Million Dollar Baby
«Quando for grande, quero ser aquilo em que me tornar.»
Maxmen: Desporto?
Pimpinha Jardim: Boxe.
- FN
Salvar um pequeno pedaço de futuro
A Câmara de Lisboa prepara-se para deixar demolir o Cinema Europa, em Campo de Ourique, abrindo caminho à construção de (mais) um condomínio de luxo. Uns quarteirões abaixo, o Paris afunda-se a pouco e pouco na ruína - até tornar inevitável sorte idêntica. É essa, também, a discreta sina de muitos edifícios e espaços por Lisboa fora, normalmente em nome de nebulosos interesses e negócios imobiliários.
Aparentemente, pelo menos no primeiro caso, este destino anunciado não se tornará realidade sem luta, dado que está em marcha um movimento para travar a destruição do Europa. Veremos o que será ainda possível fazer.
Seja como for, o que está em causa deveria ser não apenas tentar salvar o passado (a arquitectura, o cinema, o bairro), visto que o edifício decai a olhos vistos e está, em particular no que toca à sua utlização pelos moradores de Campo de Ourique, há muitos anos sub-aproveitado. A questão é que a partir do momento em que se plantar um condomínio naquela área, deixa de haver o que quer que seja para reaproveitar. E não consta que a função residencial de Campo de Ourique e a sua densidade urbana precisem de ser reforçadas.
O que está, na verdade, em cima da mesa é a própria possibilidade de este espaço poder ser utilizado como equipamento cultural e social num bairro em que estes vão escasseando, e de pensar a cidade prospectivamente e numa lógica humanizadora em que há mais variáveis do que a pura e simples especulação imobiliária. - MC
Se cá nevasse
- Isto hoje está um frio do caraças. Ainda vai nevar.
- Não é impossível. Se o PS teve maioria absoluta, porque é que não há-de nevar em Lisboa? - FN
Causas e consequências
É impressionante a unanimidade em torno da exclusividade da culpa de Santana Lopes na derrocada de Domingo passado. O desplante é tal que os mesmos que ficaram no conforto do silêncio em Junho, aquando do abandono de Durão Barroso, vêm agora juntar-se ao coro dos críticos do santanismo. Como se tudo o que aconteceu nos últimos meses não fosse então previsível e como se o governo não estivesse também já irremediavelmente marcado pelos anos anteriores.
Se olharmos para os resultados de Domingo, vemos que a soma dos votos do PSD e do CDS não anda longe nem do resultado das europeias, nem daquilo que era a percentagem de portugueses que dizia identificar-se com o governo - agora, mas, também, quando Durão Barroso era primeiro-ministro. O PP de Paulo Portas bem podia sonhar com 10%, mas, a menos que o PSD descesse para uns improváveis 25%, tal objectivo era impossível de alcançar. Por mais voltas que se desse, a soma dos dois partidos dificilmente superaria os 36%. É que o que esteve em jogo nestas eleições foi, é certo, a avaliação da prestação devastadora de Santana Lopes, mas o essencial do contexto político já existia antes. continue a ler aqui.
- PAS
As maiorias sem voz e sem rosto
Santana sai de cena a exigir, no mínimo, censura institucional aos que o criticaram publicamente durante estes meses. Mas, mesmo sendo os partidos o que são, mais razões teria o ainda líder do PPD para pedir censura ao rebanho sem rosto que aceitou em silêncio a sua entronização sem verdadeira disputa. Que não o criticou em público mas lhe foi minando o caminho na intriga interna. Que o foi abandonando na estrada, discretamente, à medida que o fim se tornou evidente, e inevitável. E que, na noite das eleições, desertara já quase por completo, à espera de melhores dias. Bastava olhar para o aspecto desolador e abandonado da sede de campanha do PPD na noite da derrota para perceber o ponto a que pode chegar o oportunismo e o cinismo: Santana, o mesmo que teve mais de 90% de votos do Conselho Nacional onde foi ratificada a sua ascensão à liderança, reduzido a um punhado de indefectíveis, familiares e amigos. Onde estava, na noite de 20 de Fevereiro, a imensa maioria silenciosa que votou Santana, quase em unanimidade, quando este foi eleito, há pouco mais de seis meses? Onde estavam os dirigentes, os deputados, os autarcas? Não estavam.
Quem conhece os partidos e as suas lógicas enquanto máquinas de poder (re)conhece bem este filme. O que não o torna mais aceitável ou mais bonito. Os mesmos que abandonaram Santana depois de o terem venerado preparam-se agora para apoiar, sem pestanejar, quem vier a seguir. Quem quer que seja. Para depois o fritar em lume mais ou menos brando, conforme as circunstâncias. Provavelmente, aliás, muitos já eram os mesmos que trituraram Marcelo, e que apoiaram Nogueira para depois o deixar cair em circunstâncias não muito diferentes das actuais (sendo que na altura, pelo menos, houve um congresso). No final da próxima liderança, os mesmos de sempre estarão já prontos para outra. E será bom enquanto durar, desde que os próprios vão, uma vez mais, garantindo melhor ou pior a sua sobrevivência e a dos seus fiéis. A auto-perpetuação é a única meta desta gente.
Sendo insuspeito de qualquer espécie de simpatia por Santana Lopes, o que o partido fez a Santana, e em geral este comportamento, enoja qualquer um. Mas, ainda assim, não deixa de ser curioso que o homem que incessantemente dispara em todos os sentidos para se tentar descolar da pele da derrotado que nunca havia antes vestido só não acerte, ou não queira acertar, no único alvo de que, objectivamente, poderia ter razões de queixa. Mas, como bom produto do sistema, ele sabe bem do que dependerá a sua própria sobrevivência daqui para a frente. - MC
Ainda as palavras
De que falamos?
De que falamos
quando falamos das palavras
senão do tempo
que corre-escorre
por entre as malhas da voz?
Faladas
as palavras
são um combate encenado
uma insónia pessoal
Escritas
são reféns do olhar
No espaço da página
deslizam altivas como icebergues
ou então soçobram
desconhecidamente
no lado sombrio do funesto olvido
Ana Hatherly (2003), O Pavão Negro, Assírio & Alvim - MC
A melhor psicoterapia do mundo
Às tantas, uma das personagens de Tarnation informa que o seu psiquiatra a proibiu de pensar no passado. Ou seja, que a aconselhou ao esquecimento de si própria. Mas nem assim escapa à maldição eterna que varre, e define, a vida dos personagens do filme. - MC
Nem de propósito
Li há pouco num respeitável jornal afixado numa parede que, segundo o autor do filme, a palavra "tarnation" não existe em inglês: pretende exprimir uma aglutinação de "eternal" e "damnation". Bela imagem da vida, espelho daquelas vidas. - MC
Todo um programa
A candidatura de Luís Filipe Menezes tem uma enorme vantagem em relação à de Marques Mendes. É transparente. Para se conhecer o programa político do autarca de Gaia, não é preciso ler a sua moção de estratégia. Basta ler o Público de hoje: "O anúncio de candidatura foi feito perante uma plateia de desconhecidos. Na verdade, rostos reconhecíveis nacionalmente só os de Guilherme Aguiar, comentador desportivo da SIC, ligado ao FC Porto, Marco António, líder do PSD/Porto, e Nuno da Câmara Pereira, o dirigente do PPM eleito deputado nas listas do PSD. " - FN
E ainda quer o PS aumentar a idade das reformas...
A questão é que, a julgar pela conferência de imprensa de ontem na Luz, a esperança de vida dos treinadores de futebol não é assim tão alta. Mesmo assim, mais valia ir dando aqueles gritos e murros na mesa onde de facto poderiam ter algum efeito, em vez da já costumeira passividade: durante os jogos, no banco, com os jogadores. Talvez assim se poupassem, depois, as mesas da sala de imprensa, os tímpanos do próprio (não com os seus gritos, mas com os assobios de muitos milhares) e, já agora, a saúde - e esperança de vida - de, diz-se, seis milhões de portugueses. - MC
Os suspeitos do costume
A propósito da candidatura de Luís Filipe Menezes, a RTPN foi hoje aos arquivos e recordou a profética intervenção do actual autarca de Gaia no congresso do Coliseu, em 1995*: «com Durão Barroso, o PSD ficará dominado por um eixo sulista, elitista e liberal.» A sala parecia que vinha abaixo. Vaias na plateia. Cavaco Silva lívido. Leonor Beleza abanava a cabeça. Montalvão Machado apelava à calma. No meio da confusão, dois corajosos congressistas saltam para o palco em defesa de Menezes. Adivinhem quem. Acertaram. Pedro Pinto e um jovem chamado Marco António.
* Pago o que for preciso a quem me arranjar uma cópia do mesmo.
- FN
A "virança"
Já me tinha esquecido por completo disto, mas o Walter lembrou-mo, em boa hora, no seu excelente Fórum Comunitário. Um dos (muitos) momentos altos da noite das eleições aconteceu quando Ana Drago proclamou a "virança" que os resultados eleitorais representavam.
Este será, talvez, um excelente exemplo do que abaixo escrevi sobre a infinita vida da língua: num segundo de aparente hesitação discursiva, virança acabou por ser uma boa maneira de exprimir uma situação em que "viragem" e "mudança", como que aglutinadas, coexistem num mesmo contexto, i.e. uma visão substancialista da viragem, numa distinção vagamente paralela à diferença entre alternância e alternativa que alguns tanto gostam de utilizar. Talvez nunca mais ninguém use esta palavra, mas por segundos ela existiu (e volta a existir em pelo menos dois blogs), como um ligeiro sobressalto das palavras que utilizamos. - MC
A vida sem fim
Sempre gostei da vida das línguas e do potencial dos seus usos heterodoxos e inovadores, mesmo (ou especialmente?) quando eles nascem da suave anarquia das casualidades, dos equívocos, de pequenos lapsos. Tiques que se tornam regras, particularismos que se espalham, erros que se repetem e deixam de o ser, frases que se tornam feitas, palavras que se juntam. Se faz sentido uma poética da língua falada e escrita, muito do que ela tem para oferecer joga-se nestes terrenos movediços. Que são, também, os da vida, do uso, da recriação, da história de cada língua, naquilo que ela tem de mais estimulante.
Tantas vezes faltam-nos as palavras, ou falta-nos o que elas querem exactamente dizer, ou faltam-nos formas de traduzir nuances ou sobreposições de significados que ninguém se lembrou, antes, de cristalizar em instrumentos de linguagem. Tantas vezes queremos dizer mais do que as palavras permitem. Ou as palavras dizem mais do que gostaríamos. Se a língua não é uma mera correspondência tentativa entre o pensamento, as palavras e a realidade, há sempre espaço para a manipulação, para a recriação, para o jogo. Mesmo que disso não tenhamos inteira percepção, ou que pura e simplesmente não o queiramos admitir, é isso que fazemos todos os dias. Mesmo os mais conservadores e puristas, que o uso tradicional de um código é tão manipulador quanto a sua transformação.
A criação linguística, no sentido mais literal do termo, até ao nível das próprias palavras, é um jogo profundamente promissor. Todos os dias. Sem fim possível. - MC
Ainda mais radical
Depois da lamentável campanha eleitoral que Santana e o PPD protagonizaram, ficou uma vez mais provado que para alguns vale tudo, mas mesmo tudo, em nome do poder. Talvez por isso, lembrei-me muitas vezes da ideia de "democracia radical", que o Paulo Pedroso introduziu no debate político em Portugal, e da importância da defesa intransigente da democracia, da sua qualidade e das suas instituições contra todos os que a vêem sobretudo numa óptica instrumental. Se já tínhamos, todos, todas as razões para ser radicais nesta matéria, o que se passou ao longo destes últimos meses só as reforçou. - MC
Na lapa só fazemos as leis...
Santana Lopes, na flor da idade dos 40 e tal anos, para justificar o facto de não ponderar sequer a possibilidade de abandonar a actividade política: "Não sou tão novo que possa mudar de vida nesta idade".
Pelos vistos, a adaptabilidade, a flexibilidade e os outros fantásticos atributos de super-homem que a direita tanto exige aos trabalhadores e em nome dos quais liberaliza mais e mais os mercados de trabalho é só para os outros. - MC
Amanhã vou acordar assim
Olhar para trás e descobrir que isto, se calhar, pode mesmo ser verdade:
Anyone can play guitar
Destiny, destiny protect me from the world
Destiny, hold my hand, protect me from the world
Here we are with our running and confusion
And I don't see no confusion anywhere
And if the world does turn, and if London burns
I'll be standing on the beach with my guitar
I want to be in a band when I get to heaven
Anyone can play guitar and they won't be a nothing any more
Grow my hair, grow my hair, I am Jim Morrison
Grow my hair, I wanna be, wanna be, wanna be Jim Morrison
Here we are with our running and confusion
And I don't see no confusion anywhere
And if the world does turn, and if London burns
I'll be standing on the beach with my guitar
I want to be in a band when I get to heaven
Anyone can play guitar and they won't be a nothing any more
Radiohead, Pablo Honey (1993)
- MC
Da justiça, à distância
À medida que o tempo passa, os resultados eleitorais ganham uma estranha aura de naturalidade. Acontece muitas vezes, é verdade, mas desta vez não é apenas o efeito da passagem dos dias que cristaliza os factos.
Olhando para trás, o retrato daquilo que passou torna-se mais claro. Durante a campanha, o PSD adoptou sempre uma postura negativa, maniqueísta e vitimizadora; o PS uma campanha pela positiva, sistematicamente tentando passar acima da táctica rasteira do adversário. O debate político, quanto teve espaço e visibilidade, foi em torno de propostas socialistas. Santana tinha à sua volta personagens como Gomes da Silva ou Pedro Pinto, além dos Relvas, Morais Sarmento e Arnauts que ajudaram a fazer destes três anos o que eles foram; a equipa de Sócrates era formada por gente com o valor de Vieira da Silva, Silva Pereira ou António Vitorino. A campanha e os debates a dois e a cinco encarregaram-se de demonstrar bem as diferenças.
No fim disto tudo, a margem de manobra para outro desfecho era, sempre foi, mínima. Se se pode falar de resultados justos em política, este é seguramente exemplar desse ponto de vista. - MC
Balanço e Contas
Nesta altura do campeonato, já está tudo dito, mas cá vai o meu balanço e contas:
O PS teve o seu melhor resultado de sempre e obteve pela primeira vez uma maioria absoluta. É claro que estas eleições serviram para avaliar o Governo PSD/CDS, mas seria injusto ignorar o mérito da estratégia do PS. Desde logo a forma como José Sócrates conseguiu tornar claro o que estava em jogo: a continuidade representada por Santana e Portas ou a mudança segura liderada por si? Muito se criticou o «cinzentismo» da campanha socialista. A verdade é que o PS não podia competir com o Bloco em folclore ou com o PC em ortodoxia. Era sabido que muitos dos eleitores do PC e do BE de 2002 jamais votariam no PS, fosse quem fosse o líder. Por outro lado, as pessoas, de uma maneira geral, estavam fartas de eleitoralismos. A conjuntura exigia realismo. O PS percebeu isto, e apresentou um programa sério de reformas na segurança social, na saúde e na administração pública. Agora trata-se de pôr esse discurso em acção. Se desiludir, já sabe o que lhe acontece. A volatilidade eleitoral está em alta.
Tal como o PS, o PSD teve um resultado histórico, ou melhor, pré-histórico, já que a sua força eleitoral recuou aos números do início da década de 80. Santana Lopes explica muito, mas não explica tudo. Já nas europeias, com Durão Barroso no governo, as políticas do PSD/CDS foram a votos e tiveram a aprovação de 33 por cento dos eleitores. Um dos maiores erros dos dirigentes do PSD é pensar que, para voltar ao poder, basta mudar de líder. Este PSD - o PSD pós-Cavaco - é de facto outro PSD, no tipo de marketing mas também no tipo de interesses e valores que representa. Nos últimos dez anos, o partido ficou dominado por uma agenda conservadora que o aproximou ideologicamente dos "tories" (veja-se o que defende quem tem colaborado nos programas de governo do PSD). Desde que Blair ganhou as eleições, os conservadores já tiveram, pelas minhas contas, três líderes. O quarto virá a caminho.
Ao contrário dos outros, o PCP é previsível. Repetiu basicamente a votação das europeias. Como nestas legislativas os restantes partidos da esquerda estiveram igualmente mobilizados, baixou a percentagem. Jerónimo pode ter animado a campanha, mas o PC é o único fenómeno sociológico da política portuguesa. Aquelas pessoas - e só elas - votam em quem o Comité Central mandar.
Já o CDS achou que era possível fugir ao exame. Inflacionou demasiado as expectativas. Se apenas 35 por cento dos portugueses avaliavam positivamente o governo, onde é que o senhor ministro de Estado e da Defesa queria ir buscar os 10 por cento? Portas deu por adquirido que contava, de novo, com o apoio dos pensionistas, do pessoal da lavoura e do ultramar. Só que esses ficaram em casa ou votaram no «trotskismo». Mesmo assim resistiu bem. Numa primeira leitura, percebe-se que o que o CDS perdeu nas feiras ganhou nos salões. Ao contrário do que se passa à esquerda, na direita, a popularidade dos líderes é decisiva. Se o PSD tem um líder como Cavaco, a direita vota PSD. Se o PSD tem um líder como Durão ou Santana, há um terço da direita que prefere Portas. É este o drama do PSD daqui para a frente. Em coligação pré-eleitoral, o CDS teria eleito na mesma os 12 deputados. Mas assim os deputados são dele, Paulo Portas. Para mais tarde recordar.
Finalmente, o Bloco. Confirmaram-se pela primeira vez nas urnas os resultados das sondagens. Desde a sua constituição, o BE tem vindo a subir independentemente de se tratar de eleições europeias ou legislativas. É um voto ideológico e parcialmente ancorado nos temas «fracturantes». Parcialmente, porque com esse eleitorado típico dos partidos Verdes parece conviver agora um eleitorado anti-sistema que se deu ao trabalho de ir votar. As contradições estratégicas dos dirigentes do Bloco são, afinal, as contradições do seu próprio eleitorado. Realmente, os resultados do BE e as taxas de participação em Lisboa e Setúbal dão que pensar. De resto, no essencial, o problema da abstenção continua aí, certamente mais forte nos jovens e nos eleitores que não confiam no sistema político. A diferença é que, desta vez, a esquerda mobilizou-se mais do que a direita. Cabe agora ao PS não desmobilizar o seu eleitorado. - FN
O carteiro trotskista
Domingo à noite, Paulo Portas, com cara de comunista em dia de queda do muro, justificou a sua demissão pela «ascensão muito negativa do extremismo de esquerda». Disse que «não há nenhum país civilizado onde a diferença entre trotskistas e democratas-cristãos seja um por cento». O País Absoluto vem agora repor a verdade dos factos. E a verdade é que se o pasteleiro trotskista de Nani Moretti nunca ultrapassou a DC em Itália, nas últimas eleições presidenciais francesas Olivier Besancenot, o carteiro trotskista, teve um excelente resultado. Segundo os especialistas, na «civilizada» França, há três direitas. Infelizmente, nenhuma é democrata-cristã. - FN
O pior cego
A culpa não é minha. É do outro que fugiu para Bruxelas e me deixou isto neste estado. É do Cavaco. É do senhor presidente da república. É dos que não estiveram comigo. É dos que só falam mal de mim. É das facadas. É das empresas de sondagens. É dos jornalistas. É de todos e não é de ninguém. É da vida. A vida é isto. É sermos iguais a nós próprios. Momentos bons e momentos maus. Se todos fossem bons não tinham sabor. Agradeço aos militantes do PPD. O dr. Portas teve uma atitude digna. Eu cá não me demito. Quero um congresso. Vamos ver. - MC
E agora, José?
«Julgo que o CDS vai ser a grande surpresa destas eleições. Digamos que aos 9% que teve em 2002 poderão juntar-se 3% vindos da área social-democrata - o que lhe daria cerca de 12%.»
Previsão de José António Saraiva, Expresso, 18 de Fevereiro. - FN
Salvar Carcavelos e o resto das praias
O tema instalou-se na retórica política. De um quadrante a outro do sistema partidário, não há hoje quem não valorize o papel do mar como alavanca de um novo modelo de desenvolvimento. O mar como recurso estratégico. Não apenas o mar à ?antiga?, da vocação marítima, dos descobrimentos e da construção da nossa identidade colectiva. Mas, também, o mar como factor de valorização do futuro. Como pólo de criação de novas oportunidades, por exemplo no turismo.
Contudo, neste, como em muitos outros casos, há os discursos e, depois, há a prática. E a prática é uma orla costeira que frequentemente parece servir como laboratório para experiências que visam replicar os cenários da Iª Guerra mundial. Por inércia, por incúria ou por acção premeditada, se bem que não com a intensidade do passado, continuam os atentados ambientais e, acima de tudo, uma visão míope do potencial existente na costa portuguesa. De Norte a Sul do País e nas regiões autónomas, assiste-se a um discurso político que é diariamente contrariado pela desvalorização efectiva do litoral.
E entre as novas oportunidades que o litoral português apresenta está o surf. O surf que hoje em Portugal tem um número já assinalável de praticantes, que movimenta um mercado ainda frágil mas já com alguma dimensão e que, só por isso, deveria ser protegido. Mas o surf que, para além do mais, tem um potencial ainda por explorar enquanto instrumento ao serviço de um desenvolvimento harmonioso para as nossas zonas turísticas.
Como escreveu, há tempos, Gonçalo Cadilhe, que já viu e viajou o suficiente para saber daquilo que fala: "uma onda perfeita de surf pode ser o motor da economia de uma inteira região. Pequenas localidades que nunca teriam saído do anonimato, que teriam permanecido esquecidas na periferia do mundo, são hoje internacionalmente famosas em todo mundo pelo simples facto de possuírem uma onda perfeita ao fundo da rua. (...) O turismo de surf não é turismo de massa, é turismo sustentável e continuado, é um nicho de mercado sólido e em crescimento." Aliás, com uma boa gestão e com visão de futuro, não há nenhuma razão para que as zonas propícias ao surf não possam evoluir para locais um pouco à imagem das estâncias de ski. E, como é sabido, abundam hoje pela Europa casos de sucesso em termos de desenvolvimento virtuoso de inteiras regiões, literalmente "puxadas" pelo ski.
E, desse ponto de vista, Portugal tem condições únicas na Europa e mesmo bastante competitivas a nível mundial. Não apenas temos uma extensa faixa costeira, com excelentes condições para receber os diversos tipos de ondulação, como é possível praticar surf durante doze meses por ano. Se a isto acrescentarmos a centralidade do País, quando comparado com os destinos exóticos do surf e os preços muito competitivos que apresentamos, há aqui um nicho de mercado quase virgem e de enorme potencial. Do Norte a Sul do país há ondas para todos e para todos os gostos.
Mas acontece que a prática de surf implica que as praias não sejam destruídas e que, na sua preservação, a conservação das ondas seja tida em consideração. Ora, infelizmente, temos assistido entre nós a uma sistemática desvalorização das ondas. O caso mais paradigmático disto mesmo ocorreu na Madeira, com o betão que deu cabo da onda do Jardim do Mar (para muitos a melhor onda portuguesa e uma das melhores do mundo!). Apesar de eventualmente menos dramáticos, a verdade é que outros exemplos de deterioração das praias abundam. Carcavelos ameaçava ser a próxima onda a ser destruída. Ameaçava porque já não vai ser.
Estamos pouco habituados, é verdade, mas por vezes, em Portugal, as coisas correm bem. E no caso de Carcavelos, tudo indica, vão correr bem. A história é simples: estava projectada pela Câmara de Cascais a construção de dois esporões que iriam colocar em sério risco as ondas. Mas, na fase de discussão pública do projecto, os surfistas uniram-se para salvar as ondas, tendo feito um parecer técnico sobre o projecto da autarquia. A Câmara foi sensível aos argumentos e aceitou na totalidade as reivindicações aí expostas. Resultado, Carcavelos vai ter obras que vão cuidar que as ondas se mantenham com a qualidade habitual e, tudo indica, numa das praias da linha vai ser construído o primeiro recife artificial da Europa, pensado para a prática do surf.
O caso de Carcavelos revela, no essencial, três coisas. A primeira, que é possível ter sucesso na luta pela qualificação do litoral e das praias em Portugal. Segundo, que há autarcas sensíveis ao potencial do surf e que revelam uma visão que foge à miopia dominante. E terceiro, que o exemplo de Carcavelos pode servir para que se comecem a salvar as praias que, por todo o país, são ameaçadas. O surf é uma razão e mais um pretexto para que isso seja feito.
artigo publicado ontem na Capital.
- PAS
Silêncio, que se vai cantar vitória
Para quem escreve sobre vacuidades, os períodos de campanha são longos e difíceis. É penoso desviar o olhar do umbigo para as coisas em volta. Confesso que vivi a olhar para o calendário. Nunca mais era 18 de Fevereiro. Durante a campanha ninguém leva a sério a educação sentimental do autor. Nem antes, nem o autor, mas pronto.
Como todos os portugueses e Santana Lopes, estive constipado. Vi duas épocas do West Wing deitado dias a fio no sofá. Pacheco Pereira falou muito no Abrupto de uma crise de representação. Mas qual crise? Sinto-me perfeitamente representado: Aaron Sorkin, Leo MacGarry, Sam Seaborn, Josh Lyman, Toby Ziegler e Jed Bartlet. Um governo de esquerda, inteligente, bem-humorado, idealista e pragmático. Que mais poderia desejar? Pois, mais mulheres.
Os blogues escalaram bem o K2 da campanha, Santana Lopes e o governo. Mas ali à Senhora do Monte não foram. É injustificável o silêncio sobre os tempos de antena do Partido Humanista. Voz em eco, som a preto e branco, pessoas claramente encontradas na rua a quem se pagou cem paus para dizer disparates. Noutro, um ex-líder do PPM apoia Garcia Pereira, e não, repare-se, o MRPP. Está bem, afinal Garcia Pereira já tinha apoiado os pilotos da TAP contra o Sitava. Nos do PND aparecem umas senhoras que se apresentam, sempre, como «eu sou a Manuela, sou casada e tenho quatro filhos». A excepção, sempre casada e senhora, vocifera contra quem defende os direitos de quem quer abortar, em vez de quem quer ter filhos. Não lhe ocorre que quem quer abortar hoje, amanhã poderá não querer, e vice-versa. Na verdade, preocupa-se pouco com os filhos.
A propósito de imaculada concepção, o momento zen da campanha ? a morte de Lúcia de Jesus ? suscitou dois dos melhores posts do período eleitoral, ambos no Barnabé. Rui Tavares, entrando na matéria, e João Macdonald, em momento de reflexão com ovni. Ninguém disse, porém, o óbvio, que convém desconfiar das visões de mulheres virgens. Quando Maria Armanda disse que viu um sapo, ninguém lhe ligou puto, e com razão.
Voltei a comprar jornais todos os dias, para ler algo mais do que o «hoje fazem anos», o «inquérito» e a secção «pessoas». Fiel ao lema do blogger ? a minha vida dava um post - acompanhei a campanha na esperança que desse muitos. Infelizmente, e porque não tenho o génio do Filipe Nunes, não deu. Mas deu para deplorar o dia-a-dia da campanha feito com artigos patologicamente psicologistas sobre os candidatos, quando não simples artigos de opinião. Contudo, a campanha só era importante na medida em que desse posts, eram essas as instruções que tinha do partido, perdão, do meu blog.
Cada um sabe do seu, mas o meu é estalinista. Um blog de política não tem leitores, tem eleitores. As indicações vêm p.m.p. do secretariado, em sobrescrito lacrado. A linha justa. Os temas do dia. Os falsos «nicks» a usar nos comentários. Tudo. Nada escapa à censura prévia do camarada secretário para a organização. Nada do que ali se escreve compromete apenas os seus autores. O facto de não sermos todos militantes é de propósito e para despistar. E só estou a revelar isto porque ainda não me pagaram um chavo.
(Texto publicado ontem no jornal A Capital)
- RB
People Have the Power
I was dreaming in my dreaming
of an aspect bright and fair
and my sleeping it was broken
but my dream it lingered near
in the form of shining valleys
where the pure air recognized
and my senses newly opened
I awakened to the cry
that the people / have the power
to redeem / the work of fools
upon the meek / the graces shower
it's decreed / the people rule
The people have the power
The people have the power
(...)
Patti Smith
- PAS
Não haver eleições
Muito já se escreveu sobre as razões porque é necessária uma maioria absoluta. Para mim, há uma razão simples e que, porventura, no actual contexto, se sobrepõe a todas as outras: para tentar garantir que nos próximos quatro anos não haverá novas eleições legislativas. A estabilidade é um fim em si mesmo. Além de que começo a suspeitar que defender, entre nós, a imagem da democracia (e não apenas a imagem) depende também um pouco disto. - PAS
O discurso do tanso
O Rui Tavares estranha que se recorde a evolução na popularidade de Schroeder (em coligação com os Verdes) para se defender uma maioria absoluta do PS. Como não tenho o Rui Tavares «na conta de tanso», quero acreditar que está, simplesmente, a fazer-se de tanso. Francisco Louça disse, muito claramente, que «não quer ser o Joshka Fischer português» e que só aceita ir para o governo quando tiver «uma base eleitoral de maioria». Não basta ter 7, 8 ou 10 por cento. A coisa só vai lá com uma maioria absoluta do Bloco. Comparar o voto no Bloco com o voto nos Verdes alemães é, por isso, comparar o incomparável. Por outro lado, lembrar com nostalgia a experiência dos governos minoritários de Guterres (ou de Cavaco) é não perceber a diferença entre a conjuntura económica e política desses períodos e a actual. O Rui Tavares até admite que espera a obra de Sócrates, Mariano Gago e João Ferrão «com ansiedade positiva». Sem maioria absoluta, o mais provável é que não lhe passe a «ansiedade». O Rui Tavares até «está ideologicamente próximo do PS», mas, apesar do nosso sistema político-constitucional, apesar da experiência das democracias europeias (em que a regra é a das maiorias absolutas - de um só partido ou em coligação), teme os abusos da maioria. No final do post, deixa-nos o aviso: «Quem forçar hoje o discurso da maioria absoluta poderá ter de vir a responder perante a frustação que inevitavelmente se gerará quando a maioria absoluta não resolver os nossos problemas». «Responder perante a frustração» (ou perante a satisfação): assim de repente, não encontro melhor definição de responsabilização democrática. - FN
Se o PS não chegar aos 80 por cento
«O Bloco é a única força política que vai duplicar os votos.»
Francisco Louça, Jornal da Tarde da SIC, 18 de Fevereiro - FN
As ideias de Santana
Santana é uma vítima. Um perseguido. Dá-se mal com o sistema (como Monteiro, e como o Portas de há dois anos, e como outros), mas para além das futeboladas, nunca fez mais nada na vida senão alimentar-se do tal sistema com que se dá mal. Ganhou, com Cinha Jardim, umas eleições na Figueira da Foz e terá ganho, talvez, umas em Lisboa. Pouco tempo depois, torna-se primeiro-ministro. E dá-se mal com o sistema. Como seria se se desse bem?
No meio disto tudo, dos ataques, da vitimização, dos boatos, não sobra uma ideia. Uma só. Como bem se viu nos debates. Como bem se vê na sua actuação errática como primeiro-ministro. Como bem se vê na campanha lamentável que o seu partido tem protagonizado. Alguém se lembra de uma só proposta do PPD que tenha estado, seriamente, em cima da mesa nesta campanha? - MC
Working Class Hero
«No início da segunda parte do debate, na sua despedida, Jerónimo de Sousa foi capaz de uma frase que entrará decerto para o livro de ouro dos heróis comunistas. "Posso ter perdido a voz, mas não perdi a esperança."»
Luís Osório, A Capital, 17 de Fevereiro - FN
O momento em que o Prof. Freitas vota PS
«Este é um momento fundador para o CDS.»
Paulo Portas, Público, 17 de Fevereiro - FN
O País Absoluto
O País Relativo vai a caminho da maioria absoluta.
Sábado: 400 visitas
Domingo: 550 visitas
Segunda: 775 visitas
Terça: 875 visitas
Quarta: 975 visitas
- FN
Voltar a acreditar
Esta tem sido, para mim, uma semana de reconciliação com a Igreja Católica. Depois das críticas de D. Manuel Martins e D. Januário aos abutres da direita, leio agora no Economist que o Papa João Paulo II corrigiu as declarações do Cardeal Ratzinger e mostrou abertura à entrada da Turquia na União Europeia: «The, EU, he said, remains willing to welcome other states, who are ready to accept the requirements for admition.» - FN
Isto só agora começou
Ao homem falta-lhe a Evita. De resto, está lá tudo: ele sabe de que lado está - do dos descamisados contra os poderosos, até porque o sistema são os outros (o Inferno) - e ele sofre connosco, é mal tratado como nós. A carta. A carta é a última peça deste peronismo de trazer por nossa casa de que se alimenta Santana Lopes há uma dúzia de anos. Ainda assim, em todo este melodrama de pacotilha, o que mais me espantou foi o vídeo do menino-guerreiro (basta irem à página do PSD). Bem, aquilo é para o aborrecido, mas vale a pena aguentar até ao fim. Até ao momento místico, em que a face de Santana se confunde com a de Sá-Carneiro. O resto, bem o resto é mais do mesmo: beijos, idosas, jovens e sempre Ele. Ele no centro de tudo, o mundo que anda à sua volta, com aquela letra que acho que é do Gonzaguinha (não sei se tenho mais pena dele ou do Sá-Carneiro) e que foi escrita, entra pelos olhos dentro, para algo radicalmente diferente. Aquilo é mesmo como o peronismo. Apropria-se de coisas que não lhe pertencem, mistura tudo, confunde ainda mais e no fim cria um monstro político. Mas ele não tem a tonta da Evita (e como deve andar arrependido de não a ter) e, essencial, isto (ainda) não é a América Latina.
Estas coisas começam sempre assim e acabam também sempre do mesmo modo. Mal, muito mal. O tipo pode ter um resultado miserável, ser varrido do partido ou até aguentar-se. Mas, aconteça o que acontecer, já não nos livramos desta experiência. E o vírus, esta mescla nacional de peronismo e de populismo, até pode entrar em quarentena, mas de agora em diante, estará sempre à espera para entrar no sistema. Esta campanha, bem como os meses que a antecederam foi única por isso mesmo. Começou um novo mundo.
P.S.
Para a coisa acabar em glória, parecia-me boa ideia que a maltosa que o aconselha (!) pusesse o homem a cantar - a cantar ele mesmo, em karaoke - num dos últimos comícios. Sugiro o Patriot's heart dos American Music Club. O homem a "despir-se em público", a apoteose dramática de quem tanto dá e tão pouco recebe. Do mundo do Gonzaguinha ao do Santana vai uma distância tão grande como do do Mark Eitzel ao personagem. E isto precisa de um pouco mais de drama, de sofrimento. Até porque a voz dele é a das dores dos outros - que são também as dele. - PAS
A vingança de Trotsky
«Em primeiro lugar quero desejar as melhoras ao Jerónimo de Sousa.»
Declaração final de Francisco Louçã no debate da RTP - FN
Outro que já compreendeu a necessidade de uma maioria de um só partido
«Vai-se para o governo quando se tem uma base eleitoral de maioria ou de representatividade suficiente.»
Francisco Louçã, Público, 15 de Fevereiro
- FN
A renovação
O jornalistas queixam-se da falta de «ideias», mas são eles quem mais contribui para a fulanização da política. Só querem saber dos «nomes», dos «independentes», das «caras novas». Numa entrevista a José Sócrates, Manuel Carvalho (Público) e Raquel Abecassis (RR) dizem que «não aparece muita gente nova na campanha do PS» e lamentam o reaparecimento «das caras de António Guterres». Pouco importa saber se nas Novas Fronteiras apareceram novas pessoas. Sempre me pareceu que o problema do chamado «guterrismo» esteve mais na política (referendos, posição sobre o aborto e maioria absoluta, orçamentos limianos, taxa de alcoolemia, etc.) do que nas políticas e nos seus protagonistas. Nesse sentido, o PS tem um património de governação que não pode ser desperdiçado em processos de renovação feitos a pedido. Até porque os que hoje são considerados «moeda boa», por estarem na «sociedade civil», amanhã passam a ser «moeda má», pelo simples facto de se terem tornado militantes partidários ou membros do governo. Veja-se o que aconteceu a esse «génio da gestão», António Mexia. O mesmo acontecerá a António Borges ou a António Carrapatoso, no dia em que cometerem o erro de entrarem na política. Um bom governo passa por bons políticos profissionais. É assim em toda a parte. Estes governos PSD/CDS até tiveram algumas «caras novas»; na verdade, autênticos amadores da política, como Amílcar Theias, Maria do Carmo Seabra, Mariana Cascais ou Fernandes Thomaz. O resultado dessa renovação ficou bem à vista. Esta é mais uma daquelas questões em que Sócrates deve deixar os jornalistas a falar sozinhos. Ficam, aliás, muito bem acompanhados nesta fúria renovadora. Hitler, Estaline e Mao foram responsáveis pelas maiores renovações de elites de que há memória.- FN
Santana visto pelos próximos
«Santana Lopes tem coragem para fazer. Pode correr mal, pode estragar, mas faz.»
Luís Delgado, Expresso, 12 de Fevereiro - FN
O monstro
«Luís Delgado faz a negação de muitos dos pequenos prazeres quotidianos: não gosta de comer, não guarda saudades (...) Também não gosta de festas nem de ir jantar fora com amigos.»
Perfil de Luís Delgado, Expresso, 12 de Fevereiro - FN
Como diria o dr. Portas, não podemos silenciar a Igreja:
O antigo bispo de Setúbal D. Manuel Martins considera que há "oportunismo político" no cancelamento das acções de campanha de alguns partidos devido à morte da irmã Lúcia. "Não fiquei nada contente nem convencido da sinceridade no tocante à suspensão de actividades políticas", afirmou D. Manuel Martins à rádio TSF, defendendo que "a campanha eleitoral devia continuar". "Estas campanhas são ou não para elucidar o povo português?", questionou o bispo resignatário.
"Solidariedade política num período como este? Temos toda a legitimidade de pensar menos bem", afirmou D. Manuel Martins. - FN
Aos fascistas, fala-se-lhes em cultura e sacam logo da pistola
«Aos socialistas, fala-se-lhes em segurança e desatam a recitar poemas».
Telmo Correia, Público, 14 de Fevereiro - FN
Organizem-se
«Sócrates é uma versão piorada do Guterrismo.»
Luís Fazenda, Público, 13 Fev
«O voto PS é apesar de tudo um voto que expressa a vontade que algo comece a mudar.»
Miguel Portas, Público, 13 Fev.
«Foi o Bloco que consegiu que o PCP evoluísse em muitas ideias»
Miguel Portas, Público, 13 Fev.
«Ninguém ouviu o Bloco atacar a esquerda»
Fernando Rosas, Público, 13 de Fev.
- FN
Este sim, sabe quem é
«Votar no PS é uma vontade de mudança.»
Miguel Portas, Público, 13 de Fevereiro - FN
Alternativa pântano
Faz agora três anos que a palavra pântano entrou no léxico político português. A palavra, porque a realidade política está presente desde pelo menos 1999. A partir da vitória de António Guterres nas legislativas, ficou clara a fraca governabilidade do país num contexto de abrandamento económico sem uma maioria sólida. Como é sabido, nos últimos tempos do governo de Guterres, os episódios foram-se sucedendo, dando forma à ideia de incapacidade de decisão. Contudo, o que esteve presente foi, antes, a dificuldade de decidir num contexto político que era avesso ao estabelecimento de pactos que possibilitassem a tomada de medidas impopulares e difíceis.
Este cenário faz parte da história. No entanto, em Fevereiro de 2005 estamos confrontados com um contexto político que pode trazer um síndroma semelhante. O problema é que apresenta sintomas bem mais graves. Tem, nesse aspecto, razão a miserável campanha que tem sido levada a cabo pelo PSD: "Os portugueses não querem que eles voltem". Acontece que o "eles" não são aqueles que tiveram responsabilidades políticas de 1995 a 2002. O que os portugueses não querem que voltem são as circunstâncias políticas em que decorreu essa governação. continue a ler aqui. - PAS
À atenção do Pedro Magalhães
Há um ano fizemos um inquérito e 2500 pessoas disseram ser do POUS
Carmelinda Pereira, Visão, 10 de Fevereiro - FN
A diferença entre um político e um politiqueiro
Questionado sobre o «caso Freeport», «Jerónimo de Sousa lamentou o surgimento destas notícias porque "têm uma carga profundamente negativa, que pode influenciar e atirar lama para cima das pessoas". Para Francisco Louçã, é "inadmissível" que o governo de gestão da altura tenha tomado decisões "com implicações a longo prazo"»-A Capital, 12 de Fevereiro FN
Realidade paralela
Santana queixa-se agora de uma "realidade paralela" criada pela comunicação social. Pode até soar estranho, mas parece que não estava a falar do Diário de Notícias dos últimos anos. - MC
O erro de Cavaco
Um dos maiores erros da estratégia presidencial de Cavaco Silva tem sido o desprezo com que tem tratado o seu partido. Para os conselheiros de Cavaco e, segundo muitos comentadores, o professor não precisaria do partido para nada; o partido é que precisaria dele. Isto é uma ilusão alimentada por uma cultura mediática que não tem qualquer suporte na história eleitoral recente. Se houve coisa que a candidatura da engenheira Pintasilgo e o referendo ao aborto demonstraram é que não é possível ganhar e mobilizar sem as máquinas partidárias no terreno. As eleições presidenciais são, por definição, eleições pouco interessantes para os aparelhos partidários. Ao contrário das autárquicas e das legislativas, são eleições em que só há um emprego para oferecer. Ora, se ainda por cima o candidato ao emprego trata mal o seu partido, como é que espera fazer campanha? Recorde-se apenas o que aconteceu a Sampaio por ter forçado a demissão de Armando Vara: quando chegou a Bragança, em campanha, não tinha lá ninguém à espera dele. É o que pode acontecer a Cavaco por todo o país. Pacheco Pereira, que percebe destas coisas (e de quase tudo), tem toda a razão quando escreve, na revista Sábado, que «Hoje repete-se muitas vezes com ligeireza que Cavaco Silva pode prescindir do PSD. Não é verdade. Pode prescindir de Santana e Portas, mas não pode prescindir de ter apoio empenhado de um grande partido nacional, até porque esta ecologia favorável que o seu nome tem hoje é fugaz.»- FN
É por isso que a maioria deve ser absoluta
AH, TO be loved again. "Let's welcome the chancellor of reforms", were the words that met a visibly tickled Gerhard Schröder at the World Economic Forum in Davos. Things are looking up at home, too. For the first time since the 2002 election, a poll has put the ruling left-of-centre coalition ahead of the opposition. A year ago, anybody predicting such a change would have been laughed at. After a string of disastrous elections, the question was not whether Mr Schröder would go, but when. Last March he resigned as leader of the Social Democratic Party (SPD). In the summer, he faced huge protests against labour-market reforms. Pundits had him leaving this May, after another election loss in North Rhine-Westphalia, the heartland of the Social Democrats. Now some are suggesting that Mr Schröder has a good chance of winning a third term in September 2006.
The Economist, February 5th-11th 2005
- FN
Imperialismo-leninismo
Caro Fernando Albino,
No meu post, eu não fazia qualquer comparação entre o PP e o BE, afirmava apenas não perceber que ameaça possa, hoje em dia, o Bloco colocar à democracia que o PP não coloque, em pior, ou seja, se não percebeu, nenhuma. Casos de polícia e de tribunal serão sempre casos de polícia e tribunal, incluindo o Constitucional.
Eu suspeito até que o Bloco, se fosse para o governo, seria mais ministerial que o primeiro-ministro. O Bloco seria, para usar uma expressão antiga, o campeão do «ordeirismo». Não faria ondas nenhumas. Seria zeloso, bem-comportado e agradecido. Talvez não chegasse ao ponto de proibir greves, como fez o PCP em 1975, quando esteve no governo, mas de certeza que isso lhe pareceria boa ideia.
Infelizmente, não acho que a direcção do PS se incomode com a pergunta pelas razões que invoca, mas sim por se deixar cercar pelas premissas da pergunta; por, como disse, comer a sopa com medo do papão. Sucede que o papão não existe. O PS devia era comer o papão por medo da sopa.
Eu não teria demasiada pressa em arvorar-me em certificador do «lado certo da luta pela Liberdade» dos outros. É um pouco como ser cronometrista de silêncios ruidosos. A moral, já dizia o Álvaro de Campos, é a má hipocrisia da inveja. Por isso, não dispenso anátemas políticos, até porque existem instituições especializadas para o efeito.
No seu post, o Fernando mais não faz, à direita, do que mimar o discurso simétrico tão típico do PCP, à esquerda. Também para o PCP existem os «partidos democráticos» e os outros, o PSD e o PP. Em substância, o seu discurso e o do PCP são iguais. É por isso, aliás, que o PP e o PCP lutam pelo mesmo eleitorado, o conservador.
- RB
Sei quem ela é
Simone de Oliveira é uma mulher de esquerda. Não era agora que nos ia desiludir. «Ontem à noite abandonou um jantar de Santana Lopes com personalidades ligadas à cultura, em Lisboa, depois de se aperceber que se tratava de uma iniciativa integrada na campanha eleitoral do PSD. (...)"Ninguém me telefonou do PSD a dizer que era um jantar de campanha. Isso é mentira! Vamos acabar com essas chatices, vamos acabar com as tricas. Vamos fazer deste país um país a sério, e não um país de mentiras", disse a actriz, acrescentando que se soubesse que era para fins de campanha que "jamais participaria no jantar" até porque confessa ter votado desde sempre no PS.
» - FN
Calimero, episódio 6, última época
Já temos Freitas do Amaral que chegue!". Foi assim que o líder do PSD e primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, comentou a notícia de ontem do PÚBLICO de que Aníbal Cavaco Silva acredita na maioria absoluta do PS. Em declarações aos jornalistas, na residência oficial de São Bento, Santana lembrou o fundador do CDS, que apelou ao voto no PS nesta campanha eleitoral, para responder a Cavaco: "Quando li a notícia pensei que o nome estava trocado!". "O mundo hoje em dia está confuso e agitado", afirmou Santana Lopes, confessando: "Não vou dizer que não acreditei." - FN
"Pensei Que Quisessem Passar por Cá Depois do Almoço"
Está-se mesmo a ver que os jornalistas estavam todos ansiosos por passar a tarde no ambiente bucólico da Rua da Imprensa à Estrela a assistir ao vivo a mais um espectáculo memorável. Memorável, é mesmo a palavra. Quem vier a seguir, para ser melhor, já não precisa de facto de fazer muito. Basta apagar a memória destas cenas, apagar a memória da imagem de vítima, do menino guerreiro que não gosta de "apertar a mão a lojistas" e que descobriu que a campanha de rua de nada serve (o mesmo que andou anos a valorizar a campanha de rua e a dizer que se sente bem é entre o "povo", que se suspeita sejam os que estão na rua - aliás a sua comissão de honra para esta campanha acho que, até há uns dias, era mesmo o povo). No fim de tudo, ainda se apresenta com um sistemático ar de enfado. - PAS
No dia em que não fazia campanha
A internet agora tem destas coisas. É possível seguir o telejornal da SIC, online, como se em Portugal. Pois estive agora mesmo a fazê-lo e vi uma imagem delirante. O senhor que se diz ainda ser Primeiro-Ministro e que não fazia campanha no Carnaval, com os filhos nos jardins de São Bento, a dar uma entrevista conjunta a jornalistas (que se prestam a estas coisas!). No dia em que não fazia campanha. A dar uma entrevista se bem percebi, sem tema. No dia em que não fazia campanha. A dar uma entrevista, refastelado numa cadeira, com uns recortes de jornais nas mãos. No dia em que não fazia campanha. Misturando a qualidade de primeiro-ministro com a de candidato de modo despudorado. No dia em que não fazia campanha e em que alguém - saber-se-á alguma vez quem? - quis dar mais um contributo objectivo para que o PSD não venha a apoiar o candidato presidencial Cavaco (ou o Sr. Silva para utilizar a terminologia usada pelo delirante Alberto João Jardim - também vi!). No dia em que não fazia campanha, mas que foi mais um dia que ajudará a tornar a noite de 20 de Fevereiro memorável na São Caetano. Quantos PSDs passarão a existir depois desse dia? Bolas, e logo agora que este blog estava há 24 sem fazer campanha, e claramente beneficiado pelos quadros do Albers e do Morandi. - PAS
Dormia tão sossegada
Ainda não foi desta. Resistimos, penosamente, quase até ao fim, mas ainda não foi desta que uma noite em casa do Mark acabou sem pelo menos um pouco de Palma à mistura. É certo que foi só um pouco, mas ainda assim a marca costumeira lá fica. Cravada uma vez mais na memória associada a um espaço. - MC
um abraço, tolerante
Caro Tomás,
Confesso que já sentia falta da tua proverbial má disposição. Mas como sabia que mais tarde ou mais cedo ela chegaria, já trazia aqui no bolso isto para ti. Ao que junto um abraço, tolerante.
"E quem vê melhor - quem distingue melhor, quem reconhece melhor a relatividade dos factos e sabe que não há nunca uma solução única para as formulações visuais - terá, certamente, também opiniões sobre outras formulações; acima de tudo, será, ao mesmo tempo, mais preciso e mais tolerante."
Josef Albers (1963), Interaction of Colors
- PAS
O Mundo fora do mundo
Percebo pouco destas coisas, mas gosto de as ver. E quando vi, vi a surpresa. A surpresa de ter ido ao museu do Morandi e ter visto, como me avisaram aqui, o Albers ao lado daquele. Não, não era uma exposição do Albers no museu do Morandi, ali em Bolonha. Era uma exposição do Albers ao lado do Morandi no Museu do Morandi, ali em Bolonha. Ao lado mesmo. Com os quadros ao lado, a escassos centímetros. Os quadros do Morandi que, do que me parece neles ver, são sobre o Mundo fora do mundo. O Mundo pelo qual passou o tempo, os acontecimentos e que vive sempre fechado na sua agenda. Uma agenda repleta das coisas primeiras, essenciais. Aliás, fiquei a saber que o Eugénio de Andrade tem poemas sobre o Morandi. Faz sentido, nos dois, aliás, as coisas primeiras são as que contam. E os quadros do Morandi são como as coisas primeiras: o tempo passa por elas e não mudam. Os quadros dele são quase iguais ao longo dos anos, até porque ao longo das guerras que com os anos passaram, ele quase não saiu de Bolonha, do seu Mundo (a não ser quando, durante os anos da Guerra, se escondeu no campo). O Josef Albers parece, em tudo, o oposto do Morandi. Parece. Viveu tudo - o Bauhaus, a Guerra, a América. E os quadros dele são também reflexo disso mesmo. Perturbar, colocar-nos a olhar. Mas, no fim, o que fica é o mesmo que no Morandi. A cor como princípio e fim de tudo. A continuidade na forma (num o quadrado, noutro as garrafas) como pretexto para usar a cor. Os quadros do Albers são, afinal, como os do Morandi. Neles também nada muda, a forma, como se as coisas fossem passando e o que importasse fosse, acima de tudo, a cor. Como se o que contasse fosse o Mundo fora do mundo. As coisas simples.
Ali, em Bolonha, lado a lado, nunca o que pareceu tão diferente foi tão próximo. Como se no fim das coisas, das guerras, das revoluções, do mundo, tudo voltasse ao seu princípio. Caso não houvesse mais nenhuma razão para ir a Bolonha, até Abril esta bastava.
- PAS
La culpa es de uno
Mario Benedetti ensinou-nos que a culpa não é nem dos pretextos, nem do tempo, mas daquele que não se faz enamorar. Benedetti falava do amor entre pessoas. Os partidos, como se sabe, são como as pessoas, mais exactamente, como as mulheres. Para que as relações entre eles vinguem, os partidos têm que saber fazer-se desejar.
Vejamos o PC. O PC não sabe. Todos os dias o PC diz que está disponível. Isso é não saber. O PC parece uma velha desdentada de perna aberta; sucede que desejo não é exactamente o que velhas desdentadas de perna aberta inspiram. É por isso que ninguém lhe vai pegar. A ideia de que no dia 20 de Fevereiro à noite José Sócrates vai bater à porta da Soeiro Pereira Gomes de sapatinho na mão para ver se serve no pezinho de Jerónimo é pura fábula. Jerónimo é uma abóbora e abóbora permanecerá para sempre.
Com o Bloco o jogo é outro. Como alguém dizia, «no balls, no babies». O Bloco é uma menina diferente, daquelas que fazem género, mais exactamente o género difícil. Diz todos os dias que não está disponível. Aprendeu bem a lição de Benedetti e não esqueceu nada. Sabe, por isso, fazer-se desejar. Para o governo não vai, acordos parlamentares talvez. Faz lembrar as pressurosas meninas da Opus Dei que, por não entregarem nunca a virtude, só fazem fellatios, em compensação.
(cortesia esplanar)
- FN/RB
E, felizmente, uma semana depois, há agora EPC
«Houve o debate. Houve os comentadores do debate. Houve os comentadores dos comentadores.»
- RB
As escolas deviam ser palácios
«Education is the silver bullet. Education is everything. We don't need little changes, we need gigantic, monumental changes. Schools should be palaces. The competition for the best teachers should be fierce. They should be making six-figure salaries. Schools should be incredibly expensive for government and absolutely free of charge to its citizens, just like national defense. That's my position. I just haven't figured out how to do it yet.»
Sam Seaborn, The West Wing, episódio Six meetings before lunch, 1ª época.
Assino por baixo
- RB
«Os que fugiram»
«Os que fugiram em 2001» (expressão de Santana) foram avaliados em 2002. Tiveram quase 40 por cento dos votos. Os que fugiram em 2004 vão ser avaliados agora. Veremos quantos votos têm. - FN
A direita inteligente
O historiador Rui Ramos é um caso raro em Portugal: representa uma direita inteligente. É uma espécie de gramsciano de direita. Na entrevista ao Público, critica os partidos de direita por «não darem aos seus projectos uma dimensão política», reduzindo tudo à gestão económica. Isto aplica-se ao PSD, mas agora também ao CDS-PP. Em três, quatro anos, o CDS foi tudo e o seu contrário: liberal e democrata-cristão, anti-europeu e pró-europeu, a favor da lavoura e a favor da PAC, frequentador de feiras e partido da «estabilidade». Agora, qual catch-all party, apresenta-se como «o voto que apetece». Já é oficial: o PP é Paulo Portas e a sua circunstância. - FN
A segurança é útil a Portugal
«Carteiristas atacam no comício do CDS-PP no Porto», leu-se no rodapé do jornal da tarde da SIC.- FN
Para onde nos leva esta campanha?
Gosto de campanhas eleitorais. Mas, desta feita, vejo várias vantagens em estar literalmente a 2.500 quilómetros de distância. Ainda assim, mesmo longe, confesso que o essencial da campanha tem-me chegado. Tenho as várias caixas de e-mails cheias do essencial da campanha: boatos. Boatos que não começaram agora e que se inserem numa táctica com contornos mais organizados do que aparenta e que já dura há algum tempo - tendo aliás, no passado recente, atingido outras pessoas de modo particularmente brutal. Confesso que já esperava que os boatos fossem usados como arma de campanha. Afinal, o facto de terem sido lançados com antecedência e de forma sistemática já o antecipava. O que não esperava é que o candidato do PSD a primeiro-ministro lhes desse eco de forma torpe.
Há que reconhecer, no entanto, que esse passo em frente foi apenas a cereja no topo de um bolo que já vinha sendo cozinhado. O PSD tem assentado o fundamental da sua acção numa campanha negativa, de contornos relativamente inéditos entre nós. Se pensarmos apenas nos outdoors, vemos que todos têm uma lógica de crítica ao PS e, pasme-se, até ao Bloco de Esquerda. É certo que houve uma tentativa de lançar um cartaz com uma imagem positiva, acontece que foi impedida por Cavaco Silva.
continue a ler aqui- PAS
Mas, para já, ainda não pede a maioria absoluta
«Paulo Portas é candidato a primeiro-ministro.»
António Pires de Lima, sábado, comício do CDS/PP no Palácio de Cristal
- FN
Ainda falam da administração pública
Documentos necessários para se ter um King Kard:
Ficha de inscrição preenchida;
Fotografia;
Bilhete de Identidade;
Cartão de Contribuinte;
Comprovativo do NIB.
- FN
As pescadinhas de rabo na boca também têm espinhas
Em Portugal, há uma certa forma de discutir as coisas que não se percebe bem. Refiro-me à forma como se aceitam discutir certas coisas. Tomam-se como boas e pertinentes certas questões; aceita-se responder-lhes sem nunca discutir as premissas, erradas, que as sustentam. E assim, não sendo essas premissas verdade, tornam-se verdadeiras na medida em que passam a ter consequências, como as pescadinhas de rabo na boca.
Vejamos, por exemplo, o propalado caso do dr. Miguel Cadilhe. Se o dr. Cadilhe apoia ou não apoia, se vai ou não vai ser vice-primeiro-ministro, e como é que apoia agora quando antes criticava? Ai que surpresa, ai que chatice! Mas o que ninguém discute, nem as oposições, é a suposta relevância do dr. Cadilhe. Porque o dr. Cadilhe é um notável. Mas por que raio é o dr. Cadilhe um notável? Que excelsas qualidades, que inesquecível obra, que portentosa inteligência? Nenhumas, todas supostas. Ao dr. Cadilhe aplica-se, como uma luva, o célebre mecanismo português da sumidade. Em Portugal, há imensas sumidades, todas elas instantâneas, e que ninguém discute. Nutrem-se do acriticismo geral e têm periodicidade mensal. Que o dr. Cadilhe é um grande economista. Que o dr. Cavaco é um economista ainda melhor, talvez o maior. Geram-se estes consensos burros entre jornalistas e políticos e enche-se a boca: «o Cadilhe é que seria um grande nome para ministro.» Ena. É como a mania do «maior da Europa». Portugal há de ter sempre o «maior da Europa», desde o maior centro comercial ao maior outlet, passando pela maior pista de neve artificial, sem esquecer a árvore de Natal. É provinciano, é parolo e é deprimente. Mas, sobretudo, quem, na oposição, ao ouvir a questão Cadilhe, franze o sobrolho de preocupação, e, atrapalhado, murmura «pois...o dr. Cadilhe é um grande nome; isto pode ser mau porque aqui está alguém credível, um grande quadro», está a reproduzir sem se dar conta uma premissa fraudulenta.
Um outro caso é o do Bloco de Esquerda e o da putativa coligação com o PS. A direita argumenta que o PS tem que deixar claro se vai para o governo com o Bloco, porque o Bloco é isto e aquilo; que é mau, que é anti-democrático; que é radical e folclórico; que trará a tirania da minoria sobre a maioria. Os jornalistas perguntam, Nuno Melo não se cala com isso, e o PS, infelizmente, nunca responde: «e qual é o problema do Bloco?». É verdade, qual é o problema do Bloco? Sim, porque se o PP também esteve no governo, não vejo que ameaça à democracia o Bloco, indo para o governo em circunstâncias semelhantes, possa colocar que o PP não coloque já, mas em bom. Cada vez que um dirigente do PS fica muito engasgado com a pergunta, dando a ideia de estar a comer a sopa com medo do papão, mais não faz que reproduzir a premissa implícita na pergunta e que é a ideia peregrina de que o Bloco tem lepra política. A verdade é que o Tribunal Constitucional se mantém, correctamente, silencioso sobre o Bloco. Aliás, não concebo que malfeitoria poderá Miguel Portas perpetrar que Henrique Chaves não tenha já feito pior. E Joana Amaral Dias dava uma grande qualquer coisa em qualquer governo que se reclame de uma esquerda moderna e democrática. Há um problema com o dr. Louçã? Mas qual, pelo amor de Deus, se Bagão Félix foi e ainda é ministro?
- RB
O Expresso errou
E logo um erro gravíssimo. Tão bizarro que é mais uma aberração. A coluna semanal do João Carlos Espada agora aparece no caderno Actual. - MC
A comédia dos erros
Esta sucessão de posts fez-me lembrar, num relance, o título da coluna do João Tordo num mítico suplemento de um jornal de grande tiragem em que uns escreviam e os outros iam escrevinhando. Já foi há uns anos cada vez mais largos, mas o título mantém o potencial. - MC
O Público errou - parte IV
Além do mais, esta história faz lembrar uma outra, que se passou na campanha de 2002, com uma célebre primeira página do Público em que se escrevia a vermelho garrafal que Ferro tinha feito um "apelo lancinante" aos que não costumam votar. Curiosamente, no título do interior do jornal a expressão era "apelo emocionado". Ora, sabe-se como a primeira página de um jornal vale em termos de repercussão pública umas dezenas de vezes mais que as notícias que surgem no seu interior. Por falar em (re)construção cirúrgica e ad-hoc (ou nem tanto) da realidade... - MC
O Público errou - parte III
Mas para além de um erro lógico e de avaliação estratégica do debate, dizer-se que Santana ganhou o debate e ganhou com o debate é um erro factual grosseiro. Vemos e revemos o debate várias vezes, lemos e relemos os comentadores, olhamos para os números das sondagens sobre a avaliação feita pelos espectadores do frente-a-frente e não há volta a dar: Sócrates ganhou o debate e ganhou claramente em vários dos temas.
Santana esteve mais crispado, mais nervoso; claramente não conseguiu tirar partido do facto de ser primeiro-ministro e por isso poder (e dever, aliás) mostrar melhor conhecimento dos dossiers, coisa que muito raramente aconteceu; o debate foi quase todo em terrenos moldados pelas propostas já avançadas pelo PS. Se isto não é ganhar um debate, então digam-me o que é.
E já nem falo do facto de Sócrates estar, clara e merecidamente, à frente nas sondagens. Se a campanha tivesse começado e acabado anteontem à noite naquele estúdio de televisão, José Sócrates era o primeiro ministro. O resto é efabulação, pura realidade criativa.
Repare-se: nem o Luís Delgado se atreveu a dizer que Santana tinha ganho de maneira clara e inequívoca o debate. Que o DN continue a embarcar, sempre que pode, neste tipo de manipulação da realidade, é uma coisa. Que o Público o faça, é outra. Bem mais inexplicável, e grave. - MC
O Público errou - parte II
Além de concordar com tudo o que o Rui escreveu, é bom lembrar que um raciocínio semelhante pode ser aplicado à situação relativa de cada um dos candidatos na actual campanha no plano das intenções de voto dos eleitores. É que Sócrates e Santana não chegavam, de todo, em pé de igualdade ao frente-a-frente, não partiam do zero. De acordo com todas as sondagens: o PS estará uns bons dez pontos percentuais à frente do PPD/PSD; por ainda mais largas margens, Sócrates será melhor primeiro ministro que Santana e será o PS, não o PPD/PSD, a vencer as eleições; acresce ainda a tudo isto uma avaliação profundamente negativa da situação do país e da performance do actual governo.
Por todas estas razões, e porque o tempo agora verdadeiramente escasseia, o frente-a-frente era um momento decisivo, vital, de vida ou morte para Santana. Perante panorama tão desfavorável, a sobrevivência de qualquer ambição de vitória laranja passava por uma vitória convincente, esmagadora mesmo, sobre Sócrates.
Ora, se o "debate foi morno", como dizia o Público de ontem, logicamente nunca poderia ter "beneficiado" Santana. Além de um erro de facto, a capa do Público é um contra-senso. Porque qualquer debate minimamente equilibrado seria sempre, nas actuais circunstâncias, uma vitória (aos pontos, literalmente) de José Sócrates. - MC
O Público errou
«O debate de ontem entre Pedro Santana Lopes e José Sócrates - único que os portugueses verão - revelou-se equilibrado. Só que, dada a desvantagem com que o líder do PSD partia no campo das expectativas, esse equilíbrio acabou por favorecê-lo. Nessa exacta medida, acabou por ser negativo para o líder do PS» (Público de hoje)
É importante não entrar no autismo completo de achar, sem mais e em exclusivo, que quem ganha os debates é quem ganha o debate sobre quem ganhou os debates. Mas a questão também não é, de todo, irrelevante.
Senão, vejamos. Se Santana partia para o debate em grande desvantagem, então qualquer coisa menos que uma vitória clara seria uma derrota. Como foi. Não precisamos de concordar que Sócrates ganhou o debate, como eu acho e pelos vistos os portugueses também acham, podemos até achar que o debate foi equilibrado, para concordarmos sobre isto.
Admitamos que Benfica e Sporting estão nos primeiros lugares do campeonato, mas separados por muitos pontos. Na última jornada, empatam o derby decisivo. João Pedro Henriques vem dizer que o Sporting ganhou o campeonato porque, estando em desvantagem, se esperava que perdesse o jogo. 2 mais 2 não são 5 e o Sporting perdeu o campeonato.
Assim com o debate. Vir retirar das baixas expectativas em relação a Santana que qualquer coisa menos que uma vitória esmagadora de Sócrates, e por maioria de razão um empate, é uma vitória de Santana é igualmente ilógico. Mas ainda vir, em corolário, concluir que isso acabou por ser negativo para o líder do PS é já completamente espantoso, e criativo. Ou seja, retirar do empate acima um prejuízo para o Benfica não faz qualquer sentido. No final , o Benfica é campeão. - RB
Um facho na mesa, um progressista na cama
Revista Visão: «As pessoas vêem-no mais como um reaccionário...»
Nuno da Câmara Pereira: «Essas pessoas já dormiram comigo?»
- FN
Santana KO
Sondagem Correio da Manhã/Aximage
Quem venceu o debate?
Sócrates: 50,4%
Santana: 20,2%
Empate: 29,6%
- FN
Quem viu, viu
Houve dois grandes vencedores nesta noite de debates: José Sócrates, na SIC, e Ribeiro Cardoso, do clube dos jornalistas, no «debate sobre o debate» realizado pela SIC-Notícias. Sobre a vitória de Sócrates, já não há muito mais a dizer. Lembremos apenas que, depois das piscinas, Santana prometeu estágios profissionais para a quarta idade (!). A grande novidade da noite foi mesmo a presença de Ribeiro Cardoso no painel de comentadores da SIC-Notícias. O acordo SIC-Clube dos Jornalistas a isso deve ter obrigado. E, diga-se de passagem, em boa hora isso aconteceu. Ribeiro Cardoso classificou o debate Sócrates-Santana como «histórico» - certamente porque serviu para ele próprio brilhar. Este histórico do jornalismo português, possível personagem das memórias de Baptista Bastos, foi a primeira pessoa que vi responder à letra ao execrável Luís Delgado: «um senhor que anda há anos a falar sem contraditório». Disse que o PCP não é nenhum «papão»; papão é «o mito do centro». Foi demolidor com Santana e Portas («como antigo combatente, sinto-me defraudado: as pensões do ministério da Defesa são uma mega-fraude»). Por fim, elogiou toda a esquerda: o PS («Sócrates teve aqui quatro tiradas muito boas»), o BE («está mais calmo») e o PCP («Jerónimo tem estado muito bem»). A sério que gostei. Para mim, já não restam dúvidas: está encontrado o substituto de Luís Delgado na PT. - FN
O senhor feudal
Nobre Guedes apela a levantamento popular para impedir entrada de Sócrates em Coimbra. - PAS
Por que não?
A Universidade Católica do Porto organizou mais um debate sobre a reforma do sistema político. Nesse debate, Lobo Xavier manifestou-se contra a introdução de círculos uninominais. Disse que «seria trágico para o CDS». É evidente que não se pode antecipar com segurança os efeitos de uma mudança no sistema eleitoral. Mas, apesar de todos os estudos que foram publicados sobre a matéria, reina alguma confusão nos dirigentes dos partidos mais pequenos. Do que se trata não é de transformar o sistema eleitoral num sistema maioritário ou sequer num sistema misto: aliás, nem a Constituição o permitiria. Trata-se, simplesmente, de transformar o sistema eleitoral português num sistema de representação proporcional personalizada, parecido com o alemão. É possível que ao nível dos círculos uninominais de candidatura (e não de apuramento) se gere uma dinâmica de competição bipartidária semelhante à das autárquicas (dinâmica essa que até tem mantido estáveis as taxas de abstenção nessas eleições). No entanto, pelo menos na proposta do PS, estavam previstos dois níveis de compensação: o distrital e o nacional (círculo que hoje em dia não existe). Na sua última versão, essa proposta cria também o princípio do duplo voto. Hoje em dia, em muitos círculos há eleitores que não votam CDS ou Bloco porque sabem que estes partidos não têm hipótese de eleger deputados. Com a criação de um círculo nacional, estes eleitores podiam «votar útil» a nível local (como já fazem) e votar «com o coração» para o círculo nacional. É o chamado «voto estratégico» que tem assegurado aos Liberais e aos Verdes, na Alemanha, representação parlamentar e influência na formação dos governos.
Para Lobo Xavier, o importante é a «reforma dos partidos». De acordo. Acontece que dificilmente haverá uma reforma dos partidos que parta de dentro. Tem de existir uma pressão externa que contribua para melhorar o sistema de recrutamento e a relação com os eleitores (não confundir isto com trazer para a política amadores da «sociedade civil»). Essa pressão só pode vir da revolta dos eleitores contra o sistema partidário ou, preventivamente, da introdução de círculos uninominais. Não é por acaso que, como bem lembrou António Vitorino, nesse mesmo debate, «as máquinas partidárias são a maior força de bloqueio à reforma do sistema eleitoral». - FN
O fantástico mundo da mentira
O imparável PPD prepara-se para lançar na campanha um livro com o sugestivo título "O fantástico mundo da mentira". Segundo o Público, o livro procurará desmontar 18 perigosas mentiras cuidadosamente orquestradas contra Santana: o caso da sesta depois do conselho de ministros, a estadia frequente no Sheraton do Porto, o significado místico da pulseirinha, a remodelação da decoração do Palácio de S. Bento. Tudo coisas decisivas para o país. O mundo da mentira em que estes senhores vivem é mesmo fantástico.
Infelizmente, parece que se esqueceram de incluir no livrinho as mentiras de Durão na campanha de 2002, as promessas não cumpridas, as medidas anunciadas e esquecidas, as marteladas nos números das contas públicas, para já não falar das inúmeras trapalhadas em que se foram enredando, aos tropeções, mentindo e desmentindo.
Ficará, certamente, para melhor ocasião, numa edição revista, e muito, muito aumentada. Mas quando esta surgir, então sim estaremos fora do domínio do fantástico. Será realismo do mais puro. E duro. - MC
Um Senhor
Marco António Costa, destacado apoiante de Santana, discípulo de Luís Filipe Menezes, presidente da distrital do Porto do PSD, secretário de estado da segurança social e da família, em discurso directo no Público de ontem:
"Quando as críticas são injustas não se contrariam, ignoram-se".
Brutal, não é? Pondo agora de lado considerações sobre os contornos éticos destas declarações proferidas por alguém que é político numa democracia liberal (e não na Madeira, por exemplo), não deixa de ser curioso que pelo menos a uma crítica sinta necessidade de responder:
"Aqueles que me acusam de ser político-dependente são os mesmos que vão chorar para a porta de minha casa a pedir-me lugares".
Mais uma vez, dispensam-se quaisquer considerações sobre a brutalidade da imagem aqui evocada. Mas quem é esta gente? - MC
Jerónimo total
Jerónimo de Sousa quer que a escola forme os alunos para o "trabalho" e para a "cidadania": o "homem total" tal como o definiu Marx. Homem total. Tal como o definiu Marx. Homem total. Tal como o definiu Marx. Homem total. Tal como o definiu Marx. Homem total. Tal como o definiu Marx. Homem total. Marx. Homem total. Marx. Total. Marx. Total. Marx. Total. Total. Total. Total. - MC
A política dos de dentro
Além de tudo o mais, a tirada de Louçã levanta uma questão da maior importância. É que, levada ao limite, só "quem está por dentro" de uma determinada temática teria legitimidade para tomar posição sobre ela. Ou seja: só os médicos e enfermeiros podiam falar de saúde; só os professores podiam falar de educação; só os homossexuais poderiam falar de homossexualidade; só os ambientalistas poderiam falar de ambiente.
No campo da ciência, os sociólogos do conhecimento andam há muito tempo às voltas com as vantagens e desvantagens de se ser insider ou outsider, de se estar próximo ou distante, para a produção de conhecimento científico. Pelo menos desde Merton, mas provavelmente muito antes dele.
Em política, isto pode ter muitos nomes, mas democracia não é com certeza. - MC
Raramente com dúvidas, nunca enganados
Ontem à noite, num programa semi-clandestino que suponho que ainda se chama Parlamento, ouvi pela primeira vez alguém do Bloco criticar a tirada de Louçã contra Portas acerca do direito deste a teorizar sobre a "vida" - em que, para além do chocante mau gosto e inquietante propensão para o autoritarismo revelados, se reproduziam os termos demagógicos e falaciosos em que Portas trata o tema do aborto.
A estimável Diana Andringa, candidata a deputada em Lisboa, assumiu que tinham sido "declarações infelizes", e que o próprio Louçã já o teria assumido. Infelizes é pouco. Mas ainda por cima, não, não assumiu, andou por ali às voltas a contorcer-se todo. Mas podia, devia , tinha a obrigação ética de ter assumido. Um pedido de desculpas, a assumpção do erro, ou pelo menos uma qualquer explicação, por mínima que fosse - o calor do debate, o calor do estúdio, o calor da raiva surda que o seu interlocutor provoca "na nossa gente" quando enche a boca do "direito à vida" e dos "valores". Sei lá, qualquer coisa. Qualquer coisa tinha servido para atenuar aquele terrível momento, que me gelou, e que chocou tanta gente de esquerda. Mas não.
Nos dias seguintes, Teixeira Lopes ainda piorou as coisas, embarcando em insinuações não concretizadas sobre a vida privada de Portas. Outros dirigentes do Bloco escusaram-se a recuos ou tentaram mesmo explicar o inexplicável. Muito bem. Ou muito mal. É que a pretensão à superioridade moral, sobretudo em questões morais, é uma coisa muito feia. E à medida que os dias vão passando, torna-se claro: aquilo que podia ter sido uma gaffe, um excesso, um erro, ganhou um valor facial e substancial completamente diferente. E transformou-se num "facto" político. Tanto pior para o Bloco. - MC
Abriu a época dos manifestos da sociedade civil
Uma das idiossincracias nacionais é, em tempo de eleições, a proliferação dos manifestos da sociedade civil. Ora sociedade civil não é, por definição, uma coisa inorgânica, que soma umas quantas individualidades. É exactamente o contrário disso - tirando a asserção marxista, em que esta se diferencia do Estado e das famílias, mas não deve ser nisso que se anda a pensar. Mas, na altura das eleições já se sabe, a propósito de tudo e de nada (normalmente dizendo nada) lá aparece a sociedade civil "à portuguesa" a manifestar-se. Manifestos é sempre um prato com muita saída e que, por um conjunto de razões, cai no goto da comunicação social. É, aliás, uma coisa tipo pescadinha-de-rabo-na-boca. Ao dar-se eco a estes manifestos ajuda-se a impedir que a "sociedade civil" em Portugal se "organize" de facto, sendo que, para além do mais, estes manifestos não são "a sociedade civil" organizada, mas apenas um conjunto de indivíduos unidos por reivindicações tendencialmente específicas e inorgânicas.
No meio disto, resta saber se algum dia vamos conseguir ultrapassar esta gramática política em vivemos ou estamos mesmo condenados a reagir e a raciocinar dentro dela? É que quase que aposto que ainda hoje, ou talvez amanhã, os partidos vão ser chamados a reagir a mais este manifesto (que confesso ainda não li - mas o nome é assustador, "Sobressalto cívico" - mas para o que conta também não é o aspecto mais relevante). Isto é tanto mais paradoxal quando, normalmente, os partidos não são chamados a fazer o mesmo face aos manifestos da sociedade civil organizada. Porque será? - PAS
Meme
«As defined by Richard Dawkins in The Selfish Gene (1976): "a unit of cultural transmission, or a unit of imitation." "Examples of memes are tunes, ideas, catch-phrases, clothes fashions, ways of making pots or of building arches. Just as genes propagate themselves in the gene pool by leaping from body to body via sperms or eggs, so memes propagate themselves in the meme pool by leaping from brain to brain via a process which, in the broad sense, can be called imitation." In this sense, chain letter components are memes.» [Mais sobre o mesmo aqui.] - JHJ
Quando é que isto começou?
A táctica não é nova, apenas assumiu agora maior visibilidade. Na verdade, há tempos que é assim. Primeiro, o boato circula - com uma antecedência aliás espantosa (havendo sempre alguém que tem um primo que confirma tudo); depois as caixas de e-mail são inundadas por mensagens anónimas (sem que se perceba muito bem como é que são conseguidos os endereços); logo se seguem, de modo sistemático, os comentários nos blogues, ou mesmo posts, para depois, surgirem as insinuações que, em si parecem não dizer nada, mas que no contexto previamente construído ganham um sentido. Esta coisa não começou agora, já dura há uns tempos e tendo a crer que é muito pouco espontânea e mais organizada do que se quer fazer crer. Já fez várias vítimas, com contornos bastante mais graves do que aqueles que agora vemos e, acima de tudo, está a fazer uma grande vítima: o conjunto de regras e a decência em que deveria assentar o jogo democrático. Que se diga que isto começou agora e que o dr. Santana detem o monopólio da utilização da táctica é que não deixa de ser espantoso. Afinal este, com aquele desvario populista que o caracteriza (também não é de agora, apesar de só agora os bons espíritos nisso terem reparado), limitou-se a levar mais longe o que já era feito, por ex. por alguém, como o Dr. Arnaut, insuspeito de santanismo e, certamente, um excelso representante do "velho" PSD . O que vale é que no dia 20 de Fevereiro terão todos o merecido tratamento. - PAS
Uma oportunidade perdida
Dizem as minhas fontes (as mesmas de sempre, A Bola) que a esta hora José Couceiro estará a esta hora a ser apresentado como treinador principal do Porto. Este post já não chega, portanto, a tempo, mas não queria deixar de endereçar ao sr. Jorge Nuno Pinto da Costa a minha aposta pessoal para treinador da equipa da cor mais linda do mundo, o azul e branco. Tem currículo, conhece os cantos à casa, já ganhou tudo pelo Porto e é um poeta publicado e reconhecido, o que dá sempre jeito para umas sessões de declamação do presidente no último andar da famosa torre. Tarde demais, mas os amigos são para as ocasiões. - MC
Ultrapassagem por baixo
Que o PPD entrara com Santana numa via populista desbragada (a que aliás já Durão não havia escapado por completo em 2002), era claro. Que de qualquer modo isto nem era nada de muito novo, porque pelo menos o PP de Portas (e antes de Monteiro) já tinha encastrado decididamente o populismo no horizonte político em Portugal, era também evidente.
Mesmo assim, é chocante ver alguém que (pelo menos para efeitos da dignidade do cargo) é primeiro-ministro, e que ainda por cima deveria estar sequioso de respeitabilidade e credibilidade, fazer as figuras que Santana anda a fazer todos os dias. O que só prova que a sua atracção pelo poder e pelo curto prazo se sobrepõem ao verniz da pose de estado que foi ensaiando, a contragosto, durante algum tempo.
É surpreendente, dado que era difícil, mas Portas e o seu imbatível instinto de sobrevivência aparecem agora com uma aura de credibilidade que em 2002 parecia impossível. E Santana como o caudilho populista do que se diria ser um grupelho bem encostado a direita e ao poder fugidío. Estridente, truculento, de cabeça perdida, sem perceber como Portas deve estar radiante à espera da noite das eleições. Impressionante, esta inversão de posições. É o que se chama ultrapassar pela direita, talvez, mas por baixo seguramente, o já de si rasteiro dr. Portas. - MC
Abaixo do chão
Muito se tem dito e escrito sobre a súbita e "misteriosa" onda de boatos que por aí anda e que, incrivelmente, não só tem tido algum tempo de antena como é, quase todos os dias, alimentada pelos próprios intervenientes no jogo político - o que, mais do que surpreendente, é completamente inaudito e inaceitável. O mínimo que se pode dizer sobre as várias referências veladas de Santana Lopes, em comícios e fora deles, a esses boatos, tentando utilizá-los em proveito próprio, é que se abriu um precedente grave e que uma fronteira, quase civilizacional, se quebrou. Esperemos que não em definitivo.
Além do mais, este homem é (ainda) primeiro-ministro. Para quem gosta de preciosismos, é certo que não foi enquanto primeiro-ministro que proferiu as lamentáveis declarações amplamente reproduzidas na comunicação social. Mas, se preferirem, o homem-que-é-primeiro-ministro disse enquanto candidato-a-primeiro-ministro o que disse. Não me parece que isto soe muito melhor, mas há gostos para tudo. Já houve quem chamasse a este tipo de episódios "nojeira". Parece um conceito adequado. Outros haveria, claro: lixo, chafurdice, o que quiserem.
Para um gajo que "abandonou todos os cargos políticos" (sendo que à data não tinha nenhum) quando lhe chamaram "santana copos" num programa do macaco Adriano e do João Baião, não está nada mal. Até porque não se pode dizer que qualquer um destes fosse à data primeiro-ministro ou seu adversário, mesmo que na "cadeira do poder" do Albarran. É muito triste. E o desespero não justifica tudo. - MC
Em defesa da tradição
O conservadorismo tem as suas virtudes: o FCP nunca ganhou um campeonato em que tivesse mudado de treinador a meio. - MC
O grande vencedor da jornada 19
Quinze pontos perdidos em casa atrás, este era o treinador do Porto. O tal que nem teve oportunidade para perder um só ponto que fosse. Como se vê, os períodos experimentais continuam pelos lados das Antas. - MC
Retrato de um português muito conhecido
O fervor homofóbico é espantoso e quase irreal. Num comício de Lopes grita-se: "Bem hajam os homens que amam as mulheres!". E o primeiro-ministro candidato a novo mandato diz que "o outro candidato tem outros colos" e que "estes colos sabem bem".
Já nada Lopes tem para oferecer: com a credibilidade política de rastos, atira-nos um cartaz para a frente que diz "Este homem sabe o que é". Saberá? Nós sabemos. É o que Jorge Sampaio, com o apoio generalizado do país, mandou para a rua por falta de credibilidade e incompetência manifesta. Afinal, é mais o quê? Um "femeeiro". É este o currículo que Santana Lopes agora transformou em arma eleitoral: namorou com várias mulheres. Mais de 30? Menos de 100? Só um louco descontrolado traz esta matéria para a campanha, mas de Santana Lopes tudo se pode esperar - eventualmente até um "strip-tease" no comício de encerramento.
Nada mais resta a Santana Lopes. Tem o corpo, e só o corpo, à venda no dia 20 de Fevereiro. Mas o mais provável é que, ao fim da noite, o corpo já seja um cadáver.
Ana Sá Lopes, Público, 30 de Janeiro - FN
Esquerda de confiança, parte II
Segundo Louça, PS e PCP «são muito verticalistas. Há uma espécie de soberano que manda sobre todos os outros.» Sobre a horizontalidade do BE estamos conversados. Basta lembrar a chuva de críticas que as recentes declarações de Louçã (sobre Portas e o aborto) suscitaram no interior do partido. - FN
Esquerda de confiança, parte I
Que me perdoem os meus amigos bloquistas, mas isto hoje é um dia dedicado a Francisco Louçã. Na entrevista a MEC, o líder (?) do BE diz o seguinte: «O serviço de saúde da Grã-Bretanha era, na segunda metade do século XX, um bom exemplo do que é um serviço nacional de saúde competente. Piorou e agora melhor um bocadinho». Eu pergunto: se agora melhorou «um bocadinho», não será que isso se deve à introdução de reformas que Louçã recusa? - FN
Uma dia todos os políticos serão assim
Francisco Louçã esteve ontem na RTP. Pelo que vi dos primeiros cinco minutos, pareceu-me que esteve de má-fé («o PS já teve uma maioria absoluta», «para o PS, por cada dois médicos que saem do SNS entra apenas um»). Ainda assim, optei por lhe dar uma segunda oportunidade, e fui ler a entrevista que concedeu a Miguel Esteves Cardoso (MEC), publicada na última edição da revista Sábado. Se dúvidas houvesse, as diferenças entre entrevistador e entrevistado tornam-se nítidas logo na troca de galhardetes inicial. MEC ofereceu a Louçã uma garrafa de whiskey irlandês. Em contrapartida, Louçã ofereceu a MEC o livro A Globalização Armada - As Aventuras de George W. Bush na Babilónia.
Nesta entrevista, Louçã critica o «socialismo real». MEC pergunta-lhe se isso não implica também «uma crítica aos socialistas revolucionários». A resposta de Louçã é todo um programa: «Implica uma visão diferente». Crítica, não. «Uma visão diferente» (também não vale a pena irritar o grupo de trabalho trotskista). Este registo de «clarificação ideológica» volta a marcar presença no momento em que MEC o interroga sobre «o sistema económico, social e político que acha menos mau.» O sistema Louçã é assim: «Quando fazemos as nossas propostas, elas partem da ideia de que só através de uma visão social muito exigente é que se pode começar a fazer transformações. Não as vemos como etapas, mas como processos sociais de construção da democracia, da consciência social e popular e, portanto, de modernização. E a modernização é um processo, um turbilhão de modestas mudanças». Complicado? Recorde-se que estamos a falar do autor de A Transição de Paradigma Tecno-Económico como Factor das Ondas Longas do Desenvolvimento Capitalista - O Caso da Revolução Micro-Electrónica.
Louçã é muitas vezes atacado por andar com cara de poucos amigos. Afinal, trata-se de uma crítica infundada. Louçã confessou a MEC que chegou a ter três amigos na política. Infelizmente, dois deles já morreram: «Eu tinha uma grande amizade com o Lino de Carvalho ou com o João Amaral. Eram pessoas com grande categoria pessoal.» «E à direita?», pergunta MEC. Será que à direita também há «pessoas com grande categoria pessoal»? «Nos socialistas [à direita, portanto] há uma pessoa louvável: conheci o Carlos Rodrigues [?] quando tinha 15 anos.» E quanto a pessoas louváveis, é tudo. Para além do próprio Louçã, é claro. O que nos vale é que Louçã tem «a esperança de um dia mudar a política portuguesa e as pessoas que a fazem.» Um dia, quando o Bloco tiver maioria absoluta, todos os políticos serão como ele. - FN
This work is licensed under a Creative Commons License.