<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
segunda-feira, janeiro 31
 
O Jerónimo das Feiras
Para chegar ao governo, Paulo Portas abandonou o eurocepticismo. Com isto, pode estar a dar o flanco a outros partidos. Pela primeira vez, Portas parte para eleições com as expectativas demasiado altas. A situação económica e política deixada pelo governo de que fez parte não deve agradar ao pessoal do ultramar, das pensões e da lavoura: os excluídos da integração europeia. Em vez de criticar o PS, é nos desiludidos do Paulinho das Feiras que o PCP deve apostar. Jerónimo de Sousa, injustamente desvalorizado, parece ter percebido isto. Em entrevista ao Expresso, o secretário-geral do PCP lembra o seguinte: «Temos propostas no quadro da UE, não queremos que a nossa nação perca a soberania. É a mesma ideia que Paulo Portas tinha há anos, mas abdicou dela, capitulou.» Se insistir na ideia, Jerónimo pode ter um bom resultado. Pode vir a ser o Jerónimo das Feiras. - FN
 
Pedro, o louco


«Ele ainda é do tempo em que os homens escolhiam as mulheres para suas companheiras». «Bem haja os homens que amam as mulheres». «Este homem é conhecido pela sua natureza sedutora». «Estes colos sabem bem.» Foram algumas das muitas pérolas ouvidas no último espectáculo de Pedro Santana Lopes. Tony Carreira que se cuide. - FN
 
Lisboa cada vez mais feliz
Por incrível que pareça, com o fantástico currículo que aqui tem sido descrito e que infelizmente os lisboetas conhecem todos os dias, ainda por cima abrilhantado pelo (in)finito desastre que foi a sua breve governação, Santana faz agora passar a mensagem de que acalenta esperanças de voltar a Lisboa. Estamos a chegar ao domínio do surreal: o homem faz constar, a medo, que se perder as legislativas - não se sabe por falta do tal levantamento nacional que tanto pede ou por excesso dele - voltará para cumprir o que resta do mandato na câmara e disputar, em seguida, as próximas autárquicas.
A este respeito, resta-nos formular um só desejo. Ele que volte, para mostrar a obra feita. E para a submeter ao sufrágio dos que o elegeram há quatro anos.
Mais: num certo sentido, é até mais justo que os lisboetas possam julgar o verdadeiro responsável pelo desastre que foram os últimos quatro anos de inércia e inépcia do executivo camarário na capital do país. Porque Carmona (ou outro candidato que o PPD viesse a lançar) não poderiam nunca assumir do mesmo modo o terrível ónus de ser o rosto da total mediocridade da gestão Santana em Lisboa.
Ele que volte, pois, para se submeter ao merecido julgamento popular. E a seguir ao "levantamento nacional" que pediu e vai ter, seguir-se-á um novo "levantamento". Desta vez lisboeta, e com gosto redobrado. - MC
domingo, janeiro 30
 
de quem é a culpa?
As eleições legislativas servem sempre para avaliar a performance daqueles que foram escolhidos no acto eleitoral anterior e escolher entre as diversas opções para exercer o poder nos anos seguintes. Estas eleições não serão naturalmente excepção. No entanto, a campanha eleitoral tem-se centrado nos últimos meses de desgovernação, esquecendo os dois anos e meio que os antecederam. Este esquecimento não apenas desresponsabiliza o anterior primeiro-ministro, Durão Barroso, como, para além do mais, leva a que a clarificação sobre o que vai ser feito nos próximos quatro anos, designadamente por contraponto a estes três, seja secundarizada. Centrar todas as baterias no ataque ao inenarrável Santana Lopes é, do ponto de vista táctico, uma boa opção, mas esquece a questão estratégica: a oposição ao desastre governativo que ocorreu durante o consulado de Durão Barroso.
continue a ler aqui- PAS
sexta-feira, janeiro 28
 
Desmentido?
Enquanto Santana Lopes se entretém a ameaçar processar as empresas de sondagem caso o PS não obtenha maioria absoluta, o seu gabinete desmente a notícia de hoje da Capital - segundo a qual teria chegado a Primeiro-Ministro com impostos por pagar - afirmando que, de acordo, com a certidão das finanças de 27 de Janeiro (atente-se bem, 27 de Janeiro), Santana Lopes não tem impostos em atraso. Sobre o aspecto central da notícia - que faz a manchete - o que se diz, num suposto desmentido, é esta coisa singela, "sobre a existência de dívidas de Santana Lopes, quando foi empossado primeiro-ministro, o gabinete do primeiro-ministro diz não ter informações disponíveis sobre o caso." Ou seja, ou estou a ver mal o filme ou não há desmentido nenhum. O que é dito é que não têm informações sobre o que é afirmado na notícia. Esta gente não dá para acreditar. - PAS
quinta-feira, janeiro 27
 
não tenho
"meu caro,
Espero que tenhas RTP-i, é o que te digo. Só visto esta merda.
abraço"

de um e-mail. - PAS
 
Não esquecer



"Fear not your enemies, for they can only kill you.
Fear not your friends, for they can only betray you.
Fear only the indifferent, who permit the killers and betrayers
to walk safely on the earth."
Edward Yashinsky (poeta Yiddish que sobreviveu ao Holocausto, mas viria a morrer mais tarde numa prisão na Polónia durante o regime comunista).
- PAS

quarta-feira, janeiro 26
 
A complexa e multidimensional realidade do futebol português
Segundo o site do Mais Futebol, «sempre que o Benfica venceu o Sporting na Luz na Taça acabou por vencer a prova. Foi assim nas épocas de 1979/80, 1982/83 e 1985/86. A excepção à regra foi em 1999/00, quando Acosta levou os leões à vitória na Luz (3-1).» - JHJ
 
Imaturidade
Concordo com o Pedro Oliveira: «o Bloco tem uma estratégia de crescimento a longo prazo e, como tal, não se quer macular com o exercício do poder e deixar o PCP recuperar o papel de único partido de protesto.» A estratégia do Bloco é a mais racional, a mais óbvia. Mas é também reflexo de um certo conservadorismo analítico que tem sido denunciado por Pacheco Pereira (e contra mim falo).
Pensemos no caso alemão. O sistema eleitoral alemão tem uma cláusula barreira: partidos com menos de 5 por cento não têm representação parlamentar. Durante anos, os liberais, com pouco mais de 5 por cento, funcionaram como partido-charneira e realizaram coligações governamentais quer com a CDU quer com o SPD. Infelizmente, foi enquanto partido da direita radical que o CDS de Portas se afirmou. É por isso que não pode desempenhar, entre nós, o papel dos liberais alemães. Recentemente, o SPD do moderado Schroeder coligou-se com os Verdes. Os Verdes andarão na casa dos 7 por cento. Se o Bloco repetir o resultado das Europeias (na casa dos 5 por cento), por que razão Louçã não quer ser o Joschka Fischer português? Por que razão não vai ao encontro da agenda do seu potencial eleitorado? Por que razão não acaba de vez com fantasias sobre a União Europeia e a intervenção do Estado na economia? Não é por temer ficar igual ao PS: havia toda uma agenda «fracturante» a explorar. A questão é que receia os efeitos da experiência de governo. É um risco, de facto. Mas os exemplos dos Verdes alemães (em coligação com o SPD) e, aparentemente, do CDS português (em coligação com o PSD) parecem demonstrar que é possível a um pequeno parceiro de coligação resistir à impopularidade do governo e do primeiro-ministro com que colaboram. O medo de meter a «mão na massa» é a maior prova de imaturidade que o Bloco podia dar neste momento. É mau para a esquerda e mau para a ideia de proporcionalidade no sistema eleitoral. É por isso que, neste contexto, o voto PS é a única forma segura de rompermos com a direita. - FN
 
A minha agenda
13.30 - Almoçar com estes gajos.
15.00 - Passar pelos Correios e enviar o ponto 3 deste post ao eng. Sócrates.
15.30 - Preparar a apresentação do paper.
- FN
 
Sensibilidade, bom senso e estabilidade
Por estes dias, os dois principais partidos portugueses apresentaram os seus programas de governo. Até aqui, o que se conhecia eram os programas eleitorais dos partidos dos extremos e umas quantas promessas avulsas dos restantes partidos. Acontece que de um programa eleitoral a um programa de governo vai uma grande distância. Onde aquele se limita a juntar um conjunto de reivindicações legítimas, mas frequentemente irrealistas, este caracteriza-se, teoricamente, por se tratar de um conjunto coerente de propostas, com sustentabilidade financeira, exequibilidade administrativa e ainda viabilidade política de facto. continue a ler aqui. - PAS
 
Imagens reais
Há uma semana, no telejornal da SIC, Rodrigo Guedes de Carvalho indignava-se por causa da comercialização indonésia dos DVDs com imagens do Tsunami. A SIC, horrorizada, transmitiu essas horríveis imagens. Por razões não comerciais, certamente. Ontem à noite, foi a vez de passar imagens inéditas do massacre de Beslan. Por razões comerciais? Claro que não. Ao contrário do que acontece nas ruas da Indonésia, a SIC não ganha dinheiro com a desgraça alheia. A SIC tem muito respeito pela dignidade humana. Como disse Vasco Pulido Valente, «Portugal é um país de putas respeitosas».- FN
 
Portas em ruptura com a América
«Todos os países civilizados do mundo funcionam com administrações estáveis
Do debate com Jerónimo de Sousa, ontem na SIC Notícias - FN
terça-feira, janeiro 25
 
Marxismo-leninismo
Pelo que se viu no debate com Portas, Louçã foi a um daqueles cirurgiões que há agora que fazem a reconstrução do hífen. - RB
 
ideias feitas?
Uma das dimensões em que a sociedade portuguesa é particularmente generosa é nas ideias feitas. Em muitos domínios e a muitos propósitos, há um conjunto de ideias feitas que ninguém se preocupa muito em testar, para ver se aderem à realidade. Através do Pedro Magalhães vejo que a Marktest se prepara para fazer um painel com vista a perceber quem é e o que move o eleitorado flutuante que decide eleições. Este é o exemplo de um assunto em torno do qual há uma ideia feita, aliás particularmente enraizada: o eleitorado central é também politicamente de centro. Sobre esta perspectiva, já revelei aqui, noutro contexto, o meu cepticismo. Com o passar das eleições e com o que vou percebendo desta campanha, mais fico convencido da distância que vai da mobilização eleitoral dos eleitores centrais para as vitórias eleitorais às propostas políticas situados no centro do espectro ideológico. - PAS
 
Debates
Santana acha que Sócrates tem medo de debater com ele. Extraordinário. Santana, o líder partidário mais impopular. Santana, que, em quatro meses de desastre político, conseguiu oferecer a Portas boas perspectivas eleitorais. Este homem ainda acha que alguém possa ter medo de debater com ele. O debate que mais convém a Sócrates é precisamente esse: um debate em que Santana apareça como a única alternativa ao voto PS. Se isso fosse possível, Sócrates devia passar a campanha a debater com Santana na televisão. - FN
segunda-feira, janeiro 24
 
do frio aos olhos do bloco
Frio? Vocês sabem lá o que é o frio. Do frio sei eu, que o tenho aqui e, além do mais, não consta que vá parar na quinta-feira.- PAS
 
O Santo


O eleitorado do Bloco de Esquerda é seguramente aquele que mais se aproxima dos partidos Verdes europeus. É um eleitorado sem grandes preocupações económicas, que se distingue da direita por razões políticas, ideológicas, culturais. É o que em ciência política se chama um eleitorado «libertário» ou «pós-materialista». Estranhamente, o Bloco é liderado por alguém que, para além de rejeitar o liberalismo económico, rejeita o liberalismo político, como se viu no debate com Portas. Numa escala autoritarismo/libertarismo, Louçã é claramente um autoritário. Santana apelou a um «levantamento nacional»; eu já me contentava com um levantamento bloquista contra este senhor. - FN
domingo, janeiro 23
 
Como sair disto?
O PS acusa o PSD de andar a fazer nomeações de última hora. O PSD acusa o PS de ter feito o mesmo. É verdade que entre as nomeações do PS e as nomeações do PSD/CDS foi publicada uma lei que as proíbe. Mas na opinião pública consolida-se a ideia de que «eles são todos iguais» (ideia que a operação «apito dourado» só vem reforçar). Mário Soares diz que uma campanha de «faits divers» favorece a direita. Eu diria que favorece o populismo, quer o da direita quer o da esquerda bloquista.
A identificação partidária tem vindo a baixar. As velhas clivagens sociais explicam cada vez menos o comportamento eleitoral. Nesse sentido, a intenção de voto no PS não está socialmente ancorada; é essencialmente uma manifestação de descontentamento com a actuação do governo e com a situação económica. Se a ideia do «são todos iguais» pegar, parte desse descontentamento facilmente se transfere para a abstenção ou para os extremos. Por outro lado, já se percebeu que a comunicação social não está interessada em discutir políticas ou questões «demasiado técnicas». Como sempre, o que passa é a política: o sistema eleitoral, os poderes presidenciais, os jobs for the boys, a corrupção, etc., etc. Nada disto seria especialmente preocupante, se o Bloco não tivesse optado por um discurso que ignora os problemas orçamentais e por uma estratégia anti-Constituição Europeia que o coloca fora da governabilidade. É por isso que é importante a maioria absoluta do PS. Para lá chegar, não basta definir políticas (150 mil empregos, choques tecnológicos, apoios aos idosos, desburocratização, etc.) É preciso fazer política. Em primeiro lugar, acabar rapidamente com a ideia de vitória antecipada, evidenciada pelos adesivos do bloco central: as pessoas não são parvas e não gostam de governos formados antes do tempo. E acima de tudo tornar claro o que seria, nas actuais circunstâncias, um governo sem maioria absoluta. Ou seja: repetir as vezes que for preciso o discurso de António Vitorino nas Novas Fronteiras. - FN
sábado, janeiro 22
 
A mais honesta defesa do liberalismo
João Miranda, no Blasfémias:
«O país não precisa de um choque de gestão porque o país não é uma empresa. O país precisa de um choque liberal que transfira a maior parte dos problemas de gestão do sector público para o sector privado onde a usura, a ganância, o lucro, a exploração capitalista, o empreendedorismo, a concorrência, as falências, os despedimentos, as fusões e as aquisições os podem resolver muito mais facilmente.» - JHJ
 
o perfeito anormal
Berlusconi, ontem: "Eu sou o bem. (...) A esquerda, pelo contrário, é contra os padres, a burguesia, a nação, a bandeira. (...) A esquerda levou o terror e a morte a todos os lugares onde esteve no poder".
Só para lembrar que já estivemos mais longe deste nível de erudição e de atrasadice mental no debate (e pelo caminho, para avivar a memória daqueles que, aquando do episódio do Parlamento europeu com o senhor em causa, ou o mais recente com o seu amigo candidato a comissário, se apressaram a dizer que ambos tinham sido provocados)- entretanto, descubro que sobre este assunto, a edição on-line da La Repubblica é estranhamente menos clara do que a impressa - onde a notícia faz manchete. Vá lá saber-se porquê!- PAS
 
A ler
"discordo de que a solução seja reduzida ao binómio redução de despesas/aumento de impostos. Porque há uma folga a explorar em sede de revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, porque não se pode ignorar que a despesa pública social continua a ser indispensável para a recuperação dos défices estruturais do país, em qualificação e protecção social, porque não se pode esquecer a punção fiscal hoje sofrida pelos trabalhadores por conta de outrem, porque é enorme a margem de progressão na obtenção de receita por via do combate à evasão fiscal." Augusto Santos Silva. - PAS
sexta-feira, janeiro 21
 
Debates e eleições
Por princípio, a situação ideal é a existência do maior número possível de debates (colectivos e em diálogos frente-a-frente) entre os líderes dos partidos com representação parlamentar - dentro, naturalmente, dos limites óbvios daquilo que a razoabilidade permite. Ora, tal princípio deve ser independente de quem é Governo e oposição, de quem está à frente e atrás nas sondagens, e das estratégias e tácticas de campanha e marketing que cada partido, legitimamente, adopta. É tão simples quanto isto: trata-se de um imperativo ético da democracia, e um imperativo ético que se reporta àquilo que de mais sagrado nela existe - uma relação transparente entre quem é representado e quem quer representar e a possibilidade de escolha tão informada quanto possível dos eleitores.
Este enunciado é válido em qualquer circunstância. Mas as eleições, por definição, são os momentos da vida política em que a importância da ideia de espaço público - e dos espaços de debate que este consegue criar é mais decisiva para as democracias liberais. Com a multiplicação de canais privados e temáticos, obviamente tem de haver um equilíbrio entre as exigências da democracia e as lógicas da concorrência. Mas esse equilíbrio não pode nunca ser limitador da capacidade de escolha de uns e da vontade de esclarecer de outros.
Na poeira que se anda a levantar em torno desta questão no que respeita aos debates das legislativas o que importa é isto: mesmo admitindo que gostaria de ver, por exemplo, todos os líderes dos principais partidos nos debates frente-a-frente da sic notícias (ou em outros que eventualmente venham a existir), ninguém de boa fé pode afirmar que qualquer um destes princípios está, de facto, em causa. E isso é o fundamental. - MC
 
Prayers for rain
you shatter me
your grip on me
a hold on me, so dull it kills
you stifle me
infectious sense of hopelessness
and prayers for rain

I suffocate
I breathe in dirt
and nowhere shines but desolate
and drab the hours all spent on killing time again
all waiting for the rain

you fracture me
your hands on me
a touch so plain, so stale it kills
you strangle me
entangle me
in hopelessness and prayers for rain

I deteriorate
I live in dirt
and nowhere glows but drearily
and tired the hours all spent on killing time again
all waiting for the rain

Disintegration, 1989 - MC
 
Um segundo antes da tempestade
Título de primeira página do ano: Governo continua à espera que chova. - MC
 
um blog/diário de campanha?
Através do blog do Martim Silva, fiquei a saber que o António José Seguro tem um blog. Ainda que esteja no início, pode ser que seja uma experiência interessante de algo que a blogsfera lusa ainda não conhecia (afinal blogs de políticos já há alguns). Um diário de campanha, que sirva para revelar o que fica para lá do que durante estes períodos domina os meios de comunicação generalista - os incidentes, os casos e as disputas entre líderes. Um relato pormenorizado e subjectivo do que significa estar dia-a-dia a fazer campanha de rua ou sem ser de rua. Aliás, se for isso que o António José pretende, pode ajudar a fazer perceber que há muita campanha, e naturalmente também muita política, para além daquilo que nos é dado ver normalmente. Afinal, é também para isso que a blogosfera tem servido: multiplicar, revelar e alargar os espaços de debate político. - PAS
 
Homens com luz
(Post um pouco atrasado. O Filipe já disse o que havia a dizer aqui ao lado, mas ainda assim há coisas que não podem passar em claro)
Não sei se o João Tordo tem um blog, nem o que anda exactamente a fazer nos dias que correm. Sei que se tiver um blog, há-de ser excelente, porque provavelmente é um dos tipos com mais talento a escrever que ao longo dos anos conheci e tive o prazer de ler. Acaba de lançar O Livro dos Homens Sem Luz (Temas e Debates, 2004) que, sem qualquer medo dos riscos do wild guess, recomendo sem ter lido. Ainda. - MC
quinta-feira, janeiro 20
 
faltam quatro anos


[Baile de gala da tomada de posse de George W. Bush. Ontem, em Washington, D.C. Foto: CNN]

Como durante a campanha eleitoral para as presidenciais nos Estados Unidos não escrevi nenhum post, prometi ao Filipe Nunes que o faria no momento da tomada de posse de John Kerry como novo presidente. É quase meio-dia do dia 20 de Janeiro e as coisas acabaram por não acontecer como antecipámos. À frente do Capitólio, George WhistleAss Bush prepara-se para inaugurar mais quatro anos de contradição com os princípios fundamentais da constituição norte-americana e da ordem internacional. - JHJ
 
Depois não se queixem da degradação da classe política


O Governo demissionário anunciou ontem, em Marvila, a transferência dos ministérios do Terreiro do Paço para Chelas. - FN
 
Jobs for the boys
Estou de acordo com o dr. Paulo Portas. Isto é preocupante. Já não acontecia desde os tempos do Independente. Diz o dr. Portas que os partidos de governo se devem entender de uma vez por todas sobre o que são cargos de confiança política na administração pública. O mesmo dr. Portas que, no último congresso do seu partido, anunciava aos jovens de Portugal que o CDS era um partido de quadros, aberto a novos talentos e com lugares para oferecer. É sempre assim. Quando os partidos se vêem na iminência de perder o poder, ficam cheios de ideias sobre o combate ao «clientelismo» ou os «direitos da oposição». Mas isso agora não interessa nada. Sinceramente, espero que o PS, uma vez no poder, não deixe de contribuir para melhorar o estatuto da oposição e acabar de uma vez por todas com este debate dos «jobs for the boys», que só serve para degradar ainda mais a imagem do sistema político-administrativo.
Nos Estados Unidos domina o sistema da politização da administração. Em França existe uma espécie de osmose político-administrativa. No Reino Unido vigora, no essencial, o modelo da neutralidade da administração. Três sistemas diferentes. Três administrações de referência. Como é evidente, o problema da administração pública portuguesa não está no sistema de nomeações do pessoal dirigente. Está no centralismo, no corporativismo, na falta de competências, na baixa produtividade, na qualidade (e quantidade) da legislação, na reduzida mobilidade, etc., etc. O diagnóstico é conhecido. Mas já se percebeu que para acabar de vez com falsas questões e atacar os verdadeiros problemas, é necessária uma clarificação prévia sobre o que são cargos de confiança política na administração pública. Uma solução possível seria fazer coincidir as comissões de serviço dos dirigentes de organismos que executam políticas públicas com o prazo da legislatura e, por outro lado, dar maior autonomia aos dirigentes dos serviços de estudo e controlo da administração. - FN
quarta-feira, janeiro 19
 
O insulto tem limites
António e Cid, dois cartoonistas conhecidos da praça, lançaram um livro inteiramente dedicado a estes escassos meses de Santana Lopes. Citados pelo Público, justificaram a iniciativa: "em tão curto espaço de tempo, nunca houve nenhum primeiro ministro que desse tanto trabalho (...); fomos atingidos por ondas sucessivas de trapalhadas", só comparáveis ao gonçalvismo. Com ou sem razão, é lamentável que alguém venha pôr, a qualquer título, Santana ao nível de Vasco Gonçalves. Por mais que este personagem tivesse sido detestável no seu tempo, cada coisa no seu lugar. Chamar "Santana" a uma figura histórica, qualquer que ela seja, não se pode fazer de ânimo leve. - MC
 
Levantamento nacional
Dizem os jornais que Santana, encurralado no beco sem saída da lógica adversarial e vitimizadora de que a toda a hora se socorre, pediu num comício de pré-campanha um "verdadeiro levantamento nacional" contra este "embuste político que tentaram criar em Portugal". Provavelmente nem lhe ocorre, mas contra ele fala. Aliás, nem precisava de pedir, porque vai ter o "levantamento" que tanto deseja, pela certa; talvez só não imagine a sua verdadeira dimensão. Mas pelo sim pelo não, faz bem em pedir: quanto mais insistir neste tipo de coisa, maior será a hecatombe. - MC
 
Lisboa feliz
Santana Lopes pode ter tido um flirt de uns meses com o país, mas não esqueceu Lisboa. A prova é que deixou uma série de trapalhadas prontas para o seu sucessor ir digerindo. O buraco do marquês já é um ex libris. Mas outros dois estão também em plena marcha. Primeiro, o Parque Mayer (o tal que ia estar remodelado, pronto e a funcionar em pleno no máximo ao fim de dez meses), cujo plano megalómano acaba de ser chumbado, trinta e seis meses depois pela Assembleia Municipal de Lisboa. Agora, é o Casino, que depois de ter dado a volta à cidade ia aterrar de pára-quedas no parque das nações - mas que provavelmente vai acabar embargado porque ninguém se lembrou de conseguir o acordo dos arquitectos do pavilhão do futuro para a remodelação do espaço. Lisboa Feliz. Sobretudo à medida que os meses vão passando, penosamente, à espera das próximas autárquicas - MC
 
Consigo, alcançaremos a vitória


Se não me engano, é este o último slogan de Santana. No cartaz, exibe-se um gráfico com a evolução das sondagens. As percentagens incluem o PSD (a letras garrafais) e o CDS (a letras minúsculas). Depois de Cavaco Silva, Pôncio Monteiro e Dulce Pontes, penso que chegou o momento de Paulo Portas se pronunciar. - FN
 
O dilema
A um mês das eleições, o PS está num dilema complicado. Ir à esquerda e dar o flanco ao centro ou ir ao centro e dar o flanco à esquerda e à abstenção. Importar a estratégia da terceira via blairista pode ser arriscado. Para além do resto, nem o sistema eleitoral nem o sistema partidário são semelhantes. No último sábado, Augusto Santos Silva deu a táctica.- FN
terça-feira, janeiro 18
 
Adenda ao post da Mariana e ao artigo do Paulo
E no meio disto, o Ministro Fernando Negrão, como que para provar que nunca chegou a habituar-se ao fato e à matéria, veio, na apresentação de um programa de combate à pobreza - o Progride -, misturar alhos com bugalhos. Ao mesmo tempo que dizia que dos pensionistas de pensões baixas apenas 30% são pobres (confirmando o que o PS tem andado a dizer e que, por exemplo, o PCP nega, com umas contas estranhas, levando, por acréscimo, a que finjam que não percebem que a ideia é que haja diferenciação, baseada em condição de recursos, dos pensionistas que não têm rendimentos suficientes para ultrapassar o limiar de pobreza - ou será que não percebem de facto!), afirmava esta coisa espantosa: "atirar mais dinheiro para esta realidade é estragar dinheiro". Quando a questão no caso dos idosos é mesmo essa, não sendo apenas essa. "Atirar dinheiro" para os que precisam - pois há idosos que recebendo pensões baixas têm outros rendimentos e por isso não devem receber o suplemento em causa - e voltar a desenvolver os serviços de apoio à família, para os idosos mas não só. Ou seja, diferenciar o que tem de ser diferenciado, para saldar a dívida que o país, colectivamente, tem. Agora esta ideia de Fernando Negrão de apresentar um novo programa de luta contra a pobreza, assim de repente e por acaso e depois fingir que este tem como objectivo enfrentar o problema dos idosos pobres, não lembra a ninguém. - PAS
 
Estratégias, retrocessos e paisagens ideológicas
A Comissão Europeia prepara-se para lançar uma revisão da Estratégia de Lisboa. Boas e más notícias.
As boas são que o dr. Durão Barroso, ou alguém por ele, parece finalmente dar sinais de saber que semelhante coisa existe, depois de como primeiro ministro o ter basicamente ignorado - e colocado Portugal numa situação muito pouco famosa no que toca à execução da estratégia e às metas por ela traçadas.
As más são mais. Desde logo, esta "revisão" é tão "ambiciosa" que, ao que parece, vai abdicar de alguns dos objectivos mais importantes assumidos em Lisboa, em 2000. A história é velha: se não consegues cumprir o plano, por melhor que seja, então o melhor é dizer que o plano é mau. Tão mau, tão mau que, imagine-se, tinha "uma sobrecarga de objectivos, metas e indicadores em termos de criação de emprego, investimento em investigação científica e formação ao longo da vida", diz o Comissário Verheugen. Que lembrança!, traçar objectivos nestas coisas. Não lembraria a ninguém no seu perfeito juízo. Isto promete.
É por estas e por outras que os termos em que a "revisão" vai ser feita representam significativos passos atrás em muitos aspectos: o emprego que, associado à inovação, era em 2000 a variável de charneira entre o crescimento económico e a protecção social, aparece agora no quadro de um par crescimento-emprego. Ou seja, não só a protecção social desaparece do mapa, como o emprego volta a ser tematizado como mera variável de chegada do crescimento económico.
E ainda dizem que em Bruxelas mandam os tecnocratas e que isso das ideologias é paisagem. Talvez. Pelo menos para algumas ideologias. - MC

 
Uma semana de gripe deu para muita coisa

Trilogy (2003), dvd
Pornography, Disintegration and Bloodflowers Live

The same deep water as you

Kiss me goodbye
Pushing out before I sleep
Can't you see I try
Swimming the same deep water as you is hard
"The shallow drowned lose less than we"
You breathe, the strangest twist upon your lips
"And we shall be together..."

Kiss me goodbye
Bow your head and join with me
And face pushed deep reflections meet
The strangest twist upon your lips
And disappear, the ripples clear
And laughing break against your feet
And laughing break the mirror sweet
"so we shall be together..."

Kiss me goodbye
Pushing out before I sleep
It's lower now, and slower now
The strangest twist upon your lips
But I don't see, and I don't feel
But tightly hold up silently
My hands before my fading eyes
And in my eyes your smile

The very last thing before I go...
The very last thing before I go...
The very last thing before I go...
I will kiss you, I will kiss you
I will kiss you forever in nights like this
I will kiss you, I will kiss you
And we shall be together...

Robert Smith, in Disintegration (1989)- MC

segunda-feira, janeiro 17
 
Inventem-se novos conceitos
"Não sou, fui ou serei nenhum comissário político".
Luís Delgado ao Correio da Manhã, 15 de Janeiro de 2005

A frase anterior demonstra que o seu autor:
a) é um caso terminal de sobre-exposição ao dvd do gato fedorento e não tem noção do ridículo;
b) não admite, admitiu ou admitirá que lhe apliquem eufemismos piedosos e não tem noção do ridículo;
c) não é desonesto como comentador, sofre mesmo de falta de noção da realidade e do ridículo;

Agora escolha. - MC
domingo, janeiro 16
 
o que os portugueses querem
Dificilmente passam três meses sem que Jorge Sampaio faça um apelo aos consensos. No ano novo, o Presidente voltou à carga com a ideia. O que o país precisa é de acordos entre os partidos para resolver, sem conflitualidade, os problemas quase-insolúveis que enfrenta, do défice à saúde, passando pela educação e pela segurança social. Mas como estes acordos têm sido difíceis de alcançar, nada melhor do que, a meia dúzia de semanas das eleições, introduzir, numa amena tertúlia televisiva, o tema da alteração do sistema eleitoral com o objectivo de facilitar a obtenção de maiorias absolutas (esquecendo que este sistema já as proporcionou por duas vezes ao PSD e, a crer nas sondagens, encarregar-se-á de, pela primeira vez, a proporcionar ao PS). Tudo revela um assinalável sentido de oportunidade, mas esconde também um mal-político do país.
continue a ler aqui.
- PAS
quinta-feira, janeiro 13
 
Deu-lhe tampa


Santana Lopes levou mais uma tampa. «O líder partidário entrou na sala, às escuras, ao som de uma música feita para a ocasião, depois de Dulce Pontes ter negado a utilização da música Lusitana Paixão pelo PSD.» - FN
 
três regressos


No momento que regresso, regresso insistentemente à música que ouvia insistentemente quando, há dois anos, regressei.


- PAS
quarta-feira, janeiro 12
 
Memória
O Público anunciava ontem «um parlamento com menos vedetas e menos veteranos». Anda tudo muito preocupado com a «degradação da classe política». João Pedro Henriques chega ao ponto de ignorar (?) que Marcos Perestrelo, segundo do PS pela lista de Beja, é secretário nacional para a organização, apresentando-o como um «ex-assessor de António Costa». Marques Mendes, cabeça de lista do PSD por Aveiro, é hoje uma excepção. No último Expresso, José António Saraiva identifica-o como um membro «do PSD idealista, responsável, com espírito de missão e sentido de Estado», a par de «grandes figuras da democracia», como Mota Amaral, João Salgueiro e Teresa Gouveia. Será que alguém se lembra do que se dizia de Marques Mendes há dez anos? - FN
terça-feira, janeiro 11
 
o código de trabalho
Enquanto o Bloco de Esquerda se tem andado a entreter com propostas muito construtivas sobre tudo e nada - entre elas a revogação do código de trabalho nos primeiros cem dias de governo - , José Sócrates, e bem, afirmou hoje que o próximo governo não deve revogar o actual código. As razões porque isso não deve acontecer estão aqui. O facto do actual código ser mau, não significa que se deva voltar ao imobilismo que, em muitas matérias, o antecedia. - PAS
 
Sem margem para dúvidas
De acordo com uma sondagem pós-eleitoral, nas últimas eleições legislativas, 68 por cento dos portugueses leu, ouviu ou viu resultados de sondagens em jornais, rádio e televisão. Mas, segundo o mesmo inquérito, quase 20 por cento dos portugueses revela dúvidas quanto à isenção e imparcialidade dos institutos de sondagens. Nos próximos meses eleitorais, os interessados terão acesso a informação sistematizada e análise crítica sobre sondagens. Basta que visitem o blogue do Pedro Magalhães . - FN
 
Flying circus



Nuno da Câmara Pereira, estrela das listas do PSD, ao Independente:

"Há monárquicos de esquerda e monárquicos de direita. Eu assumo-me como um monárquico de esquerda".

"Eu diria que se todos os monárquicos votassem no PPM teríamos 20% da sociedade portuguesa. Essa é a minha meta para dez anos. Eu posso potenciar os votos do PPM e ajudar a alcançar 20% dos votos".

"Ind - Porque é que o PSD se lembrou do PPM?
NCM - Sabiam que o PPM iria aparecer nas eleições com as suas próprias listas e, no actual panorama político, podia potenciar uma grande parte do eleitorado abstencionista
".

(foto com a cortesia do site www.tudosobrecavalos.com)- MC
segunda-feira, janeiro 10
 
Morais Sarmento não se resolve


- FN
 
A última tentação de Sampaio
A irresistível tentação para discutir o sistema eleitoral à luz da conjuntura de instabilidade atingiu agora a Presidência da República. Numa tertúlia com Sarsfield Cabral, Pacheco Pereira e Prado Coelho, o dr. Jorge Sampaio confessou que «é preciso reformar o sistema eleitoral no sentido de baixar o limiar da maioria absoluta». A ideia não é nova. Foi essa a proposta de Cavaco e Dias Loureiro em 1992. O projecto do PSD passava então por diminuir a dimensão dos círculos maiores (como Lisboa e Porto), isto é, dos círculos com maiores níveis de proporcionalidade, facilitando assim a obtenção de maiorias parlamentares. Por detrás da conversa da «aproximação dos eleitos aos eleitores em Lisboa e Porto», e sem qualquer referência à criação de um círculo nacional de compensação, o que se pretendia era fazer desaparecer do mapa o CDS, que tem um voto mais disperso, e não tanto o PCP, que tem um voto mais concentrado no sul. O PS, e certamente Jorge Sampaio, estiveram contra. E estiveram bem. Hoje uma solução dessas atingiria não só o CDS como também o Bloco de Esquerda, outro partido de «causas nacionais». O PCP, que é certamente o partido que menos contribui para a governabilidade, seria provavelmente o menos penalizado. Nada disto faz sentido. E não é certamente através da exclusão de correntes minoritárias do parlamento que se melhora a qualidade da democracia. Onde se pode e deve melhorar é na qualidade da representação; na aproximação entre eleitores e eleitos através de círculos uninominais de candidatura. Mas para isso não preciso reduzir a proporcionalidade do sistema nem rever a constituição. Basta recuperar a proposta que o Governo do PS apresentou na Assembleia em 1998.
Nas últimas semanas, por exemplo, criticou-se muito o aparelhismo distrital e o «espectáculo das listas». Não é com novas leis dos partidos nem com discursos nostálgicos que se vai melhorar o sistema de recrutamento parlamentar: é precisamente com a introdução de círculos uninominais no sistema eleitoral, como lembrava Augusto Santos Silva, no sábado. Não será por acaso que é raro o líder distrital que aprova a ideia. - FN
domingo, janeiro 9
 
15 dias que mudaram o mundo
«A livraria Buchholz poderá mudar de proprietário nos próximos meses. Dirigida em tempo parcial, desde Dezembro, por José Leal Loureiro, a Buchholz está neste momento a negociar as dívidas com os fornecedores - após quatro anos consecutivos de acumulação de passivo. Leal Loureiro, ex-sócio da Afrontamento e fundador da extinta A Regra do Jogo, considera que os problemas financeiros da livraria criada em 1943 pelo alemão Karl Buchholz já foram mais prementes. Segundo o responsável, "a situação da livraria melhorou nos últimos 15 dias"». Expresso, 8 de Janeiro - FN
sábado, janeiro 8
 
Liedson resolveu


- JHJ
sexta-feira, janeiro 7
 
A triste história de Maria do Carmo
Lembro-me da primeira vez que vi e ouvi a dra. Maria do Carmo Seabra - que, inevitavelmente, competirá em rodapé da história com outras figuras do ppd/psd, por exemplo no tempo de Cavaco, pelos lugares cimeiros na galeria dos intocáveis entre os ministros da educação.
Mas, dizia, lembro-me da primeira vez. Foi na sic notícias, quando se deu o primeiro embate da monumental tragédia das colocações de professores - que, sabe-se hoje, não apenas assumiu contornos políticos e sociais gravíssimos como mesmo do ponto de vista financeiro tem consequências de grande dimensão. Logo ali, ficava-se com a sensação enraízada de que a velha regra de os dias de vida política de um ministro começarem a decrescer no próprio dia da tomada de posse, era particularmente verdadeira quando aplicada ao caso extremo que desfilava no écran, tão poucos dias teria necessariamente o consulado Seabra. Capacidade para resolver aquele problema zero, ideias sistematizadas zero, bom senso e intuição zero, noção do que é a responsabilidade política zero, ideia do que significava ser ministra e do papel que estava a desempenhar zero. Literalmente aos papéis. Um confrangedor zero, nota sempre grave num ministro da educação.
Afinal, o curso dos acontecimentos veio a demonstrar que a dita senhora nem se destacou (pela negativa) do resto do governo - pelas piores razões, entenda-se. De modo que, para não queimar mais ninguém e porque entretanto a tenebrosa aventura do dr. Santana foi bruscamente interrompida, Maria do Carmo ficou até ao fim e acaba por se despedir com mais um dos muitos episódios bizarros que fizeram a história destes breves meses, a saber: não achou nem "útil" nem "relevante" nem "interessante" ir ao parlamento debater as conclusões da auditoria aos atrasos dos professores.
A questão já nem é tanto que tenha pensado ou deixado de pensar: sendo em si um facto gravíssimo, a asneira é livre e no estado a que isto chegou já sabíamos com o que contar. O incrível é que o tenha dito publicamente, com a arrepiante e proverbial naturalidade dos inconscientes. Então até à vista, dra. Maria do Carmo. - MC
quarta-feira, janeiro 5
 
Roger and over
E chega de posts bíblicos por hoje, que esse nicho de mercado já está ocupado. - MC

 
O pão nosso de cada dia
Mais uma falência. Mais 150 desempregados no Vale do Ave. - MC

 
Ó Pôncio, o presidente sou eu!


Frase atribuída a Santana Lopes, mas que a julgar pelo resultado talvez tenha sido afinal proferida por Rui Rio. - MC

 
De fora da última ceia
A primeira mulher na lista do PPD/PSD para o Porto aparece em 14º lugar; e logo um peso pesado da política nortenha, uma tal de Ana Zita Gomes (o que significará, talvez, que é a melhor Zita das fenomenais listas de Santana). Depois ainda há quem se espante de haver gente a defender as quotas, com ou sem a resignação dos últimos recursos. - MC

PS. Entretanto, a lista de deputados do PS em Coimbra foi criticada por membros da comissão política distrital, entre outras razões, por ter "excesso de mulheres", o que não deixa de ser notável também.




 
A política falada do economista Pôncio Monteiro:
Vale a pena ler o longo relato que a lusa faz da conferência de imprensa de Pôncio Monteiro:
«Pôncio Monteiro fez questão de explicar pormenorizadamente o processo de convite e "desconvite". Este processo, disse, fê-lo perceber o quanto políticos como Santana Lopes, Miguel Relvas (secretário geral do PSD) e Marco António Costa (líder da distrital do Porto) "são hipócritas"."Um deles chegou a dizer-me hoje, enquanto o partido decidia se eu integrava ou não a lista, que o lado bom estava a tentar o lado mau. Todos eles me disseram o que pensavam de Rui Rio. E agora nenhum deles tem a coragem de o assumir", acrescentou. "Tudo isto é uma farsa. Todos sabiam que era Rui Rio quem estava por trás, sem dar a cara, a pressionar para a minha saída.Todos me disseram o que pensam dele e agora ninguém assume. É tudo muito grave. Não percebo como um vice-presidente de um partido coloca o seu presidente nesta situação", acrescentou."Santana Lopes a mim não me engana, empurrando agora a responsabilidade pela minha saída para o conselho nacional. Isso é de pessoa que não sabe o que está a fazer, senão não tinha dito que tinha poder para impor o meu nome quando tão insistentemente me convidou", disse."Pode agora vir cantar-me o fado, como fez há uma hora atrás dizendo-me: confie em mim que vai correr tudo bem", que eu não vou nele. A actuação das pessoas é que conta, não as palavras. Ainda falam do futebol. Mas se calhar ele é mais limpo do que muito do resto", acrescentou.Na sua descrição dos acontecimentos, Pôncio Monteiro recordou o momento, há cerca de uma semana, em que Santana Lopes lhe ligou pessoalmente a "pedir insistentemente", em cinco telefonemas num só dia, para integrar na segunda posição a lista do PSD pelo Porto."Apelou à minha amizade pedindo-lhe para me ajudar nesta campanha, que corresponde a um momento muito difícil para si e para o partido. Disse-lhe que o ajudava mesmo sem integrar qualquer lista e alertei-o para os comportamentos de Rui Rio para comigo, que indicam que eu sou +persona non grata+ na câmara", recordou.O economista disse ainda que alertou Santana Lopes que iria ter Rio "à perna" e garantiu ter mesmo afirmado achar que o presidente do partido não teria a força necessária para fazer frente a essa oposição."Disse-lhe ainda que o cabeça-de-lista, José Pedro Aguiar Branco, é considerado o homem de ligação de Rio com o líder do partido. Respondeu-me que isso nada tinha a ver, que o convite era seu e que ele é que era o presidente do partido, ele é que mandava. Aguiar Branco era apenas um ministro", relatou."Bem, respondi, se vai assumir-se assim dou-lhe os parabéns, porque é de um líder assim que o partido precisa", disse Pôncio Monteiro, para de imediato recordar que poucos dias depois o mesmo Santana Lopes lhe perguntou se aceitaria, em alternativa, liderar a lista do PSD em Vila Real, seu distrito de origem."Respondi que não, porque isso obrigava-me a defender uma causa, a da Casa do Douro, para a qual sei não haver soluções previstas pelo Governo. Disse-me então que continuava como número dois no Porto", disse.O processo decorreu com normalidade até ao dia em que Pôncio Monteiro deu uma entrevista à Antena 1 afirmando que não faria campanha ao lado de Rui Rio e que este muito possivelmente também não gostaria de o ter a seu lado."Ligaram-me a dizer que Santana Lopes ficara muito aborrecido com as declarações. Não percebo, porque Durão Barroso pediu-me em 2002 para ajudar na sua campanha, o que eu fiz com bom grado, mas já então recusei estar ao lado de Rio. Além de que Marques Mendes disse de Santana cinco mil vezes mais do que eu sobre Rio e é cabeça-de-lista por Aveiro", afirmou.No meio de um dia confuso, Pôncio Monteiro foi ainda novamente convidado para encabeçar a lista em Vila Real - e voltou a recusar - mas o economista garante não ter sido sondado para segundo lugar em Braga, como chegou também a circular.O economista, que garantiu a partir de agora a sua indisponibilidade para participar na campanha do PSD para as legislativas, afirmou que "se calhar é melhor para o país tudo o que aconteceu, porque assim sabe-se com o que se conta e quem verdadeiramente manda no partido"."Vou esperar pelos grandes resultados no Porto, com os grandes dirigentes que estão a fazer do PSD um grande partido", ironizou.» E ainda falam do futebol. - FN
 
Filhos?... Difícil é mantê-los
A menos de dois meses das eleições e quando as vozes que afirmam que a sociedade portuguesa se encontra bloqueada são quase hegemónicas - muito por força da debilidade do nosso modelo produtivo, das baixas qualificações dos activos e ainda, naquilo que tem sido o factor mais apontado, pelo desequilíbrio das contas públicas - é boa altura para contrariar este fatalismo, identificando áreas onde as políticas públicas podem fazer a diferença. A política de família não é apenas uma dessas áreas, como é decisiva para a capacidade do país continuar a produzir riqueza. continue a ler aqui.
- PAS
terça-feira, janeiro 4
 
Ninguém fez mais por Portugal

Tendo em conta que Cavaco recusou e que Sá-Carneiro já cá não está para autorizar, são estes os rostos que vão constar do cartaz do PSD.
- FN
segunda-feira, janeiro 3
 
Liedson não se resolve

- MC
 
Tsunami (depois): os maremotos, as palavras e as coisas
Até há pouco tempo tsunami era uma palavra (e uma realidade) quase por completo exótica, algures entre a geografia do outro lado dos mares e uma vaga ressonância a mitologia oriental. De tempos a tempos, nas horas vagas, era também uma música dos Manic Street Preachers. Por sinal, uma faixa não particularmente inspirada de um álbum, ele próprio, sem grandes motivos de interesse. E, que eu saiba, não existia de todo nos dicionários de português.
De um momento para o outro, depois de um intenso bombardeamento mediático de poucos dias, a palavra ganhou vida pelas piores razões, traduzida na realidade de milhões de pessoas justamente pelo seu oposto. Mas, um pouco por todo o lado, vida na televisão, vida nas imagens e nas bocas das pessoas. Mesmo os mais velhos e os menos qualificados, tendencialmente mais refractários a certo tipo de estrangeirismos, passaram a associar-lhe um quinhão bem marcado de realidade, e com ele a dar-lhe sentido. Não sei se nos dicionários isto terá tradução, mas esta palavra passou a fazer parte do português, como se já existisse há muitos, muitos ano. E eis como, numa pequena onda, se escreveu um episódio mais da permanente reinvenção da língua - MC

 
Tsunami (antes)


Tsunami

For you my dear sister
Holding onto me forever
Disco dancing with the rapists
Your only crime is silence

Can't work at this anymore
Can't move I want to stay at home
Tied up to all these crutches
Never far from your hands

Tsunami, tsunami came washing over me
Tsunami, tsunami came washing over me
Can't speak, can't think, won't talk, won't walk

Doctors tell me that I'm cynical
I tell them that it must be chemical
So what am I doing girl
Cry into my drink I disappear

Eyes for teeth grating over me
Bring down the shadows of my mind
Sleep and breathe under our sheets
Inhale the anxiety in between
In between, in between, in between

Tsunami, tsunami came washing over me
Tsunami, tsunami came washing over me
Through september under the weather
In between, in between, in between

Tsunami, tsunami came washing over me


Manic Street Preachers, do álbum This is my truth tell me yours (1998) - MC

domingo, janeiro 2
 
Próxima paragem: 2005
Será um ano que nos aproximará, inevitavelmente, do destino. "O destino (tal é o nome que aplicamos à infinita operação incessante de milhares de causas interligadas)" - Jorge Luis Borges, História Universal da Infâmia. - MC
 
2004, um ano depois
O ano que agora acaba deu razão ao cepticismo com que começou, demonstrando que os pessimistas raramente se enganam em causa própria. Sendo certo que, ainda que tardiamente, foram criadas as condições necessárias para pôr fim à calamidade pública que este governo tem sido para o país (só por si um bom motivo para ver as coisas por outro ânuglo), repito o que disse há um ano: prognósticos, só no fim. - MC


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