Vamos fazer frente ao laranja!*
No futebol...
...como na política.
*Apelo de Luiz Felipe Scolari aos portugueses, ontem, na conferência de imprensa da Selecção.- FN
Tenham medo, muito medo da escolha popular
Na tentativa de desacreditar a solução de eleições antecipadas como resposta à crise política e institucional que se vive em Portugal, alguma direita tem-se esforçado por diabolizar o cenário legislativo em que Ferro Rodrigues seria primeiro-ministro (aqui, por exemplo). Ao fazê-lo, ensina-nos duas coisas. Primeiro, que tem a noção clara que os eleitores dariam provavelmente a vitória ao PS se as eleições se realizassem hoje. Segundo, que prefere um primeiro-ministro escolhido por um grupo de dirigentes partidários a um primeiro-ministro escolhido por sufrágio universal. Alguma direita nunca muda. - JHJ
O Público errou
Relativamente às declarações da Senhora Ministra de Estado e das Finanças, Dra. Manuela Ferreira Leite, onde se lia «Sem um congresso ninguém tem legitimidade para nomear um novo presidente do PSD e, por inerência, primeiro-ministro. Tal configuraria um golpe de Estado no partido. Quando os militantes votaram, no último congresso, não estavam a escolher também o número dois ou número três do partido, estavam a votar na lista do presidente do partido», devia ler-se «Sem eleições ninguém tem legitimidade para nomear um novo primeiro-ministro. Tal configuraria um golpe de Estado no país. Quando os eleitores votaram, nas últimas eleições, não estavam a escolher também o número dois ou número três do partido, estavam a votar na lista do presidente do partido.» - FN
O governo de Schrödinger
Passei os últimos três dias sem acesso à internet. Tudo o que conheço sobre a actualidade foi-me relatado por telemóvel (sem SMS), ou resulta da leitura que acabei de fazer do Público online e de alguns blogues. Estou fascinado com a incerteza e a sobreposição de «realidades». Deslumbrado, até. E não estou a ser sarcástico. - JHJ
Obviamente, dissolva!
Nas vésperas das eleições europeias, vários antigos comissários preparavam-se para se candidatar pelos seus partidos ao Parlamento Europeu. O próprio senhor Prodi, presidente da Comissão, desejava ardentemente regressar à política doméstica. Então, escrevi aqui que um movimento deste tipo era impensável entre nós. Para o provincianismo dominante na elite política, não há nada mais importante do que «uma carreira na Europa» (de preferência num cargo de nomeação). Isto diz tudo sobre a maneira como olhamos para a Europa e sobre a saúde da relação entre eleitores e eleitos em Portugal.
Esta tendência nacional atingiu novos patamares com a mais que provável aceitação do cargo de presidente da Comissão Europeia por parte do Dr. Durão Barroso. A meio do mandato, o Dr. Durão rompe o compromisso com os eleitores, em nome do chamado «interesse nacional». Uma decisão destas não passaria pela cabeça de mais nenhum primeiro-ministro europeu. Ao contrário do que pensa o dr. Guilherme Silva, não são as eleições antecipadas que são típicas do «terceiro mundo» (aliás, no terceiro mundo não abundam eleições livres e justas); típico do terceiro mundo é desrespeitar os cidadãos e pensar que tudo se resolve no interior do partido único.
Mas estranhamente, esta leitura das coisas não se resume ao dr. Guilherme Silva. A maioria dos editorialistas (do Público, do Expresso, etc.) vibrou com a escolha do «estadista» Barroso para a União Europeia. Para eles (e para alguns sms de esquerda), o único problema é Santana Lopes. Como diz Marcelo Rebelo de Sousa, «O PSD deve escolher não em função dos interesses partidários mas nacionais»; isto é, deve escolher alguém que agrade ao dr. Sampaio. Talvez uma eminência parda do regime sirva melhor «o interesse nacional». Ou talvez - porque não? - ele próprio, o inconfundível professor Marcelo.
Como é evidente, já não há outra saída politicamente aceitável para esta situação que não passe pela antecipação de eleições. Sobre isto, o Ivan Nunes tem dito o essencial: «Quem, para discutir o significado político do que está a acontecer, me invoca o artigo da Constituição que diz que, nas eleições parlamentares, eleitos são os deputados e não o governo, não merece, politicamente, o meu respeito.» O Ivan lembra que «o regime político em que vivemos hoje tem sido por vezes caracterizado como "semi-presidencialista de primeiro-ministro"». Na verdade, o regime até tem sido definido como «presidencialismo de primeiro-ministro» (por exemplo, pelo professor Adriano Moreira), conceito para o qual a redução dos poderes presidenciais e os mandatos do dr. Sampaio muito contribuíram. Neste sentido, tendo em conta o que são, de facto, as eleições legislativas - e em coerência com o que tem acontecido nas crises institucionais mais recentes (1987, 2002) -, o Dr. Sampaio só pode dar uma resposta: «obviamente, dissolvo». - FN
Prioridades
Sexta feira saí a correr da Faculdade para chegar a tempo de ainda ver algumas notícias. Decidi apanhar um taxi. Quando entro, dou o mote: «Então o Durão lá vai para Bruxelas...» O taxista estava indignado: «É uma vergonha, isto são eles [os outros países] a quererem desestabilizar a Selecção.» - FN
Choque e pavor
Na sexta feira estive a vigiar exames entre as 18.30 e as 20.00. Durante essa hora e meia fui recebendo, através de sms, notícias extraordinárias sobre o nosso governo. Às 20.00 ainda ninguém tinha terminado o exame. Para grandes males, grandes remédios: «Tenho duas coisas para vos dizer. A primeira é que estamos em cima da hora. A segunda é que, enquanto aqui estivemos, mudámos de primeiro-ministro. Quando entrámos era o Durão Barroso, agora é o Santana Lopes». O exame acabou ali. - FN
Portugal-Holanda
Petit na conferência de imprensa de hoje: «Vamos oferecer a vitória a esta massa associativa maravilhosa que é Portugal». - FN
Sing along
"He was a sweet and tender hooligan, hooligan
And he swore that he'll never, never do it again
And of course he won't (oh, not until the next time)".
Steven Patrick Morrissey, Sweet and Tender Hooligan - PAS
A festa dos portugueses
Se depois de uma tímida vitória contra a Rússia houve festejos nas ruas, não espantou que em todo o lado tivesse havido uma espécie de loucura colectiva com a qualificação para os quartos de final do europeu. Tendo em conta que o discurso oficioso é há muitos meses o do favoritismo, deve haver qualquer coisa que nos escapa. E escapa há muitos anos. Num país demasiado habituado às "vitórias morais" e aos "quase feitos", todos os passos do caminho são festejáveis porque nunca se sabe ao certo quando é a última oportunidade para o fazer, mesmo que ainda não haja nada que objectivamente justifique qualquer festa.
A outra face desta forma de encarar o mundo, que não tem nada a ver com fado mas sim com uma inescapável e periférica pequenez, encontramo-la nos media e nos discursos das pessoas. Depois da vitória sobre a Espanha, transformada em "exibição inesquecível", a equipa estava de novo entre as melhores, superiormente orientada por Scolari, a união e o espírito de grupo eram cada vez mais fortes e ouvi mesmo um comentador dizer que "quem acompanhou a selecção desde o estágio sabia que tudo ia correr bem".
Curioso. Umas horas antes de um jogo que de inesquecível só teve um penoso sofrimento até final, a equipa era mediana e desequilibrada e as exibições muito pouco convincentes; o "brasileiro" não percebia nada de futebol e da mentalidade dos jogadores portugueses, o ambiente era terrível e cheio de divisões internas e a vitória contra a Espanha transformara-se num cenário altamente improvável.
Hoje, quase em dar por isso, voltámos ao ponto de partida: um optimismo desenfreado faz com que a selecção seja de novo favorita e tornou necessários apelos contra o excesso de confiança, lembrando que as coisas podem não correr assim tão bem. Daqui por poucas horas, saber-se-á qual das duas faces o país exibirá. - MC
Imprecisões categoriais
Tenho estado ausente do país relativo algures em Lisboa, acampado entre quatro paredes e muito papel numa espécie de férias forçadas pelo trabalho, servido em doses ininterruptas. Já tinha saudades de blogar ao sol, um sol vagamente alaranjado a cair sobre a cidade através dos vidros emoldurados virados a norte, no conforto seco, esterilizado e sem mácula de uma sala com ar condicionado. - MC
O pesadelo von Trapp
O grande Buffon - um guarda-redes anormal, absurdo, como ontem dizia certeiramente um amigo - lamentou o 2-2 do Suécia x Dinamarca. Sugeriu combinações menos lícitas. Perguntou como é que vamos explicar o sucedido às criancinhas. Qual quê. Mas alguém consegue imaginar um sueco e um dinamarquês em combinações mafiosas de resultados? Dava um sketch divertido. É que não conseguem, mesmo que quisessem: são demasiado bem formados, escolarizados, desenvolvidos, estado-providenciados, nórdicos, protestantes e louros para isso. Sim, bem sei que houve em tempos um senhor sueco que era guarda-redes e que se chamava Thomas Ravelli. Ravelli. O problema da Itália não é esse. A Itália não lamenta hoje o 2-2 combinado; a Itália lamenta, sim, Trappatoni. Duvidam? É ver esta noite o Porta a Porta na Rai Uno. - RB
Nadar
Nadei hoje como quero nadar sempre: com um relógio de pêndulo dentro do peito. Comecei por sorrir a cada respiração ao sentir o calor do sol na cara e ao redor dos olhos. A meio da piscina ria já a bom rir. Acelerei, e os braços obedeceram. A água fresca deslizava mais e mais depressa pelo meu corpo de repente parado, trazendo com ela o cais da piscina sempre para mais perto, o t pintado, e a antecipação da viragem. Fui feliz dentro de água, mesmo sabendo que dentro de água tudo pesa menos, a começar por nós. Nadei hoje como quero escrever sempre, com um pêndulo dentro; feliz. - RB
Os «profissionais»
Há uma semana, no seu comentário da TVI, Miguel Sousa Tavares (MST) disse algumas coisas elementares. Que ninguém votou em Figo, Rui Costa ou Fernando Couto para mandarem em coisa nenhuma, muito menos na selecção. Que o senhor Scolari, em vez de inventar, devia aproveitar a equipa do Porto (com Figo no lugar de Alenitchev, Nuno Gomes no lugar de Macarty e Ronaldo no lugar de Derlei). Não sou do Porto, mas reconheço que MST tinha razão (só falta o Paulo Ferreira). Figo, transformado em sindicalista da geração de 91, não gostou do que ouviu. Depois de ganhar à Rússia, aproveitou a conferência de imprensa para atacar MST, sem nunca o nomear. «Somos profissionais, merecemos mais respeito», disse ele. (Uma reivindicação que se ouve muito na «classe» das prostitutas e dos «profissionais circenses».) E não se ficou por aqui: «Logicamente, pois que se eu sou profissional de futebol não vou opinar de agricultura ou de cinema. Por isso, também não admito que pessoas que não são profissionais de futebol falem do que não sabem». (Couto, ao menos, limitou-se a exigir respeito pela «classe arbitral».) Vasco Pulido Valente uma vez referiu-se a Cavaco como «o algarvio desconfiado». Figo é o típico português desconfiado, que teve a sorte de nascer com neurónios nos pés.
Tirando Valdano, Futre e Dani, não conheço nenhum futebolista que tenha alguma coisa para dizer. Quem ouviu os comentários de Diamantino Miranda ao Portugal-Espanha (Sportv) pôde confirmar isto. Ao contrário do que mandam as regras, Diamantino pôs-se a fazer prognósticos no início do jogo: «Acho que Scolari errou ao pôr Ronaldo de início, é muito inexperiente». Aparentemente, Ronaldo, titular do United, não aguenta a famosa «pressão»; Simão, que foi dispensado pelo Barcelona, é que era o indicado. Aos 52 minutos, segundo Dimantino, «Portugal não está a conseguir chegar à baliza espanhola.» Segundos depois, Nuno Gomes marcava o golo. Como se isto não bastasse, aos 75 minutos, o nosso Diamantino voltou a dar a táctica: «Acho que o Scolari deve mexer na equipa. O Deco já não segura a bola nem ganha faltas.» Entre os 76 e os 92 minutos, Deco foi o jogador que melhor segurou a bola e mais faltas ganhou. A opinião sobre o futebol é uma coisa demasiado importante para ser deixada aos futebolistas. - FN
O «castigo» segundo a UEFA
O jogador Totti foi castigado com três jogos. Ficou a ver a selecção italiana da bancada, acompanhado por Ilary Blasi.- FN
Que desassossego!
A desassossegada não pára quieta um minuto. Um tipo destrai-se, e quando lá volta para ler os últimos posts, tem que fazer scroll-down quase 10 kilómetros até chegar ao princípio.
Logo a seguir às eleições, mandou o Miguel Portas guardar o rolo da massa para não nos fazer passar vergonhas na Europa. E fez muito bem. Para a Sara, BE e luta de classes só mesmo quando estão menos de 30º Celsius. Por mim, aos 20º, ligo logo o ar condicionado. Mas cada um tem os seus thresholds. Quem parece ligar o ar condicionado ainda a temperatura está negativa, são estes tipos. A Sara não os linka (ou linqa, ou o raio que parta a língua portuguesa!) e eu, se mandasse no PR, linkava e deslinkava logo a seguir.
A meio da semana, andou metida com o maradona por causa de um tal de Norbert Elias, que é um sociólogo que me permitiu conhecer para aí metade das pessoas que escrevem neste blogue. Estou a exagerar, evidentemente. Em todo o caso, o maradona saiu-se com um boa que foi «pessoas que não percebam a dificuldade que é passar pelo Ricardo Carvalho não podem escrever uma linha sobre um único adepto de futebol». Estava-se a referir ao tal de Norbert Elias, que, obviamente, não deve conhecer nem o Ricardo Carvalho, nem o José Mourinho.
Voltando à Sara, parece gostar muito de esplanar, que é uma actividade igualmente adorada por um outro relativo. Principalmente, quando estão mais de 10º. E se há coisa que me tem faltado para poder sentir o Europeu é, precisamente, o acto de esplanar. Esplanar, e ver a GNR a cavalo à caça de adeptos ingleses embriagados com cerveja Sagres.
No meio de todo este desassossego, o blog da Sara declara apoiar o Euro'04 e a selecção brasileira. Se Portugal perder amanhã, declaro apoiar a Suécia. Ou as tulipas laranja. Se ganhar, também. Desde que quem ganhe a final viva a norte de Paris, vivo feliz. - JHJ
Porque amanhã é Sábado
Fui gostando do Chico de todas as maneiras. Acho que comecei pelo Jumento, dos Saltimbancos que por casa me apresentaram quando ainda não me ligava ao resto que ouviria depois, mas que já tinha ouvido desatentamente antes. O Chico tem poucos defeitos e tem aliás, todos o sabemos, a qualidade de ser um homem muito bonito. Mas, dá-se o caso de, naquele jeito inconfundível de olhos verdes e olhar terno, como que a precisar permanentemente de ajuda, ser também completamente não efeminado - nisto, como em muitas outras coisas é um pouco o contrário do Caetano. Isto é tanto mais espantoso quanto tem uma capacidade (única?) de conseguir escrever as músicas como se estivesse no lugar das mulheres e cantá-las do lado dos homens, deixando que as mulheres as cantem do lado certo (há palavras para o Atrás da Porta cantado pela Elis?). Mas enquanto me associo aos anos que o Chico faz amanhã e que andam pela blogosfera há uns dias, lembro que, entre as suas qualidades, o Chico tem o gosto pelo futebol e como muitos outros que gostam mesmo de futebol, gosta dos clubes de futebol antes de gostar das selecções. O que convém ser sublinhado nos dias que correm.. - PAS
Elementar
Uma vergonha as notícias que hoje abundam nas televisões e na imprensa que temos. Em letras garrafais, em leads chocantes, anuncia-se que o filho de Leonor Beleza, que por acaso até é maior e provavelmente vacinado, foi detido por estar alegadamente envolvido numa rede de tráfico de droga. Porque razão é que é invocada para título da notícia a maternidade do suspeito? O que é que isso tem de relevante? A única coisa que é relevante e elementar numa sociedade com um mínimo de dignidade é, por um lado, a discrição quanto à identidade de presumíveis suspeitos de qualquer crime e, por outro, não menos importante, o respeito e a dissociação dos seus familiares face a esses mesmos actos. No meio disto a dúvida começa a ser se estamos todos a caminhar para um enorme esterco, ou se já estamos mesmo envolvidos nele e a fazer esforços, mais ou menos inglórios é verdade, para dele sairmos. - PAS
Stolichnaya
Lev Davidovich Landau (1908-1968) foi um dos mais brilhantes físicos e matemáticos russos de sempre, e co-autor dos mais intragáveis manuais de física que li na faculdade. Com Rui Costa ou Deco no meio-campo, a vingança serve-se à temperatura de um shot de Vodka. Assim o espero, pelo menos. - JHJ
O milagre de dia 13
Na noite de 13 de Junho, Paulo Portas desvalorizou a derrota da coligação «Força Portugal» sublinhando a reduzida participação do eleitorado. Até à noite anterior, era reconhecida no mesmo Paulo Portas uma atitude energética na defesa da legitimidade do resultado de um referendo que continua a ser o acto eleitoral menos participado de sempre em Portugal -- em Junho de 1998, 68% dos eleitores portugueses não responderam a uma pergunta que insiste em ter uma resposta adiada. - JHJ
Três notas sobre o 13 de Junho
Ferro: No último ano, a generalidade dos comentadores políticos anunciou morte política de Eduardo Ferro Rodrigues. Já se conhecia o desfasamento entre opinião pública e opinião publicada, mas nunca se pensou que tivesse esta dimensão. No dia 13 de Junho o PS de Ferro Rodrigues obteve uma vitória esmagadora. Foi o melhor resultado de sempre do Partido Socialista, após um ano marcado por uma acumulação de acontecimentos absurdos sem paralelo na história ou na política comparada. Está à vista que as consequências desses acontecimentos foram mais psicológicas, mediáticas, do que propriamente sociológicas ou eleitorais. E não há dúvida que Ferro Rodrigues revelou uma capacidade de resistência psicológica notável. Como dizia A Capital, com uma fotografia de Ferro a ilustrar, «As notícias da minha morte eram manifestamente exageradas».
Os Eleitores: Igualmente exageradas podem ser as notícias que dão como certa uma vitória do PS nas próximas eleições legislativas. O 13 de Junho foi apenas um primeiro dia, um primeiro passo que não nos deve impedir de analisar as diversas variáveis com atenção. Em primeiro lugar, a tão falada abstenção. É evidente que, ao contrário do que disse o Dr. Portas, antigo director dos estudos eleitorais da Moderna, esta taxa de abstenção não é «histórica»; «histórica» é a derrota da direita. O nível de participação eleitoral verificado é em tudo idêntico ao verificado em eleições europeias anteriores e pouco abaixo da média registada no conjunto dos países da U.E.. Também não é verdade que os abstencionistas sejam eleitores da direita que não chegaram a tempo de ir votar. Vários estudos de opinião indicavam que não existia uma «reserva» de eleitores de direita entre os indecisos ou potenciais abstencionistas. Pelo contrário, o «núcleo duro» da direita até estava mais mobilizado do que o da esquerda. Só com estudos pós-eleitorais poderemos perceber o que, de facto, motivou o comportamento dos portugueses no domingo. Mas, politicamente, uma coisa é certa: os socialistas não podem deixar que a mobilização dos seus eleitores fique exclusivamente dependente de factores externos, como acontecimentos trágicos, conjunturas económicas e erros de gestão política do governo de direita.
O Partido Socialista: Para consolidar o resultado das europeias e mobilizar os abstencionistas de esquerda, o PS deve tornar claras as suas diferenças em relação à coligação de direita. De facto, «se tudo é igual, para quê ir votar?», perguntarão alguns desiludidos. E não se trata aqui de alimentar polémicas estéreis entre «viragens» à esquerda ou à direita, de temas fracturantes ou de pactos de regime, tão do agrado dos comentadores. Trata-se de fazer com que, independentemente das conjunturas, os eleitores identifiquem o PS com determinadas prioridades políticas, como tão bem conseguiu o Professor Sousa Franco. Para enfrentar com sucesso este desafio, é fundamental a organização do partido e o diálogo das suas estruturas com a sociedade. Ora, neste aspecto, o que sucedeu na lota de Matosinhos mostra bem que é uma ilusão pensar que se pode voltar ao poder sem se renovar a forma de fazer política no PS. Há, pois, que capitalizar as novas estruturas (clubes de política, etc.) e envolver toda a gente que quer contribuir para a mudança política. O pior que podia acontecer ao PS era reproduzir erros do passado, deixar andar, organizar «comissões de honra» ou «Estados Gerais» apenas para fazer um número de televisão. É essencial assegurar que o chamado «diálogo com a sociedade» vai ser efectivamente continuado e organizado. Para que o 13 de Junho se possa repetir. - FN
Identidade nacional
No sábado a equipa portuguesa fez história: pela primeira vez, a selecção do país organizador perdeu o jogo inaugural. Seguiu-se imediatamente a pergunta do costume: se formos eliminados, estás por quem? Um amiga minha diz que agora está «pelo Brasil». Como aparentemente isto é um europeu, discordo: «desta vez estou pela Itália». A Itália joga de azul (como o Belém), treina no meu estádio (Restelo) e está sediada no Alto de Santo Amaro (o bairro onde cresci). Assim de repente, não encontro melhor definição de patriotismo.- FN
Excelente pergunta
O que faz a Mulher Moderna e Independente do Século XXI quando chega a casa do trabalho e «Saia Justa» e «Sex and the City» estão a passar em dois canais ao mesmo tempo? A minha resposta: zapping, confortável no sofá (o rapaz está na cozinha e vai adiantando o jantar). - RB
Um gajo enfermiço
O João Mendes Cruz é um gajo enfermiço com um blog. Ele está sempre doente; dói-lhe tudo e dói-lhe tudo sempre mais. Até ser internado. Era bastante divertido e é pena que tenha transformado tudo o que lá tinha escrito na chatice escatológica e sem piada que lá esta agora. Antes, tinha pérolas destas:
«Manhã em casa,
vagueio de roupão pela sala. A Sara deixou panados de peru no frigorífico. Haverá pudim? Ontem havia...Formigueiro na perna esquerda. Estendo-me no sofá. A esta hora, milhões de improdutivos, sentados em milhões de secretárias, fingem que trabalham. Eu não finjo, sou doente. Doente mas lúcido. Merda! Sou lúcido!»
O João apresentava uma descrição lúcida, corajosa e realista do dia-a-dia ingrato da malta que anda a fazer teses. De mestrado, de doutoramento...faz pouca diferença (a rapaziada do pós-doutoramento já sai mais, apanha mais ar, tem mais uma corzinha). João, sugiro-te que faças isso mesmo, uma tese. Uma vez que já tens a vida, ao menos ficavas também com a tese feita. Onde? ICS, especialização em «Sofrimento: perspectivas sócio-culturais». - -RB
Vai dizer isso ao Portas
" «Percebi o sinal dos portugueses». Durão Barroso diz que os portugueses deram ao Governo um sinal de exigência nestas eleições europeias, que só o estimula a «fazer ainda mais» por Portugal."
" «Para o Governo de Portugal vota-se em 2006». O líder do PP recusa qualquer ilação destas eleições em relação ao Governo." - RB
Atira-te ao Rio
« Luís Filipe Menezes pediu a Durão Barroso para "deixar de ouvir dirigentes autistas como José Luís Arnaut ou Rui Rio" para não sofrer, nas legislativas, "uma derrota tão humilhante como na europeias".
"Em termos percentuais, é a maior derrota do Centro-Direita desde o 25 de Abril. Essa derrota humilhante tem rostos, os dos dirigentes que nos dois últimos anos mandaram no país, como Arnaut e Rio", insistiu o presidente da Câmara de Gaia, citado pela agência Lusa.
Para Menezes, esses é que foram "os verdadeiros adversários do PSD", até porque "a derrota deu-se contra um partido que não existe, o PS".
"É preciso deixar de assobiar para o lado. Se o partido quiser deixar de somar derrotas deve de uma vez por todas deixar de ouvir dirigentes que precisam de carros blindados e cordões policiais para, à boa maneira da antiga União Soviética, conseguir apoio popular", atacou o ex-líder do PSD/Porto.» - RB
Futebol global
Num restaurante italiano, um norte-americano apoiante da seleção francesa vestia uma camisola do Arsenal com o nome «Henry» nas costas. - JHJ
O estado gasoso
O balão de expectativas insuflado ao máximo passa ao estado gasoso da frustração em menos de nada. Basta que Portugal perca com a Grécia na abertura do Europeu. Esperem: Portugal já perdeu com a Grécia na abertura do Europeu. Pior do que perder um jogo num Europeu de futebol, é perdê-lo em casa sendo anfitrião, de bandeirinhas nas janelas. Na derrota, o anfitrião sente-se tanto mais vexado. As bandeirinhas ainda ontem símbolo de orgulho são de um momento para o outro o lembrete ubíquo de uma humilhação dispensável. Que pode ser o suficiente para raspar a superfície do português confiante e ufano do Euro, dos estádios novos, do FC Porto, do metro de superfície e encontrar o português de Oliveira Martins: o perene crédulo, pedinte de espinha curva e chapéu na mão. Só que agora adicionalmente esporeado pela frustração de os senhores convidados da Europa que estão de visita à nossa casa portuguesa, tão trigueira, tão típica, tão pão e vinho sobre a mesa, afinal não nos levarem a sério. - RB
Naming the daughter after the hotel
Paris Hilton
Paris Hilton
Paris Hilton nasceu a 17 de Fevereiro de 1981 (aquário, portanto). É bisneta do magnata Conrad Hilton (o dos hotéis), neta de Barron Hilton (quem?), sobrinha-neta de Nicholas Conrad «Nicky» Hilton (que chegou a ser por breves instantes marido de Elizabeth Taylor; não conhecem o Sr.? nem eu) e filha do tubarão do imobiliário Rick Hilton (ah é?). Assim ultimamente, ficou famosa por beijar na boca Carmen Electra nos MTV Movie Awards (aaahhh...já sei quem é). - RB
Ainda a Fórmula 1
São 3.45 da madrugada de 26 de Outubro de 1986. Toca o despertador. Levanto-me e pego num cobertor. Vou até à sala e acendo a Salora. Deito-me no velhinho sofá cor-de-laranja. Ainda estremunhado, vejo pouco. Mas basta ouvir Adriano Cerqueira e Domingos Piedade para perceber que é aquilo mesmo: o último grande prémio da temporada, Adelaide. Na altura do arranque, pelas quatro, já estou bem acordado. Nesse ano, ganhou o Prost por dois pontos roubando o título ao Mansell na corrida de Adelaide, ficando o Piquet a três pontos (e em segundo na corrida). Quem viu viu, que não viu já não vê. Pode sempre argumentar-se que a única diferença para hoje é que eu era mais puto na altura e que a competição se mantém. Não é verdade. Quem gosta de Fórmula 1 ouve tão bem o vvrruummm-vvrruummm barulhento dos carros como os outros que não gostam de Fórmula 1 e dizem que aquilo é só barulho. Só que, na altura, o vvrruummm-vvrruummm nada tinha de monótono, as corridas eram emotivas, e havia o Keke Rosberg. Hoje, a barulheira é apenas isso mesmo: barulho entediante volta após volta. - RB
Ainda a Fórmula 1 (só mais esta)
Na altura dos motores turbo, havia carros que tinham 1400 cavalos disponíveis em qualificação (com slicks, «saias» e reabastecimento durante a corrida). Um pouco menos que o dobro da potência actual para carros ligeiramente mais pesados. Voava-se baixinho. - RB
Dar bandeira
À medida que se aproxima o Euro, há cada vez mais bandeiras nacionais nas varandas de Lisboa. No próximo sábado, para além do suplemento de jardinagem e do guia do contribuinte, o Expresso vem com uma bandeira nacional patrocinada pelo BPI. Tendo em conta a tiragem do semanário, no dia do Portugal-Grécia não haverá família portuguesa que não tenha, pelo menos, uma bandeira à janela. Ainda ontem, quando vinha do aeroporto da Portela com um politólogo espanhol, ele olhou para os prédios e saiu-se com esta: «Nunca pensei que o Estado ainda tivesse um papel tão importante na economia portuguesa. É impressionante o número de edifícios públicos». - FN
Hoje
[Alexei Jawlensky, Meditation (The Prayer), óleo sobre tela, 1922]
Hoje estará no passado de amanhã. - RB
O trânsito de Vénus
[desenho de Diana Alexandra, 10 anos, Bucareste, Roménia]
Mais desenhos aqui. - RB
Associação de ideias
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girlchild in the dark
Comes in bells, your servant, don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Downy sins of streetlight fancies
Chase the costumes she shall wear
Ermine furs adorn the imperious
Severin, Severin awaits you there
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colours made of tears
Kiss the boot of shiny, shiny leather
Shiny leather in the dark
Tongue of thongs, the belt that does await you
Strike, dear mistress, and cure his heart
Severin, Severin, speak so slightly
Severin, down on your bended knee
Taste the whip, in love not given lightly
Taste the whip, now plead for me
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colours made of tears
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girlchild in the dark
Severin, your servant comes in bells, please don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
[«Venus in Furs», The Velvet Underground and Nico, 1967]. - RB
Classificados
Jovem temporariamente ausente de Portugal procura cidadão europeu recenseado em território nacional, potencial abstencionista e crítico do sistema eleitoral, para possível troca de votos nas eleições para o Parlamento Europeu. - JHJ
Excertos de uma manhã «positiva»
Conversa telefónica com uma funcionária do consulado de Portugal em Washington:
- Bom dia. Gostaria de esclarecer uma dúvida sobre as eleições para o Parlamento Europeu do próximo dia 13.Conversa telefónica com uma funcionária da embaixada de Portugal em Washington:
- Ah!, mas eu não sei de nada. Só sei das eleições presidenciais... Aguarde um momento que eu vou ligar para a embaixada.
Um minuto depois:
- Olhe, que eleições é que o senhor disse que eram?
- (...)
- (...)- JHJ
- Só lhe estou a telefonar porque não consigo encontrar a morada actual do website da embaixada. Sou sempre redireccionado para uma página de turismo onde não existe nenhuma informação sobre recenseamento eleitoral.
- A embaixada não tem website. No fim do ano vamos mudar de chancelaria e talvez nessa altura possamos ter uma.
Goodbye, Mr. President
Lembro-me de ter conhecido Ronald Reagan no dia 30 de Março de 1981, quando se noticiou uma tentativa falhada de assassinato do presidente dos Estados Unidos da América. Deve ter sido por essa altura -- mais semana, menos semana -- que percebi que o mundo era maior do que a rua onde morava e a escola que frequentava.
A par de Mário Soares, Ronald Reagan foi a mais influente figura na minha educação política. Em grande parte dos assuntos por oposição, nomeadamente naqueles que se referiam às políticas sociais, que, fruto da distância, me eram pouco perceptíveis, mas cujos resultados desastrosos são hoje evidentes de cada vez que cruzo a dowtown abandonada de uma cidade norte-americana, ou um trailer park à beira de uma estrada rural. Na Europa da altura -- e na de hoje -- eram as políticas internacionais e de defesa que nos polarizavam a mente. Sobre essas, lembro-me vagamente de Granada, muito de Beirute e intensamente da «Guerra das Estrelas». Mas também me lembro dos tratados de não-proliferação de armas nucleares e, principalmente, do grito que permitiu à Europa ser aquilo que é hoje: «Mr. Gorbachev, tear down this wall».
Estou triste, mas eu sou assim; fico triste sempre que morre alguém. - JHJ
O partido «apanha tudo»
Luís Delgado tem razão. A grande revelação desta campanha tem sido o bloco de esquerda. Dantes, o bloco era o partido das minorias, «o movimento dos movimentos», etc. Agora, o bloco quer ser um partido como o PSD ou o PS: um «catch-all party», um partido apanha tudo. Falo aqui em «apanha tudo», não por toda a gente apanhar traulitadas do pasteleiro, mas no sentido de «partido que quer apanhar todo o tipo de eleitorado». Hoje em dia, o bloco é o partido dos velhos e dos novos, dos pobres e dos ricos, dos machos latinos e das mulheres emancipadas. Numa rua, vemos este pasteleiro trotskista, realizado por Nanni Moretti e protagonizado por Miguel Portas. É o bloco a apelar aos valores tradicionais: «Estás farto? Vota em quem lhes bate forte!» Como diz o povo, «se não souberes porque lhe bates, ela sabe». Noutra rua, outro cartaz. Desta vez, vemos uma mulher com ar de estar farta de homens. Provavelmente, quando chegou a casa, o pasteleiro bateu-lhe forte e feio. Felizmente existe o bloco: «Estás farta? Luta pelas tuas causas.» - FN
Fúria Azul
O deputado João Almeida era um ilustre desconhecido, até ao momento em que decidiu revelar o debate de ideias que manteve com um taxista, a propósito da candidatura do Professor Sousa Franco («aquele careca de óculos»). Graças ao blogue do Nuno Garcia, tive acesso ao currículo do jovem Almeida. Com grande surpresa, descobri que há, pelo menos, uma coisa relevante na vida cívica deste rapaz:
João Rodrigo Pinho de Almeida
Data de Nascimento
11-09-1976
Habilitações Literárias
Frequência do 4.º do Curso de Direito
Profissão
Estudante Universitário
Cargos que desempenha
Deputado; Presidente da Juventude Popular; Membro da Comissão Política Nacional do CDS-PP; Membro do Comité Europeu da World Youth Aliance em Representação de Portugal
Cargos exercidos
Representante da European Foundation for Human Rights and Family na III UN Conference on the Least Developed Countries; Assessor de Imprensa do Grupo Parlamentar do CDS-PP; Assessor de Imagem, Imprensa e Relações Internas do Gabinete do Vereador do CDS-PP na Câmara Municipal de Lisboa; Presidente Interino e Vice-Presidente da Juventude Popular; Secretário da Distrital de Lisboa do CDS-PP; Presidente da Mesa do Núcleo de Estudantes Populares da Universidade Católica; Director da "Fúria Azul", Claque Oficial do Clube de Futebol "Os Belenenses"
Obras publicadas
"Os Militares, as Artes e as Letras - 25 Anos do 25 de Novembro", obra colectiva. - FN
Meu caro Pedro Estêvão
Roswell -- uma cidade (?) no sul do Novo México -- é a capital mundial dos OVNIs. O cepticismo expresso no seu post não é nada vantajoso para o nosso país. Para que Portugal possa competir pelo estatuto de Roswell, é preciso acreditar mais. É preciso ser mais «positivo», está a ver? - JHJ
O perfume que caminhava à minha frente
Meto a chave na porta para a fechar e descer as escadas. Dou-lhe uma, duas, três voltas curvado por uma fechadura aparelhada demasiado em baixo. Foi hoje de manhã cedo e não fazia ainda tanto calor como agora.
Ao mesmo tempo, ouço uma porta em tudo semelhante que se fecha no andar de baixo, o segundo. Continuo a descer as escadas com cuidado. Levo na mão uma embalagem familiar de pizza e no ombro direito uma mochila. Equilibro-me ao descer: degraus altos e curtos, sem corrimão. Nos prédios antigos as escadas estreitam à medida que os andares sobem e este prédio é bastante antigo.
No fim do primeiro lanço de escadas sinto o perfume. Um corredor de perfume. É sempre engraçado caminhar por dentro do rasto de perfume que alguém deixou ao passar. Tem qualquer coisa de embaraçoso e inebriante. Ouve uma altura em que me gabava de conhecer de cor os perfumes das raparigas. Era uma coisa que dava sempre um número de belo efeito, e, pelo menos, um sorriso e um fogacho de atenção. Agora já não. Assim, às escuras, sem saber de que perfume se tratava, continuei a descer as escadas. Enquanto pensava «será de homem ou de mulher...?» já ia a caminho do primeiro andar.
Dois ou três degraus depois tive a certeza que era de mulher, o que não quer dizer que fosse uma mulher (sobretudo neste bairro). Bom. Encosto o queixo ao peito e olho para mim: caixa de pizza na mão; calções; t-shirt; barba por fazer (explico-me: ia nadar). Isto continuando sempre a descer, com cuidadinho, as escadas estreitas. Primeiro andar e a porta da rua bate com estrondo - saiu. O cheiro sempre mais e mais intenso. CK One, é isso! é isso! Algo moderno, necessariamente. E eu de chinelos. Abro o trinco, puxo pela porta e levo com a luz do sol em cheio: semicerro os olhos. À cautela, viro-me para o caixote do lixo que está à direita, no qual meto a custo a caixa da pizza. Olho à volta e dirijo-me ao carro, brincando com as chaves no bolso dos calções. - RB
Cromossoma Xis revisitado
«Amizade é aquilo que uma mulher tem por outra quando ambas detestam uma terceira.»
[Millôr Fernandes, Pif-Paf, O Independente, 2004, p.85] - RB
No dia em que Mourinho assina pelo Chelsea...
Apetece-me recordar uma conversa que ocorreu na noite em que o Porto ganhou ao Mónaco:
Jovem Benfiquista - Como é que isto é possível? O sacana do Mourinho, com uma equipa destas, ganhou a Liga dos Campeões.
Velho do Restelo - A Liga dos Campeões, qualquer um ganha. Agora a Liga Inglesa... - FN
O palito para a alma
Ligas e murmuras: «Trabalhar é fodido». Que trabalhar cansa. Eu: «Aqui está calor, e aí?» «Trinta graus...» «Ah...». Sem solução, mando-te então o que me é possível, o que tenho, um beijinho. Só que um beijinho a esta distância pouco mais é que um paliativo. É pouco, é muito - é uma espécie de palito para a alma. - RB
Dedicado a João Almeida (o mais triste da campanha)
She's an ugly girl, does it make you want to kill her?
She's an ugly girl, do you want to kick in her face?
She's an ugly girl, she doesn't pose a threat.
She's an ugly girl, does that make you feel safe?
Ugly girl, ugly girl, do you hate her
Cause she's pieces of you?
She's a pretty girl, does she make you think nasty thoughts?
She's a pretty girl, do you want to tie her down?
She's a pretty girl, do you call her a bitch?
She's a pretty girl, did she sleep with your whole town?
Pretty girl, pretty girl, do you hate her
Cause she's pieces of you?
You say he's a faggot, does it make you want to hurt him?
You say he's a faggot, do you want to kick in his brains?
You say he's a faggot, does he make you sick to your stomach?
You say he's a faggot, are you afraid you're just the same?
Faggot, Faggot, do you hate him
Cause he's pieces of you?
You say he's a Jew, does it mean that he's tight?
You say he's a Jew, do you want to hurt his kids tonight?
You say he's a Jew, he'll never wear that funny hat again.
You say he's a Jew as though being born were a sin.
Oh Jew, oh Jew, do you hate him
Cause he's pieces of you?
Jewel, «Pieces of You» (Pieces of You, 1994) - RB
Trocadilhos anónimos
O verdadeiro melómano não tem um gira-discos; o verdadeiro conhecedor do áudio hi-fi, aquele que gasta mais em cabos do que em música (e que, no fundo, gosta mais deles do que dela), esse tem um pick-up.
Certos estratos das classes possidónias A e mesmo B, sobretudo se residentes entre o Cadaval e a Mealhada, não têm simplesmente uma carrinha; não: têm uma pick-up. Há, entre elas, quem seja ganadeiro e precise, por isso, de uma pick-up truck.
O engatatão especializado não faz conversa - tem pick-up lines.
Gostava muito do «Sítio do Pick-up-au Amarelo». - RB
Contra mim falo
Nelson Piquet (1983)
Desde que vi um porco a voar
Tim Henman acabou de se apurar para as meias-finais de Roland Garros. Não de Wimbledon, Roland Garros. Terra batida. Pó. Meias-finais. Tá tudo doido. - RB
Era uma vez o ciclismo
Alguém deu pelo Giro de Itália, que terminou no passado Domingo? Não...? Pois, nem eu. Nem sei quem ganhou e - talvez mais significativo - não me interessa. É irrelevante. O doping matou o Giro, depois de já ter ajudado Marco Pantani a matar-se. - RB
This work is licensed under a Creative Commons License.