sexta-feira, abril 30
Sondagens
Entre os dias 22 de Março e 9 de Abril, o grupo Gallup levou a cabo uma sondagem no Iraque, inquirindo 3.444 adultos sobre a actual situação no país e as suas expectativas relativamente ao futuro. «As sondagens valem o que valem», costuma dizer-se. As feitas em tempo de guerra e convulsão social devem valer ainda mais.
Cenário: Alentejo, há 29 anos...
- «Hi, amigo. Sou de uma empresa de sondagens norte-americana e estou aqui para saber o que pensa sobre o futuro de Portugal.»
- «Você é americano? C'o caraças, corra já daqui. Viva a revolução do proletariado!»
- «Sim, amigo, mas isto é muito importante. Responda a uma só questão.»
- «Uma só, homem. Depois ponha-se a andar. Americanos, rua!»
- «Qual é a sua expectativa quanto a quem será o primeiro-ministro de Portugal quando se comemorarem os 30 anos do 25 de Abril?»
- «Os 30 anos? Porra, isso é daqui a muito tempo... mas acho que vai ser aquele jovem... como é que ele se chama?... aquele jovem todo cheio de paleio e de cabedal... o Durão qualquer coisa... sim, o Durão Barroso do MRPP, esse mesmo... Ah!, quando isso acontecer é que vai ser lindo. Vocês, ó porcos americanos, nunca mais cá metem os pés, 'tás a ouvir? Nunca mais!»
- «(...)»
- «Vá, agora toca a andar... toca a andar, que eu já respondi à pergunta...» - JHJ
O cromossoma x voltou a atacar
Anteontem, depois de um rápido almoço familiar, aproveitei a boleia da minha tia. Às tantas, quando parou o carro para eu sair, esqueceu-se de ligar os quatro piscas. Como é costume nestas situações, houve uma outra condutora que, enquanto se desviava, não lhe perdoou o descuido: «Sai da frente, palhaça!». A minha tia ficou lívida. «"Velha"?! Ouviste aquela tipa? Chamou-me "velha"?!», perguntou indignada. «Tia, eu percebi... "palhaça"», respondi eu, um pouco a medo. «Ah bom!», exclamou ela, nitidamente aliviada. - FN
quinta-feira, abril 29
O meu «onze»
Depois de mais um desaire - desta vez com a Suécia, essa superpotência do futebol escandinavo -, já não me restam dúvidas sobre o «onze» que melhor representaria Portugal no europeu: Ricardo; Miguel Garcia, Beto, Polga e Rui Jorge (sem castigo); Carlos Martins, Rochemback (recuperado da lesão) e Pedro Barbosa; João Pinto, Lourenço e Liedson. Aliás, podem já começar por mostrar o que valem no derby deste domingo com a «rapaziada do Colombo». - JHJ
Bandeira amarela
Por todas as razões e mais a de ter sido escrito na Praia das Maçãs, o artigo de Marçal Grilo no Público de ontem sobre a importância de se diferenciar ensino superior politécnico e universitário, é de leitura aconselhada. Das várias passagens, destaco:
«Há uns meses atrás, num congresso internacional em que participei nos Estados Unidos, um dos grandes especialistas de ensino superior que conheci nos últimos anos fez uma intervenção em que afirmou sem rodeios que o grande factor de diferenciação positiva dos Estados Unidos em relação à Europa no ensino superior é a existência dos Community Colleges que por toda a América formam os milhares e milhares de técnicos qualificados que alimentam a economia norte-americana. E isto, porque estas instituições permitiram no pós-guerra a massificação do ensino superior, ao mesmo tempo que as universidades puderam consolidar os programas e projectos de grande qualidade que fizeram da América o país mais poderoso do Mundo, como afirmou há poucas semanas em Lisboa o Manuel Castells quando proferiu a sua conferência na Fundação Gulbenkian sobre a organização das sociedades em rede.»
De facto, não há que recear a massificação do ensino superior. Uma sociedade assente em recursos humanos qualificados é necessariamente mais moderna e pode mais facilmente sustentar uma economia diversa e competitiva. Em Portugal, tal só será possível num cenário em que os ensinos superiores universitário e politécnico sejam claramente distintos. Se caminharmos para a degenerescência entre os dois - o que parece ser o caso -, corre-se o risco de se reproduzir nos politécnicos os equívocos actuais das universidades: um ensino excessivamente teórico e pouco interessado em responder às necessidades de mercados de trabalho em constante mutação. - JHJ
Operação Al-Sadr
A situação no Iraque continua complicada. O senhor Al-Sadr está barricado há semanas numa mesquita em Falluja (acho que é assim que se escreve). Os americanos já garantiram que, em caso algum, destruirão lugares sagrados. Isto não tem nada de especial: é uma regra básica. Todos nos lembramos - pelo menos todos os que viram a Música no Coração -, que nem o nazismo se atrevia a entrar nas Igrejas para prender pessoas. Ou seja: para apanharem o senhor Al-Sadr, os soldados americanos teriam de entrar descalços, sem capacete e sem metralhadora, na mesquita. Conseguem imaginar a cena? O mais provável é que, lá dentro, completamente desmoralizados, acabassem por se converter ao Islão. É, portanto, uma operação impossível - e mais uma golpe genial do fundamentalismo islâmico. - FN
quarta-feira, abril 28
O que se passa com este rapaz?
Sempre tivemos bons guarda-redes. Mas desde o Mundial da Coreia há uma espécie de maldição na baliza portuguesa. Ricardo esteve mal contra a Itália, e voltou a comprometer hoje contra a Suécia. Sobre as exibições que tem feito no Sporting, o melhor é nem falar. Quando isto começa a acontecer, não há nada fazer: é substituí-lo enquanto é tempo.
Importa, no entanto, perceber o que está por trás destes frangos do Ricardo. Acho que, também neste caso, a História pode ajudar a compreender o problema. Ricardo transferiu-se do Boavista para o Sporting. Uma transferência de guarda-redes neste sentido nunca deu bons resultados. Costinha era uma jovem esperança no Bessa. Quando chegou a Alvalade, desatou a frangar. Os adversários, apercebendo-se da falta de auto-confiança de Costinha, chegavam a rematar do meio campo (e, muitas vezes, com sucesso). Nem Mourinho, no Leiria, o conseguiu recuperar para «a prática do futebol». Uma tragédia. Com Lemajic aconteceu exactamente o mesmo. Não é por acaso que o Sporting só voltou a ser campeão com Schmeichel: um guarda-redes confiante é meio caminho para a vitória (e não digo isto por esta ser a única posição em que joguei nos últimos dez anos).
No futebol, como em tudo, a História repete-se. Não aconteceu só entre o Boavista e o Sporting. O Belenenses também vendeu bons jogadores ao Benfica: Paulo Madeira, Cabral, Mauro Airez, Luiz Gustavo, etc. Pouco tempo depois, estavam todos, sem excepção, com a carreira arruinada. O Sporting, o Benfica e o Scolari já deviam ter percebido que não se brinca com a História. - FN
O «Professor» Durão
Já sabemos que a grande maioria das pessoas desconfia dos políticos. Em certa medida isto até pode ser saudável. O pior é quando são os próprios políticos profissionais a alimentarem essa desconfiança, fazendo-se passar pelo que não são. Há um mês, o ex-primeiro-ministro Cavaco Silva (1985-1995) veio confessar que a política não o «viciou» e que prefere «ser visto unicamente como professor». Há uns dias, esta obsessão ancestral atingiu novos patamares: o actual primeiro-ministro entendeu por bem comunicar à nação que, apesar das evidências, também não é um político profissional e sempre se viu como «professor». Tanto quanto se sabe, desde os 29 anos, a única actividade vagamente académica do «professor» Durão foi desenvolvida na Universidade de Georgetown (1996/1997), onde há uma cátedra que costuma ser atribuída a antigos governantes. Durante esse período, constou que andava a «preparar» um doutoramento. Mas como disse o Professor (sem aspas) Sousa Franco, «um doutoramento não se prepara, ou se faz ou não se faz».
Uma vez que a paciência para esta conversa atingiu o limite, e para que não restem dúvidas, aqui está a biografia oficial do Dr. Durão:
· Nascido em Lisboa, em 23 de Março de 1956
· Iniciou a actividade política muito jovem [isto é uma maneira de dizer que foi do MRPP], ainda durante o regime anterior ao 25 de Abril de 1974
· Militante do Partido Social Democrata desde Dezembro de 1980
· Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna (1985/1987)
· Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação (1987/1992)
· Promotor do Acordo de Bicesse entre o MPLA e a UNITA para a paz [!] em Angola (1990)
· Ministro dos Negócios Estrangeiros (1992/1995)
· Deputado pelo Círculo de Lisboa
· Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da República (1995/1996)
· Eleito Presidente do Partido Social Democrata (1999)
· Reeleito Presidente do Partido Social Democrata (2000)
· Eleito Presidente da Assembleia Municipal de Valpaços (Dezembro de 2001)
· Primeiro-Ministro desde 6 de Abril de 2002
· [Manifestou arrependimento nas vésperas do 25 de Abril de 2004] - FN
Bolsa de valores
No domingo troquei uma garrafa de vinho do Porto corrente por um sofá reclinável e outro de dois lugares. Foi o melhor negócio da minha vida. Este post que o diga. - JHJ
terça-feira, abril 27
Efeito placebo (II): a revolução pós-industrial segundo o mesmo autor
Splite and Malice
Revolution
Dope, guns, fucking in the streets...
(...)
Placebo, Black Market Music - MC
Efeito placebo (I): a revolução materialista e industrial segundo Brian Molko
Slave To The Wage
Run away from all your boredom
Run away from all your whoredom
And wave your worries and cares goodbye
All it takes is one decision
A lot of guts, a little vision
To wave your worries, and cares goodbye
It's a maze for rats to try
It's a race
A race for rats
A race for rats to die
(...)
Placebo, Black Market Music - MC
segunda-feira, abril 26
domingo, abril 25
Quiz da Revolução, parte I*
1. Quem é o autor da frase «Se tivesse lido os livros certos a tempo eu era o Che Guevara da Europa»?
a) Ramalho Eanes
b) Vasco Gonçalves
c) Otelo Saraiva de Carvalho
d) Duran Clemente
2. Quem partiu a cabeça de José Magalhães na Faculdade de Direito de Lisboa durante o PREC?
a) José Pacheco Pereira
b) Durão Barroso
c) Lobo Xavier
d) Tarzan Taborda
3. Que dirigente do MRPP ao ver José Manuel Durão Barroso chegar com um camião de cadeiras e mesas recentemente nacionalizadas da FDL lhe disse: «Devolve lá essa merda, pá, tás maluco, não queremos cá isso... Já chegámos à China ou quê?»
a) Arnaldo de Matos
b) Saldanha Sanches
c) Maria José Morgado
d) Maria João Rodrigues
4. Qual o nome da propriedade onde foi realizado um famoso documentário sobre as cooperativas, a colectivização e a reforma agrária?
a) Quinta Patiño
b) Torrebela
c) Quinta do Lago
d) Riba Fria
5. Quem estava de pijama e roupão no Largo do Carmo no dia 25 de Abril?
a) Sottomayor Cardia
b) Valentim Loureiro
c) Luiz Pacheco
d) Maria Cavaco Silva
6. Quem era conhecido por «Almirante Vermelho»?
a) Borges Coutinho
b) Rosa Casaco
c) Almeida Bruno
d) Rosa Coutinho
7. Indique o local do posto de comando do MFA na noite do golpe.
a) Pyongyang
b) Chelas
c) Santa Comba Dão
d) Pontinha
8. Quem era o máximo representante dos EUA durante o PREC?
a) Mark Kirkby
b) Frank Carlucci
c) Artur Albarran
d) Richard Perle
9. Quem disse «Portugal será a vacina da Europa contra o comunismo»?
a) Professor Gentil Martins
b) Henry Kissinger
c) Pasteur
d) Gerald Ford
10. Quem foi o aquitecto da «Evolução de Abil»?
a) Moais Samento
b) Macelo Ebelo de Sousa
c) Telmo Coeia
d) Aquitecto diecto do Expesso
* Uma iniciativa do clube de política «Imaginar Portugal» - PR
Aqui posto de comando (II)
O PR passou a ter uma versão atómica, pronta para ser vista em newsreaders. - PR
Aqui posto de comando (I)
A lista de links do PR foi actualizada. À esquerda, à direita, e para além disso. - PR
«Descer» a Franklin Street com um cravo ao peito
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Tanto Mar (primeira versão)
Chico Buarque (1975) - JHJ
sábado, abril 24
O Dani, parte II
Segundo a revista do Expresso da semana passada, em 1995, o Dr. Santana Lopes, à época presidente do Sporting, teve uma reunião com Dani e restante família: «A tua vida social é muito activa em Portugal. Tens que ir seis meses para o estrangeiro para ver se isto acalma.», disse o actual presidente da câmara de Lisboa. Santana mandou o rapaz para Londres. Cometeu o mesmo erro de avaliação que os treinadores de bancada, achando que Dani, como qualquer bom português, no estrangeiro ia assentar, ia ser mais produtivo. No máximo, numa noite de loucura, ia jogar matrecos até à meia noite na casa do Benfica de Londres. Puro engano: «Vocês dizem que a minha vida social é muito activa e vão mandar-me para Londres?», pensou Dani. Foi como deitar gasolina para cima do fogo.
Quando chegou a Londres, os tabloids desempenharam o seu papel habitual, alertando as famílias para o perigo que aí vinha: «Lock up your daughters! Dani has arrived». Mais uma vez, Dani não frustrou as expectativas. Como não tinha carta de condução, arranjaram-lhe um motorista num Jaguar, «24 horas por dia». Inicialmente, ainda fez uns bons jogos, mas rapidamente percebeu que o treinador não o podia convocar mais: quanto mais jogasse, mais o passe subia - e assim, no fim da época, o West Ham não o podia comprar. «Pensei: se isto não vai a bem vai a mal». De motorista e Jaguar, arrasou as noites de Londres com mais intensidade que a aviação nazi. «Era uma loucura, adorava (...). Fui ver o Miss Saigin com o José Veiga e o Santana Lopes. O Veiga quase a adormecer...» (nisto, sou forçado a concordar com «o Veiga»). Para além dos musicais, Dani também frequentou «as premières dos filmes - Brad Pitt, Bruce Willis, as estrelas todas. E depois eram as festas privadas... Fartei-me de viajar em primeira classe. Para ir a Paris, conhecia uma mulher lindíssima. Era novo pensava agora é a altura de fazer isto, não daqui a 10 anos quando for casado» Sem dúvida. Um homem acaba sempre por cometer estas loucuras. Quanto mais tarde o fizer, mais devastadoras serão as consequências.
Depois de Londres, Dani partiu à conquista de Amsterdão. «Via nos filmes os tipos entrarem num stand e saírem de lá com um Porsche.» Não é tarde nem é cedo: «Foi o que fiz.» E não se ficou por aqui: «Arranquei com o meu primo para o Mónaco, para a Fórmula 1. Gastei quatro mil contos em dois dias. Às três ou quatro da manhã, estávamos no bar da Stéphanie, a conversar com duas miúdas». Aliás, não é só no Mónaco que as miúdas são conversadoras: «As mulheres holandesas são completamente diferentes das portuguesas. Enormes, muito giras, para a frente, conversavam» (aqui nota-se bem que não viveu em Portugal durante os últimos 10 anos). Em suma, Dani «adorou» a Holanda: coffee shops, «peace and love, tudo na boa, tudo a rir», lembra hoje. Ficaram famosas as suas festas privadas. Mas ele desmente os boatos da vizinhança: «Tinha uma mesa de snooker em casa e jogava à noite. As bolas caíam nos buracos e os vizinhos diziam que estava a jogar à bola em casa. Puxava o autoclismo e eles vinham bater-me à porta».
Entre Amsterdão e Madrid, Dani ainda fez escala em Lisboa, desta vez para jogar no Benfica. Vilarinho não gostou das «farras» de Dani, especialmente as que aconteceram depois das derrotas dos encarnados. Daniel Carvalho não compreende esta visão do mundo: «Tinha perdido, estava lixado, mas em vez de ir para casa (...) pensar no golo que falhei, estive com uns amigos». É costume dizer-se que «ganhar ou perder é desporto»; que «o futebol é uma festa». Para Dani, estas frases não são chavões, são lemas de vida.
Depois de Madrid, ainda teve alguns convites para jogar noutros clubes, «mas em Madrid já estava mesmo perto de Portugal». Estava na hora de assentar, isto é, de deixar de jogar futebol. No Verão passado casou-se, e prepara agora a sua candidatura à New York Academy School of Acting. Quer ser actor: «É um curso de seis meses e ajuda bastante», diz, com modéstia. Depois de ler a entrevista que deu ao Expresso, acho sinceramente que ele não precisa do curso para nada. Em 27 anos, seguiu como poucos aquele bom conselho que a Bárbara Guimarães repete no fim de cada «Sociedade das Belas Artes»: «Faça da sua vida uma obra de arte». - FN
Breve nota sobre postais
Sabes o que é que eu fiz com os postais de Frankfurt? Fiz o seguinte: primeiro mostrei-os a toda a gente, por estar tão orgulhoso. Sentia-me inteligente por ter ido ao museu, e duas vezes. As caras dos amigos nunca chegaram a revelar a mesma admiração que a minha, seja porque já conheciam alguma das peças, seja porque não conseguiam perceber o que têm assim de tão especial. Bem, argumentei com eles o melhor que sabia, mas a partir de um certo ponto parei. A certa altura tornou-se óbvio que aquilo era inexplicável. E mais do que isso: que eu não queria explicar. E porventura isso fará parte do «valor» de qualquer obra de arte: as circunstâncias inexplicáveis em que elas são vistas.
Depois, peguei nos postais em maço e coloquei-os em exposição. Em cima de uma estante. Dia sim, dia não, pego neles e mudo aquele que está virado para a sala. Escolho aquele de que mais gosto naquele dia de acordo como me sinto ou com o estado de espírito. E tenho onze para brincar. Hoje escolhi o «The Promenade» de Chagall. Go figure. - RB
sexta-feira, abril 23
O mundo de Maria da Graça
A mini-entrevista da ministra da ciência e do ensino superior ao jornal Público de dia 22 é um autêntico mimo. Quase ao nível da de Daniel Carvalho ao Expresso, cinco dias antes. Só que ao contrário deste, Maria da Graça é do grupo dos «crânios». Veja-se. À observação da jornalista de que a ministra teria, na base de dados do ISI web of knowledge, «pelo menos 40 artigos», Maria da Graça contrapõe «são mais». De facto, Dani não diria melhor. É sabido que a jovem promessa do Sporting não sabia muita matemática porque faltava às aulas para jogar à bola, mas a senhora ministra deveria saber que «pelo menos 40», quer dizer 40, ou mais.
Mas antes, já Maria da Graça tinha dado um ar de sua graça. «Depende da forma como se pesquisa», afirmou, para justificar o facto de a jornalista do Público só ter sido capaz de encontrar dois cientistas portugueses com mais de cem artigos na base de dados do ISI. De facto, contar é uma coisa menor: os já famosos «100 artigos», afinal, podem ser só cinquenta. Ou quinhentos e cinquenta. E os «mais de 40» da ministra, não serem mais de quatro.
Na entrevista ao Expresso, no fim de semana anterior, Dani fala dos «amigos do bairro» e diz-se «amigo dos seus amigos». Maria da Graça não lhe fica atrás no reconhecimento público das suas amizades. Para ilustrar a ideia de que em Portugal há cientistas com mais de cem artigos publicados, a professora do Instituto Superior Técnico dá como exemplo os seus amigos da Avenida Rovisco Pais: «A professora Teresa Leal e o professor Ramôa têm mais de 100 artigos. O professor Pombeiro e o professor Sampaio Cabral têm mais de 300. No Departamento de Física há cinco pessoas. O professor Dias de Deus é um deles». E noutros sítios que não no Técnico? A ministra não diz. Ao contrário de Dani, Maria da Graça nunca deve ter jogado à bola noutros bairros.
Por fim, a ministra justifica a medida dos «100 artigos» como um «prémio de carreira». Para os jovens cientistas, «temos bolsas e outros pacotes complementares». Emprego científico? Nah... 'Tá quieto. Afinal, tinha razão: Praia das Maçãs, só aos 70. - JHJ
Blog next door
Cruzamo-nos aqui pelos corredores muitas vezes, mas por manifesta distracção ainda não tinha dado pela existência do blog do Walter Rodrigues. Afinal, pode sempre haver blogs escondidos atrás de cada porta. Este, no entanto, está cada vez menos escondido, e bem, porque vale muito a pena visitas regulares e uma leitura atenta. - MC
Investigue-se
Ninguém tem falado disto. Mas queria lembrar que no ano passado o Benfica foi eliminado da Taça pelo Gondomar. Na altura achei estranho, mas agora acho que o melhor é repetir-se o jogo e os jogos subsequentes. Perder na secretaria é que não. - PAS
Lived life to the moment
Tive o privilégio de assistir à estreia do Dani em Alvalade. O adversário era uma equipa amarela (o Paços de Ferreira, o Estoril, o Beira Mar?). Lembro-me que foi um jogo de fim de época, porque, com um bilhete de Superior, conseguimos entrar na mítica «Bancada Nova». Depois de umas tantas jogadas, o diagnóstico era unânime: temos homem! O Pedro Estêvão, que faz anos amanhã, é testemunha. Tratou-se, como agora se diz, de «um erro de julgamento». Está tudo explicado na entrevista que Dani deu ao Expresso de 17 de Abril.
Dani era um puto da classe média: «O meu pai é professor de Filosofia, a minha mãe é médica». Ora, como diz Valdano, os génios da bola têm de vir das classes populares. Como Maradona. Para além do talento inato, devem sentir a necessidade de «subir na vida». E isso, Dani, manifestamente nunca sentiu: «Não precisava do salário do Sporting, tinha a mesada». Na verdade, Dani é aquilo a que em ciência política se chama «um eleitor pós-materialista»: «Vivi like there’s no tomorrow», confessa. «Lived life to the moment», diz mais à frente. (Depois de dez anos fora do país, Daniel Carvalho admite ter dificuldades com a língua portuguesa: «Tenho uma professora para me tirar o sotaque.»)
No início da década de 90, Dani era um puto e não admitia que lhe dissessem que aqueles não eram os melhores anos da sua vida. Aos 15 anos, o Sporting ofereceu-lhe o primeiro contrato: 250 contos. «Aí começaram as dificuldades todas», diz hoje. O que para qualquer outro miúdo significaria o início de uma nova vida, para Dani representava o princípio do fim. «Gosto de jogar à bola. Só que para mim o futebol era um hobby, não uma profissão. O que interessam os títulos? [De facto, quem se lembra hoje de Juanico e Chico Faria?] Os meus títulos são a forma como encarei a vida: presente para a família, amigo dos meus amigos». É verdade. Uma vez esteve quase a perder um avião fretado pelo Sporting por causa da festa de anos de um amigo. É «amigo dos seus amigos» - e, digamos, amigo das suas amigas. Já nos tempos da secundária do Cacém, Dani – que pertencia ao grupo «dos malucos» - investia tudo nas miúdas. Fiel à velha máxima (elas perdoam-te se tentares, mas nunca te perdoam se não tentares), ele «Via a mais gira da escola, ia atrás dela, mesmo estando ela no 12º e eu no 9º». Os outros, os chamados «crânios», ficavam a ver. Hoje arrependem-se.
No fundo, a bola sempre gostou mais do Dani do que Dani da bola. Em todas as relações, há sempre um que gosta mais. A questão é que Dani, na sua relação com o futebol, apesar das traições, foi sempre acompanhado por uma «estrelinha». No mundial do Qatar (2º melhor jogador), no apuramento para o europeu de sub-21 (dois golos), no West Ham (um golo contra o Chelsea), no Ajax (dois golos de cabeça contra o Rangers) e no Atlético de Madrid (esteve na subida de divisão) - em momentos decisivos, a «estrelinha» esteve sempre presente. E os contratos, naturalmente, foram-se sucedendo.(Continua amanhã.) - FN
quinta-feira, abril 22
Ainda os 100 artigos
A promessa entre o estapafúrdio e o incompetente da Ministra da Ciência, com vista a fazer regressar os investigadores a Portugal, começa a ser, final e justamente, desmontada. Mas a verdade é que, para além das questões substantivas que se escondem por detrás da medida (por exemplo, a discriminação das ciências sociais, por relação a outros campos), este é mais um exemplo da forma como o governo age. Primeiro, propagandeia-se algo de absurdo e perfeitamente irrealista (só das últimas semanas, para além dos 100 artigos, a promessa de fazer crescer a produtividade dos actuais 60% da média europeia para 75%, em seis anos, quando nos últimos dois só perdemos terreno; o programa de combate ao drop-out escolar, repleto de medidas anedóticas). Depois, e quando chega a desmontagem das medidas incompetentes e insultuosas (tem outro nome a promessa da Ministra da Ciência, quando há milhares de investigadores que, doutoramentos concluídos, gostariam de poder regressar e investigar em Portugal?), já a promessa é outra, noutra área. Mas, no entretanto, são os próprios compromissos assumidos solene e unilateralmente pelo governo que não são cumpridos. Quem quiser, por exemplo, que se entretenha a olhar para o descalabro orçamental que continua em curso e que atente na forma como foram chutados para o início de 2004 milhões de euros de despesa de 2003 – tudo para arranjar um número mirífico, para o qual não chegava nem sequer a negociata irresponsável e ruinosa com o City Bank. E para o ano haverá mais. - PAS
O interesse nacional
Durante o Estado Novo não havia greves porque eram proibidas em nome do interesse nacional. Em 1975, o PCP (eu repito: o PCP) no governo proibia igualmente greves em nome do mesmíssimo interesse nacional. Em 2004, o Dr. Durão Barroso pede às pessoas que não façam greve durante o Europeu em nome do interesse nacional.
Estaria tudo dito, não existissem no mundo pessoas como Gilberto Madaíl. É que hoje de manhã ouvi Gilberto Madaíl dizer na TSF: «o Europeu são só três semanas...e o ano tem tantas semanas. Porque é que as pessoas com reivindicações não fazem greve durante o resto do ano. Agora durante o Europeu...Os turistas que vêm cá o que é que vão pensar dos portugueses?» - RB
It's politics, stupid!
No tempo do Dr. Cavaco, havia um pide bom e um pide mau. O que a Dra. Manuela Ferreira Leite tirava com uma mão (contenção orçamental), a Dra. Isabel Corte-Real dava com a outra (revisão do sistema retributivo da função pública). A estratégia resultou em cheio: Cavaco voltou a ter maioria absoluta em 1991. Mas basta ouvir hoje a conversa do professor Cavaco para se perceber que esta forma de fazer política já faz parte da História. A viragem brutal do sentido de voto (da direita para a esquerda) registada em Espanha, e também nas eleições regionais francesas, mostra que, mais do que velhas e novas clivagens, mais do que a conjuntura económica, é a exigência cívica quanto à forma de fazer política que parece determinar as escolhas do eleitorado. Como diz o cartaz do bloco, «eles mentem, eles perdem».
O Dr. Durão é que não quer perceber isto. Já insultou Zapatero na política externa, e vai repetir a estratégia cavaquista na política interna, seguro de que, com aumentos e «discurso social», os broncos dos portugueses perdoam-lhe as trapalhadas em que os meteu durante dois anos. Assim, o que a Dra. Ferreira Leite tirou nos primeiros dois anos, vai, a partir de agora, ser «redistribuído» por Carlos Tavares, «o ministro da retoma» (título do suplemente de economia do Expresso). Ainda não se convenceram que o tempo não volta para trás. O único que, intuitivamente, percebe isto é Santana Lopes. Felizmente, ninguém o leva a sério. - FN
Something's gotta give
[Diane Keaton tinha ido jantar fora com o jovem pretendente Keanu Reaves. Chega a casa, tenta perceber se Jack Nicholson ainda está acordado. Está. Está, mas no quarto, à espera que ela chegasse. Trocam mensagens no chat, de quarto para quarto. «Tens fome?», pergunta ele. «Tenho», responde ela, pensando «como é que este gajo sabe tudo?». «Encontramo-nos na cozinha dentro de cinco minutos». Na cozinha, ambos de pijama, ela pergunta «como é que sabias que tinha fome?». Ele: «as mulheres quando vão out on a date nunca comem nada»].
«A maioria das mulheres vive mal o eixo peso – prazer oral. Ora bem, como sabemos, comer é prazer. A entrega a uma boa refeição tem uma dimensão de libertação, de erotismo, etc. Tem também o contraponto de perda de controlo (sobre a situação, sobre o corpo), de exposição, e de renegociação do peso do corpo. Muita mulher estagnou num equilíbrio complicado onde suster o prazer oral (de comer) parece estar associado ao controle do corpo, da situação e por consequência do macho. Controlo, poder, o costume. Não é assim tão estranho que o comportamento oscile entre depenicar uma entrada e devorar uma caixa de gelado. Quando em cena está em controlo, descontrola fora de cena. O que é chato é que o impasse é difícil de resolver. Vê por mim, sempre achei que tinha tanto direito a comer como o comum dos mortais, mas se a minha libido me puxa (por comer) para uma situação (em que engordo) onde se retrai... ou mudamos todos para uma visão Rubeniana de beleza ou sopas... sem azeite, claro.» [de um email]. - RB
quarta-feira, abril 21
Treina a gramática no Fernão Mendes Pinto
Hoje de manhã votámos ( ) matéria ( ) sumário da aula de História dos Movimentos de Libertação. A Camarada Professora colocou à nossa consideração o voto ( ) ou o voto de ( ) no ar. Optámos, após aceso ( ), e democraticamente, pelo voto ( ), pelo que construímos umas ( ) de voto ali mesmo, de improviso. Depois da aula de História, tivemos a ( ) de Desenho ( )-neo-realista. O tema era a Revolução dos ( ) e o ( ) de Março. O assunto deu muita celeuma porque tantos de nós são filhos daqueles senhores, os ( ) de Abril, e filhos de ( ) do Partido. O Manuel Tiago até disse que aquilo parecia a Assembleia ( ) do MFA. Elegemos o delegado de ( ) antes do almoço para tratar da questão da auto( ) da direcção do Fernão em relação àquele assunto desagradável dos Pupilos do ( ). Ao almoço (levei umas sandes de ovo), aprendemos o que era a Frigideira do ( ). Já da parte da tarde, em Educação ( ), ouvimos o Caetano e o Chico e o Fanhais. Eu gostei mais do «Já ( ) tua festa, ( )», que já conhecia. Mas o Fanhais não é ( )? Depois do toque de saída, fomos ao ( ) de Benfica comer uns ( ). - FN/RB (ex-alunos do Formigueiro e do Colégio Moderno, respectivamente)
Silhueta
Há quase quatro anos, conheci vários portugueses por causa do campeonato da europa de futebol. Hoje, desinteressado em conhecer novas caras lusas, vivo angustiado com o facto de me sentir obrigado em dizer «olá» ou «bom dia», quando percebo que alguém fala a mesma língua que eu. Ontem tentei resistir. Não poderia ter acontecido de pior forma.
Depois de ter entrado no elevador da biblioteca para subir ao quinto andar, entraram duas raparigas para subir ao sétimo (onde estão os livros de literatura europeia). Ainda antes de as portas se fecharem, percebi que uma era brasileira e a outra portuguesa. Era a circunstância ideal para pôr à prova a minha capacidade de resistência. Durante os segundos seguintes, estaria confinado a um espaço com menos de quatro metros quadrados, na presença de duas raparigas a falar português intensamente. É o ultimate test por excelência.
Foi tudo muito rápido, assim que as portas se fecharam. Uma delas parece olhar para mim e sorrir. Eu sorrio. Elas continuam a falar, e fazem-no cada vez mais alto. Tento abstrair-me e olhar para a porta do elevador. Elas insistem em falar alto e olham agora as duas para mim. Ignoro-as; não oiço o que dizem. A situação começa a ficar insuportável. Parece que há algo em mim que lhes está a dizer que sou português. Quase vencido, estou prestes a dizer «olá». Penso: «Será evidente? Não pode ser. Estou de t-shirt, calções e sandálias. Pareço mais norte-americano do que português. Terei expressado reacções ao que têm estado a dizer? Não, não é isso... Nem sequer estou a ouvir o que dizem... Não aguento mais estes sorrisos. Tenho que lhes dizer qualquer coisa...». Finalmente, as portas do elevador abrem-se no quinto andar. Saio, apressado, com um profundo sentimento de conquista. De repente, paro. Nessa manhã, tinha vestido a t-shirt com a silhueta do Fernando Pessoa. - JHJ
Tarde de chuva
Banda sonora adequada para o tempo que corre lá fora, uns largos anos depois.
Video Maria
Tarde de chuva
É a península inteira a chorar
Entro numa igreja fria como um círio cintilante
Sentada, imóvel
Fumando em frente ao altar
Silhueta, o esboço, a esfinge de um anjo fumegante
Há em mim um profano desejo a crescer
Sinto a língua morta, o latim vai mudar
Os santos no altar devem tentar compreender
O que ela faz aqui fumando...
Estará a meditar?
Atirem-me água benta
Por ela assalto a caixa de esmolas
Com ela eu desço ao inferno de Dante
Atirem-me água benta
Por parecer latina, calculo que o nome dela é Maria
É casta, eu sei
Se é virgem ou não, depende da vossa fantasia.
Rui Reininho
GNR, 1988 - MC
Onde está o Avelino?
Há uns meses, Avelino Ferreira Torres dirigiu-se assim a uma jornalista da Renascença: «A menina é mal educada, mas é muito bonita. Se eu tiver que fugir para algum lado, levo-a comigo.» Ontem, dia em que rebentou a «operação apito dourado», Avelino era dado como «desaparecido». A grande questão não é se Avelino está envolvido no escândalo. Para mim, o que interessa saber é se ele levou a jornalista consigo. - FN
Regresso às origens
Regressamos todos os dias aos sítios onde fomos felizes e onde está o princípio de todas as coisas. Pode ser que seja o eterno mito do retorno. Mas, daqueles tempos, guardo a melhor e mais pura das memórias. O tempo primeiro, das liberdades suaves e das descobertas, que só agora, olhando para trás, vejo com clareza que diariamente fazia(mos). Dá-se o caso de, de quando em vez, descobrimos outros, que por lá andaram e que guardam também a lembrança dos tempos passados. Quando nos encontramos, partilhamos inevitavelmente, com mais ou menos palavras, e quase sempre sob os olhares suspeitos dos estranhos ao lugar, as lembranças de quando crianças começávamos a fazermo-nos adultos. Para a maior parte das pessoas, isto naturalmente nada significa. Mas, os que têm a enorme alegria de saber o que é o Pastelinho e a escola primária que se mostra do outro lado da rua, sabem do que falo. Numa altura em que, trinta anos depois, há um bando de alegres filisteus que resolveu violentar as nossas memórias, é reconfortante encontrar na blogosfera quem conheceu e vê com os mesmos olhos aqueles lugares e, no meio disto, descobrir que um companheiro de ondas, já o era antes de o ser. - PAS
terça-feira, abril 20
Terça à tarde, num cinema da avenida
Hoje à tarde fui ao cinema ver o «Something’s gotta give», aquele com a Amanda Peet. O cinema estava quase vazio, como seria de esperar de uma sessão depois do almoço. Reparei, contudo, que, para além de mim, os espectadores eram casais da idade de Jack Nicholson e de Diane Keaton. Mas mesmo todos e, tanto quanto pude julgar espreitando por detrás do «Público» com que me escondia, todos felizes. Um fenómeno não sei se melhor explicado pela economia do trabalho se pela cinefilia. Eu também não sei se, como diz a letra da música, uma vez as luzes apagadas se lhes acendia o coração, mas sei que o burburinho na sala aumentava cada vez que a palavra «Viagra» surgia no écran. Confirmei uma vez mais que Keanu Reaves não nasceu com talento para protagonizar papéis masculinos, como aliás já suspeitava desde o último Matrix. Agora, porem-no no mesmo filme com Jack Nicholson – esse Manuel Alegre americano –, e às vezes na mesma cena, isso já é pura maldade. - RB
Amor é
Se amor é humor como escreveu Osvaldo de Andrade, então «humour me» quer dizer «ama-me». - RB
...ou pelo menos curvas bem maiores do que é habitual
Quem leu as reacções de Paulo Portas sobre a escolha do cabeça de lista da coligação fica esclarecido sobre o entusiasmo reinante por aqueles lados. O habitualmente entusiástico e eloquente líder do CDS comenta o assunto nos seguintes termos, sem rimas e cheio de curvas e contracurvas: “Não tenho nenhuma dúvida de que o professor Deus Pinheiro é um bom cabeça de lista”. “O professor Deus Pinheiro foi confirmado pelo partido que tem a responsabilidade da escolha, que é o PSD”.
Traduzindo para português: ter dúvidas sobre se este é um bom candidato faz tanto sentido que eu, Paulo Portas, até me pronuncio publicamente nesses termos sobre tal escolha: haverá quem tenha dúvidas sobre este nome, mas eu pessoalmente não as tenho. Deus Pinheiro é um bom candidato. Enfim, não “excelente”, não “muito bom”, mas simplesmente “bom”. Mais: eu e o CDS não tivemos nada a ver com isso, foi o PSD que o escolheu em nome da coligação.
Lançado, Portas conclui: “Deus Pinheiro foi ministro dos negócios estrangeiros vários anos, foi comissário europeu em nome de Portugal, sempre nos representou bem, conhece a Europa de cor e salteado [sic]...”. Pois. Já é crueldade a mais. Será que à segunda tentativa de enterrar o mesmo homem é de vez? - MC
Re-post: afinal a vida dá mesmo voltas...
Não resisto a repescar parte do post que escrevi quando pela primeira vez ouvi falar na hipótese Deus Pinheiro para encabeçar a lista da coligação de direita às europeias (sexta-feira, 12 de Março). Na altura, pensei que estávamos algures entre a manobra de diversão, a piada de mau gosto e uma hipótese meramente académica. Mas não.
“Deus Pinheiro vai encabeçar uma lista feita sob a tutela do subordinado que o decapitou alegremente enquanto ministro quando, depois de anos de guerra surda e intriga, lhe tirou finalmente o tapete, perdão, a manta. E vai candidatar-se em coligação com quem o fritou depois, aceitando das mãos do primeiro a cabeça - bem enroladinha na famosa manta - do agora candidato (...).
As voltas que a vida dá. Como se não bastasse, Deus Pinheiro ainda vai ter de gerir a manta de retalhos ideológica que inevitavelmente vai sair dessa aliança. Em suma: é impossível esperar sem ansiedade pela campanha, pelo manifesto eleitoral da coligação, e por ver Durão, Portas e Deus Pinheiro, todos muito juntos e sorridentes numa foto de família feliz”. - MC
Nem se percebe porque é que existe
Pacheco Pereira, deputado do Parlamento Europeu, denuncia ao povo português, no seu blogue: «Hoje, votou-se, em duas horas, seiscentos e vinte artigos, emendas, resoluções, etc. Seiscentas e vinte e duas votações». De facto, é um bicho-papão, este Parlamento Europeu. - JHJ
segunda-feira, abril 19
A reconstrução do revisionismo histórico
Na passada quinta-feira, assisti ao primeiro debate (subordinado ao tema da "Europa Social") entre os cabeças de lista às europeias - ao qual faltou apenas o inexistente candidato da coligação. Entre vários momentos típicos deste formato, duas afirmações interessantes merecem ficar para a posteridade, porque mostram bem como é ténue, e traiçoeira, a linha entre as afirmações grandiosas e sonantes e as simples enormidades.
Às tantas, um dos participantes afirma, convicto e grave, que "a Europa não tem, nunca teve uma dimensão social". O mesmo interveniente, aliás, que produziria mais tarde mais uma teoria revolucionária, ao melhor estilo revisionista: "A Estratégia de Lisboa foi toda feita por Blair e Aznar, o governo português e António Guterres não tiveram quase nada a ver com ela". Fabuloso. Quem terá sido o autor destas tiradas brilhantes?
a) o demagogo Manuel Monteiro
b) a estreante Ilda Figueiredo
c) o bem informado Miguel Portas
Você decide. - MC
O primeiro dos saramaguistas
Donde menos se esperava, eis que surge o nº2 da tendência Saramago e tudo devidamente condimentado com sintomáticas referências ao dr. Lopes. Assim vai a coligação. - PAS
País Relativo
«Estou contra o sistema que nos governa e consegui encontrar o instrumento por excelência da contestação: o voto em branco.»
José Saramago, candidato ao Parlamento Europeu nas listas da CDU, Expresso, 3 de Abril
«Se a ideia do voto em branco fosse seguida pelos portugueses, nós conseguíamos eleger os 24 eurodeputados.»
Carlos Carvalhas, Expresso, 3 de Abril
«O Iraque seguro, próspero e governado democraticamente já vem a caminho.»
Teresa Gouveia, Ministra dos Negócios Estrangeiros, Expresso, 3 de Abril
«Não se compra segurança com posições dúbias.»
Durão Barroso, ex-MNE e mau pagador de promessas, sobre Zapatero, Expresso, 17 de Abril
«Não existe uma política para as cidades. Penso que dentro de uma semana ou duas terei já um documento de reflexão para lançar essa política.»
Amílcar Theias, Ministro das Cidades, Expresso, 3 de Abril
«O meu sucessor tem dito tantas coisas erradas que a continuidade do meu silêncio poderia ser vista como uma aceitação.»
Isaltino Morais, Ex-Ministro das Cidades
«Um campanha curta é boa para a abstenção.»
Pedro Santana Lopes, Vice-Presidente do PSD, DN, 14 de Abril
«Estou a pensar comprar um Smart para fugir ao trânsito de Lisboa.»
Pedro Santana Lopes, Presidente da Câmara de Lisboa, 24horas, 13 de Abril
«Quem não cumpre o seu programa não tem moral para ser candidato a nada. É ponto de honra.»
Pedro Santana Lopes, sobre as presidenciais, DN, 14 de Abril
«Ou cumpro ou então não posso ir-me embora. É ponto de honra.»
Pedro Santana Lopes, sobre as autárquicas, idem
«Comigo, tudo tem um interesse extraordinário.»
idem
«Considero-me libertária de esquerda, com fortes traços católicos e conservadores.»
Clara Ferreira Alves, «O Santana, parte II», Expresso, 3 de Abril
- FN
domingo, abril 18
Treina matemática com a RTP
Quando ouvi o comentador da RTP dizer (cito de memória) «o Sporting, com nove cantos marcados, tem nove vezes mais cantos do que o Boavista, que não tem nenhum», percebi logo que a noite não ia correr nada bem. - JHJ
sábado, abril 17
O Santana, parte III
Na entrevista ao DN de quarta-feira, Santana Lopes acaba por dar razão a uma tese antiga (e, pelos vistos, desinteressada) do Professor Marcelo Rebelo de Sousa: «Cada vez mais me convenço que o trabalho que tenho para fazer na câmara exige mais do que um mandato». Santana admite que prometeu muita coisa: «ou cumpro, ou então não posso ir-me embora. É ponto de honra». Estranhamente, noutra fase da entrevista, reconhece que «quem não cumpre o seu programa não tem moral para ser candidato a nada» - o que não deixa de ser também um ponto de honra. Ou seja: «pode haver a hipótese de não ser candidato a nada». Neste cenário, Santana já tem candidato: «o professor Marcelo [que já no passado levou com a herança de Abecassis] pode ganhar Lisboa».
Acham isto confuso? Então, não devem ser do «povo»; devem ser «da oposição» (categorias de Santana). A culpa é sempre do Santana. Já chega! Há não sei quantos túneis na cidade. Mas como o túnel do Marquês foi ideia do Santana, «acham logo que é uma obra perigosa do Antigo Egipto». Há não sei quantas torres em Lisboa. Mas como as torres de Alcântara são ideia do Santana, vão cair de certeza. «Comigo tudo tem um interesse extraordinário», desabafa Santana. E tem toda a razão. -FN
sexta-feira, abril 16
(Des)Governo
- Figueiredo Lopes, ministro da administração interna, segundo a TSF: «Se, por hipótese, o conflito se agudizar e a GNR não tiver condições para exercer a sua missão a única coisa a fazer é retirar.»
- Durão Barroso, primeiro-ministro, segundo o Público: «Qual é a alternativa? Se todos saíssem, seria uma irresponsabilidade sem nome, seria dizer aos terroristas que eles venceram. Desertar seria uma boa notícia para eles.»
Não foi sincronizado, mas não faltou muito. - JHJ
Sempre a subir
O número de pessoas desempregadas voltou a subir. Como sempre ao longo dos últimos dois anos, sobre este assunto o silêncio é de ouro ali pelos lados da praça de londres. Dir-se-ia até que o problema não existe; mas, como se sabe que existe, talvez o silêncio se deva então ao facto de pura e simplesmente não interessar ao governo o que acontece no campo do emprego e do desemprego.
Talvez não seja um problema. Talvez se pense que a "política de emprego" não é matéria de competência do governo, porque se deve tratar apenas do resultado do funcionamento dos mercados. Talvez. Mas nada disto passa de um exercício de suposição, porque à rapidez na produção de um código do trabalho não tem correspondido, estranhamente, um mínimo esforço de transparência, accountability e acção política numa questão tão básica como a situação e evolução do emprego em Portugal.
Um dia o desemprego vai parar de subir. Não porque isto seja importante, ou por interessar, ou por alguém ter manifestado grande preocupação e capacidade de acção na altura devida, mas tão só porque os ventos económicos hão-de mudar. Nessa altura, veremos se este espesso silêncio se mantém. - MC
Páscoa
É muito mau ir pela vida a perder pessoas que, quando vão às suas vidas, num rasgo de coragem te oferecem, na despedida, um bonequinho de bebé com cotos no lugar em que os anjos têm asas. Eu não sabia como era ser assim, agora sei. Como uma vez escreveu o Ivan, se sou assim agora é porque não tenho opção. Mas algo dentro de mim me diz que não quero ser esse alguém - ou, se calhar, é só medo - a quem outros, indo às suas vidas, num rasgo de coragem e generosidade, oferecem ao despedir-se um bonequinho de bebé com cotos no lugar em que os anjos têm asas. É possível que do «desamparo nasçam asas que ficam para além do que nos deixam quando partem». É também possível que não e que no lugar das asas nasçam cotos e que em lugar do voo fique apenas literatura. Que em lugar da víscera reine Ícaro, portanto. - RB
Começar tudo de novo
Hoje à noite, os tindersticks voltam à cidade.
Can We Start Again ?
So many times
I said that I love them
Looking over my shoulder at the door
So many times
"I can't live without her"
The wheel kept turning round
My feeling's changed, I went my own way
What can I say to make you stay?
Cos in my dreams
They smother all over me
And I'm trying to explain
So many arms reach from my memories
Pull all at once
I'm lost amongst the folds in their skin
I did you wrong
But I'm sorry now
And I'll show you how
If you were here now
You couldn't change
you wouldn't understand
but I'm ready now, I'm ready now
I'll make you proud I was your man
and sing a song
but it's so ugly now
and I'll show you how
cos I'm ready now
I'm ready now
Can we start again?
so many times I said that I loved them
but I'm ready now
Can we start again?
So many times
"I can't live without her"
The years was more than I could bear
It's turning round
But in my dreams...can we start again?
They smother all over me but I'm ready now
And I'm trying to explain...can we start again?
So many arms reach from my memory
The wheels kept turning round
Tindersticks
in Simple Pleasure, 1999
- MC
Santana no DN
«Adorava que todos os políticos fossem como eu», disse Santana Lopes em entrevista ao Diário de Notícias (14 de Abril). Subscrevo inteiramente. Se fossem todos como ele, tínhamos assunto todos os dias. De facto, mais uma vez, Santana não desiludiu. Começou por traçar o perfil do cabeça de lista da direita às europeias: «Para travar este combate duro não se pode estar destreinado, tem que se estar com os estágios feitos». O vice-presidente do PSD não abriu completamente o jogo, mas, a avaliar pelos requisitos, cada vez mais me convenço que o cabeça de lista da Força Portugal vai acabar por ser o presidente do Boavista, João Loureiro.
Por outro lado, quando falamos de europeias, falamos de abstenção. Apesar de considerar que «o perfil do abstencionista não está estudado» (olhe que não, olhe que não), o autarca de Lisboa insiste na ideia de que «é mau para a abstenção uma campanha demasiado longa». De acordo com esta teoria, se não houvesse campanha, teríamos uma participação eleitoral a rondar os cem por cento. Não é que a coligação de direita não queira «um bom debate». A questão é que esse «bom debate (...) só se justifica depois das comemorações do 25 de Abril». Se a esquerda já não respeita a evolução de Abril, é problema da esquerda.
Nitidamente contrariado, Santana ainda teve de dissertar sobre dois assuntos que, manifestamente, lhe desagradam: as presidenciais e a remodelação do governo. Em relação ao tema presidenciais, fez um apelo: «como dirigente do partido, atrevo-me a pedir aos militantes que guardem esse tema para outro tempo». Como no último congresso do PSD foi Santana Lopes o único a falar do assunto, é bem possível que, desta vez, «os militantes guardem esse tema para outro tempo». A ver vamos se o candidato Santana respeita os apelos do dirigente Lopes. Quanto à remodelação, se dúvidas existissem, o outro Lopes (o Dr. Figueiredo) já tem o destino traçado: «Precisamos de estabilidade. A questão do Euro2004, a realização das eleições. Um ministro que é muito falado como remodelável é o da Administração Interna, por exemplo. É importante que continue em funções numa altura como esta.» A única dúvida que resta é se Figueiredo Lopes sai antes ou depois de Scolari. - FN
quinta-feira, abril 15
E os portugueses?
E que tal testar nomes de cientistas portugueses na base do ISI? Os resultados são espantosos. Sobrinho Simões, João Magueijo, Sérgio Rebelo, Boaventura de Sousa Santos, Villaverde Cabral, António Damásio. Nenhum deles regressaria a Portugal. - PAS
Estou a 93 de distância, e tu?
1. Do Diário de Notícias de ontem:
“Governo português vai pagar aos investigadores nacionais e estrangeiros que se queiram radicar em Portugal. A medida, que entra em vigor já a partir de 1 de Julho, destina-se a todos os doutorados «com grau de excelência» e visa combater a actual «fuga de talentos» nas ciências. O princípio, definido no novo modelo de financiamento do sistema científico, é alargado à criação de bolsas de retorno, para os jovens portugueses que façam o doutoramento no exterior e pretendam prosseguir a sua actividade no nosso País - uma proposta já apresentada a Bruxelas, mas cujos critérios estão ainda por definir. Segundo as normas do novo modelo de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a ser anunciado hoje ao meio-dia, no site do Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES), o Estado pagará as despesas de investigação a todos os doutorados, nacionais e estrangeiros, que tenham publicado 100 artigos em revistas internacionais e supervisionado pelo menos dez doutoramentos concluídos.”
2. de um email
Do ISI, Web of Knowledge. Pesquisa por nome em “articles” e “all languages”, desde 1945 até hoje.
Ronald H. Coase, prémio Nobel da Economia 1991: apenas 28 artigos originais publicados em revistas internacionais desde 1959.
Gary S. Becker, prémio Nobel da Economia 1992: apenas 50 artigos originais publicados em revistas internacionais desde 1957.
Douglass C. North, prémio Nobel da Economia 1993: apenas 49 artigos originais publicados em revistas internacionais desde 1956.
Juan J. Linz, cientista político, Prémio Príncipe de Astúrias 1987: apenas 10 artigos originais publicados em revistas internacionais desde 1972.
Jurgen Habermas, sociólogo, Prémio Príncipe de Astúrias 2003: apenas 87 artigos originais publicados em revistas internacionais desde 1970.
Anthony Giddens, sociólogo, Prémio Príncipe de Astúrias 2003: apenas 37 artigos originais publicados em revistas internacionais desde 1960. - PAS
P.S. um bom post sobre este mesmo tema pode ser lido aqui.
Vida de retornado
Não tenho feito outra coisa que não «trabalhar, trabalhar, trabalhar», desde o dia em que a ministra do ensino superior e da ciência anunciou que os cientistas portugueses radicados no estrangeiro poderão receber «bolsas de retorno», desde que tenham escrito mais de 100 artigos e orientado pelo menos 10 alunos de doutoramento. Com um pouco mais de dedicação, talvez consiga supervisionar a 10ª tese e escrever o 100º artigo antes dos 70 anos, e assim «retornar» a Portugal ainda com capacidades mentais e físicas para «estudar» a flora do jardim de uma casa na Praia das Maçãs. - JHJ
Santana no 24horas
A entrevista de Santana Lopes, publicada no 24horas de terça-feira, foi conduzida (literalmente conduzida) pelas ruas da capital, num pequeno Smart. Santana está fascinado com o carro, e vai comprar um «para fugir ao trânsito de Lisboa». Inicialmente, ainda terá planeado uma política de trânsito para a cidade, mas, pensando melhor, acabou por optar pelo Smart. Sempre ao volante, Santana falou de tudo o que interessa: das mulheres («sou um homem livre»), das ex-mulheres («dou-me bem com todas»), das noitadas («saí do Stones antes de fechar, às 4.30h») e de quanto ganha (cerca de mil contos para gastar nos filhos, nas gravatas e na pintura de Manuel Amado).
Enquanto dava as suas voltas por Lisboa, Santana ainda arranjou tempo para abordar alguns temas menores, nomeadamente a sua obra enquanto presidente da câmara. Na Voz do Operário («Aqui vamos fazer a renovação da cobertura»); na Graça («Olha, o vice-presidente da Junta!»); no Alto de São João («Aqui estamos a reinstalar a junta»); nas Olaias («Vamos lá ver se já começaram as obras, senão levam nas orelhas!»); no Areeiro («A estátua de Sá Carneiro é um problema. Aquela cabeça...»); e em Chelas («Pintei aqueles prédios de branco; pintei, salvo seja!») – enfim, é um autêntico caleidoscópio na cidade de Lisboa.
Registe-se que, ao longo do trajecto, o dr. Lopes não ouviu um único insulto. Pelo contrário, até houve um jovem que o elogiou: «Ah, ganda presidente! Está em forma!» Santana agradece: «É isto que me comove. Eu não oiço uma boca. Não sou maltratado. Ele podia ter dito “vai tomar banho” ou “vai trabalhar”, mas não». É que «tomar banho», ainda vá lá que não vá; agora, «trabalhar»?! - FN
quarta-feira, abril 14
Modelos do comportamento eleitoral II
A democracia faz apenas 30 anos. A ciência política ainda vai no 2º Congresso. Só agora é que começamos a ter estudos pós-eleitorais. Pouco importa. Não é isso que nos vai impedir de sermos um país fértil em teorias do comportamento eleitoral. Durante uns anos (isto é, no intervalo de duas eleições), convenceram-nos que «os portugueses nunca põem todos os ovos no mesmo cesto», isto é, nunca escolhem presidentes e governos do mesmo partido. Não fosse alguém ter a mesma ideia genial, a tese nasceu ainda durante a presidência de Mário Soares (o primeiro presidente civil e oriundo dos partidos). Por azar, logo nas eleições seguintes, a dita tese foi por água abaixo: o PS ganhou as legislativas e Sampaio as presidenciais.
Sucedeu-lhe uma nova tese, igualmente popular e não menos fundamentada: «primeiro-ministro que se recandidate nunca perde». Ao contrário do que se passa com os treinadores de futebol, o primeiro-ministro pode estar descansado. Mesmo que tenha estado quatro anos a fazer asneira, esforçou-se - e, por uma questão de respeito, se for essa a sua vontade, deve continuar.
Num destes dias, numa repetição do Expresso da Meia Noite, voltei a ouvir isto. Sem se rir uma única vez, Rui Oliveira e Costa (especialista em sondagens, Sporting e relações laborais) repetiu a tese com a autoridade própria dos comentadores desportivos. É certo que ainda só tivemos duas recandidaturas ao fim de uma legislatura (Cavaco em 1991 e Guterres em 1999). Mas, como diria Albert Hirschman, a teoria de Oliveira e Costa «baseia-se numa sólida amostra de dois exemplos». - FN
Abril é Revolução
Miguel, de um ponto de vista de esquerda, não deixa de ser positivo que Alvalade, um antigo bairro social, seja hoje um bairro do social. - FN
terça-feira, abril 13
Puritanismo e paranóia
Leio na imprensa de hoje que, na sequência da polémica "Janet Jackson shows breast" e da multa aplicada a Howard Stern pela difusão de "imagens com conteúdo sexual" (ainda pensei que era o imposto devido pela estupidez e pela boçalidade do programa), a Victoria's Secret entendeu que era "necessário encontrar novas formas de promoção da marca". Ou seja, a empresa decidiu "superiormente" cancelar as transmissões televisivas dos desfiles da sua última colecção de lingerie.
Por outras palavras: o clima intelectual e cultural de moralismo ultrapuritano que hoje domina os Estados Unidos, a "terra da liberdade", vai fazendo o seu caminho. E que melhor prova disto mesmo que a sanção do mercado? - MC
Dos bairros “novos”, do seu envelhecimento e da reescrita das cidades
Passei um destes dias pelo local onde em tempos se erguia o antigo Alvalade, o cinema, há muito fechado e durante anos abandonado à sua sorte - agora transmutada num imenso buraco de obras que apaga de vez as memórias visíveis da vida anterior daquele espaço. Houve um tempo em que Alvalade, o bairro, antes de ser o reino fechado sobre si mesmo das tias recém-chegadas, dos sobrinhos betos e dos sotaques afectados, era uma das zonas de Lisboa mais jovens e dinâmicas do ponto de vista cultural, em que o cinema, em particular, era uma presença vincada. Eu já não sou desse tempo, mas ainda apanhei o lastro, a decadência e o progressivo sobreaburguesamento entrópico daqueles quarteirões – à semelhança do que sucedeu com outros bairros que foram “novos” na capital em meados do século XX.
Talvez por isso, alguns dos cinemas a que mais fui em criança e até à adolescência já não existem ou, basicamente, mudaram de vida. O Roma, recauchutado muitos anos depois; o Alvalade, que está à vista como se encontra; as salas do Centro Comercial de Alvalade, que em abono da verdade não deixam assim muitas saudades, desapareceram; tal como desapareceu, com curtas ressureições, a pequena sala do ACSantos da Avenida da Igreja. Se quisermos ir um pouco mais longe, o soturno Sétima Arte, já em Entrecampos, perdeu-se no seu sensaborão beco sem saída; tal como se perderam os míticos Alfa, ao Areeiro, o Berna, nas Avenidas Novas ou, vários anos antes, o cinema do Lumiar cujo nome me escapa de momento. Com toda a certeza, escapam-me também outros exemplos mais desta razia. De tudo isto, em Alvalade ou nas redondezas restarão talvez o Londres, partido e remodelado, e hoje vizinho do McDonald’s, o King e o Quarteto (sobre o qual já escrevi) - porventura dois dos cinemas lisboetas com uma programação mais estimulante.
Repare-se, porém, que não há aqui nenhum saudosismo. Na verdade, pouco se terá perdido nesta mudança, a não ser a memória de uma certa cidade em transformação. A oferta de cinemas é hoje provavelmente maior; a diversidade de públicos igualmente. Mudou, sim, o modelo de usufruto do cinema enquanto lazer e o seu enquadramento como prática de consumo. E, com essas transformações, mudaram as salas, as suas localizações, a sua inserção no espaço urbano, e a economia explica facilmente porque se concentram todas nos mesmos sítios, junto a outras lojas, enfiadas em centros comerciais, salas iguais aqui e em toda a parte.
As cidades e a sua vida reescrevem-se continuamente; é por isso que a memória de quem as vive, de maneira necessariamente contingente e particular, se pode tornar preciosa, num estatuto quase documental. - MC
segunda-feira, abril 12
A corrida à democracia
Há uns meses já largos, escrevi um post surpreendido com a visibilidade das eleições do Benfica e com a quantidade de notícias, iniciativas de campanha, anúncios pagos nos media e cartazes espalhados pela cidade com a cara agigantada de Luís Filipe Vieira. Afinal, aquilo que eu pensava ser uma bizarria resultante dos seis milhões de benfiquistas que por aí há e dos incontáveis milhões de euros que circulam em torno desse mito, foi apenas um primeiro eposódio da apropriação privada em larga escala de espaços públicos massificados para fins eleitorais.
Hoje tropecei num outdoor da Lista C (o que faz supor a existência de pelo menos mais duas) das eleições ao ACP. Abro o Público e a página 9 é, toda ela, um imenso mar vermelho de propostas devidamente condimentadas com o sorriso do mesmo candidato. Antes disso, há semanas que ouço falar de uma candidatura de Paes do Amaral (Lista A? Lista B? outra?), já no terreno. Ainda não vi anúncios na televisão, mas é possível que lá cheguemos. Não há dúvida: a mediatização da democracia na sociedade civil veio para ficar.
E quem pensa que estas eleições são coisa de somenos, engana-se. É que ser presidente de uma associação com o número de sócios do ACP tem que se lhe diga. Não estando essa situação em causa, a verdade é que há quem pense, como ouvi a alguém num café, que "ninguém tem coragem de mandar prender o presidente do ACP". Pois é. Um célebre presidente de outra agremiação, recentemente apagado da história, que o diga. - MC
Ainda o Marco de Canavezes
Marco de Canavezes é o nome da terra, cantava há dias David Byrne no Coliseu, pensando em Carmen Miranda. Mas, todos estes anos depois do nascimento da cantora, esta terra não para de nos surpreender. Leia-se atentamente a entrevista de uma Presidente de Junta daquele mítico concelho do norte, eleita pelo PCP (sim, esse mesmo, o Partido Comunista Português). Para aguçar o apetite, aqui fica a resposta final:
"- Como viu aquela invasão de Ferreira Torres no campo de futebol do Marco?
- Com admiração. Eu, há uns bons anos atrás, vi o meu irmão ser agredido por um jogador de outra equipa quando jogava futebol. Entrei campo adentro, com o capacete da motorizada na mão, para tirar desforro desse energúmeno". - PAS
O Professor
Em entrevista com Carlos Vaz Marques, na TSF e no DNA, Aníbal Cavaco Silva apresenta-se exclusivamente como professor: «prefiro hoje não ser apresentado como político». Nos tempos que correm, parece, sem dúvida, uma opção avisada. Há pessoas que ficam viciadas na política. «No meu caso, não muito», diz Cavaco. Foram só dez anos. «Não esperava estar dez anos e ninguém aqui no país esperava que eu estivesse lá durante dez anos», reconhece hoje o professor. De facto, «aqui no país» ninguém estava à espera disto. E, «aqui no mundo», só mesmo o seu orientador de doutoramento em York é que podia esperar tal coisa. Recorde-se que, quando Cavaco ganhou na Figueira, nem o próprio Dr. Mário Soares se lembrava do nome do ex-ministro das Finanças de Sá Carneiro (não é por acaso que ainda hoje o trata por «Cavaco e Silva»).
Cavaco é diferente. Cavaco foi «educado para ser professor» (palavras do próprio) e nunca gostou da «política partidária». «O que me dava gosto era o contacto com o cidadão mais simples», recorda. Esta apetência pelo cidadão mais simples é, aliás, particularmente visível nas fotografias que constam da sua autobiografia. Lá vemos Cavaco com Helmut Kohl, Felipe Gonzalez, Bush pai, Bush mãe, os Clinton, e mesmo outros «cidadãos mais simples», como Prado Coelho e Carlos Queiroz. Assim, não pode surpreender que o ex-primeiro-ministro se defina hoje como «um espírito muito acima da vida partidária». Um espírito livre - à semelhança de «outras pessoas que trouxe para a vida política e que não estariam dispostas a fazer competição partidária na secção». Pessoas como um Mendes Bota, um Nunes Liberato ou mesmo um Macário Correia.
Apesar de tudo, Cavaco faz um balanço positivo daqueles dez anos. No melhor estilo queiroziano (isto é, do prof. Carlos Queiroz), o Professor Cavaco admite ter «a noção de que, em relação às linhas de fundo [sic], não houve assim grandes, grandes erros». É certo que muita gente terá ficado desiludida. Como aquele «homem que [na sequência da campanha de Cavaco em 87] descia pela avenida da Liberdade abaixo e dizia: agora é que eu vou conseguir um carro». Mas pelo menos, «em geral, nunca fui agredido – nem verbalmente nem de outra forma – por parte dos portugueses». Isto é único na história política portuguesa. Todos nos lembramos, por exemplo, da forma como o Dr. Mário Soares foi recebido na Marinha Grande... - FN
domingo, abril 11
Aforismos do dia
O mar é a religião da Natureza.
Crer é errar. Não crer de nada serve.
(Ricardo Reis)
[Fernando Pessoa, Aforismos e Afins, Assírio & Alvim, 2003, pp. 30-31] - RB
Treina matemática com o Isaltino
Isaltino Morais não ficou ressentido, e decidiu dar uma entrevista exclusiva ao Independente, o único jornal ainda lhe atribui alguma importância: «o jornal fez aquilo que qualquer outro teria feito: tinha uma informação escaldante que atingia um membro do Governo» - um membro do Governo igualmente escaldante, acrescentaria eu, depois de ler a entrevista.
Isaltino não aceita que se diga que fugiu ao fisco: «Eu não fugi ao fisco. Apenas não apresentei a declaração completa do meu património». Isto deve ser um tique do discurso parlamentar: nunca se diz que fulano é «mentiroso», diz-se que «faltou à verdade». O ex-ministro «admite agora que possa ter omitido alguma coisa»; só não quer que se pense que é um homem fácil: «Ao longo desse tempo em que estive à frente da Câmara de Oeiras disse não, muitas vezes».
Nesse sentido, Isaltino procura pôr tudo em pratos limpos, nomeadamente os 100 mil contos que tinha na Suíça. Explica primeiro a Suíça, para explicar em seguida os 100 mil contos. Relativamente à Suíça, Isaltino lembra o seguinte: «Sempre tive uma certa apetência pelos investimentos na Bolsa. A partir de 1987, quando o Prof. Cavaco Silva falou em comprar gato por lebre e a bolsa portuguesa teve uma queda, decidi canalizar as minhas economias para uma conta suíça.» Não perceberam? Perguntem ao professor Cavaco. Quanto aos 100 mil contos, «Cerca de um quarto do dinheiro era do meu sobrinho, um terço meu e o restante da minha irmã. É sempre difícil fazer essas contas. O dinheiro oscilava entre os 450 mil e os 650 mil euros». Complicado? Comprem, de acordo com a vossa cor clubística, a colecção do Público «Treina matemática com...». - FN
sábado, abril 10
Pacto de regime
As obras do túnel do Marquês têm provocado o caos em Lisboa. Nestes dias de Páscoa não se nota tanto, mas segunda-feira vai voltar tudo ao mesmo. Já aqui escrevi que os pactos entre PSD e PS só se justificam quando está em causa o regime. No entanto, se as coisas continuarem assim não é impossível que haja uma revolução. Não nos esqueçamos que a queda da Monarquia passou muito pelos confrontos no Marquês de Pombal. Nesse sentido, acho que o Dr. Ferro Rodrigues devia enviar um bilhete muito simples ao Dr. Santana Lopes: «Meu caro, todos fazemos muitas promessas. Infelizmente, as coisas são o que são. Tape lá o buraco, e não se fala mais nisso.» - FN
quinta-feira, abril 8
É fazer as contas
“Abriu a conta apenas em seu nome?
Inicialmente, sim. Só passados três ou quatro anos é que se transformou numa conta familiar.
Qual a verba inicial?
Cerca de 10 mil contos.
Das suas economias?
Exactamente. Depois foram sendo adicionados montantes da minha irmã e do meu sobrinho. Eu fazia a gestão da conta.
Qual era a divisão do dinheiro?
Cerca de um quarto do dinheiro era do meu sobrinho, um terço meu e o restante da minha irmã.
E em dinheiro?
É sempre difícil fazer essas contas.
Eram mais de 100 mil contos?
Eram. O dinheiro na conta oscilava entre os 400 mil e os 650 mil euros. As aplicações eram de elevado risco, sujeitas a enormes variações.
Quer dizer que os 10 mil contos depositados inicialmente, mais as verbas da sua irmã e do seu sobrinho, cresceram até aos 100 mil contos?
Exacto.”
Da entrevista do Dr. Isaltino Morais hoje ao Independente. - PAS
As palavras são importantes
A campanha posta na rua para a comemoração do 25 de Abril é, mais do que infeliz, preocupante. Refiro-me ao outdoor, de resto bem feito e bonito, «Evolução». É infeliz desde logo por sucumbir à provocação barata. Mas não só. Aqueles outdoors dão corpo a algo mais grave: propõem um revisionismo irresponsável.
Se quisesse ser provocatório, diria que nomear o cientista político António Costa Pinto como director das comemorações seria um pouco como nomear Tocqueville para comemorar a Revolução Francesa, ou, à falta dele, François Furet. Mas, para além da fulanização, repare-se no seguinte. As comemorações do 25 de Abril não são as comemorações de uma qualquer categoria científica de «golpe de Estado» integrante de uma tipologia de «processos de transição democrática». As comemorações do 25 de Abril não são um colóquio científico sobre o 25 de Abril. Nos livros de ciência política, o «25 de Abril» será tudo isso, mas não é esse o 25 de Abril que eu quero comemorar ou que eu penso deva ser comemorado. O 25 de Abril que eu quero comemorar é outro – na verdade, e se tiver que escolher uma palavra, é emoção.
A palavra de ordem é, pois, «evolução» - em vez de «revolução». Ora, as palavras são importantes. Por detrás da amputação do «r» está todo um programa político e quem não perceber isto é ingénuo. Está o salientar dos aspectos de continuidade sobre os de ruptura; está o sublinhar da noção de fim de ciclo sobre a de horizonte de possibilidades; está o rotinizar os aspectos carismáticos da revolução sobre o usá-los para algo de construtivo. E porquê a palavra «evolução»? Haverá quem não se lembre logo da expressão marcelista «evolução na continuidade»? Se se pretendia sublinhar aqueles aspectos, existiam outras palavras disponíveis: progresso, mudança ou transformação. Assim, se se opta por «evolução» eu proponho que se abandone a ideia de «comemoração» em favor da noção mais exacta de «reacção».
Afinal de contas, o que existe de objectável à noção de Revolução de Abril naquilo que, olhado a trinta anos de distância, tem de essencial: liberdade, democracia, descolonização, integração europeia, direitos sociais? Trata-se portanto ou de uma enorme ingenuidade ou de um caso de idiotia útil. Em muitos sentidos, e nesta conjuntura isso é evidente, o referido programa político continua a ser mais, e não menos, pertinente. Quando certos traços antigos da sociedade portuguesa ganham renovada visibilidade, quando os elementos de continuidade se tornam mais nítidos, seria agora útil comemorar o lado revolucionário da revolução, em lugar de sublinhar, numa perspectiva mais longa, o seu lado evolutivo (comum, aliás, a qualquer mudança revolucionária). Seria importante fazê-lo de um ponto de vista normativo, nos termos da proposição de um ideal de cidadania. Se o PSD fosse mais inteligente - e tivesse tomates - associava-se às comemorações do 25 de Abril e descia também a Avenida.
E não se venha com a conversa de que já ninguém liga ao 25 de Abril. Eu tenho uma relação emotiva com o 25 de Abril – e gosto disso e não tenho vergonha. Agora parece que é foleiro uma pessoa emocionar-se com isso, descer a Avenida, achar piada ao cravo, ouvir as secas dos discursos na Assembleia, pôr a tocar o «Ser Solit(d)ário» do José Mário Branco. O embrulhar o 25 de Abril numa retórica asséptica de ciência política só ajuda a afastar ainda mais as pessoas do evento. A não ser que se pretenda isso mesmo. É que, como dizia Sorel, as consciência e acção políticas das pessoas movem-se muito por emoções e mitos. Por que razão deixar o seu usufruto apenas aos autoritarismos de todas as cores e de todos os tempos? - RB
Fica para a próxima
«Portugal – Pensar o Futuro». Foi o título de um debate promovido pelo cardeal-patriarca de Lisboa. Uma vez que «esquerda e direita unidas jamais serão vencidas», foram convidadas diversas sumidades da vida pública portuguesa – de Carvalho da Silva a Adriano Moreira. Como acontece sempre nestes debates, «os pensadores» são gente sem tempo (alguns até sem cabeça) para pensar. Nunca analisam nada em perspectiva ou com base na realidade: as «ideias» saem-lhes no momento, e toda a gente acha que se encontrou a receita para o desenvolvimento nacional.
Pinto Balsemão voltou a insistir na importância da «sociedade civil» (um conceito que, como toda a gente sabe, foi ele que inventou). Seguiu-se Marçal Grilo, naquela que foi, talvez, a intervenção mais extraordinária. «Como são escolhidos os políticos?, perguntou, referindo-se aos aparelhos partidários» (in Público, 3 de Abril). Aparentemente, o ex-ministro da Educação do PS está convencido que o grande obstáculo ao desenvolvimento do país é o facto de os políticos serem recrutados nos partidos. No tempo do Doutor Salazar é que era bom: os ministros eram quase todos catedráticos e ninguém nos parava.
No final, como é costume, falou-se muito da «necessidade de consensos que perdurem para lá dos ciclos eleitorais». Em acta, ficou também registado que é «necessário pensar o país num contexto cultural mais exigente». Fica para a próxima, portanto. - FN
quarta-feira, abril 7
Europa sim, Portugal nunca!
O senhor Michel Barnier trocou o cargo de comissário europeu pela pasta dos Negócios Estrangeiros em França. O famoso comissário Solbes é o novo ministro espanhol da Economia e Finanças. E a própria Anna Diamantopolou, titular dos assuntos sociais na comissão, largou «o conforto» de Bruxelas para ir a votos na lista do PASOK para as europeias. A verdade é que um movimento deste tipo não entra na cabeça de nenhum português. De acordo com a cultura política dominante, uma carreira política que se preze tem de terminar num «cargo de prestígio internacional», de preferência na União Europeia. Atingido esse objectivo, «a besta» de ontem torna-se, subitamente, «bestial» ou, como diria Cavaco em auto-retrato recente, «um espírito livre acima dos partidos».
É assim que olhamos para a Europa e para nós. Basta ver a forma saloia como as presidências da União Europeia são encaradas. Ao contrário do que acontece nos outros países, em Portugal aquilo não é visto com a naturalidade de um direito, de uma simples rotina. Presidir à União Europeia é um prémio que nos pode ser retirado a qualquer momento - não por causa da nossa irrelevância, mas por causa da «imagem que passamos lá para fora». É um momento de especial gravidade, perante o qual uma demissão no governo, uma crítica da oposição, podem arruinar o futuro da pátria.
No Público de 3 de Abril, lia-se que «O senhor Prodi permanece fisicamente na Comissão Europeia mas tem a cabeça em Itália». Aqui é exactamente ao contrário: ao fim de um tempo, os primeiros-ministros estão fisicamente em Portugal, mas com a cabeça na União Europeia. Se calhar não foi por acaso que tanto Cavaco como Guterres saíram de cena a seguir a uma presidência da União. Só lamento que o alargamento não permita uma presidenciazinha até 2006: era uma boa forma de garantir que o dr. Durão ia rapidamente para «um cargo de prestígio internacional». - FN
Santa Páscoa
Biblioteca Nacional, terça-feira. A sala de leitura e as fotocopiadoras estão estranhamente disponíveis. No café, apenas vislumbro Antonio Tabucchi com um pequeno séquito. Em pouco tempo, consigo fazer o que normalmente ocuparia uma tarde inteira. Não perco mais de duas horas - a contar com pausas para fumar e atender o telemóvel na excelente varanda. Aproveito esta sorte, e ainda passo pelo Instituto. O cenário é o mesmo. No terraço, ao contrário do que é costume, não há charros nem hermenêutica. Temos de reconhecer que a doutora Maria Filomena Mónica tem alguma razão: a Universidade é uma grande ideia. É só pena ter professores e alunos. - FN
O futuro é fodido
As relações «estáveis», ou as que de si mesmas têm a imagem de «longa duração» (namoro, casamento, benfiquismo, etc.), estão viradas para o futuro como o girassol para o sol. Nelas, o «nós» que se cria a dois projecta-se indefinidamente no futuro. A noção de fim, o seu quando e como, está em regra ausente, ou melhor: suspenso. Por muito que um ou os dois se perguntem todos os dias se é aquilo que querem ainda estou para saber de alguém que tenha concluído: «não é isto e o fim é já hoje». O benfiquismo é o melhor exemplo. O que vier, virá no plural. Olha-se para o futuro «a dois» como para uma paisagem aberta eriçada de projectos.
Andei às voltas com a pretensiosa e difícil tarefa de definir futuro e proponho o seguinte: futuro é tudo aquilo que constrange o presente, no sentido «transcendental» de «limitar» e «possibilitar» ao mesmo tempo (e basta de sociologia). Então o que isto quer dizer é que nas relações longas o grau de constrangimento admitido por cada um sobre o presente é muito elevado. Na verdade, é tanto maior quanto mais «futuro» tiver a relação, posto que seja algo de consentido, uma escolha, desejado mesmo.
Nos casos entre amantes é ao contrário: eles só existem por, e vivem de, não terem futuro. Por exemplo, entre amantes com relacionamentos «estáveis» respectivos, é a inexistência de futuro que esvazia o presente de constrangimentos. Será isso que, por ser de todo incomum na vida (pense-se no trabalho), é bom e é diferente. É o saber que nada daquilo se transformará em constragimento, ou seja, que nada daquilo tem «futuro», que liberta uma prodigiosa energia criativa (chamemos-lhe assim). É como acelerar um carro a 300 à hora em direcção a um muro propositadamente ali deixado para o efeito. O não-futuro é condição de possibilidade e válvula de segurança última. O «nós» existe, mas no presente do indicativo. Os amantes estão condenados a viver no presente e a possuir apenas passado porque o fim está sempre iminente – ou deixariam de ser amantes.
As relações estáveis acabam quando se lhes acaba o futuro. O «nós» extingue-se, evaporado. A relação morre de súbito, na vertical, asfixiada, sem apelo nem agravo. E morre porque alguém (ou ambos) deixou de admitir que o seu presente siga sendo constrangido como até aí, ou no mesmo grau, ou porque quer ser constrangido por outra pessoa. Os casos entre amantes definham pela aflição simétrica: morrem se se lhes abre um futuro e se o tentamos colonizar («amanhã» ou «a semana que vem» dificilmente fazem parte do campo lexical). Como se de um excesso de luz se tratasse. E morrem por, nesse exacto momento, o presente se coalhar de limitações, o carro desacelerar e o muro afastar-se. E quem já se relacionou em total liberdade (quer dizer, sem futuro) tem dificuldade em relacionar-se em algo menos que isso (ou seja: em algo com futuro). O problema dos amantes é, como nos acidentes de automóvel, a desaceleração súbita. De 300 a 0 de um momento para o outro faz com que o peso de cada um seja multiplicado por várias vezes ao ser arremessado contra a parede. O problema dos casados é diferente. É, como o dos astronautas em Marte, o da rarefacção súbita e por isso mortal do ar que respiram. Não sei bem o que é que eu ser benfiquista ferrenho diz sobre tudo isto, mas calculo. - RB
terça-feira, abril 6
Uma pequena lembrança
A maior parte dos modelos de telemóvel têm hoje em dia os chamados "lembretes", que servem como auxiliar sonoro de memória para quem quer ser "lembrado" das grandes ou pequenas coisas que de outro modo corre o risco de esquecer. Este post é o equivalente funcional, em formato blog, dessa maravilha tecnológica.
Há meses e meses e meses que o PSD vive em estado de agitação constante e discute afincadamente por entre picardias e golpes palacianos o candidato a umas eleições que são daqui a dois anos. Pelas minhas contas, porém, faltam dois breves meses para as eleições europeias. E ainda menos que isso para o arranque da campanha eleitoral. Mas até agora nem cabeça de lista, nem lista, nem programa, nem ideias. Nada.
Já se percebeu que a ordem é para desvalorizar as europeias, baixar expectativas e promover a abstenção; e há muito que se sabia que a coligação teria dificuldades numas eleições em que, pura e simplesmente, a sua existência não faz sentido. Mas não há nada que justifique, seja por perversão táctica seja por incapacidade, esta inexistência política. - MC
Coisas simples
Eu assisti, anteontem no concerto dos Zero7, à abertura oficial do Verão. Para quem, como eu, já não vinha a casa há uns tempos, ouvir «Home» logo a abrir soube mesmo muito bem. O Coliseu estava, de novo, e improvavelmente, cheio. Toda a gente de t-shirt vestida com saudades de usar t-shirt. O que só prova que a roupa se deve usar sempre como se tivéssemos saudades dela. Caras e corpos mostrando sinais inconfundíveis de um primeiro bronzeado, possivelmente apanhado no próprio Domingo à tarde na praia de Carcavelos ou no OpArt e sabiamente arrefecido por duas ou três imperiais antes do concerto.
Infelizmente, desta vez, Sia Furler não mostrou o umbigo e não fez aquelas palhaçadas maravilhosas que já a vi fazer. Por outro lado, apurou ainda mais a voz numa dicção a roçar já o incompreensível, característica aliás enternecedora com a qual me solidarizo. A propósito de características enternecedoras, Sophie Barker, a morena ligeiramente estrábica, meteu mais, ainda mais, grappa na voz. Eu quero casar-me com a voz de Sophie Barker e atinar. Mozez canta bem e tal, mas não é, digamos, tão enternecedor como as miúdas. E Tina Dico? Conto isto: na versão do «Destiny», em que todas elas partilharam o palco, Furler e Barker deram um beijinho e as mãos, no final. Dico franziu o sobrolho, virou as costas e saiu de rompante, penteando os caracóis louros para trás num gesto irado. Saiu para um lado do palco, vexada, e as outras duas para outro, saltitantes de intimidade. Quanto Dico teve de regressar ao palco para cantar «The space between» desforrou-se do quer que seja que não tinha gostado em «Destiny». Pois é: a psicologia motivacional feminina tem destas coisas. Depois do concerto, ainda deu para beber um copo ao ar livre – ar livre – e falar de cursos de massagens criativas e de escrita chinesa. Ou era ao contrário? - RB
segunda-feira, abril 5
This should be the place
Um Coliseu a meia-casa, um alinhamento arriscado – com muitas das músicas fabulosas, mas ainda pouco conhecidos do último álbum – e uma plateia sentadamente gelada. O cenário foi, até perto do fim, este. Mas, apesar disso, um concerto perfeito, talvez só superado por um já longínquo, o primeiro em Portugal?, de apresentação de Uh-Oh. Excelentes músicos, mas, acima de tudo, arranjos que reinventaram as músicas – as três ou quatro dos inícios dos Talking Heads, “This must be the place (naive melody)”, “Life during wartime”, “I Zimbra”, tiveram direito a versões espantosas – e músicas que ouvidas hoje se reinventam a si mesmas. Para o fim, com os hits – “Road to nowhere”, “Once in a lifetime” e uma versão semi-unmixed de “Lazy” – a coisa animou q.b. Contudo, no meio é que esteve o fundamental, a mesma capacidade de olhando para trás e para o que se faz à volta (outra vez Caetano), andar vários passos para a frente, para uma música que é também, toda ela, um programa político, pleno de lucidez amarga e irónica, mas repleto de sonho. Coincidência ou não, em lugar da banda de abertura, ouviam-se as canções do quasi-Talking Heads, Arthur Russell, como que para dar o mote às duas horas que se seguiam e confirmando que nunca o presente e o futuro foram tão herdeiros do passado. - PAS
domingo, abril 4
País Relativo
«Uma sondagem dizia que eu tenho muitos apoiantes entre as senhoras e os jovens. Então se eu raspar o cabelo e usar um brinquinho é que vai ser».
Luís Filipe Menezes, Público, 27 de Março
«Isto não é uma homenagem. Eu é que convidei as pessoas por acção de graças por não ter ido para os anjinhos.»
Avelino Ferreira Torres, Público, 25 de Março
«Não domino os papéis.»
idem
«Nós, na segurança social, temos um princípio sagrado: o respeito pelos direitos adquiridos»
Bagão Felix, SIC Notícias, 25 de Março
«Quero obter em 2006 a maior maioria parlamentar alguma vez alcançada por um governo português desde que a democracia foi implantada.»
Durão Barroso, Expresso, 27 de Março
«Estejam atentos aos vossos vizinhos, colegas e amigos.»
Comunicado da Polícia de Londres sobre o terrorismo, Público, 23 de Março
«O terrorismo é para nós o absoluto Outro, a antimatéria. (...) Não se fala com a morte. Ponto final.»
Pacheco Pereira, Público, 25 de Março
«Pacheco Pereira diz que não se pode negociar com mortos, mas eles não são mortos, nem são seres desprovidos de racionalidade. Os terroristas não são marcianos»
Mário Soares, Público, 27 de Março
«Sou o último romântico do 25 de Abril.»
Mota Amaral, Expresso, 27 de Março
«Há dias a imprensa anunciou ter o presidente da Câmara de Lisboa comprado um edifício a fim de aí instalar uma Casa Eça de Queirós. Em tempos funcionara ali um hotel chamado Bragança. Acontece que não era o Braganza que vagamente se pode relacionar com Eça.»
Maria Filomena Mónica, Público, 24 de Março
«Como uma desgraça nunca vem só, não foram apenas os papéis, mas também a biblioteca de Eça a desaparecer. (...) A câmara de Lisboa gastou dinheiro com a aquisição de um prédio onde apenas poderá exibir a dra. Ana Nascimento Piedade [entretanto nomeada directora da Casa Eça de Queirós].»
idem
- FN
Ando eu ...
... a tentar 'educar' os meus amigos norte-americanos dizendo-lhes que é football e não soccer, e a RTP-Internacional transmite um concurso chamado Soccastars com o Sá Pinto como membro do júri. Depois do 3-2 no último Mundial, o melhor é resignar-me. - JHJ
Lá teremos ...
... que enviar a GNR para o Brasil, está visto.
«(...) / Mas, oh, não se esqueçam / Da rosa, da rosa! / Da rosa de Hiroshima, / A rosa hereditária / A rosa radioativa / Estúpida e inválida, / A rosa com cirrose, / A anti-rosa atômica / (...)» [A Rosa de Hiroshima, Vinícius de Moraes] - JHJ
O único do mundo
Já se sabe que dez milhões de portugueses foram convocados para o euro. Há uns tempos, num estádio algures pela superliga (a norte do tejo, portanto), perguntava-se numa faixa ao guarda-redes do FCP: "e tu, Baía?". Ontem, a comoção nacional em torno deste "caso" nunca terá sido tão grande.
Considerado o melhor guarda-redes da europa antes de ir para o Barcelona (tal como Ibarra era o melhor lateral-direito do mundo, Deco o melhor nº 10 do mundo, e por aí adiante, com certeza problemas de escala), Baía provou ontem à noite que não é só no Benfica que anda tudo à pancada e respondeu à letra, e de facto, às críticas de Pinto da Costa a Scolari, dando razão ao seleccionador quando o mantém bem afastado da baliza portugues. Foi uma exibição daquelas que ficam na memória.
Mas, pensando melhor, talvez Scolari deva reconsiderar a sua decisão. É que não há outro guarda-redes, não pode haver, em campeonato nenhum do mundo, que ao longo da carreira tenha conseguido defender três ou quatro vezes (lembro-me de pelo menos duas, mas afiançam-me que há mais) remates para golo com as mãos, bem fora da grande-área, sem ter o correspondente "prémio". Ontem nem serviu de nada, mas podia ter servido; parece que nem com o campeonato já ganho as coisas são de maneira diferente. E o facto é que nem vermelho, nem amarelo, nem falta sequer foi assinalada. Sr. Scolari, ponha bem os olhos neste fenómeno. O melhor não sei, mas é de certeza único no mundo, e pode ser o trunfo que lhe anda a faltar. - MC
sexta-feira, abril 2
Da Escócia para o Mundo
Há poucos músicos cuja não existência teria feito da música pop algo de completamente diferente daquilo que hoje ouvimos. Entre esses está David Byrne, um escocês nova-iorquino, que há quase trinta anos baralha e volta a dar, cresce para trás e para a frente, sempre com a mesma lucidez. Das guitarras pós-punk do final dos anos setenta, que todos, e bem, andam hoje a (re)tocar, passando pelos ritmos que fazendo dançar ajudavam a compreender as músicas melhor, até à simplicidade serena do último disco, em todos os momentos está lá a mesma criatividade transbordante de ironia. “Grown Backwards” é, provavelmente, o seu melhor álbum desde Naked, ainda com os Talking Heads, o que é obra. Pensem nessa canção fantástica que é “Soft Seduction” de Feelings, ouçam a forma de cantar de algum Caetano, juntem-lhe o timbre inconfundível e, por vezes, desconfortável de Byrne, misturem tudo com cordas e somem muito e descobrem as novas canções. Claro que, amanhã, no Coliseu vai ser fantástico ouver tudo isso, mas num mundo perfeito daqui a quinze dias eu estaria aqui. - PAS
Modelos do Comportamento Eleitoral
Há modelos do comportamento eleitoral que já são clássicos na ciência política. É o caso do modelo sociológico, que explica o voto em função da classe social; do modelo psicológico, que explica o voto de acordo com as atitudes individuais; e do modelo económico, que explica o voto a partir das conjunturas sociais e económicas. Mas há outros modelos mais recentes. Por exemplo, a leitura que a direita fez do resultado das últimas eleições espanholas inaugurou um novo modelo: o modelo Al-Qaeda.
Contudo, na imprensa portuguesa, o modelo explicativo dominante parece ser o que privilegia o papel dos candidatos. Não é que os cientistas políticos não atribuam importância aos candidatos, mas a verdade é os jornais levam longe de mais essa tese. Os jornalistas nunca se ficam pelos líderes partidários ou pelos cabeças de lista; analisam exaustivamente os efeitos eleitorais de todos os candidatos (muitos deles anónimos) que compõem as listas.
Um bom exemplo disto foi a forma como o Expresso analisou, no último sábado, a lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias. Segundo o jornalista Manuel Agostinho Magalhães, «a inclusão de João Semedo acena aos comunistas». Como se não bastasse «acenar aos comunistas» (via doutor João Semedo), a lista do Bloco «lança pontes noutras direcções». De acordo com o mesmo jornalista, «ao colocar em número dois Violante Saramago, a lista do BE apela ao voto dos socialistas e da esquerda moderada». E quem é Violante Saramago? Eu, cidadão atento ao fenómeno político, não sei responder. Apenas uma coisa me parece segura: tendo em conta o apelido, esta senhora não será a candidata ideal para «apelar ao voto da esquerda moderada». Finalmente, depois de arrasar o PC e o PS, a lista do Bloco ainda consegue «piscar o olho ao voto dos imigrantes e dos estrangeiros (com a inclusão de Antonio Tabucchi)». A sério. Com Antonio Tabucchi. Será que o Expresso pensa que o Ivan é um cidadão russo a residir em Portugal? - FN
quinta-feira, abril 1
Google-bomb de fabrico nacional
Não é novidade que ao se introduzir a expressão "miserable failure" no Google, e ao se clicar em I'm Feeling Lucky, se vai dar à biografia oficial de George W publicada no site da Casa Branca. Se, por outro lado, se clicar em Google Search, surge uma lista de sites com a referida biografia em primeiro lugar, seguida da biografia do ex-presidente Jimmy Carter, da página oficial de Michael Moore e da página oficial de Hillary Clinton. Estes resultados espúrios são fruto de malandrices (Bush) e contra-malandrices (Carter, Moore, Clinton) da comunidade mundial de bloggers que, diariamente, explora a forma como o Google determina o ranking das páginas da internet (como o Google o faz é semi-secreto - tipo fórmula da Coca-Cola - mas já se sabe o suficiente para a manipular).
Por cá, houve uma tentativa - sem intervenção dos bloggers - de fazer uma coisa semelhante com a biografia oficial de Durão Barroso. De facto, se se introduzir a palavra "estúpido" no Google, e se se clicar em Google Search, surge uma lista de sites encabeçada pela biografia oficial do nosso primeiro-ministro. Só que recentemente o link deixou de funcionar, porque os informáticos do portal do governo alteraram a morada para 'contornar' o resultado pouco cómodo de pesquisas fortuitas. Nos Estados Unidos, a Casa Branca não se importou minimamente com o link. Em Portugal, o portal do governo parece querer brincar ao 'jogo do gato e do rato'...
[O Paulo Querido conta a história com mais detalhe, aqui.] - JHJ
Autobiografia Política
Pode criticar-se muita coisa, mas há um mérito indiscutível nas autobiografias políticas de Cavaco Silva: como dizia ontem o Pedro Mexia no "É a Cultura", ao contrário do que por vezes acontece neste género de livros, vê-se que as memórias foram escritas pelo próprio Professor. Ainda só li o primeiro volume, mas, de facto, a prosa tem o estilo inconfundível dos relatórios do Banco de Portugal. - FN
Esquizofrenia política
O «voto em branco» de Saramago continua a dar que falar. Como se fosse a primeira vez que alguém lança esta ideia. Já em 1975, nas eleições para a Assembleia Constituinte, César Oliveira e outros membros do MES (que não ia a votos) apelaram ao voto em branco. O voto em branco era «o voto no MFA». Dir-se-á que agora há um dado novo: Saramago, ao mesmo tempo que apela ao voto em branco, é candidato nas listas da CDU. Acontece que esta forma de «esquizofrenia política» também não é inteiramente nova. Já por duas vezes (legislativas de 1999 e 2002) a engenheira Pintasilgo apareceu a apoiar, ao mesmo tempo, o PS e o Bloco de Esquerda. - FN
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