<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
quarta-feira, março 23
 
O País Relativizado
O país relativo faz hoje dois anos. Dois anos depois, continuamos a acreditar naquilo que nos fez querer relativizar o país. Que a política tem uma vida e que há vida para além da política. Que há um caminho, que nem sempre é o mais fácil, entre os extremos - que, como a blogosfera prova, tantas vezes se atraem e se tocam apesar da sua aparente incomunicabilidade. Que temos, todos, um compromisso pessoal de que não abdicamos com uma certa política e com os modos de a fazer e viver. E que entre as piores das tentações encontra-se a miragem do absoluto.
Foi em nome disso que o país relativo nasceu. Para escrever sobre tudo e sobre os nadas que lhe iam dando sentidos. E, na verdade, nada disto deixou de fazer sentido. Mas se dois anos é muito tempo num projecto colectivo, num blogue é mais ainda, designadamente quando, para muitos de nós, estes estiveram longe de ser dois anos normais.
Faz hoje dois anos. Agora apetece-nos parar. Aliás, precisamos, todos, de parar. Precisamos de um fim, que tem sido tantas vezes adiado. Até para pensar em tudo o que não escrevemos e em nome da energia dos recomeços.
O país relativo, o blogue, acabou.
 
Fim


terça-feira, março 22
 
O lado esquerdo
Science fiction is not predictive; it is descriptive.
Predictions are uttered by prophets (free of charge); by clairvoyants (who usually charge a fee), and are therefore more honored in their day than prophets; and by futurologists (salaried). Prediction is the business of prophets, clairvoyants, and futurologists. It is not the business of novelists. a novelist's buysiness is lying.
The weather bureau will tell you what next Tuesday will be like, and the Rand Corporation will tell you what the twenty-first century will be like. I don't recommend that you turn ro the writers of fiction for such information. It's none of their business. All they're trying to do is tell you what they're like, and what you're like - what's going on - what the weather is now, today, this moment, the rain, the sunlight, look! Open your eyes; listen, listen. That is what the novelist say. But they don't tell you what you will see and hear. All they can tell you is what they have seen and heard, in their time in this world, a third of it spent in sleep and dreaming, another third of it spent in telling lies.
«The truth against the world!» - Yes. Certainly. Fiction writers, at least in their braver moments, do desire the truth: to know it, speak it, serve it. But they go about it in a peculiar and devious way, which consists in inventing persons, places, and events which never did and never will exist or occur, and telling about these fictions in detail and at lenght and with a great deal of emotion, and then when they are done writting down this pack of lies, they say, There! That's the truth!

[Ursula K. Le Guin, introdução a The Left Hand of Darkness, Ace Science Fiction, 1976]
- RB

 
O que é que já fizeste para cumprir o plano?


Isto.
- RB
 
Quinze anos é muito tempo


Fará, salvo erro, quinze anos por estes dias. E no entanto foi ontem que ouvi pela primeira vez, numa sala que já não existe, este álbum, seguramente o que mais me acompanhou e marcou ao longo dos anos. Não é pelas memórias que traz, e são muitas, é pela vida inteira que carrega, feita e refeita e desfeita tantos e tantos dias, tempos de infinitos fins e recomeços. Ainda hoje, quando de vez em quando o retomo por entre as entrelinhas, o sentido está todo lá. Apropriadamente, o nome diz quase tudo: disintegration. - MC
 
Coisas que ando para postar há meses


"Chi parla male, pensa male e vive male. Bisogna trovare le parole giuste: le parole sono importanti!"
("quem fala mal, pensa mal e vive mal. É preciso encontrar as palavras adequadas: as palavras são importantes!")
Michelle (N. Moretti) no Palombella Rossa
- PAS
 
Estilos
O debate correu bastante bem ao governo. Aliás, correu mesmo muito bem. Sintomático disso mesmo é que entre as acusações feitas pela oposição (dividida entre o ressentimento do PP e a falta de rumo do PSD), pasme-se, estava a de que o PS plagiou no programa de governo o programa eleitoral. O que, pelos vistos, é coisa má. Adiante.
Mas para além da performance muito segura e conseguida de José Sócrates, destacou-se Freitas do Amaral. E destacou-se porque, ao contrário do que é costume no parlamento, respondeu, sem desvios, ao que lhe era perguntado. Não se escondeu em exercícios de retórica (nem em piadas repetidas, como fez, por exemplo, António Vitorino para dizer absolutamente nada e para não responder a absolutamente nada) e enfrentou de frente as acusações que lhe eram feitas. Ainda assim, o momento alto terá sido quando Marques Guedes leu, em modo acusatório, um excerto de um livro de Freitas do Amaral, onde eram feitas apreciações justíssimas à política externa norte-americana. Resultado: aplausos de toda a esquerda parlamentar. As frases eram boas e tinham estilo.
A verdade é que enquanto se fala de prestigiar a classe política e de defender o parlamento, era bom que todos percebessem que para tal é preciso que os parlamentares e os governantes se dêem ao respeito. E dar ao respeito implica, entre outras coisas, não ter medo de responder às questões, mesmo quando elas acentuam clivagens que, é a vida, existem mesmo. O estilo de Freitas do Amaral no debate parlamentar é, por isso, um bom estilo e, além do mais, contrastante com o habitual. - PAS
 
Coisas que ando para postar há meses



No veramente non...non mi va. Ho anche un mezzo appuntamento al bar con gli altri. Senti, ma che tipo di festa è? Non è che alle dieci state tutti a ballare i girotondi ed io sto buttato in un angolo...no. Ah no, se si balla non vengo. No, allora non vengo. Che dici vengo?. Mi si nota di più se vengo e me ne sto in disparte o se non vengo per niente? Vengo. Vengo e mi metto, così, vicino a una finestra, di profilo, in controluce. Voi mi fate "Michele vieni di là con noi, dai" ed io "andate, andate, vi raggiungo dopo". Vengo, ci vediamo là. No, non mi va, non vengo.

(Não, na verdade não... não me apetece. Tenho aliás uma meia combinação no café com os outros. Ouve, mas que tipo de festa é? Não é que às dez estão todos as dançar em roda e eu atirado para o canto... não. Ah não, se se dança não vou. Não, então não vou. Que te parece, vou? Mas nota-se mais se vou e se estou à parte ou se não vou de todo? Vou. Vou e fico, assim, junto a uma janela, de perfil, em contraluz. E vocês dizem, "Michele vem para aqui, vá lá" e eu, "vão, vão, eu junto-me depois". Vou, vemo-nos lá. Não, não me apetece, não vou.)

Michele (N. Moretti), no Ecce Bombo, respondendo ao telefone a um convite de uma amiga para ir a uma festa.- PAS
 
How perfect can imperfection be?

- MC
 
Os dias de amanhã
Há dias que não chegam, e outros que nos atravessam rápido demais. Dias passados mas não vividos. E por entre os dias há sempre quem sonhe com um outro, o de todos os sonhos, ou de todos os sentidos. Que não existe, e provavelmente nunca existirá.

One day

One day, it will happen
One day, it will all come true
One day, when you're ready
One day, when you're up to it

The atmosphere will get lighter
and two suns ready to shine just for you
I can feel it...

One day, it will happen
One day, it will all make sense
One day, you will blossom
One day, when you're ready

An aeroplane will curve gracefully
around the volcano with the eruption
that never lets you down
I can feel it...

And the beautifullest fireworks
are burning in the sky just for you
I can feel it...

One day, one day

Bjork, Debut, 1993. - MC
segunda-feira, março 21
 
Portugal sacro-profano lugar onde
Neste país sem olhos e sem boca
hábito dos rios castanheiros costumados
país palavra húmida e translúcida
palavra tensa e densa com certa espessura
(pátria de palavra apenas tem a superfície)
os comboios mansos têm dorsos alvos
engolem povoados limpamente
tiram gente de aqui põem-na ali
retalham os campos congregam-se
dividem-se nas várias direcções
e os homens dão-lhes boas digestões:
corediros de metal ou talvez grilos
que mãe aperta ao peito os fihos ao ouvi-los?
Neste país do espaço raso do silêncio e solidão
solidão da vidraça solidão da chuva
país natal dos barcos e do mar
do preto como cor profissional
dos templos onde a devoção se multiplica em luzes
do natal que há no mar da póvoa de varzim
país do sino objecto inútil
única coisa a mais sobre estes dias
Aqui é que eu coisa feita de dias única razão
vou polindo o poema sensação de segurança
com saúde de um grito ao sol
combalido tirito imito a dor
de se poder estar só e haver casas
cuidados mastigados coisas sérias
o bafo sobre o aço como o vento na água
País poema homem
matéria para mais esquecimento
do fundo deste dia solitário e triste
após sucessivas quebras de calor
antes da morte pequenina celular e muito pessoal
natural como descer da camioneta ao fim da rua
neste país sem olhos e sem boca


Ruy Belo

- PAS
domingo, março 20
 
A parte grátis do programa
Durante a campanha eleitoral, José Sócrates fez uma inteligente gestão do que dizia. A atitude reservada foi prolongada ao período de feitura do governo e, nos últimos dias, transformou-se num inédito blackout extensível a todo o executivo ? certamente para fazer face a alguns dislates iniciais e iniciáticos. Até aqui tudo bem. Acontece que a gestão contínua dos silêncios tem o reverso da medalha: aumenta as expectativas face aquilo que se dirá. E não tenhamos dúvidas, depois de uns meses de desvario santanista e de dois anos de erros de Durão, as expectativas dos portugueses são altas. Provavelmente demasiado altas.
Era por isso inevitável que quando o governo apresentasse o seu programa surgisse um coro de críticas. Um coro que aliás teria inevitavelmente vários tons. O daqueles que dizem, «nada de novo», porque faltam as miríficas reformas; combinado com as vozes dos que afirmam que afinal a ampla maioria eleitoral de esquerda traduziu-se «num programa de direita e de cedência ao capital, ao neo-liberalismo e aos interesses»; e, finalmente, os que aparecem a dizer que, por detrás de umas quantas bravatas, fingindo que se enfrenta os interesses, «nada de relevante sobra».
(Continue a ler aqui)
- PAS
 
Quase sem querer


e sem querer
e contra tudo o que sonhei
o tempo foi
em gestos crus
gestos vis
fazendo em mim
o quanto quis
para me deixar
esta nudez
e o vazio

fogo frio
e pouco mais

pouco mais
que esta voz
que me diz
vá, tens de beber
mais este dia
até ao fim

Rádio Macau, Onde o tempo faz a curva (2000), letra: Pedro Malaquias
- MC
 
Bastava um gesto


bastava um gesto
quase um olhar
meia palavra
se calhar

bastava a breve
sombra angular
do teu silêncio
singular

e se cantasses
na noite fria
o canto negro
do bandido
e me deixasses
numa agonia
rendida e entregue
sem sentido

Rádio Macau, Onde o tempo faz a curva (2000), letra: Pedro Malaquias
- MC
sábado, março 19
 
Coerência até ao fim


Na verdade, este episódio Ferreira Leite não tem nada de espantoso.
A senhora foi, na bancada do PSD na oposição, a principal voz de denúncia da derrapagem orçamental no final do governo Guterres e da maquilhagem das contas públicas. Chegou ao governo e fez muito pior. Mais truques, mais receitas extraordinárias, mais contabilidade criativa, mais desorçamentação, fazendo com o que se passara antes parecesse uma brincadeira de crianças.
A senhora aceitou ser ministra das finanças de um governo eleito com um programa que prometia um choque fiscal imediato, leia-se baixa significativa de impostos. Chegou ao governo e aumentou-os poucos dias depois das eleições, justificando-se com o estado das contas públicas - quando na verdade não podia invocar tal argumento, dado que na oposição tinha já traçado um cenário de catástrofe a esse nível.
Por fim, no governo anunciou vinte vezes uma retoma que sabia não existir. Sabia não existir. Mentiu sabendo que o estava a fazer, tal como Durão.
É notável que uma personagem destas se arrogue a aura de rigor e de credibilidade de cuja pose parece não abdicar, e que isso a tenha tornado "desejada" para a lidernça do PSD pós-santana. É verdade que isto revela uma notável coerência até ao fim: mentiras, falsas promessas, falta de rigor. Mas, por isso mesmo, a memória serve também para lembrar que o desastre do PPD de Santana começou muito antes. E que mesmo aqueles que mais têm, habilidosamente, escapado a ser associados a ele estão, em larga medida, na sua origem. - MC
 
Nem é preciso ser bom entendedor
Lembram-se da dra. Manuela Ferreira Leite? Era uma senhora que, enquanto esteve no governo como ministra de estado e das finanças com aura impoluta de rigor e austeridade, dizia e repetia em coro com o dr. Durão e com o dr. Delgado que a "retoma" estava aí, estava a começar, só não via quem não queria por pura cegueira ou manifesta desonestidade.
Mas eis que, afinal, parece que não é bem assim. Retoma? Nem daqui a quatro dias, nem daqui a quatro meses, nem daqui a quatro anos. Hoje, incrédulos, ouvimo-la dizer num telejornal, com o ar mais cândido do mundo, que não sabia se era "possível recuperar a economia portuguesa nos próximos quatro anos". Mas então não estava tudo no bom caminho? A questão, repare-se, não era de desacordo nas políticas, como a própria frisou; é uma questão de "possibilidade". Perceberam como as coisas ficam ao fim destes três anos? - MC
sexta-feira, março 18
 
Maioria muito relativa
Foi renhido. Mas, ontem, por uma vez, no momento da substituição de Hugo frente ao Middlesborough os adeptos do Sporting que o aplaudiram (ou a substituição?), pareceram ser em maior número do que aqueles que, mais "calorosamente", o assobiaram. Cada clube tem os seus mitos, e os de Alvalade há muito perderam o seu: o da massa associativa mais incondicional do país. - MC
quinta-feira, março 17
 
Isto é mesmo a sério
Hoje tive bem a noção da gravidade da seca em Portugal. Até eu consigo ver a diferença de cor entre as duas fotografias do Público. - MC
quarta-feira, março 16
 
Re-autarca de charme
Na hora do regresso, Santana saudou "calorosamente" os lisboetas, dizendo que "não há trabalho mais bonito em política do que o trabalho autárquico". É bonito, de facto. O pior vai ser quando os "lisboetas", "calorosamente", lhe derem o destino que merece. - MC
terça-feira, março 15
 
...mas que eles existem, existem...
"Os medicamentos de venda livre devem estar disponíveis nos supermercados?

Este inquérito foi suspenso devido à constatação de uma fraude na votação. Foram detectadas máquinas que contornavam o sistema de validação concebido para impedir a repetição do voto pela mesma pessoa e que votavam sistematicamente na opção NÃO."

(no Público online)

Não sei se é um sinal. Mas se for é bom. - MC
 
Abortar um aborto
Sócrates anunciou que vai acabar com o epidérmico simulacro de descentralização que foi a triste experiência da "deslocalização" (como na altura se dizia) de um punhado de secretarias de estado. Devia haver uma palavra para dizer "abortar um aborto". Como não me ocorre, ocorre dizer que se trata do mais elementar bom senso. - MC
 
Ala esquerda do PS está descontente com o Governo?
Confesso que já por várias vezes fiz declarações à imprensa que depois foram publicadas truncadas, fora do contexto ou até mesmo com o sentido ligeiramente alterado. É, aliás, normal e consequência da falta de rigor de muito do jornalismo que por cá se faz. No entanto, nunca me tinha acontecido ver declarações minhas publicadas com o sentido totalmente oposto ao que lhes quis dar. Nunca, até hoje. Num artigo que faz manchete de A Capital, "ala esquerda do PS está descontente com o Governo", são-me atribuídas afirmações que vão contra o que penso e o que disse e ainda outras que pecam por falta de rigor.
Antes de mais, o contexto em que sou inserido. A primeira coisa que disse à jornalista que me telefonou foi precisamente que não havia apoiado Manuel Alegre no Congresso do PS e que, além do mais, não me inseria naquilo que no PS é conhecido como "ala esquerda". Aliás, não me insiro em ala nenhuma. Mas adiante, que isso é o que menos importa. Acontece que logo depois desta ressalva inicial a jornalista afirmou ter lido o meu artigo de Domingo. Depreendi que era por isso que me ligava. Pensei que nele tinha deixado claro que, para mim, José Sócrates havia revelado uma notável autonomia na composição do Governo face aos equilíbrios internos que tinham sido a sua base de apoio para Secretário-Geral do PS. Como tal, considerava que a grande surpresa deste Governo não era o grande número de independentes, mas, sim, o facto de na sua composição o executivo não revelar a preocupação de reflectir o partido. Pensava que também tinha ficado claro que considerava isto muito positivo, pois dava ao novo primeiro-ministro uma assinalável margem de autonomia face ao partido, resultante do resultado eleitoral (que era seu). Pensei, sublinho, que o artigo, neste ponto, não deixava dúvidas. Pelos vistos enganei-me.
Ontem reafirmei tudo isto e acrescentei algumas coisas, designadamente chamei a atenção para o reduzido número de substituições de deputados no parlamento, por força do número também comparativamente reduzido de deputados que foram para o governo. Isto para demonstrar que José Sócrates tinha cedido nas listas de deputados, replicando a base interna do partido, mas não o havia feito no Governo. No fundo, que cedeu nas listas, mas não cedeu onde era de facto mais importante, no Governo. Isto foi o que eu disse. O que vem publicado é precisamente o oposto.
Em primeiro lugar, apareço citado como tendo dito que "José Sócrates, ao formar governo, apropriou-se de uma autonomia que os resultados eleitorais não lhe deram e que não reflectiu as várias tendências do PS". O que eu disse, naturalmente, foi o contrário. José Sócrates demonstrou uma autonomia que os resultados eleitorais lhe deram, aliás acrescentei que isto se passava um pouco à imagem do que Cavaco Silva havia feito na relação entre Governo e partido, no caso o PSD, em 1987. Parece-me bastante diferente e bastante relevante.
Depois, sou citado dizendo que a falta desse equilíbrio foi "visível nas listas de deputados, que não incluíram as várias sensibilidades internas". O que disse foi evidentemente o oposto, até porque qualquer jornalista que acompanhe a política tem a obrigação de saber que a característica principal das listas de deputados do PS foi incluir todas as tendências internas.
Ainda se seguem outras frases que estão longe de reflectir o que disse. Em todo o caso, como amanhã, na carta que enviarei à A Capital, já será um pouco tarde para desmentir o teor da notícia, que faz manchete, aqui fica desde já a explicação. Se nada mais para repor o rigor - algo que falta frequentemente ao jornalismo em Portugal - e porque não tenho, não tive e não terei disponibilidade, nem perfil para participar em climas de guerrilha ou de intriga interna. - PAS
segunda-feira, março 14
 
Segundas ao sol



O que será feito destes dias e destes céus? - MC
 
The word is on the streets
Hoje, algures à hora de almoço. Conversa entre dois polícias de giro:
- Então, o Santana sempre volta para a câmara? - MC
 
the boy is back in town
Como não renunciou ao cargo, Santana é formalmente o presidente da Câmara de Lisboa. Esta manhã nada se sabia sobre se Santana iria ou não à autarquia, mas ao início da tarde, fonte próxima do autarca, de acordo com a RTP, fez saber que o ex-primeiro-ministro não irá à autarquia esta segunda-feira.
Enquanto isso, e ainda de acordo com a RTP, Carmona Rodrigues já terá arrumado os seus pertences no gabinete da presidência. Sabe-se também que Carmona não esteve presente na conferência de imprensa de apresentação dos Jogos de Lisboa, conforme estava previsto. Para além disso, a reunião de câmara de quarta-feira foi cancelada.
Pragmaticamente, a Câmara terá de se readaptar ao presidente da câmara eleito, que nos últimos quatro meses ocupou S. Bento. As competências que Carmona tinha atribuído aos vereadores já não são válidas e Santana é o único eleito com poder para assinar despachos e outros documentos.


Confessem lá que não estavam já com um pouco de saudades do Pedro e da confusão que consegue, como mais ninguém, gerar à sua volta? Será que a blogosfera sobreviveria sem ele?


foto gentilmente pilhada ao substrato.
- PAS
domingo, março 13
 
e o partido, perdoar-lhe-á?
O aspecto mais surpreendente do elenco ministerial que ontem tomou posse não foi nem o número significativo de independentes, nem a presença de Freitas do Amaral. Na verdade, o que mais surpreende no novo governo é este não reflectir os equilíbrios do Partido Socialista e, acima de tudo, não dar o poder desejado aquela que foi a base de apoio interno de José Sócrates. Este facto revela, aliás, que o novo primeiro-ministro interpretou bem os sinais que decorrem da esmagadora votação que os portugueses lhe deram nas últimas eleições.
Na realidade, a presença de um número significativo de independentes no governo não espanta. Era esperada e é, em larga medida, explicada pelo discurso que se generalizou na sociedade portuguesa sobre a necessidade de abrir a acção governativa aos que vêm da sociedade civil - uma entidade meio misteriosa, onde há muita gente capaz e com vontade e disponibilidade para trabalhar, mas onde encontram também albergue muitos dos adesivos e transformistas da nossa praça. Como é sabido, cada vez que muda o governo logo aparecem os recém convertidos, disponíveis para assumirem responsabilidades sem sequer passar o necessário período de nojo. É a vida política portuguesa. continue a ler aqui.
- PAS
quarta-feira, março 9
 
O estado da direita
1 - O que é a direita em Portugal? Há uma direita exclusivamente portuguesa?
Não há uma tradição liberal na direita portuguesa, ao contrário do que
acontece em Inglaterra e até em França (a direita «orleanista»). A direita
portuguesa, no essencial, esteve sempre ao lado da ordem e da autoridade
(religiosa, militar e política). O tipo de transição (revolucionária) para a
democracia também não ajudou a direita portuguesa. Se em Espanha a direita
franquista transitou facilmente para a democracia, já a elite política do
Estado Novo foi em grande medida saneada. O PSD e o CDS ficaram com a ala
liberal, os tecnocratas e alguns caciques da União Nacional. Mas as figuras
nacionais do autoritarismo praticamente desapareceram. A direita chega à
democracia à defesa. Em todo o caso, a partir dos anos 80, começa a emergir
um pensamento democrático e liberal de direita no jornalismo, no comentário
e até em algumas faculdades de economia (Católica, Nova). Acho é que esse
pensamento não se traduziu nem na acção da chamada direita dos interesses
(basta ver o proteccionismo preconizado pela CIP e pela CAP) nem na
estratégia eleitoral do CDS: para chegar ao governo, Paulo Portas teve de
meter o liberalismo e o eurocepticismo na gaveta. Não há mercado eleitoral
para uma direita liberal em Portugal.
2 - A direita portuguesa está em crise?
Foi uma grande derrota eleitoral; poucos países, com o nosso sistema
eleitoral, terão uma representação parlamentar de direita tão pequena. Mas
não se pode dizer que «o país tenha virado à esquerda». Nada garante que nas
eleições presidenciais as coisas não se invertam. O que aconteceu foi que a
esquerda, desta vez, se mobilizou mais que a direita. O que a direita tem de
fazer é tentar perceber o que contribuiu para a desmobilização do seu
eleitorado. Santana explica muito, mas não explica tudo. Já nas europeias,
com Durão Barroso no governo, as políticas do PSD/CDS foram a votos e
tiveram a aprovação de 33 por cento dos eleitores. Um dos maiores erros dos
dirigentes do PSD é pensar que, para voltar ao poder, basta mudar de líder.
Este PSD - o PSD pós-Cavaco - é de facto outro PSD, no tipo de marketing mas
também no tipo de interesses e valores que representa. Já o CDS achou que
era possível fugir ao facto de ter estado no governo. Inflacionou demasiado
as expectativas. Se apenas 35 por cento dos portugueses avaliavam
positivamente o governo, onde é que o senhor ministro de Estado e da Defesa
queria ir buscar os 10 por cento? Portas deu por adquirido que contava, de
novo, com o apoio dos pensionistas, do pessoal da lavoura e do ultramar. Só
que esses não se identificavam com as políticas do governo e, por isso,
ficaram em casa ou votaram noutros partidos. Mesmo assim o CDS resistiu bem.
Numa primeira leitura, percebe-se que o que o CDS perdeu nas feiras ganhou
nos salões. Ao contrário do que se passa à esquerda, na direita, a
popularidade dos líderes é decisiva. Se o PSD tem um líder como Cavaco, a
direita vota PSD. Se o PSD tem um líder como Durão ou Santana, há um terço
da direita que prefere Portas. É este o drama do PSD daqui para a frente.
3 - Qual pode ser o caminho para superar as dificuldades?
Fala-se muito agora da necessidade de um combate cultural, nomeadamente na
área do CDS. É uma espécie de estratégia gramsciana, agora à direita. A
ideia é que a esquerda hegemoniza a comunicação social. É uma ideia que
carece de demonstração. Como não há linhas editoriais politicamente
orientadas, a comunicação social normalmente oscila de acordo com a opinião
pública. Nesta campanha, terá estado mais à esquerda. No entanto, se
analisarmos os editoriais dos principais jornais, o trabalho que tem sido
feito nalgumas universidades, as teorias dominantes no jornalismo económico,
o comentário televisivo - não se pode dizer que a opinião seja dominada pela
esquerda. Pelo contrário. Não é só a direita que tem de fazer política
durante estes anos, é também o PS. Um dos maiores erros do chamado
guterrismo foi o da governamentalização do partido. Mas pensando na direita,
diria que tem de ter outra visão em relação aos serviços públicos,
nomeadamente o PSD. Têm razão aqueles que pensam que o PSD se deve
recentrar. A maioria dos portugueses é favorável à preservação dos sistemas
públicos de saúde, ensino e segurança social. Por outro lado, em matéria de
costumes, o PSD terá de se liberalizar. Já se viu pela campanha que os
discursos homófobos (dos colos) ou ultramontanos (o luto pela irmã Lúcia)
não têm qualquer sentido numa sociedade moderna como a nossa. Claro que um
PSD assim dificilmente se demarca de um governo PS. Há contudo outras
áreas mais eficazes de demarcação, nomeadamente a política de imigração e
de segurança. Finalmente, o CDS. Parece-me que a partir de agora tem dois
caminhos possíveis: ou virar-se para o centro, no sentido de se tornar o
partido pivot do sistema, como os liberais alemães (era o caminho que estava
a ser ensaiado à última da hora por Paulo Portas, e que deu alguns
resultados); ou regressar ao populismo de direita: há mercado para o
eurocepticismo, o proteccionismo, para políticas securitárias etc. - A Capital, 8 de Março FN
 
Importa-se de repetir em inglês?



"Não é justo nem razoável que persistam enviesamentos masculinocêntricos tão acentuados na selecção das questões políticas agendáveis". Jorge Sampaio, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher. - MC
 
Os dias da igualdade
Igualdade é...haver o mesmo número de casas de banho para homens e para mulheres no Alvalade XXI. Ou eis um caso em que a paridade dá muito mais jeito a uns do que a outros. - MVS
terça-feira, março 8
 
A sumidade da semana

Se o que se quer fazer é falar sobre Portugal com seriedade, usar palavras grandes e conceitos filosóficos; denunciar o atavismo e o provincianismo reinantes; se o que se que pretende é expor, apontar limitações e defeitos; chamar para o combate; se se quer dizer mal da democracia representativa; se se pretende ser certeiro, lapidar e cáustico; e mesmo se o que se pretende é dizer grandes disparates em pose pessimista (como supor que os alemães, depois da II Guerra Mundial, se negaram a inscrever o III Reich e o nazismo na sua existência e na sua história), enfim, se o que se pretende é ser presunçoso, mas em grande estilo, ser um imbecil pomposo, então, o mínimo - o mínimo dos mínimos - é fazê-lo em bom português. Não é o caso com José Gil, em «Portugal, Hoje. O medo de existir». Tanto mais irritante.
O recente unanimismo burro em redor de José Gil resulta dos exactos mecanismos provincianos e abúlicos que José Gil tanto critica. Ele é a sumidade da semana. José Gil faz lembrar aqueles portugueses que vão estudar para «o estrangeiro» e, por cosmopolitismo, decidem que só falam com estrangeiros e não falam com os portugueses que lá estão, porque, afinal, «quando se está fora», falar com portugueses é parolo e provinciano. Portanto, se calhar Gil até tem razão. Afinal, se Portugal não fosse o «Portugal de José Gil», José Gil nunca teria chegado a ser, como é, «José Gil».- RB
 
Quase Famosos no Europa
A Europa não é só um velho e respeitável continente que acabou comandado por um ex-maoísta convertido ao mercado. É também uma bonita casa de diversão nocturna, ali ao Cais do Sodré, onde os Quase Famosos - sim, os autores de um blog quase anónimo - organizam uma festarola, na sexta-feira, 11 de Março, a partir das 22.30.

Promete-se tudo, inclusive a possibilidade de tentar uma coreografia "Jennifer Lopez" ao som dos Einstürzende Neubaten. Estará afixada em frente ao gira-discos uma minuciosa lista de músicas que não se podem pedir. O resto - ou seja, o sapateado e as lantejoulas - é convosco.

Para ganharem o direito a entrar, só terão de citar integralmente a letra do terceiro tema do primeiro álbum dos Felt e dizer o nome do xilofonista que colaborou com John Zorn no concerto de Zurique (17 de Fevereiro de 91). A partir daí, o céu - neste caso, a bola de espelhos e os focos - é o limite.

Será proibido falar de política, de bola e da vida sexual frustrada dos DJ's de serviço.

Os Quase Famosos
segunda-feira, março 7
 
Mundos em construção
Por aqui andamos, e recomendam-se, os universos desfeitos: belo nome, belo blog. - MC
 
Sentido de Estado

Acontece muitas vezes: o verniz estalou ao fim de poucos dias. O "despejo" de Freitas do Amaral do Caldas é um excelente exemplo. O tal partido "respeitável", de "governo", que adquiriu "maturidade" nestes anos de passagem pelo poder revela, afinal, assinaláveis moderação, elevação, dignidade, compostura e fair-play democrático. Ou seja, o PP no seu melhor. - MC
 
Fábricas de heróis



De repente, os telejornais abrem com a fórmula 1. As primeiras páginas dos jornais desportivos, coutada habitual dos chamados "grandes" - os que vendem jornais - são sobre fórmula 1. Nos relatos do grande prémio não sei de onde, vagamente ouve-se falar de um vencedor e da desistência do campeão (só em algumas peças). A verdadeira notícia é o penúltimo classificado da prova, porque é português e faz a sua estreia: a largada foi boa, depois perdeu algumas posições na travagem para a primeira curva, a partir daí conseguiu não ser ultrapassado pelo último. Alguém falou em nacionalismo nos meios de comunicação social?
Isto seria, talvez, esperável, é verdade. Mas diz também algo da nossa pequenez. Ainda nos lembramos demasiado bem das grandiosas aventuras de Matos Chaves (nunca se chegou a qualificar para um grande prémio) e de Lamy, o famoso único português a conquistar um mísero ponto no mundial. Felizmente para os que gostam de fórmula 1, para os poucos que a seguem e para os desgraçados que tentam ver/ler as notícias, nunca mais houve portugueses por lá. Foi da maneira que nunca mais tivemos de ouvir, todas as semanas, contar ao contrário minuciosas histórias das corridas, só porque havia um português lá pelo meio - ou melhor, lá para trás. - MC


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