do sociólogo do jipe e lá fomos em direcção ao Deslize, onde voltámos a encontrar o Statler. O Statler é um rapaz às direitas. Ao contrário do que sugerem pessoas tão diferentes como o Pedro Lomba e a minha avó, o curso de sociologia não é propriamente um curso de socialismo. A prova disso é que o sociólogo Statler estava um pouco embaraçado com a putativa ideologia do bar: «Disseram-me agora que isto é o bar da esquerda». Tentei animá-lo: «Meu caro, não te esqueças que em Braga "a esquerda" é o Dr. Mesquita Machado». - FN
 
Faltam 34 dias para abrir


Mas qual Euro, quais Europeias, quais Jogos Olímpicos, qual Rock in Rio, qual Sudoeste, quais férias, qual carapuça! A 22 de Junho: todos aos Cabos Ávila. - RB
terça-feira, maio 18
 
Braga pelos ouvidos adentro
O filipe já aqui falou da improbabilidade da comunicação num contexto como Braga. É normal que ninguém se oriente. Na única cidade do mundo com mais igrejas por metros quadrado que nápoles, lembrem-se sempre de não aceitar a igreja x, y ou z como ponto de referência para o que quer que seja, porque ninguém saberá dizer-vos onde fica a que procuram. Aliás, trânsito incompreensível à parte, é natural que ninguém se oriente: noites e noites de sinos a tocar de hora a hora não podem fazer bem à sanidade, nem ao sono, de ninguém. E o que dizer da sinistra obsessão pelos cantos gregorianos, versões irritantes de pop mau e recauchutado, em todos os restaurantes da cidade? A sociologia, ou talvez uma ciência de outro foro, tem de explicar isto o mais rapidamente possível. - MC
 
O mais importante quando se compra um faqueiro


é a faca. Hoje rejeitei um e comprei outro porque não gostava da faca. Eu explico-me. Tem a ver com peso do cabo. O cabo tem de pesar mais que a lâmina e deve encher bem a mão. Não é uma questão de gramas, é uma questão de a faca não cair para a frente quando nela se agarra. Até porque, e no mais puro estilo falocrático, a faca é o almirante do faqueiro. Ela é a sua personalidade. Por isso, deve ser sóbria, simples e sem mariquices na decoração. A faca deve fazer lembrar uma faca e não outra coisa qualquer, como por exemplo um peixe tipo solha ou uma lima das unhas.- RB
 
Por muito que custe a alguns


A imagem da esquerda, roubei-a indecentemente à Margarida Vaz Taques, minha companheira na-metamorfose, que ontem assistiu em Boston à celebração da equidade das preferências sexuais perante o Estado de Massachusetts. Por muito que tenha custado a alguns.
A da direita, é a de Linda Brown, a estudante de oito anos que em 1951 se via obrigada a percorrer a pé os 21 quarteirões que separavam a sua casa da escola para afro-americanos mais próxima. Ontem, celebrou-se os 50 anos da decisão do Supremo Tribunal norte-americano em mandar a segregação racial nas escolas públicas à fava. Por muito que tenha custado a alguns. - JHJ
 
Diálogo Norte-Sul
O congresso de sociologia fez com que passássemos (eu e alguns relativos) a última semana em Braga. Com a auto-estrada, agora é muito fácil chegar a Braga. O problema é circular de carro lá dentro. Sem mapa e sem indicações nas ruas, o contacto com a população é inevitável. Logo na primeira noite, tentámos saber onde ficava o restaurante «Velhos Tempos» (é «cozinha rural para gente urbana», mas só tem bacalhau com natas, arroz de pato e pataniscas).
Numa esquina, uma jovem começa a esboçar uma explicação, mas rapidamente o namorado (?) a ameaça com «uma lambada». Noutra esquina, vem em nosso auxílio um «finalista» completamente alcoolizado. Era a semana académica, o chamado «enterro da gata». «Como sou arquitecto, vou fazer-vos um desenho», disse-nos o orgulhoso finalista. A qualidade do desenho deu para ver o estado em que está o ensino superior. Sou contra todas as tradições académicas, menos uma: a tradição dos exames.
Enfim, depois destas experiências com a juventude, decidimos perguntar o caminho à terceira idade. «Ora bem. Essa rua é ali à beira [perto] da praça. Primeiro, controlam [contornam] o redondo [a rotunda] e param no sináforo [uma mistura de sinal com semáforo].» (Aparentemente, em Braga, mesmo que o dito «sináforo» esteja verde, é de parar.) Os conselhos do ancião terminaram em grande: «Depois, seguem em direcção ao Porto, e logo perguntam».- FN
segunda-feira, maio 17
 
País Relativo
«Não há obra que se queira fazer em Portugal que não levante um coro de protestos ? dos ambientalistas, dos líderes de opinião, das populações.»
José António Saraiva, Expresso, 8 de Maio

«Sempre que se faz obra em Portugal, há sempre alguém que está contra. É preciso acabar com este espírito derrotista.»
Durão Barroso dois dias depois do editorial do Expresso, SIC, 10 de Maio

«Se Marques Mendes entrasse [na direcção do PSD] tinham que sair dali quase todos»
Fonte da direcção social-democrata, Expresso, 8 de Maio

«Avelino Ferreira Torres é uma pessoa com uma personalidade emotiva. Vou sentir saudades uma dia que ele deixe a política.»
Luís Nobre Guedes, Público, 7 de Maio

«Aceitar o esquema da rotatividade já representava um recuo da minha parte relativamente às minhas expectativas. O timing era este. Por isso, só poderia aceitar o convite se fosse para integrar o primeiro turno e nunca o segundo.»
Anacoreta Correia sobre os convites que Portas lhe fez para o Parlamento Europeu, Expresso, 1 de Maio

«Continuarei com muito gosto como militante de base. Quanto à presença no próximo congresso do PSD, aguardo que me seja enviado o respectivo diploma.»
Valentim Loureiro, Expresso, 15 de Maio

«É natural, é provável, é possível que, nas próximas legislativas, PSD e CDS vá cada um por si.»
Santana Lopes, Exporesso, 15 de Maio

«São declarações para amedrontar o CDS, o PSD que tire o cavalinho da chuva.»
Fonte próxima do líder do CDS, idem

«Olho para trás com muita alegria. Relativamente á queda da ditadura e ao processo revolucionário, fez-se o que se pôde.»
Isabel do Carmo, Expresso, 1 de Maio

«Quando falo de alimentação, também estou a fazer política.»
idem

«Viva a DGCI, viva Portugal!»
Carta de despedida de Armindo Sousa Ribeiro, Director-Geral das Contribuições e Impostos, Expresso, 1 de Maio - FN
domingo, maio 16
 
A taça


"a taça é nossa, caralho!"
José Moreira, no final do jogo à TVI. - PAS
sexta-feira, maio 14
 
\«(.)(.)»/
[Título alternativo: Desassossegada] - JHJ
 
Vírus anti-Spam
O meu endereço de E-mail do País Relativo foi usado para enviar uma mensagem para um sugestivo endereço sobre um assunto comprometedor:
From: joao.relativo@earthlink.net
To: sexy@wireless.com.pt
Subject: Re: hi
Date: Fri, 14 May 2004 21:08:54 +0100
Infectada com o vírus W32/Netsky.p@MM, só lamento que não tenha sido bem sucedida. - JHJ
quinta-feira, maio 13
 
Entendam-se


Estes dois senhores continuam a insistir em dizer tudo e o seu contrário. As trapalhadas com os GNR no Iraque é que continuam. Tomem juízo. - PAS
quarta-feira, maio 12
 
E os jornais, não se pode acabar com eles?
O Expresso Online veio reconhecer que errou na notícia relativa aos comentários do jurista Pedro Amorim sobre «difamação nos blogs». No entanto, não deixa de ser lamentável que remeta o esclarecimento para o fundo da sua página de rosto, falhando em dar-lhe destaque idêntico ao da notícia falsa que publicou. Mas é assim mesmo que os jornais - e a comunicação social em geral - parecem funcionar. Os seus erros só cabem nas páginas interiores, nunca na primeira página. Ao contrário, claro está, dos erros dos outros. Ou dos outros errados. - JHJ
 
E a autoridade, não se pode acabar com ela?
Atente-se nas declarações do "especialista amorim" e preste-se particular atenção à sua precupação com o facto de os "blogs (estarem) cada vez mais a ter uma relação com o jornalismo, e prevê-se uma grande tendência para a difamação". Assim de repente, recordo-me de vários jornais com especial tendência para a difamação que continuam alegremente em funcionamento, sem que a ANACOM - e bem, porque não lhe compete - com isso se preocupe. Agora ficámos a saber, "o objectivo da ANACOM é acabar com a criação de "blogs". Olhem, "bardamerda" para o "especialista amorim".- PAS
PS afinal, a crer nesta historieta, os jornais é que são mesmo especialistas em difamação. Leia-se aqui o esclarecimento prestado por Pedro Amorim. Este post que, face às novas declarações, perde todo o sentido, fica, apesar disso, online. E claro, acompanhado das devidas desculpas por ter sido induzido em erro.
 
Meio País Relativo

- JHJ
 
Os deslumbrados
Os dedos, tenho-os gelados. A alma, amargurada. Sinto que deveria escrever um post enorme, intenso - um post-tese -, mas não consigo dizer mais do que isto: «Não! Não pensem que os computadores solucionam as falhas estruturais de um povo. Às vezes, ampliam-nas. E muito». Permitam-me não ser mais claro. - JHJ
terça-feira, maio 11
 
O quarto grande somos mesmo nós
À entrada da última jornada do campeonato, cinco clubes corriam o risco de descer de divisão: o Alverca, o Belenenses, o Guimarães, a Académica e o Gil Vicente. Acabou por descer o Alverca. Em Guimarães, em Coimbra e em Barcelos, apesar dos resultados terem sido diferentes para as equipas da casa, os festejos foram em tudo idênticos. No Restelo, pelo contrário, houve assobios e lenços brancos. A jogar em casa, perante uma assistência das antigas (20 mil pessoas, só faltou o nosso PM), a equipa do Belenenses envergonhou um emblema e uma História, na linha do que havia feito durante todo o campeonato. No final do jogo, jogadores e treinador tiveram a resposta merecida. Se calhar, por se terem safado da descida, esperavam comemorações: é não perceber o que é o Belenenses. Para os adeptos do Belenenses, como para os do Sporting, do Porto ou do Benfica, qualquer resultado que não seja a vitória é mau. O quarto grande somos mesmo nós. - FN
 
As maravilhas da indústria
Um destes dias ouvi na rádio uma "canção" desse entertainer global que dá pelo nome de Robbie Williams e pareceu-me que a letra dizia qualquer coisa como "you can't manufacture a miracle...". Pois não, dir-se-ia.
Mas chama-se a isto não fazer o trabalho de casa. Se, antes de se pôr a cantar disparates, tivesse pesquisado um pouco que fosse sobre o santuário de Fátima (ou sobre outro mega-empreendimento do género), ou se tivesse até para lá telefonado a pedir para lhe explicarem como se faz, talvez se poupasse a tamanha inexactidão histórica perante milhões de pessoas - quase tantas como os consumidores da indústria dos milagres e afins. É que a questão é justamente a inversa: como quer o Robbie que haja milagres se não forem cuidadosa e laboriosamente manufacturados? - MC
 
Quebrar a cadeia
No outro dia, em conversa, notei que nunca mais recebi, nem pelos vistos mais ninguém recebeu, aquelas chain letters que chegavam pelo correio. Era sempre qualquer coisa do género: copie e envie esta carta a trinta pessoas e verá a sua fortuna multiplicar-se. Fazê-lo é importante para Deus, pois Deus confia em si. Não quebre a cadeia. Senão... Invariavelmente, seguia-se a ameaça: era aquela senhora de Olhão que foi trocada pela amante do marido; era o filho da senhora que chumbou a matemática no oitavo ano do liceu; era o cão que morreu, apesar de não possuir alma e de ser por isso inocente. Entretanto, este tipo de cartas, que chegou a ser bastante corrente, foi substituído por mensagens de email do mesmo teor. Sucede que estas não funcionam da mesma maneira por não ameaçarem da mesma maneira.
Falo por mim. A minha única experiência «religiosa» teve a ver com uma destas cartas, e foi curta e obsessiva. Tinha não sei se treze se catorze anos quando recebi uma delas endereçada a mim, algo pouco usual na altura. O texto era o de sempre: uma boa causa a promover, a necessidade de a enviar a trinta outras pessoas, a sorte que bafejou aqueles que o fizeram, o cortejo de desgraças aos que o não fizeram, e a ameaça solene se o não fizesse, apoiada na invocação de Deus.
E quebrei a cadeia. Logo depois, tive imenso medo e senti uma culpa enorme. Pensava: se a tinha recebido, era porque alguém as copiava e enviava. E, se assim o fazia, algum motivo haveria de ter. Desatei a rezar à noite, compulsivamente, como um anoréctico que vai fazer cem flexões de pernas todos os dias depois do almoço. Tinha pavor, pânico mesmo e durante três semanas não pensei noutra coisa. Pedia perdão, pedia para não chumbar a matemática e que o meu pai tivesse juízo. Felizmente, não tínhamos um cão - sempre era menos isso. Rezava um número disparatado de orações, talvez vinte ou trinta, de modo mecânico e ansioso. Isto durou algum tempo. A ira que persistia em não se abater sobre mim indicava que deveria continuar a aplacá-la com o ritual nocturno. Até que percebi que aquilo tinha de acabar. É que a culpa é um combustível muito poderoso, mas destrói-nos por dentro.
Ainda hoje não sei se Deus existe, mas aprendi que podia ter consequências. A verdade é que não O tratei bem porque decidi enganá-Lo. Tratei-O como um vício do qual me queria livrar. Decidi que, em cada dia, deveria rezar um número menor de orações da mesma forma que alguém diminui o número de cigarros que fuma por dia quando quer deixar de fumar. Assim foi, e todos os dias rezava menos uma «Avé Maria» ou um «Pai-nosso» mas sempre com imenso medo que me estivessem a topar a artimanha e de que no fundo nada daquilo resultaria. De vinte para dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, duas, uma. Até hoje. - RB
segunda-feira, maio 10
 
Não, não, nem por ser mais barato hoje

- RB
 
Estava ao lado da outra, no Google images (e motivos pessoais)

- RB
 
Pesto slice with pepperoni
Um colega meu diz-se suficientemente desiludido com o sistema político norte-americano para não votar nas próximas eleições presidenciais, ao mesmo tempo que defende o direito de voto para todos os cidadãos do mundo. Não é preciso muito para se perceber que os próximos almoços serão determinantes para que «eu vote» em Novembro. - JHJ
 
Obrigado, rapazes!


Moreirense 3, Alverca 1 - FN
 
Puf...
O nosso sitemeter pifou. O nosso e todos aqueles que estavam alojados no servidor SM5. Entretanto, e enquanto o David Smith tenta recuperar os dados do disco rígido, o PR tem um novo contador de visitas: a começar em «zero» mas com «memória» do passado. - PR
sexta-feira, maio 7
 
Andar a ver casas
Puxo para mim, afectando um à vontade que verdadeiramente não sinto, o cinzeiro que está na outra ponta da secretária e pergunto: «posso fumar?» «Claro.» «Tenho o carro ali fora, vamos no meu?» «Não, vamos no meu.» É impossível que ela não saiba que é bonita. Sobre ser bonita, tem classe, uma qualidade inominável que, à falta de melhor, denomino «ser como a Madalena Torres». Não sei se sabem quem é a Madalena Torres, a do ICEP. Eu também não: só a vi uma vez no «Prós e Contras» e apaixonei-me em frente ao televisor. É qualquer coisa de aristocrático nos gestos, é a pose tranquila mas não altiva animada por uma confiança sem soberba. A pele é cuidada apesar de fumar incessantemente, o cabelo é castanho castanho e o olhar ligeiramente estrábico. Não é de todo disparatado que use o fascínio que sabe exercer sobre os homens para lhes vender casas. Afinal, é esse o trabalho dela.
Não é impunemente que uma mulher é muito bonita, tal como quando é muito feia. As mulheres muito bonitas sabem que o são e aprendem muito cedo na vida a usá-lo, não necessariamente no mau sentido. É decerto esclarecedor na vida de uma rapariga que os homens dela se aproximem sem cessar, que as conversas sobre ela convirjam, que as perguntas se lhe dirijam. Basta que ande na rua, que jante fora. Basta um espelho em casa. Já para não falar nos olhares, sobretudo os dissimulados, sentidos nas costas, no rabo e no pescoço. Ser o centro das atenções, sempre: eis a ambígua cruz da mulher bonita. Toda a gente se pode apiedar de uma mulher feia, mas quem tem pena de uma muito bonita? Pessoa dizia «custa tanto ser sincero quando se é inteligente! É como ser honesto quando se é ambicioso». No teu caso, Sofia, deve ser muito difícil não venderes as casas que andas a mostrar. É que eu tenho pouco dinheiro para gastar e não sei ao certo que casa quero comprar. Uma combinação letal, portanto.
Durante o trajecto de carro vou brincando com a ideia de que andar a ver casas é uma boa maneira de conhecer raparigas. Veja-se esta miúda aqui, por exemplo. Morena, quase da minha altura. A voz rouca de quem andou a servir copos no Plateau. Conduz bem e com precisão, ainda que não saiba arrumar bem o carro. Bate à frente e atrás, um bocadinho. Eu rio. Ela ri. Chegámos à casa, na Rua do Ginjal. Rua estreita, sem luz, impossível estacionar, um rés-do-chão, preço demasiado elevado. Que se lixe – penso – é mesmo esta. Entro a contragosto, por desnecessário. Por desnecessário, não: para poder estar com ela mais uns minutos.
«O prédio é de 1949. É de tabique...», diz ela a meter a chave na porta pintada de branco. Penso: «devia ter vindo com uma amiga que pusesse defeitos em tudo.» De braço dado, falsamente enamorados eu e a minha amiga, sentir-te-ias desafiada pela competição. Sala grande e bonita, as traves de madeira à face da parede. Cozinha equipada com as melhores marcas alemãs. Quarto quase sem espaço para a cama. Saguão. Depois da volta pela casa estamos de regresso à sala. «Tem muito cachet», digo sentindo o ridículo esmagador do balão de diálogo, «mas está um pouco cara...» Ela não olhava ainda para o relógio e não tinha ainda feito menção de se aproximar da mala que havia deixado a um canto da sala. Por enquanto, olhava-me nos olhos. «Então?» Era agora. Queria pedir-lhe o número de telemóvel mas já o tinha. Queria encerrar sabiamente o assunto das casas e passar adiante mas não sabia como. O estarmos a sós naquela casa vazia a inventar uns metros quadrados de cumplicidade provocava-me nervoso miudinho. O momento tinha tanto de excitante como de penoso. Game over. Ela dirigiu-se para a mala pousada no chão, da qual retirou as chaves com que há-de voltar a fechar o apartamento. «Vamos?» «Sim.» - RB
 
Dani tinha razão
Na entrevista que deu ao Expresso, a páginas tantas, Dani dizia que «as mulheres holandesas são muito diferentes das portuguesas: altíssimas, conversadoras e para a frente». Contestei aqui esta análise comparativa, escrevendo qualquer coisa como: «vê-se logo que o Dani esteve fora de Portugal nos últimos dez anos».
Por coincidência, tive esta semana uma reunião de trabalho com holandesas e holandeses (perdoem-me o guterrismo). Fiquei particularmente impressionado com a forma como dominam a língua inglesa e com a pertinência das perguntas que conseguem colocar às dez da manhã. No fim da reunião, despedi-me de quatro jovens. Não sei se eram «para a frente», como diz o Dani, mas, de facto, eram todas louras, todas «conversadoras» e quase todas «altíssimas». Quase todas. Havia uma significativamente mais baixa. Sem discriminações, despedi-me em inglês. A loura mais baixa vira-se para mim e diz-me: «Adeus, muito gosto. Eu sou portuguesa: só estou aqui como guia da comitiva.» - FN
 
«As coisas que um tipo aprende passados todos estes anos»


Fiquei a saber que a Monica do «Friends», a Lauren do «Quem Sai aos Seus», e a tipa que o Bruce Springsteen puxa da assistência para o palco no teledisco da música «Dancing in the Dark», são uma só pessoa: Courteney Cox. Recuperado do choque, exijo a minha adolescência de volta. Tenho um assunto muito sério a tratar com duas namoradecas bidimensionais da altura. - JHJ
quinta-feira, maio 6
 
Sinal dos tempos
Terça à noite, não pude ver o Corunha-Porto, nem sabia qual o resultado quando regressava a casa, pouco depois do fim do jogo. De repente, comecei a ouvir ao longe o som de buzinas e de festejos, num ruído crescente. Estando perto do centro de Lisboa, pensei ingenuamente que o Porto teria sido eliminado.
Passados poucos segundos, passam por mim vários carros com gente pendurada das janelas, empunhando cachecóis azuis e brancos na inconfundível euforia compulsiva da vitória (que ainda não foi completa, mas provavelmente vai ser). Desviei o olhar e prossegui o meu caminho. Como se alguém me dissesse, "olhe que não, olhe que não...". - MC
 
Não se pode codificá-la?
Terça feira, por volta das sete da tarde, entrei no café para comprar cigarros. Estranhamente, com o jogo do Porto passar na RTP, a televisão estava sintonizada na TVI. Era mais um fantástico «directo TVI». Um ano e uns meses depois, Carlos Cruz regressava a casa para ficar em prisão domiciliária. Fiquei parado a ver a cena. Para além de uma repórter em terra, a TVI tinha um repórter no ar, literalmente no ar, a sobrevoar (e a filmar) a casa do «conhecido apresentador de televisão». Enquanto Carlos Cruz não chegava, a TVI mostrava grandes planos da casa, nomeadamente da piscina, que tanto impressionou o dr. Namora e os clientes do dito café. «É pá, aquilo parece uma piscina olímpica. Não havia o homem de querer sair da prisão!», dizia um dos clientes. Pouco tempo depois, o carro que transportava Carlos Cruz - «um carrão», segundo os especialistas do café - chega à porta da garagem. Foi a confusão total. Jornalistas esmagados, polícias desorientados e muitos «curiosos» - curiosos no local e curiosos no café, «a verem em que é que aquilo ia dar». «Ainda o mandam outra vez para dentro, como fizeram ao Vale de Azevedo», especulava um cliente. Entretanto, abre-se a porta da garagem da casa. A maioria das pessoas que estavam no café aproxima-se da televisão «para ver melhor a garagem». Uma mulher impacienta-se: «Ó homem, cala-te. Deixa-me ver a garagem do Carlos Cruz. Olh’ós azulejos, tão lindos... Vistes?... Aquela ali a filmar não é a filha dele?» Minutos depois, a porta da garagem fechava-se e o ecrã da televisão ficava todo escuro. Naquele instante, acreditei que, à semelhança do que fez (e mal) com o canal 18, o governo tinha codificado (e bem) a emissão da TVI.- FN
 
Se tivesse que escolher
o álbum do ano passado, diria «Master and Everyone» de Bonnie ‘Prince’ Billy e «Tiny Voices» de Joe Henry.
Admitidamente, pouco percebo do que estou a falar. Quero dizer que não conheço os vários álbuns anteriores de Henry, e de Billy não conheço de todo os Palace (a não ser agora este último disco) e o seu outro «eu» Will Oldham. Conheço e gosto muito de «Ease down the road». Portanto, não cheguei a eles fruto de uma «carreira» de ouvinte assídua, informada e prolongadamente cultivada nos suplementos pertinentes. Não. Em vez disso, comecei com os Lambchop, com «Is a Woman», do qual amigos haviam falado bem e posto a tocar. E de repente descobri uma coisa, ia a dizer «um mundo», de que gosto muito e que fui associando, e isto é importante, ao último ano da minha vida. E que me interessa tanto do ponto de vista da mistura de estilos que confluem no «Nashville Sound» ou «Alt-Country» (soul, pop, country - claro, alguma coisa electrónica mas não muito, rock) como das emoções. Na verdade, estes rótulos interessam-me pouco. Porque a música ou são emoções ou não chega a ser quase nada, como a poesia, nisso se parecendo. Uma coisa levou a outra, o Kurt Wagner ao Josh Rouse, os Calexico aos Giant Sand («Shiver»!) e de um momento para o outro tinha um pequeno mundo de coisas novas que ouvi, e ouço, bastante. Sobre Bonnie ‘Prince’ Billy não me vou repetir. Em «Tiny Voices», que tem e não tem a ver com «Master and Everyone», repete-se a misturada de géneros, mas agora com mais jazz e com o acento forte na soul. E depois tem duas pérolas: «Animal Skin» (I remember when love was something I craved/But I settled for less and the comfort it gave/For living is hard when real love begins/and it leaves heavy lines on your animal skin) e «Flesh and Blood», esta última insuperavelmente interpretada, num outro disco, por Solomon Burke. - RB
quarta-feira, maio 5
 
Da não qualificação (parte III)
Outra questão é a de saber se a formação superior é de qualidade e se é adequada ao mercado de trabalho. Antes de mais, este segundo critério, como se vê pelo argumento anterior, não pode ser lido de forma demasiado redutora. E a própria pergunta não faz verdadeiro sentido face ao ensino superior e pós-superior no seu conjunto, porque há muita diversidade e assimetrias sérias em qualquer uma das dimensões consideradas. Qualquer que fosse, porém, a resposta a esta pergunta, ou à sua decomposição, a solução não é diminuir as qualificações, nem fazer os discursos miserabilista da vacuidade do "canudo" e do saudusismo espúreo das escolas comerciais e industriais, que bloquavam o acesso ao ensino superior. O que há a fazer é melhorar a tal "qualidade" (apertando o crivo às escolas privadas; e melhorando as condições das públicas) e estimular a tal "adequação".
Seja como for, não há semelhante coisa como "excesso de qualificações" - e ainda menos num país que tem aí o seu verdadeiro défice, persistente e estrutural.
Já é grave que estejamos confrontados, a este nível, com este quadro de não mudança. Mas mais grave é que este seja o discurso político do próprio primeiro-ministro (!) sobre qualificação. Durão Barroso ainda no outro dia falava dos "canudos", dos licenciados "que não sabem nada útil", da "tragédia" do fim do sistema educativo inigualitário que marcou o Portugal pré-25 de Abril. Uma verdadeira tragédia, sim: este discurso temeroso, defensivo e fechado, que é tão só o herdeiro directo do Portugal dos pequeninos, fechado sobre as suas próprias insuficiências.
Mais grave é que esta consensual prioridade de longo prazo não seja transformada numa prioridade de curto prazo e se diminuam financiamentos, se bloqueiem vagas do ensino superior, se estrangule as universidades e a investigação científica de forma absolutamente vergonhosa. Mais grave é que não se invista na formação profissional de forma séria, fazendo aliás exactamente o contrário, rompendo compromissos subscritos por todos os parceiros sociais, da CIP à CGTP, como o da formação mínima anual para cada trabalhador. Grave, e é o mínimo que se pode dizer. - MC
 
Da não qualificação (parte II)
Para lá da sua aparência pragmática de incentivo à decisão individual da "esperteza" na fuga à universidade, este discurso sobre "o excesso de diplomados" é na verdade uma ladaínha tacanha, míope e conservadora que reflecte décadas e décadas de atraso estrutural no plano das qualificações. A questão é que mesmo na infeliz qualidade de conselho "pragmático", não se pode ser mais enganador: como conclui o Banco de Portugal (e como concluirá qualquer estudo sério sobre esta questão), os licenciados têm ganhos e progressões salariais muito mais favoráveis do que pessoas menos qualificadas; e o mesmo se passa quanto a riscos sociais como o desemprego. Ora, isto não aconteceria se a situação fosse minimamente próxima de um "excesso" de licanciados no mercado.
A emergência do desemprego entre os licenciados (fenómeno até aqui inexistente não porque tal seja a situação mais natural ou sequer desejável mas apenas pela virtual e trágica inexistência de concorrência na oferta deste segmento de emprego), e a multiplicação e consquente desvalorização das credenciais de ensino superior e do correspondente estatuto social dos licenciados explicam, em larga medida, este discurso de resistência à massificação da universidade. Portugal está a deixar de ser um país dos senhores doutores, e os senhores doutores esperneiam. Parkin não encontraria melhor exemplo de fechamento social.
Se o mercado de emprego não absorve no imediato o acréscimo de diplomados dos últimos anos, é porque os tecidos produtivos estavam cronicamente formatados para um quadro marcado por mão-de-obra desqualificada. Mais: a oferta de formação não pode ser pensada apenas reactivamente, porque a existência de stocks de pessoas com altas qualificações cria margem de manobra para a reconversão das estruturas económicas e para novas iniciativas que tirem partido de um quadro qualificacional diferente. Por mais penoso que possa ser no curto prazo, e para os directa ou indirectamente atingidos pela concorrência ao nível das qualificações superiores, este novo quadro é estratégico para criar condições que objectivamente aumentam o potencial e induzem a modernização do país. - MC
 
Da não qualificação (parte I)
Há poucos discursos mais irritantes, e mais perversos, do que a velha história de que os jovens hoje "só querem é canudos", de que o mercado de emprego está saturado de licenciados porque já os há a mais e de que, neste quadro, não vale a pena ir para a universidade porque estamos a formar licenciados para o desemprego.
A verdade, porém, é outra. Portugal continua a ter uma percentagem de licenciados baixa quando comparado com os países mais desenvolvidos. Mais: mesmo entre os jovens há poucos licenciados quando nos comparamos com outros países europeus, o que significa que nem no espaço de duas ou três gerações o atraso neste campo, decisivo, será eliminado. Um quadro ainda mais preocupante se olharmos para a percentagem de pessoas que acabam o ensino secundário hoje em dia (41%), quando a média europeia é de cerca de 80% - o dobro!, mesmo nas gerações mais jovens. Aliás, não há nenhum país dos 25 da Europa alargada em situação sequer comparável (...tirando Malta). Ou seja, quadro mais preocupante, e catastrófico no longo prazo, não podia haver. - MC
 
Sounds familiar
Em entrevista ao público, o insuspeito João Salgueiro critica Durão Barroso por ter tido "mau juízo" e por se ter ido "longe demais a falar da crise": tal como há duas décadas atrás, "a economia já estava em reequilíbrio difícil e ainda se lhe deu uma pancada na cabeça". Diz ainda Salgueiro que "o desequilíbrio das finanças públicas é um problema agudo" mas que "não é preciso reequilibrar o défice à força" e que "a solução para os problemas do país não passa por reequilibrar as contas e esperar que a retoma venha do exterior". Como tem feito a dupla Durão-Ferreira Leite, leia-se. Será que vamos ter de continuar a ouvir durante muito tempo, contra todas as evidências, que só a oposição faz esta análise? - MC
 
O totalitarismo não prescreve
A recentemente condecorada Isabel do Carmo, no fundo, em nada mudou: querem algo mais autoritário e total que o nutricionismo? - RB
 
Scent of a woman



[Liz Hurley, publicidade para Estée Lauder]


O livro de Suskind «O Perfume» conta uma história divertida e da qual me lembrei a propósito da notícia este fim-de-semana sobre a morte de Estée Lauder. A de que a Igreja Católica inventou o perfume tal como hoje o conhecemos. O rigor histórico da coisa nunca me preocupou em demasia até porque, a não ter sido assim, então também pouco interessa a história.
Parece que os primeiros perfumes cheiravam a almíscar. Quer dizer, cheiravam literalmente a suor humano. A ideia era intensificar o cheiro, era que cada um de nós cheirasse mais – e não menos – a ser humano. Isto significa que aquilo que na altura se tinha por sensual e erótico estaria hoje em dia proscrito sob o rótulo «BO».
No contexto do livro, a historieta faz todo o sentido. Lembro que o protagonista, excelso perfumista, anda à procura de destilar a essência do cheiro humano, visto ele próprio ter nascido com esse mais terrível dos anátemas que é não cheirar a nada, o não exalar qualquer cheiro. Sucede que, para produzir tal essência, ele precisa de matéria-prima, e muita, que portanto laboriosamente degola, empilha e prensa.
Escandalizada com o terrível desassossego sensual promovido por esses primevos e rudimentares perfumes, a Igreja reagiu espoletando uma substituição de paradigma, instaurando um outro que ainda hoje domina. Inventou a água de rosas. Daí até à Estée Lauder vai um pequeno passo. Hoje em dia, cheirar bem é sobretudo não «cheirar mal», quer dizer, não cheirar a humano. O cheiro bom é o não-cheiro humano e o bom critério é o da sua dispendiosa e incessante ocultação. Norbert Elias explica muito bem em «O Processo Civilizacional» a ocidental repulsa generalizada pelo bodily odour. O resto, o capitalismo explica.
Ora, tudo isto é perfeitamente reaccionário e pouco civilizado. Eu pergunto: é ou não o cheiro de quem gostamos uma coisa fundamental? É que somos mamíferos, porra. Há alguma coisa melhor que enfronhar a cara na fronha da almofada onde ela dormiu – e inspirar? Foi esta iluminação intemporal, básica e sobretudo visceral que os primeiros criadores de perfumes tiveram mas que a Igreja tratou de sonegar às pessoas. A água de rosas é uma intrujice: basta atentar no destino que, ao longo dos séculos, a humanidade – no fundo, sábia, apesar da falsa consciência - lhe deu. - RB
terça-feira, maio 4
 
Uma família à espera de acontecer
O credo
Era uma vez um príncipe da música rock que era amigo de Bruce Springsteen e que se chamava Jon Bon Jovi. Uma vez, perguntaram-lhe o que é que ele mais gostava de fazer numa sexta à noite e ele respondeu: «Alugar um vídeo e ficar em casa com a minha namorada».

A bíblia
O R.A.U.

Uma trilogia
Dolby Surround 5.1
Opel Astra
Sintra Retail Park

Um acto pífio de resistência
Sport TV

PS. O profeta Bon Jovi sabia do que falava e ainda hoje é casado com a dita namorada. - RB
 
Verde e Branco: celebração envergonhada
Não sei quem inventou a expressão «no futebol não há vitórias morais», mas é certamente difícil encontrar afirmações-em-futebolês mais disparatadas. De facto, o que seria dos adeptos sem esse canal de conforto? E até há circunstâncias em que é o próprio adversário a assumir como «imoral» a sua vitória, o que só lhe fica bem. Veja-se o jogo de Domingo e a forma envergonhada como a «rapaziada do Colombo» tem celebrado o resultado. Para além dos aficionados, quem é que consegue perceber que a fotografia que o PAS utilizou neste post é a do Geovanni a festejar o golo da «vitória»? - JHJ
 
Verde e Branco: celebração conveniente
O Vitória de Setúbal vai jogar na Super Liga na próxima época. Para o meu pai - benfiquista em pequeno, pai de dois sportinguistas e vitoriano por «paz de consciência» -, não poderia haver melhor notícia no fim-de-semana em que o Benfica ganhou em Alvalade. - JHJ
segunda-feira, maio 3
 
Quiz da revolução: as respostas certas
Terminadas as comemorações, chegou o momento de avaliarem a vossa cultura revolucionária. As respostas certas às três partes do quiz já estão em "bold". - PR
 
País Relativo
«Compreendo a posição do governo português: Portugal apenas tem três militares no Iraque.»
José Bono, Ministro da Defesa de Espanha, Público, 24 de Abril

«Não morro de amores nem pelo dr. Portas nem pelo dr. Barroso.»
João de Deus Pinheiro, Março de 2002, citado pelo Expresso de 24 de Abril

«Nesta história [da manta], nem foi ele [Paulo Portas] o principal culpado, foram as suas fontes.»
idem

«Deus Pinheiro é o nome certo no momento certo.»
Durão Barroso, Expresso, 24 de Abril

«CDS receia só eleger um eurodeputado.»
Título do Público, 30 de Abril

«Gondomar é a capital da ourivesaria. Se por vezes se oferecem umas peças em ouro isso não significa compra de favores (...) No norte as pessoas são mais unidas, mais amigas e recebem bem.»
António Araújo Ramos, advogado do vice-presidente da câmara de Gondomar, Público, 23 de Abril

«Eu acredito que ele compra árbitros, mas isso não tem nada a ver com a câmara. Árbitros toda a gente compra, compreendes? E se o Valentim se for embora acabaram-se os passeios aos museus e as viagens de avião.»
Vanessa, jovem apoiante de Valentim Loureiro, Público, 24 de Abril

«Até perdi os Morangos com Açucar para estar aqui a apoiar o Valentim.»
idem

«Qual é o seu onze português para o Euro?»
Inquérito do Público

«A equipa toda da selecção do Brasil que jogou o último Mundial. Eu não sei o nome de todos... O Deco já está! Portanto, ainda temos um mês e meio para nacionalizar.»
Resposta de Rui Zink, Público, 24 de Abril - FN
 
Porque a história teima em repetir-se


Com um abraço da rapaziada do Colombo! - PAS
domingo, maio 2
 
Quiz da Revolução, última parte*

1. Nas presidenciais de 1986, a esquerda dividiu-se sobretudo entre Mário Soares, Salgado Zenha e Maria de Lurdes Pintassilgo, mas o PCP também queria participar na festa e reza a história que tinha como candidato oficial um cidadão de nome Veloso. Quem era?
a) António Veloso
b) Sousa Veloso
c) Rui Veloso
d) Ângelo Veloso

2. No calor do Verão Quente, com tiros à mistura, alguém proclamou: “o povo é sereno, é só fumaça!”. Quem foi o esteta?
a) Almeida Santos
b) Pinheiro de Azevedo
c) José Maria Pedroto
d) Vasco Gonçalves

3. Quem era o Fitipaldi dos chaimites?
a) Ramalho Eanes
b) Diniz Almeida
c) Pinheiro Azevedo
d) Salgueiro Maia

4. Jaime Neves, do Regimento de Comandos e operacional do 25 de Novembro, tinha por missão em 24/25 de Abril 'raptar' carochas da GNR para captar emissões rádio; quantos conseguiu:
a) Zero
b) Três
c) A GNR não tinha VW
d) Já andava com pouca vontade de fazer a Revolução

5. Qual o Partido cuja lema de campanha era: "cada voto em ... é uma espinha cravada na garganta do Cunhal"?
a) MRPP
b) PS
c) AOC
d) OCMLP

6. Que dirigente do MRPP ao ver José Manuel Durão Barroso chegar com um camião de cadeiras e mesas recentemente nacionalizadas da Faculdade de Direito de Lisboa lhe disse: «Devolve lá essa merda, pá, tás maluco, não queremos cá isso...Já chegámos à China ou quê?»
a) Arnaldo de Matos
b) Saldanha Sanches
c) Maria José Morgado
d) Maria João Rodrigues

7. Qual o símbolo do partido AOC - Aliança Operária Camponesa?
a) espiga e chave inglesa empunhados por mãos feminina e masculina
b) foice e martelo cruzadas em simetria à bandeira da União Soviética
c) castelo de Guimarães
d) um manguito do Rafael Bordalo Pinheiro

8. Quem foi o primeiro capitão da equipa de Benfica eleito por votação, apenas depois de 1974:
a) Toni
b) Bento
c) Humberto Coelho
d) Eusébio

9. Alguma vez foi decretada greve no Governo português?
a) Sim, pela mão do General Vasco Gonçalves
b) Não, "é só fumaça"
c) Sim, pela mão do Almirante Pinheiro Azevedo
d) Sim, pela mão de Torres Couto e José Luís Judas

10. Quantos kilómetros tem o percurso máximo da Corrida da Liberdade, entre o Quartel da Pontinha e os Restauradores:
a) 10 km
b) Depende da linha de Metro utilizada
c) 25 km
d) Tem o patrocínio do serviço Porta-a-Porta da Câmara Municipal de Lisboa

Responda à parte I do Quiz da Revolução aqui.
Responda à parte II do Quiz da Revolução aqui.
* Amanhã no PR, todas as respostas certas - PR
sábado, maio 1
 
Quiz da Revolução, parte II*

1. Qual o partido mais votado nas eleições de 1975 para a Assembleia Constituinte?
a) P.P.D.
b) M.E.S.
c) P.S.
d) U.D.P.

2. Qual era a bebida (favorita) que acompanhava sempre a consciência de Agostinho Neto?
a) Vinho branco de Bucelas
b) Johnny Walker (any label)
c) Vodka de Moscovo
d) Alcool

3. 'Com as Minhas Tamanquinhas' é um álbum de 1976 de Zeca Afonso, que conta com a participação de
a) Quim Barreiros
b) Emanuel
c) Anjos
d) As Doce

4. Quem fez o telefonema do Grémio Literário para o Quartel do Carmo para conseguir a rendição de Marcello?
a) José Borga
b) Pedro Feytor Pinto
c) Vitor Melícias
d) José Policarpo

5. Quem esteve durante mais tempo na frigideira do Tarrafal?
a) Edmundo Pedro
b) Bento Gonçalves
c) Francisco Lyon de Castro
d) Pavel

6. Onde estava o homem da Força Aérea - Diogo Neto – e porque é que não apareceu na Conferência da Junta de Salvação Nacional?
a) Esqueceu-se e ficou em casa
b) Tinha dúvidas e foi para o Carmo, ter com a GNR e Marcello
c) Em Moçambique, a bombardear «terroristas»
d) Enganou-se e foi para o Rádio Clube Português

7. Carlos Brito, histórico do PCP, estava com camaradas à espera do 1º comunicado do MFA aos microfones do Rádio Clube Português. Como se entretinham?
a) a jogar à sueca
b) a jogar à lerpa
c) a jogar à batalha naval
d) a jogar xadrez com relógios soviéticos oferecidos pelo Anatoly Karpov

8. Há vários anos que o POUS persegue o título mundial de partido com menos militantes. Quem são os dois irredutíveis mais notáveis:
a) Benedita Pereira e Pedro Henriques
b) Júlio Pereira e Fernanda Pires da Silva
c) Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues
d) Fernando Pereira e Ana Maria Magalhães

9. Há quem pense que a censura acabou como 25 de Abril, mas só um dos seguintes pares de músicas dos Xutos Pontapés NÃO FOI censurado pela Rádio Renascença – Emissora Católica Portuguesa. Qual deles?
a) Mãe e Avé Maria
b) A Minha Aventura Homossexual com o General Custer e Não Sou Jesus
c) Sexo e Sémen
d) Isso da censura ainda está por provar

10. Qual o significado das siglas MRPP?
a) Movimento Revolucionário do Proletariado Português
b) Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado
c) Meninos Rabinos Pintam Paredes
d) Movimento Revolucionário Pum Pum

Responda à parte I do Quiz da Revolução aqui.
* Uma iniciativa do clube de política «Imaginar Portugal» - PR


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