terça-feira, agosto 31
Palavras para quê?
este homem é que é o Ministro do Mar.
os portugueses "vivem num país livre onde há liberdade de expressão", mas ao Estado compete "fazer cumprir a lei". Paulo Portas dixit.
- PAS
segunda-feira, agosto 30
Más ondas
O triste folhetim do barco da women on waves, lamentável desde o princípio, parece ser infindável. E seria um discreto bocejo estival, não fosse a multiplicação dos sinais de máxima gravidade nesta história, que tinha, é verdade, tudo para ser um bom golpe publicitário e um episódio mais ou menos bem sucedido de campanha cívica a favor da despenalização do aborto. Mas não mais do que isso.
Começou com o IPJ a ameaçar os promotores portugueses da iniciativa de cortar financiamentos à organização, por mero garrote de uma inusitada censura de Estado, antes de tentar sequer averiguar se havia irregularidades na utilização de quaisquer apoios públicos. Continuou com a patética e desproporcionada escolta do navio, em águas internacionais, por barcos da marinha portuguesa, que claramente não devem ter nada mais importante para fazer. E arrasta-se com a proibição de permitir que o navio se possa aproximar da costa para atracar.
O mais espantoso de tudo é que esta sucessão de coisas vai acontecendo, na máxima tranquilidade, sem merecer grandes comentários ou justificações por parte de quem toma semelhantes decisões. Do Governo, claro, nem sinal. Como dizia o outro, tudo perfeitamente normal. É isso que é grave. - MC
Verão azul
No calendário, o Verão termina um pouco mais tarde, mas com o final de Agosto as férias políticas na prática acabam. E começa a tornar-se inevitável escrever sobre tudo aquilo que, suave e militantemente, tentámos ignorar durante as férias. Acabaram os jogos olímpicos, os fogos que são sempre culpa do calor, as reportagens sobre as bandeiras azuis, afogamentos, salvamentos e afins, poluição das praias ou sobre os "famosos" em veraneio, alheios à "crise" que para aí vai.
Será, então, tempo de o dr. Santana Lopes começar a pensar em ser notícia por razões mais prometedoras do que a escolha do dr. Fernando Negrão para um ministério chamado "da Segurança Social, da Família e da Criança". Ou o debate estruturante em torno da pulseira do Ritz. Ou o truque circense das secretarias de estado plantadas, à pressão, como eucaliptos, pelo país. Ou a mão cheia de entrevistas que foi dando, muito blasé e cheio de si mesmo, no mais puro vácuo.
O Verão chega ao fim e há uma regularidade em tudo isto. Que longe de dissipar as reservas iniciais, começa a assustar. Assustar. É a palavra certa. - MC
domingo, agosto 29
Asleep in the back
Were you crushed
Did I rush you
All my time is yours
My twisted heart is yours
The faithless shit is yours
The shameless fits of love that only smother you for moments
Until I fold them up and leave
All yours
Oh you had to ask, didn't you?
Oh you had to know
Show your scars
Not to rush you
The hieroglyphic hints in all the toilet scrawl
Guilty little pins
And all the things I never talk about
Are spilling with the gin
Test how tough you are
All yours
Oh you had to ask, didn't you?
Oh you had to know
Not to rush you...
Elbow, Asleep in the back (2001) - MC
sábado, agosto 28
Finisterra
Hoje o meu irmão cumpriu um desejo meu, velho de anos. Percorridas várias ilhas dos Açores, venceu o enjoo e desembarcou no Corvo para o primeiro concerto de uma orquestra naquela terra circunscrita em que a palavra periferia parece um eufemismo demasiado suave, e cinzento, e técnico, para o desolado isolamento vivido no fim ocidental de um certo mundo. Se há poética da insularidade habitada, é ali, na naturalidade daquelas centenas de pessoas, que a encontraremos. Não fui ainda ao Corvo; mas fico hoje um pouco mais próximo do desconforto semicerrado daquele ilhéu. Reconfortado. - MC
sexta-feira, agosto 27
O Público errou outra vez
Sempre que leio alguma peça jornalística sobre algum dos (poucos) assuntos que domino, encontro invariavelmente incorrecções, preguiça, ignorância. E não estou apenas a falar dos comentários dos especialistas em generalidades, mas também no chamado «jornalismo de investigação». Por exemplo, ontem, a jornalista Isabel Braga, escreveu o seguinte na primeira página do Público: «O juiz desembargador Varges Gomes, do Tribunal da Relação, que é o relator do recurso do Ministério Público da não pronúncia de Paulo Pedroso no processo da Casa Pia, foi um dos fundadores da Fundação e Prevenção e Segurança (FPS), criada por Armando Vara, ministro da Administração Interna (MAI) do primeiro Governo de António Guterres.» Sem perder tempo com a insinuação acerca da falta de isenção do juiz, há uma coisa que desde logo me chama a atenção: Armando Vara nunca foi ministro da Administração Interna; nem no primeiro nem no segundo governo de António Guterres. Ora, se o Público funciona assim nos assuntos que conheço, como é que hei de confiar no que este jornal escreve sobre o que não estudei? - FN
quarta-feira, agosto 25
O primeiro-ministro e as secretárias
O monstro populista tem várias faces, de tal modo que não só olha para muitos lados ao mesmo tempo, como até por vezes corre o risco de o fazer para lugares contraditórios. Senão vejamos, esta semana, a comunicação social, naquele seu jeito tablóide que tende a tornar-se hegemónico, noticiou abundantemente as diversas nomeações para os gabinetes ministeriais, culminando tudo nas 13 secretárias nomeadas pelo primeiro-ministro para o seu gabinete. A notícia tem um encanto inicial, que à primeira vista faz crer que estamos perante mais um exemplo de políticos que se "enchem" e que "enchem" os seus amigos. A verdade é que pode ser assim e pode não ser assim.
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terça-feira, agosto 24
Desmentido
A propósito do meu post de sábado, «A culpa não pode morrer solteira», recebi o seguinte comment da Dra. Raquel Santos, da empresa Fertagus:
«Lamentamos a falta de conhecimento de quem publica este tipo de artigos. Pois a empresa que assegura o transporte fluvial é a Transtejo e não a Fertagus. Gostaríamos de ver publicado um desmentido no prazo máximo de 5 dias úteis a salvaquardar o bom nome da Fertagus.
Raquel Santos»
Confirmo o meu desconhecimento acerca do transporte fluvial. Os meios de transporte - fluviais, aéreos, marítimos, terrestres, ferroviários ou espaciais - não são o meu forte. Seguindo o exemplo da minha avó, ando a pé no meu bairro e vejo o mundo pela televisão. Foi precisamente através da televisão que soube que um senhor apressado tinha morrido afogado no Tejo, depois de ter saltado do barco antes do tempo. Na peça, a repórter atacava, incompreensivelmente, a empresa de transporte fluvial. Percebi que a empresa se chamava «Fartejo»: tenho mau ouvido. Depois, fontes próximas, informaram-me que se tratava, provavelmente, da Fertagus. Mas a responsabilidade do erro é inteiramente minha. Neste sentido, no prazo mínimo de um dia útil, e a fim de «salvaguardar o bom nome da Fertagus», informo que a empresa que eu pretendia defender «neste tipo de artigos» era a Transtejo e não a Fertagus.
- FN
viva l'Italia, l'Italia che resiste
Eu não sei mas suspeito. A Itália anda a ganhar medalhas na ginástica. Primeiro, um regressado Iuri Chechi, bronze nas argolas - que merecia mais, mas os juizes foram caseiros e beneficiaram um grego. Ontem, na barra fixa, um magnífico Igor Cassina, que fez um novo elemento, já com o seu nome, e conquistou o ouro. Iuri e Igor. Ninguém em Itália tem estes nomes. Eu não sei mas suspeito que estes rapazes são filhos da "Italia che resiste", que os pais eram do PCI e incentivaram-nos a fazer ginástica. - PAS
segunda-feira, agosto 23
Até ao outro extremo
A meio de Agosto, meio a derreter de calor, uma viagem até ao outro extremo do sistema. Solar.
PLUTO
Excuse me
but I just have to explode
Explode this body
off me
I'll wake-up tomorrow
brand new
A little bit tired
but brand new
Bjork (1997), Homogenic
- MC
sábado, agosto 21
Ainda há heróis
Veio da Nigéria para trabalhar nas obras. O Belenenses recuperou-o para o atletismo. Chama-se Francis Obikwelu. É um herói português.
- FN
A culpa não pode morrer solteira
Não sei porquê, mas criou-se a ideia de que em Portugal a culpa morre sempre solteira. Preocupados com a sorte da dita culpa, os jornalistas esforçam-se diariamente por arranjar bodes expiatórios. Ontem, no Cais do Sodré, um cidadão apressado tentou saltar para a plataforma antes do barco atracar. Terá calculado mal a distância e acabou por morrer afogado no Tejo. A culpa só podia ser da Fertagus: «por que razão não têm mais seguranças a controlar as saídas dos barcos?», perguntava uma jornalista indignada.
Nos últimos anos, vários jovens têm sofrido traumatismos em resultado da queda de balizas. Admito que as histórias e as causas até possam ser diferentes entre si. Mas em todas parece haver um ponto em comum: antes da tragédia acontecer, os jovens penduraram-se nas barras das balizas. Invariavelmente, os jornalistas exploram a dor das famílias e acusam as autarquias de negligência. Sempre que alguém perde a vida, a responsabilidade, por definição, não deve ser imputável ao protagonista da tragédia. Tirando o pobre do Zé Maria, ninguém gosta de morrer, não é verdade? - FN
quinta-feira, agosto 19
Esperteza saloia
Uma vez perguntaram a Salazar por que razão os portugueses, ao contrário de outros povos europeus, não podiam viver em democracia. O ditador justificou-se com a tendência dos portugueses para a desobediência, que, segundo ele, só poderia ser controlada por um Estado autoritário. É, de facto, uma coisa que vem de longe. Durante o PREC, destapou-se a tampa e o país assistiu a mais uma explosão de «desobediência», nuns casos politicamente orientada mas muitas vezes inorgânica. Com a consolidação da democracia, os militares voltaram para os quartéis e a maioria dos cidadãos foi à sua vidinha. A sociedade despolitizou-se, mas o «bichinho» da desobediência ficou. Aqui ou ali, vão surgindo agora «novas formas de luta», de preferência sem motivações cívicas: bloqueando estradas, organizando milícias populares, fugindo ao fisco, ultrapassando limites de velocidade, cuspindo para o chão ou praticando o «tuning» - alguns compatriotas fazem tudo para preservar a gloriosa "identidade nacional".
A última moda é avariar os parquímetros da EMEL. Na minha rua, as máquinas estão todas partidas. A EMEL arranja, mas no dia seguinte fica tudo na mesma. Obter o cartão de residente dá muito trabalho. Passei dois dias na loja do cidadão a mudar o bilhete de identidade, a carta de condução e o cartão de eleitor. Para nada. Pensando bem, é muito mais simples partir aquilo tudo. - FN
quarta-feira, agosto 18
O tempo certo
Há uns tempos, subia a Rua da Escola Politécnica com um amigo quando nos cruzámos com o dr. Souto Moura e o seu imperturbável semi-sorriso. "Olha, aquele ali não era o Procurador-Geral da República"? Era, pois. - MC
O País Pirata
Com particular intensidade já lá vai mais de um ano, o País anda num processo lento de apodrecimento. Sim, isso mesmo. Apodrecimento, decomposição lenta das suas características essenciais, das suas instituições. Até que ponto este processo é definitivo é que está ainda por saber. É natural que seja difícil identificar uma causa única que nos tenha trazido até aqui. Como em todos os fenómenos complexos, há sempre um conjunto de causas explicativas. Não será, por isso, de excluir que o estado a que chegámos resulte, entre outros factores, de sermos uma democracia menos institucionalizada do que todos nós pensávamos; de termos meios de comunicação social que agem dentro de uma alegre e sobranceira impunidade; e de os agentes institucionais dos quais depende o regular funcionamento da democracia se revelarem manifesta e objectivamente incapazes de desempenhar as funções que lhes competem. Com o panorama que vivemos, é natural que os portugueses lancem um olhar entre o cínico e o fársico sobre as suas instituições e o regime que estas suportam. continue a ler aqui.- PAS
Excesso de auto-estima
A presença portuguesa nos jogos olímpicos de Atenas está a ser, genericamente, a desgraça do costume. Mas há um desporto em que batemos recordes mundiais: inventar histórias para justificar más prestações. De facto, é pena não estarmos perante um desporto olímpico, porque no campeonato das desculpas esfarrapadas ganharíamos certamente a medalha de ouro.
Ao longo destes dias, tenho visto as entrevistas dos «atletas» à RTP e constato que a culpa dos maus resultados nunca é deles. Em plenas olimpíadas, o nadador ficou abaixo dos mínimos olímpicos: «a federação não me apoia o suficiente, está a ver?» O velejador deixou cair a vela: «foi da falta de vento, percebe?». A exibição do voleibol de praia deixou muito a desejar: «nunca tínhamos jogado à noite...». O cavaleiro ficou em vigésimo lugar (se calhar, o cavalo constipou-se): «rezei para que ele não caísse do cavalo, o resto não me interessa...», diz a mulher. No tiro, o mesmo resultado, a mesma resposta: «não entrei bem na primeira prova, e depois já entrei na segunda um bocado nervoso». Para quê complicar? Bastava reconhecerem esta coisa tão simples: «isto correu assim porque eu sou uma merda». - FN
sexta-feira, agosto 13
Frase retirada do contexto
"É um momento que não se repete. Como não vou viver outra vez, não podia perder esta oportunidade". Jorge Sampaio, depois de uma oportuna tomada de posição sobre um momento particularmente decisivo para o país. - MC
quarta-feira, agosto 11
Diz-me com quem andas
Há sensivelmente dez anos, quando Tony Blair iniciou o percurso que o levaria a primeiro-ministro britânico, poucos se atreveriam a prever o que veio a acontecer. Com uma agenda política baseada na vontade de construir um New Labour, capaz de olhar para o futuro, quebrando os imobilismos que tinham afastado o partido do poder por mais de quinze anos e com vontade de romper as resistências de um aparelho arcaico que tolhiam a sua acção, Tony Blair parecia preconizar um projecto de esquerda moderna. Para além do mais, com um sustentáculo ideológico com uma densidade pouco comum na política partidária. No entanto, logo na primeira campanha eleitoral, Tony Blair começou a defraudar as expectativas criadas, dando a entender, em muitos momentos, que estava disposto a fazer cedências à demagogia.
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terça-feira, agosto 10
Um dia de raiva
Ontem em Albufeira, chuva de Agosto. Apesar da "crise" do sector do turismo, largas dezenas de milhares de pessoas a mais num inferno estival, produto complexo de décadas e décadas de especulação desenfreada. Às primeiras chuvas, acidentes por todo o lado, um trânsito caótico. Todas as entradas e saídas bloqueadas, gente sem fim aprisionada no calor húmido e abafado dos carros, a caminho de casa ou das praias, dos centros comerciais, hipermercados e zoomarines.
Triste a hora em que decidi deixar o refúgio de todos os anos numa cada vez menos recôndita ruralidade não muito longe desse aborto urbano para, inocentemente, como todos os dias, tentar comprar jornais. Resultado: um mergulho a frio num caos indizível e bem mais de duas horas para percorrer pouco mais de dois quilómetros. Nem de propósito, chuva e trânsito, muito pior que alguma vez em Lisboa. É verdade que o regresso já estava programado, mas a rejeição, essa, é absoluta. Que melhor dia para voltar? - MC
quinta-feira, agosto 5
O Prato do Dia
Uma coisa que é conhecida sobre os governos populistas é que se sabe como começam, mas raramente se sabe para onde nos levam e como acabam. O governo do dr. Santana e dos seus amigos começou muito mal e tem em si um pecado original do qual não se livrará. Falta-lhe a legitimidade do voto. Sem ter sido sufragado, o dr. Santana, quando comparado, por exemplo, com o dr. Jardim, tem essa fragilidade acrescida. Contudo, é ainda demasiado cedo para se saber para onde caminha. Se bem que seja verdade que, até prova em contrário, tudo indicia que caminha de desastre em desastre até a uma varridela eleitoral daqui a dois anos. Não devemos, ainda assim, ter ilusões, pois o pouco que até agora se viu não é nada. Deste Governo, o pior ainda está para vir. E para enfrentar o pior convém conhecer o adversário e estar preparado para lhe fazer face.
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